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Cp-1.060 (páginas Em Pânico)
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Cp-1.060 (páginas Em Pânico)
E-book508 páginas2 horas

Cp-1.060 (páginas Em Pânico)

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Sobre este e-book

Vários contos com muita versatilidade na forma. Alguns foram premiados. Muita pesquisa formal e diálogos irônicos com o leitor. A idéia central é a de tematizar o medo, sob uma forma radical: o pânico. A vivência cada vez mais urbana do homem contemporâneo é a principal fonte de inspiração do autor.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de abr. de 2011
Cp-1.060 (páginas Em Pânico)

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    Cp-1.060 (páginas Em Pânico) - Claudionor Aparecido Ritondale

    Claudionor Ritondale

    CP-1.060

    (PÁGINAS EM PÂNICO)

    Contos

    2009

    Sumário

    Título Pânico

    Depoimento ........................................................................................ 5

    Meu Tédio .......................................................................................... 7

    A Voz Que Me Devorou .................................................................. 15

    Ciranda Pobre................................................................................... 24

    Discurso do Contista Estreante em Ato Público Por Solidariedade

    Extrema ............................................................................................ 25

    Conto-requerimento no 41.982 ........................................................ 26

    Cartão de Boas Festas ...................................................................... 28

    Outdoor da Esperança ................................................................... 30

    O Invólucro ...................................................................................... 32

    O Sonho de Domar o Leão ............................................................... 38

    Feira Perplexa .................................................................................. 43

    Triagem ............................................................................................ 49

    Natureza Viva (Um Quadro-Haicai) ................................................ 54

    Punkreático ................................................................................... 59

    Projeto .............................................................................................. 62

    Questão de Ordem ............................................................................ 68

    O Lago ............................................................................................. 76

    Heroísmo Insólito ............................................................................. 81

    Conteledramagramático de um C.P.F. qualquer ............................... 88

    A doce menina da rua central ........................................................... 92

    O cidadão, as multas ........................................................................ 98

    O poeta e o burocrata ..................................................................... 104

    Depois (conto futuro) ..................................................................... 111

    Domar-te, Leo (Revisão à maneira de Guimarães Rosa) ................ 114

    Para que viemos ao Oriente? (Continuando Lígia Fagundes Telles, se

    me permitem, em estilo R.P.G.)(*) ................................................. 119

    O SUPOSTO MOTE: O CONTO ORIGINAL DE LÍGIA

    FAGUNDES TELLES, VENHA VER O PÔR-DO-SOL ................ 141

    Sabedoria e pouca sabença ............................................................. 162

    Sonhar por ofício ............................................................................ 167

    Acessórios ...................................................................................... 173

    Cogito, logo digito ......................................................................... 177

    Genetlíaco ...................................................................................... 181

    Para seu próprio bem...................................................................... 185

    Festas noturnas ............................................................................... 189

    Por quê? ......................................................................................... 192

    O mendigo que suspirava ouro ....................................................... 196

    O aprendiz do amor (improvisos com pouca retórica compondo uma

    súmula de um memorial amoroso de um doente por amor) ............ 200

    Lição primeira, aula inaugural do amor: Manifesto em prol do amor

    ....................................................................................................... 200

    Lição segunda, os primeiros alinhavados pontos: O aprendiz do amor

    ....................................................................................................... 201

    Lição terceira, o ridículo: pedir ...................................................... 203

    Lição quarta, angústias que se transformam em fugas barrocas:

    audições de Bach I ......................................................................... 207

    Fim da lição quarta: audições de Bach II ....................................... 213

    Lição quinta, interlúdio grotesco: hiato de um amor ...................... 213

    Lição sexta, de provas mal sucedidas: carta a três ex-alunas-

    namoradas ...................................................................................... 218

    Lição sétima, palpitação: o ladrão de imagens poéticas ................. 222

    Lição oitava, a vanguarda amorosa da solidão: Eros meu .............. 225

    I ...................................................................................................... 225

    II ..................................................................................................... 225

    III ................................................................................................... 226

    IV ................................................................................................... 227

    V..................................................................................................... 227

    VI ................................................................................................... 227

    Lição nona, cochilos à tua cabeceira: exame de ingresso à Faculdade

    de Amar .......................................................................................... 227

    Lição décima, o bailado amor: conto entrelaçado de três móbiles e

    uma busca de sentido ..................................................................... 228

    Lição penúltima, na ausência (por reprovação no vestibular, por

    causa da luta de classes escolares): Reticências (canção para

    festival?) ......................................................................................... 238

    Lição conclusiva, o exílio por amar: Em memória (adaptado de

    Giuseppe Ungaretti para a minha vida) .......................................... 239

    Agora, um teste final para os leitores (com capricho, por capricho,

    mas não para a revista Capricho!) .................................................. 240

    Um pouco do autor e da obra ......................................................... 243

    PEQUENA APRESENTAÇÃO DE MEUS LIVROS PUBLICADOS

    ....................................................................................................... 249

    Depoimento

    Vejo diariamente tantas dificuldades em se ter um

    pensamento não completamente envolvido na alienação —

    esta, uma manifestação clara do medo — que me custa crer

    que ainda exista arte que nos redima da completa loucura.

    Às vezes a arte parece sobreviver sob formas

    aparentemente tão doces como a curtição da arte de

    massas (shows de rock, por exemplo) ou as situações

    de pseudoalegria de uma determinada turba gregariamente

    formada pela maciça propaganda para um evento que não é

    lá grande coisa, em termos de profundidade cultural (o

    carnaval das escolas de samba, por exemplo). Tais

    demonstrações não se constituem em felicidade, apenas são

    algo passageiro e apenas para alguns, talvez. Só me restar

    acreditar que o não desenvolvido planeta em que vivemos é

    um modelo de insegurança disfarçada em cultura de massas

    (é preciso dar significado aos eventos, daí a promoção a

    grandes turbas).

    A razão deste livro, de subtítulo tão humano, até

    demasiadamente humano, como gostaria de enxergar um

    Nietzsche, por exemplo, fica clara: a necessidade de falar

    do medo. A diferença com relação a outras tentativas é que

    procuro fazê-lo sem o êxtase propagandístico que nos

    massacra, mas, sim, como forma de provocar uma reflexão

    que possa servir como ponte, ainda que precária, para uma

    tomada de consciência (algo menos alienado, portanto) a

    respeito de como enfrentar o medo. E talvez gerar

    mudanças de atitude diante da inoperância face ao medo.

    Creio contribuir, assim, para uma literatura voltada

    à necessidade dialética vital de promover possíveis

    mudanças importantes — ainda que mínimas, mas, para

    melhor — no mundo.

    Apenas cabe uma observação: se valer a máxima

    de Pascal de que todos os homens são loucos e é

    verdadeiramente maior loucura achar que não se é

    louco, então todas as relações humanas são insensatas. A

    arte (a literatura, no caso, aqui) serviria como tentativa

    humana (quer dizer, insensata) de diminuir a alienação

    (quer dizer, a loucura), mas... querer não ser louco não é sê-

    lo ainda mais?

    O autor

    Pânico 6

    Meu Tédio

    Palco único: a cama, a cozinha e meus livros.

    — Espero titanicamente a chegada da quimera.

    — Ela lhe disse que era preciso uma maneira mais

    adequada de contar sua vida. Disse ainda que tem gente

    se esquecendo de que o melhor entretenimento ainda é a

    história com fundo moral e linha envolvente.

    — Ora, se você fosse uma personagem mais

    perfeita deste livro, eu até que tinha a coragem de sair deste

    meu leito de quatorze horas de leitura para ir à cozinha

    fuçar na geladeira e comer.

    — Você me deu uma ótima ideia! Espere um

    momento que já torno a seu livro.

    Como numa história em quadrinhos absurda, a

    ama-de-leite sai do livro e vai à minha geladeira, abre-a

    delicadamente e retira o que encontra para seu sustento. Eu

    pouco me estarreço, acostumado já às suas extravagâncias.

    Da outra vez que saiu, pediu-me autorização. Onde já se

    viu conceber o absurdo de ir agora assim de oferecida?! As

    personagens que leio hoje em dia não são mais as mesmas!

    — Voltei — disse-me ela.

    — Vem com a cara mais deslavada deste mundo!

    Pânico 7

    — Deslavada? O que é deslavada? Não entendo

    sua linguagem. Meus termos não são os mesmos que os

    seus, já se esqueceu disto?

    — É, mesmo. Além de pobre, você foi concebida

    por outro, como poderia ter-me esquecido deste detalhe?

    — Não vai me dizer o que é deslavada? Talvez

    eu até possa entrar para seu mundo, aprendendo sua

    linguagem, você não acha?

    — Puxa vida, agora foi você quem me deu uma

    ótima ideia! Vou ensinar-lhe os meus termos. E com suas

    fantásticas características, mais os meus termos, você pode

    figurar em minhas obras, talvez com um significado tão

    grande que eu possa vir a ser famoso imensamente. Bem,

    deslavada significa sem o mínimo rubor, você entende?

    — Não.

    — Significa que... bem, cara deslavada é um rosto

    que nem sequer ficou vermelho. Quando eu disse que você

    vinha com a cara mais deslavada deste mundo, eu estava

    usando uma expressão para dizer que você não ficava nem

    um pouco envergonhada de ter ido à minha geladeira sem

    pedir nenhuma ordem a mim, assim sem a mínima atenção

    Pânico 8

    a qualquer determinação minha, e voltar como se nada

    tivesse acontecido.

    — Quer dizer, então, que eu deveria ficar

    envergonhada por ter fome e comer? Ora, se na vida do

    livro eu mal tenho para amamentar os pobres que vêm até

    mim, como eu poderia ficar assim sem comer? Ora, por

    que você não cria uma ama-seca que possa se alimentar

    para dar de mamar a filhos que cresçam, não que morram

    nos primeiros dias de vida, hein?

    — Só que nós estamos no Brasil, minha senhora!

    — E daí?

    — Ora, não seja tola! Oh, desculpe, eu me esqueci

    de novo do fato de que a senhora mal conhece a história

    dos nossos óbitos. Não se preocupe, eu tenho também

    que familiarizá-la com os nossos costumes, com os termos

    da nossa história.

    — Acho bom, porque já não estava entendendo

    nada.

    O papo transcorria longuíssimo. Eu tinha-me

    esquecido completamente de comer, o pouco que já comia

    diariamente estava-se estragando por sobre o fogão, na

    geladeira — tenho certeza que deixada aberta pela ama —,

    Pânico 9

    em cima da pia, na mesa da cozinha. Já eram vinte e três

    horas e meia numa cama, entre conversas com as

    personagens e leituras em voz alta, que por um acaso

    irritavam terrivelmente as personagens envolvidas na trama

    – ah, como elas protestavam e até chegavam a tentar me

    agredir para que eu diminuísse o volume da voz! Mas não

    se arriscavam muito a isso porque sabiam que havia o risco

    de eu fechar o livro e não mais ler por dias seguidos, o que

    acontecia nos meus períodos de birra. Aí era uma

    choradeira que eu impiedosamente ouvia e para a qual não

    dava a mínima, esquecido que estava nos meus sonhos.

    Então, eu dava uma de bonzinho autoritário e, do alto de

    meu pedestal crítico, dizia:

    — Como as criaturas sofrem!

    Daí escrevia alguma coisa sobre os livros para os

    jornais para os quais colaborava semanalmente. Ah, como

    minhas críticas ultimamente andavam recebendo ataques

    violentos! Eu achava isto tão maçante e baixo. Imaginem,

    desconfiar de um crítico, de sua sabedoria francisquina (de

    Paulo Francis, de Nova Iorque)! Ultimamente eu até estava

    me dando bem com os livros, até o momento em que

    Pânico 10

    sobreveio o terrível acidente que me provocou este tédio.

    Deixem-me primeiro vomitar, depois lhes conto tudo.

    *****

    Antes, devo dizer-lhes: estas páginas conseguiram

    escapar nos raros momentos de real sono que deveria ter,

    mas que consegui deixar de ter para escrevê-las, daí passá-

    las para um amigo, depois de lhe telefonar à meia noite e

    pedir suplicantemente para vir apanhá-las (este amigo era,

    dos meus tempos de faculdade, o maior agitador de

    esquerda que já conheci, hoje é um dos poucos homens

    livres que conheço).

    A história toda é: depois que os jornais militares

    para quem escrevo souberam que a minha convivência

    literária com as personagens era intensíssima a ponto de

    elas terem um significado transcendental em minha vida

    diária, começaram a me cercear com sofisticadíssimos

    aparelhos que me mantinham na cama e me impediam

    qualquer contato maior com o mundo.

    É tudo muito simples na ideia (a repressão) e muito

    complicado na prática (a sofisticação). Começaram

    cortando o telefone (ainda bem que eu já previra isto e

    combinara com meu revolucionário amigo para que ele me

    Pânico 11

    visitasse de três em três dias, na primeira semana, depois de

    quatro em quatro dias, duas semanas depois, tudo para não

    dar na vista, lá pela meia noite, quando a repressão cessava,

    me dava uma treguazinha!).

    Em seguida, fecharam a porta de meu quarto, ou

    seja, confinaram minha vida a somente meu quarto e um

    banheiro (nesta época, estes papéis eu tinha que passar pela

    janela, no começo foi um sufoco para meu amigo apanhá-

    los, já que ele tinha que se arriscar a vida para chegar da

    janela da antiga sala, vigiada constantemente pelos jornais,

    até a janela do quarto de meu apartamento, que fica no

    décimo andar, somente por amor à verdade). Daí

    impediram-me de abrir a janela, eles faziam iss através de

    um aparelho de controle remoto, e, se eu tocasse em

    qualquer parte da janela, tomava um tremendo choque. A

    saída para entregar os papéis era pelas frestas da janela: meu

    amigo também entendeu perfeitamente a situação. O

    próximo passo foi cortarem-me a luz a partir das onze

    horas da noite (eu tinha que escrever meus bilhetes no

    escuro!).

    Esqueci-me de dizer que, de quatro em quatro

    horas, durante o dia, eu recebia minhas refeições. Somente

    Pânico 12

    nessas horas eu podia ver a porta do quarto abrir-se por

    uns instantes. A janela era aberta somente nos dias de sol e

    apenas nos períodos em que o sol estava pleno.

    Confinado em dois cômodos, com apenas alguns

    móveis à disposição (cama, armário de roupas, escrivaninha

    com máquina de escrever, papéis e demais coisas de

    escritório, mais utensílios do banheiro) e tendo que mandar

    minhas roupas de dois em dois dias para serem trocadas

    depois de cuidadosamente revistadas, eu vivia desanimado

    e em profundo tédio. Minhas personagens quiserem me

    consolar, e foi aí que os jornais deram o passo decisivo:

    mandavam-me roupas especiais que emitiam impulsos

    elétricos (choques que aumentavam gradativamente

    conforme aumentava minha comoção e a comunicação

    com as personagens). Fiquei obrigado ao silêncio. Ainda

    bem que conseguia comunicar-me com meu companheiro

    na única hora, à exceção do banho diário, que me

    permitiam estar nu

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