Cp-1.060 (páginas Em Pânico)
()
Sobre este e-book
Leia mais títulos de Claudionor Aparecido Ritondale
A Itália E O Vaticano Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrase Sem Crise Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÁlbum De Músicas Italianas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGramática Da Língua Portuguesa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Divina Comédia, De Dante Alighieri Nota: 0 de 5 estrelas0 notasInterpretação De Textos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDa Necessidade Da Leitura Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRedação Para O Enem E Vestibulares, Mas Não Só Nota: 0 de 5 estrelas0 notasColeção Para Enem E Vestibulares - Como Fazer Uma Boa Redação Para Enem E Vestibulares Nota: 0 de 5 estrelas0 notasExercícios De Solidão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGramática Histórica Da Língua Portuguesa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasReforma Ortográfica Do Português Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSantiago Do Chile E Arredores Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPortuguês: Sintaxe Avançada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTrabalho Avulso Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAcentuação Gráfica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFugas Em Cadências Infinitas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFernando Pessoa Por Alberto Caeiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDe Lisboa A Barcelona Nota: 0 de 5 estrelas0 notasXadrez De Humanas Palavras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJardins Em Poesia E Outras Vivências Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJardins De Histórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrônicas Da Voz Do Chão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Arte De Escrever Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEste Jovem Sonho Chamado Adolescência Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSociologia Para O Vestibular E Para O Enem Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Linguagem Da Informática Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoesia Da Precariedade Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Cp-1.060 (páginas Em Pânico)
Ebooks relacionados
Epitáfio Do Poeta Esquecido Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPrimeira Poética Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBrasil De Máscaras. Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDecomposições Poéticas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLiteratura Não Autorizada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSarcástica Ilusão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Máquina Do Mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFilosofices De Um Velho Causídico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPercepção Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPrelúdio Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTons De Luxúria Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLendo José Saramago: Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSó, Mas Bem Acompanhado! Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Brincar E O Viver Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRecuerdos Dos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÁmara Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÁmara Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGomos... Nacos... Combos... Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos Com Cara De Crônica & Vice-versa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoesia Real Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuarentena Literária - Contos, Crônicas E Poesia, Em Tempos De Caos E Pandemia - Volume 3 - Poesia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFragmentos De Vida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFlashes Da Cidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTabuleiro De Palavras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCronos E Crônicas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSuplemento Pernambuco #207: WALY Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm Pouco De Tudo (e Outras Merdas) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPartizan Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPequenas Histórias, Grandes Lições Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCaos Poético Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ficção Geral para você
MEMÓRIAS DO SUBSOLO Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Arte da Guerra Nota: 4 de 5 estrelas4/5Pra Você Que Sente Demais Nota: 4 de 5 estrelas4/5Para todas as pessoas intensas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Invista como Warren Buffett: Regras de ouro para atingir suas metas financeiras Nota: 5 de 5 estrelas5/5Poesias Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Sabedoria dos Estoicos: Escritos Selecionados de Sêneca Epiteto e Marco Aurélio Nota: 3 de 5 estrelas3/5Onde não existir reciprocidade, não se demore Nota: 4 de 5 estrelas4/5Palavras para desatar nós Nota: 4 de 5 estrelas4/5Novos contos eróticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Morte de Ivan Ilitch Nota: 4 de 5 estrelas4/5Noites Brancas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Vós sois Deuses Nota: 5 de 5 estrelas5/5Gramática Escolar Da Língua Portuguesa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mata-me De Prazer Nota: 5 de 5 estrelas5/5Prazeres Insanos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTudo que já nadei: Ressaca, quebra-mar e marolinhas Nota: 5 de 5 estrelas5/5O amor não é óbvio Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Casamento do Céu e do Inferno Nota: 4 de 5 estrelas4/5SOMBRA E OSSOS: VOLUME 1 DA TRILOGIA SOMBRA E OSSOS Nota: 4 de 5 estrelas4/5Para todas as pessoas apaixonantes Nota: 5 de 5 estrelas5/5A batalha do Apocalipse Nota: 5 de 5 estrelas5/5Declínio de um homem Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Morro dos Ventos Uivantes Nota: 4 de 5 estrelas4/5Coroa de Sombras: Ela não é a típica mocinha. Ele não é o típico vilão. Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Categorias relacionadas
Avaliações de Cp-1.060 (páginas Em Pânico)
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Cp-1.060 (páginas Em Pânico) - Claudionor Aparecido Ritondale
Claudionor Ritondale
CP-1.060
(PÁGINAS EM PÂNICO)
Contos
2009
Sumário
Título Pânico
Depoimento ........................................................................................ 5
Meu Tédio .......................................................................................... 7
A Voz Que Me Devorou .................................................................. 15
Ciranda Pobre................................................................................... 24
Discurso do Contista Estreante em Ato Público Por Solidariedade
Extrema ............................................................................................ 25
Conto-requerimento no 41.982 ........................................................ 26
Cartão de Boas Festas ...................................................................... 28
Outdoor
da Esperança ................................................................... 30
O Invólucro ...................................................................................... 32
O Sonho de Domar o Leão ............................................................... 38
Feira Perplexa .................................................................................. 43
Triagem ............................................................................................ 49
Natureza Viva (Um Quadro-Haicai) ................................................ 54
Punkreático
................................................................................... 59
Projeto .............................................................................................. 62
Questão de Ordem ............................................................................ 68
O Lago ............................................................................................. 76
Heroísmo Insólito ............................................................................. 81
Conteledramagramático de um C.P.F. qualquer ............................... 88
A doce menina da rua central ........................................................... 92
O cidadão, as multas ........................................................................ 98
O poeta e o burocrata ..................................................................... 104
Depois (conto futuro) ..................................................................... 111
Domar-te, Leo (Revisão à maneira de Guimarães Rosa) ................ 114
Para que viemos ao Oriente? (Continuando Lígia Fagundes Telles, se
me permitem, em estilo R.P.G.)(*) ................................................. 119
O SUPOSTO MOTE: O CONTO ORIGINAL DE LÍGIA
FAGUNDES TELLES, VENHA VER O PÔR-DO-SOL ................ 141
Sabedoria e pouca sabença ............................................................. 162
Sonhar por ofício ............................................................................ 167
Acessórios ...................................................................................... 173
Cogito, logo digito ......................................................................... 177
Genetlíaco ...................................................................................... 181
Para seu próprio bem...................................................................... 185
Festas noturnas ............................................................................... 189
Por quê? ......................................................................................... 192
O mendigo que suspirava ouro ....................................................... 196
O aprendiz do amor (improvisos com pouca retórica compondo uma
súmula de um memorial amoroso de um doente por amor) ............ 200
Lição primeira, aula inaugural do amor: Manifesto em prol do amor
....................................................................................................... 200
Lição segunda, os primeiros alinhavados pontos: O aprendiz do amor
....................................................................................................... 201
Lição terceira, o ridículo: pedir ...................................................... 203
Lição quarta, angústias que se transformam em fugas barrocas:
audições de Bach I ......................................................................... 207
Fim da lição quarta: audições de Bach II ....................................... 213
Lição quinta, interlúdio grotesco: hiato de um amor ...................... 213
Lição sexta, de provas mal sucedidas: carta a três ex-alunas-
namoradas ...................................................................................... 218
Lição sétima, palpitação: o ladrão de imagens poéticas ................. 222
Lição oitava, a vanguarda amorosa da solidão: Eros meu .............. 225
I ...................................................................................................... 225
II ..................................................................................................... 225
III ................................................................................................... 226
IV ................................................................................................... 227
V..................................................................................................... 227
VI ................................................................................................... 227
Lição nona, cochilos à tua cabeceira: exame de ingresso à Faculdade
de Amar .......................................................................................... 227
Lição décima, o bailado amor: conto entrelaçado de três móbiles e
uma busca de sentido ..................................................................... 228
Lição penúltima, na ausência (por reprovação no vestibular, por
causa da luta de classes escolares): Reticências (canção para
festival?) ......................................................................................... 238
Lição conclusiva, o exílio por amar: Em memória (adaptado de
Giuseppe Ungaretti para a minha vida) .......................................... 239
Agora, um teste final para os leitores (com capricho, por capricho,
mas não para a revista Capricho!) .................................................. 240
Um pouco do autor e da obra ......................................................... 243
PEQUENA APRESENTAÇÃO DE MEUS LIVROS PUBLICADOS
....................................................................................................... 249
Depoimento
Vejo diariamente tantas dificuldades em se ter um
pensamento não completamente envolvido na alienação —
esta, uma manifestação clara do medo — que me custa crer
que ainda exista arte que nos redima da completa loucura.
Às vezes a arte parece sobreviver sob formas
aparentemente tão doces como a curtição
da arte de
massas (shows
de rock
, por exemplo) ou as situações
de pseudoalegria de uma determinada turba gregariamente
formada pela maciça propaganda para um evento que não é
lá grande coisa, em termos de profundidade cultural (o
carnaval das escolas de samba, por exemplo). Tais
demonstrações não se constituem em felicidade, apenas são
algo passageiro e apenas para alguns, talvez. Só me restar
acreditar que o não desenvolvido planeta em que vivemos é
um modelo de insegurança disfarçada em cultura de massas
(é preciso dar significado aos eventos, daí a promoção a
grandes turbas).
A razão deste livro, de subtítulo tão humano, até
demasiadamente humano, como gostaria de enxergar um
Nietzsche, por exemplo, fica clara: a necessidade de falar
do medo. A diferença com relação a outras tentativas é que
procuro fazê-lo sem o êxtase propagandístico que nos
massacra, mas, sim, como forma de provocar uma reflexão
que possa servir como ponte, ainda que precária, para uma
tomada de consciência (algo menos alienado, portanto) a
respeito de como enfrentar o medo. E talvez gerar
mudanças de atitude diante da inoperância face ao medo.
Creio contribuir, assim, para uma literatura voltada
à necessidade dialética vital de promover possíveis
mudanças importantes — ainda que mínimas, mas, para
melhor — no mundo.
Apenas cabe uma observação: se valer a máxima
de Pascal de que todos os homens são loucos e é
verdadeiramente maior loucura achar que não se é
louco, então todas as relações humanas são insensatas. A
arte (a literatura, no caso, aqui) serviria como tentativa
humana (quer dizer, insensata) de diminuir a alienação
(quer dizer, a loucura), mas... querer não ser louco não é sê-
lo ainda mais?
O autor
Pânico 6
Meu Tédio
Palco único: a cama, a cozinha e meus livros.
— Espero titanicamente a chegada da quimera.
— Ela lhe disse que era preciso uma maneira mais
adequada de contar sua vida. Disse ainda que tem gente
se esquecendo de que o melhor entretenimento ainda é a
história com fundo moral e linha envolvente.
— Ora, se você fosse uma personagem mais
perfeita deste livro, eu até que tinha a coragem de sair deste
meu leito de quatorze horas de leitura para ir à cozinha
fuçar na geladeira e comer.
— Você me deu uma ótima ideia! Espere um
momento que já torno a seu livro.
Como numa história em quadrinhos absurda, a
ama-de-leite sai do livro e vai à minha geladeira, abre-a
delicadamente e retira o que encontra para seu sustento. Eu
pouco me estarreço, acostumado já às suas extravagâncias.
Da outra vez que saiu, pediu-me autorização. Onde já se
viu conceber o absurdo de ir agora assim de oferecida?! As
personagens que leio hoje em dia não são mais as mesmas!
— Voltei — disse-me ela.
— Vem com a cara mais deslavada deste mundo!
Pânico 7
— Deslavada? O que é deslavada
? Não entendo
sua linguagem. Meus termos não são os mesmos que os
seus, já se esqueceu disto?
— É, mesmo. Além de pobre, você foi concebida
por outro, como poderia ter-me esquecido deste detalhe?
— Não vai me dizer o que é deslavada
? Talvez
eu até possa entrar para seu mundo, aprendendo sua
linguagem, você não acha?
— Puxa vida, agora foi você quem me deu uma
ótima ideia! Vou ensinar-lhe os meus termos. E com suas
fantásticas características, mais os meus termos, você pode
figurar em minhas obras, talvez com um significado tão
grande que eu possa vir a ser famoso imensamente. Bem,
deslavada
significa sem o mínimo rubor
, você entende?
— Não.
— Significa que... bem, cara deslavada é um rosto
que nem sequer ficou vermelho. Quando eu disse que você
vinha com a cara mais deslavada deste mundo, eu estava
usando uma expressão para dizer que você não ficava nem
um pouco envergonhada de ter ido à minha geladeira sem
pedir nenhuma ordem a mim, assim sem a mínima atenção
Pânico 8
a qualquer determinação minha, e voltar como se nada
tivesse acontecido.
— Quer dizer, então, que eu deveria ficar
envergonhada por ter fome e comer? Ora, se na vida do
livro eu mal tenho para amamentar os pobres que vêm até
mim, como eu poderia ficar assim sem comer? Ora, por
que você não cria uma ama-seca que possa se alimentar
para dar de mamar a filhos que cresçam, não que morram
nos primeiros dias de vida, hein?
— Só que nós estamos no Brasil, minha senhora!
— E daí?
— Ora, não seja tola! Oh, desculpe, eu me esqueci
de novo do fato de que a senhora mal conhece a história
dos nossos óbitos
. Não se preocupe, eu tenho também
que familiarizá-la com os nossos costumes, com os termos
da nossa história.
— Acho bom, porque já não estava entendendo
nada.
O papo transcorria longuíssimo. Eu tinha-me
esquecido completamente de comer, o pouco que já comia
diariamente estava-se estragando por sobre o fogão, na
geladeira — tenho certeza que deixada aberta pela ama —,
Pânico 9
em cima da pia, na mesa da cozinha. Já eram vinte e três
horas e meia numa cama, entre conversas com as
personagens e leituras em voz alta, que por um acaso
irritavam terrivelmente as personagens envolvidas na trama
– ah, como elas protestavam e até chegavam a tentar me
agredir para que eu diminuísse o volume da voz! Mas não
se arriscavam muito a isso porque sabiam que havia o risco
de eu fechar o livro e não mais ler por dias seguidos, o que
acontecia nos meus períodos de birra. Aí era uma
choradeira que eu impiedosamente ouvia e para a qual não
dava a mínima, esquecido que estava nos meus sonhos.
Então, eu dava uma de bonzinho autoritário
e, do alto de
meu pedestal crítico, dizia:
— Como as criaturas sofrem!
Daí escrevia alguma coisa sobre os livros para os
jornais para os quais colaborava semanalmente. Ah, como
minhas críticas ultimamente andavam recebendo ataques
violentos! Eu achava isto tão maçante e baixo. Imaginem,
desconfiar de um crítico, de sua sabedoria francisquina (de
Paulo Francis, de Nova Iorque)! Ultimamente eu até estava
me dando bem com os livros, até o momento em que
Pânico 10
sobreveio o terrível acidente que me provocou este tédio.
Deixem-me primeiro vomitar, depois lhes conto tudo.
*****
Antes, devo dizer-lhes: estas páginas conseguiram
escapar nos raros momentos de real sono que deveria ter,
mas que consegui deixar de ter para escrevê-las, daí passá-
las para um amigo, depois de lhe telefonar à meia noite e
pedir suplicantemente para vir apanhá-las (este amigo era,
dos meus tempos de faculdade, o maior agitador de
esquerda que já conheci, hoje é um dos poucos homens
livres que conheço).
A história toda é: depois que os jornais militares
para quem escrevo souberam que a minha convivência
literária com as personagens era intensíssima a ponto de
elas terem um significado transcendental em minha vida
diária, começaram a me cercear com sofisticadíssimos
aparelhos que me mantinham na cama e me impediam
qualquer contato maior com o mundo.
É tudo muito simples na ideia (a repressão) e muito
complicado na prática (a sofisticação). Começaram
cortando o telefone (ainda bem que eu já previra isto e
combinara com meu revolucionário amigo para que ele me
Pânico 11
visitasse de três em três dias, na primeira semana, depois de
quatro em quatro dias, duas semanas depois, tudo para não
dar na vista, lá pela meia noite, quando a repressão cessava,
me dava uma treguazinha!).
Em seguida, fecharam a porta de meu quarto, ou
seja, confinaram minha vida a somente meu quarto e um
banheiro (nesta época, estes papéis eu tinha que passar pela
janela, no começo foi um sufoco para meu amigo apanhá-
los, já que ele tinha que se arriscar a vida para chegar da
janela da antiga sala, vigiada constantemente pelos jornais,
até a janela do quarto de meu apartamento, que fica no
décimo andar, somente por amor à verdade). Daí
impediram-me de abrir a janela, eles faziam iss através de
um aparelho de controle remoto, e, se eu tocasse em
qualquer parte da janela, tomava um tremendo choque. A
saída para entregar os papéis era pelas frestas da janela: meu
amigo também entendeu perfeitamente a situação. O
próximo passo foi cortarem-me a luz a partir das onze
horas da noite (eu tinha que escrever meus bilhetes no
escuro!).
Esqueci-me de dizer que, de quatro em quatro
horas, durante o dia, eu recebia minhas refeições. Somente
Pânico 12
nessas horas eu podia ver a porta do quarto abrir-se por
uns instantes. A janela era aberta somente nos dias de sol e
apenas nos períodos em que o sol estava pleno.
Confinado em dois cômodos, com apenas alguns
móveis à disposição (cama, armário de roupas, escrivaninha
com máquina de escrever, papéis e demais coisas de
escritório, mais utensílios do banheiro) e tendo que mandar
minhas roupas de dois em dois dias para serem trocadas
depois de cuidadosamente revistadas, eu vivia desanimado
e em profundo tédio. Minhas personagens quiserem me
consolar, e foi aí que os jornais deram o passo decisivo:
mandavam-me roupas especiais que emitiam impulsos
elétricos (choques que aumentavam gradativamente
conforme aumentava minha comoção e a comunicação
com as personagens). Fiquei obrigado ao silêncio. Ainda
bem que conseguia comunicar-me com meu companheiro
na única hora, à exceção do banho diário, que me
permitiam estar nu