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Redação Para O Enem E Vestibulares, Mas Não Só
Redação Para O Enem E Vestibulares, Mas Não Só
Redação Para O Enem E Vestibulares, Mas Não Só
E-book777 páginas10 horas

Redação Para O Enem E Vestibulares, Mas Não Só

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Sobre este e-book

Um verdadeiro compêndio muitíssimo abrangente sobre a escrita, não apenas para vestibulandos e estudantes de nível médio que prestarão o ENEM (Exame Nacional de Nível Médio). Há vários conselhos, exemplos, exercícios e explicações muito detalhadas dos aspectos da textualidade, da criação e concepção de textos bem cuidados, de vícios e erros a evitar. Várias redações corrigidas e comentadas servem como modos de contemplar os principais problemas nas redações em geral e trazem um excelente subsídio para qualquer pessoa que queira escrever melhor.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de mar. de 2016
Redação Para O Enem E Vestibulares, Mas Não Só

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    Redação Para O Enem E Vestibulares, Mas Não Só - Claudionor Aparecido Ritondale

    REDAÇÃO PARA O ENEM E VESTIBULARES, MAS NÃO SÓ: Um verdadeiro guia para escrever melhor

    Claudionor Aparecido Ritondale 2016

    Sumário

    INTRODUÇÃO .................................................................................. 12

    COPIE A ESTRATÉGIA DOS MELHORES!....................................... 12

    Seis meses antes da prova: ..................................................... 12

    Nos dias que antecederam o exame:...................................... 13

    Na hora do exame: ................................................................. 13

    As Competências do ENEM para a parte objetiva e a Redação ....... 14

    Preliminares ................................................................................ 16

    Capítulo 1: REFLEXÕES SOBRE A LINGUAGEM................................. 18

    1. OS VÁRIOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO UTILIZADOS PELO

    HOMEM ...................................................................................... 18

    2. RELAÇÃO ENTRE LÍNGUA E CULTURA...................................... 18

    PERFIL BREVE.......................................................................... 21

    Capítulo 2: ESCREVER ALGO ............................................................ 28

    I REQUISITOS ......................................................................... 28

    II COMO NASCE A IDEIA......................................................... 29

    III ESCOLHER TEMAS............................................................... 31

    IV TRABALHAR TEMAS............................................................. 32

    Capítulo 3: Criar ideias .................................................................... 36

    A Teoria de Pareto ...................................................................... 37

    Princípios gerais para a criação de ideias .................................... 38

    Métodos para a formulação de uma ideia .................................. 39

    Primeiro passo: obter matéria-prima ..................................... 39

    Segundo estágio: digerir o material ........................................ 42

    Terceiro estágio: descansar .................................................... 42

    Quarto estágio: Eureca! .......................................................... 43

    4

    Quinto estágio: o mundo........................................................ 43

    Síntese do método.................................................................. 44

    O método e o uso das palavras............................................... 45

    Algumas considerações sobre a criatividade .......................... 45

    Leis gregas para a associação de ideias................................... 48

    Contiguidade........................................................................... 48

    Semelhança ............................................................................ 48

    Sucessão ................................................................................. 48

    Contraste ................................................................................ 48

    Bloqueios à criação de ideias .................................................. 49

    Capítulo 4: Filosofia e redação como primeiro desafio de busca de

    ideias ............................................................................................... 50

    Filosofia: uma proposta de estudo.............................................. 50

    O que é a Filosofia....................................................................... 50

    TAREFAS PARA OS NOVOS FILÓSOFOS (ALUNOS QUE SE

    PREPARAM PARA A UNIVERSIDADE)........................................... 53

    Um texto filosófico para sua reflexão ......................................... 55

    Capítulo 5: Comunicação oral e comunicação escrita ..................... 60

    Transcrição de uma conversa de gravador:................................. 60

    QUADRO COMPARATIVO ENTRE A COMUNICAÇÃO ORAL E A

    COMUNICAÇÃO ESCRITA............................................................. 63

    Capítulo 6: Diversos tipos de textos com exemplos ........................ 64

    1) DESCRIÇÃO ...................................................................... 65

    2) NARRAÇÃO ...................................................................... 67

    3) DISSERTAÇÃO .................................................................. 68

    4) Carta ....................................................................................... 70

    Capítulo 7: O que é descrever ......................................................... 72

    5

    Um pouco mais sobre descrições: comparando linguagens........ 75

    Definição e descrição: diferenças................................................ 77

    Mundo físico, psicológico e imaginário ....................................... 89

    Tipos de personagens e respectivas descrições .......................... 91

    Enfoque objetivo e subjetivo nas descrições .............................. 91

    Descrições técnicas ..................................................................... 93

    Um tipo específico de descrição técnica: manual de instruções . 95

    Linguagem da descrição adaptada ao público ............................ 96

    Os cinco sentidos e o ato de descrever....................................... 97

    Plano de descrição: ordem no caos............................................. 97

    Capítulo 8: Narrar.......................................................................... 100

    Características do texto narrativo ............................................. 100

    Narração no ENEM e nos vestibulares ...................................... 108

    Capítulo 9: Dissertar...................................................................... 120

    A importância da leitura............................................................ 121

    O posicionamento..................................................................... 122

    Como deve ser o parágrafo dissertativo ................................... 123

    COMO SE INICIA UMA DISSERTAÇÃO – O PARÁGRAFO INICIAL 123

    Dissertação no ENEM: como chegar lá...................................... 127

    Partes da dissertação ................................................................ 128

    Tipos de Argumentos ................................................................ 129

    Exemplo de dissertação publicada em jornal:........................... 137

    PRIMEIRO TEMA PARA COMPOR UMA DISSERTAÇÃO .............. 141

    SEGUNDO TEMA PARA COMPOR UMA DISSERTAÇÃO.............. 152

    Orientações gerais para as dissertações: .................................. 155

    Orientações específicas sobre a conclusão de dissertações...... 155

    6

    Capítulo 10. Cartas: por que são tão importantes?....................... 158

    Os principais tipos de cartas oficiais: requerimento, ofício,

    declaração................................................................................. 163

    Outros tipos de documentos comerciais................................... 165

    Um tipo muito especial e atualmente muito utilizado de carta

    comercial: o e-mail ................................................................ 167

    Capítulo 11: IDEIAS GERAIS SOBRE REDAÇÃO: A MONTAGEM DO

    TEXTO............................................................................................ 176

    1. Conjunto de palavras para leitura ......................................... 176

    2. Teoria - O TEXTO: UMA COMBINAÇÃO LÓGICA DOS SIGNOS

    .................................................................................................. 177

    3. Proposta de realização do texto: RETOMANDO AS IDEIAS

    EMBARALHADAS....................................................................... 180

    4. Ideias iniciais para um texto.................................................. 1 80

    5. A montagem do texto ........................................................... 180

    6. Avaliação das redações ......................................................... 181

    Capítulo 12: Critérios de correção normalmente empregados para

    redações........................................................................................ 182

    Enquadramento no tema.......................................................... 182

    Correção gramatical.................................................................. 195

    Clareza ...................................................................................... 327

    Concisão.................................................................................... 338

    Coesão ...................................................................................... 346

    Coerência .................................................................................. 359

    Elegância................................................................................... 375

    Capítulo 13: Conselhos em várias versões..................................... 448

    Trinta conselhos infalíveis para escrever bem: um pouco de

    humor com base em exemplificação contrária ......................... 448

    7

    Sugestões para fazer uma boa redação .................................... 450

    RECEITA PARA UMA REDAÇÃO NOTA 10 (OU 1000, NO CASO DO

    ENEM)....................................................................................... 451

    COMO ESCREVER BEM UMA REDAÇÃO .................................... 453

    OS DEFEITOS DE UM TEXTO...................................................... 458

    PARA COMPOR UMBOM TEXTO............................................... 461

    Capítulo 14: Propostas de redação................................................ 464

    Primeira proposta de redação................................................... 464

    Segunda proposta de redação .................................................. 464

    Terceira proposta de redação ................................................... 465

    Quarta proposta de redação..................................................... 467

    Quinta proposta de redação ..................................................... 471

    Sexta proposta de redação ....................................................... 472

    Sétima proposta de redação ..................................................... 473

    Oitava proposta de redação...................................................... 474

    Redações a partir de citações ................................................... 474

    Vários temas para dissertações................................................. 475

    Capítulo 15: Redações comentadas............................................... 480

    Primeira redação comentada.................................................... 480

    Segunda redação comentada.................................................... 492

    Terceira redação comentada .................................................... 501

    Quarta redação comentada ...................................................... 505

    Quinta redação comentada ...................................................... 514

    Sexta redação comentada......................................................... 520

    Sétima redação comentada ...................................................... 529

    Oitava redação comentada....................................................... 536

    8

    Capítulo 16: TESTES E QUESTÕES DISSERTATIVAS......................... 540

    Teste de leitura ......................................................................... 540

    COERÊNCIA TEXTUAL ................................................................ 543

    A COESÃO TEXTUAL .................................................................. 545

    Primeira interpretação de texto................................................ 550

    Segunda interpretação de texto................................................ 552

    Terceira interpretação de texto ................................................ 555

    Capítulo 17: CONCEITOS E TÉCNICAS PARA A PRÁTICA DA REDAÇÃO

    ...................................................................................................... 558

    O bloqueio do redator............................................................... 561

    Redigindo o primeiro esboço ou o famoso rascunho................ 575

    Conselhos de profissionais da escrita........................................ 585

    Regras eternas .......................................................................... 592

    Como eliminar excessos............................................................ 599

    Capítulo 18: REDAÇÕES EXEMPLARES ........................................... 606

    Redação 1: UFRJ 2004 (Identidade da música brasileira): Nota: 10

    (de 10)....................................................................................... 606

    BELEZA SIM, NACIONALISMO NÃO ........................................... 606

    Redação 2 : UFRJ 2000 (A palavra e as transformações soc iais):

    Nota: 4,5 (de 5,0) ...................................................................... 607

    Redação 3: Tema: UFBA 2002 (Por que o homem contemporâneo

    tem dificuldade de viver um grande amor?): Nota: 9,5 (de 10) 609

    DESCANSO DO CAVALO BRANCO.............................................. 609

    Redação 4: Tema: UFF 2006 (uma carta a um amigo ou a um

    jornal sobre suas críticas ao Ensino Médio.): Nota: Dez (de 10)

    .................................................................................................. 610

    Redação 5: Tema: UNIRIO 2002 (Tecnologia e educação): Nota:

    9,25 (de 10)............................................................................... 611

    9

    AO MESTRE, COM CARINHO ..................................................... 611

    Redação 6: Tema: ENEM ("Desenvolvimento e preservação

    ambiental: como conciliar os interesses em conflito): Nota: Mil

    (de 1.000).................................................................................. 613

    NEODARWINISMO .................................................................... 613

    Redação 7: Tema: ENEM ("Trabalho infantil na realidade

    brasileira"): Nota: Mil (de 1.000). ............................................. 615

    SAINDO MAL NA FOTO.............................................................. 615

    Redação 8: Tema: ENEM ("Trabalho infantil na realidade

    brasileira"): Nota: Mil (de 1.000). ............................................. 616

    UMADVENTO MERCADOLÓGICO ............................................. 616

    AGORA É DEFINITIVAMENTE COM VOCÊ .................................. 618

    APÊNDICES .................................................................................... 620

    1. Um jornal participativo para ensinar redação....................... 620

    2. Da grafia ao conteúdo: glossário em ordem alfabética de

    conselhos úteis para uma boa redação..................................... 622

    Bibliografia .................................................................................... 699

    10

    11

    INTRODUÇÃO

    COPIE A ESTRATÉGIA DOS MELHORES!

    O QUE FIZERAM TODOS OS PRIMEIROS COLOCADOS NOS GRANDES VESTIBULARES DO PAÍS

    Seis meses antes da prova:

    Horas de estudo em casa: quatro por dia (e só durante a semana).

    Comentário: é o suficiente para revisar os assuntos tratados em sala de aula naquele dia; o básico para fixar a matéria – sem abdicar do lazer e do sono.

    Simulados: todos fizeram.

    Comentário: foram úteis para a familiarização com a estrutura da prova e também para saber quanto tempo se gastava em cada matéria.

    Cursinho: a maioria optou por aulas extras apenas daquelas disciplinas sobre as quais tinha menos domínio.

    Comentário: elas consomem menos tempo do que um cursinho convencional e focam nos pontos em que, de fato, há alguma dificuldade.

    Leitura: leram muito, além do indicado para o vestibular. Comentário: os livros não apenas proporcionam necessário momento de lazer como ainda elevam a capacidade de interpretar textos, útil na hora da prova.

    Lazer: nenhum deles estudava muito nos fins de semana. Comentário: manter-se desligado dos livros por algum

    tempo ajudou a controlar a ansiedade.

    12

    Nos dias que antecederam o exame:

    Horas de sono: oito.

    Comentário: foi o mínimo necessário para manter a mente descansada e um alto nível de atenção na hora da prova.

    Horas de estudo: quatro.

    Comentário: estudar mais do que isso dias antes do concurso só aumentaria a tensão e o cansaço. Na véspera, nenhum deles abriu um livro.

    Na hora do exame:

    Por onde começar: os campeões responderam primeiro às questões das disciplinas em que tinham mais facilidade.

    Comentário: isso ajudou a aplacar o nervosismo e a aumentar a autoconfiança.

    Cronômetro: eles administraram bem o tempo despe ndido nas várias provas.

    Comentário: todos destinaram cerca de uma hora para a redação, que tem peso alto na nota final. Também não ficaram paralisados diante das questões mais complexas. Na maioria das vezes, a resposta veio depois de já terem seguido adi ante. Acessórios: nos cursos que incluem provas de habilidades específicas, como arquitetura e desenho industrial, é necessário levar material próprio. Os campeões optaram por aquele com o qual já estavam acostumados.

    Comentário: é melhor estar munido do básico e não correr riscos com materiais sofisticados justamente na hora da prova.

    13

    As Competências do ENEM para a parte objetiva e a Redação

    Parte Objetiva Redação

    I. Dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e científica.

    I. Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita.

    II. Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico - geográficos, da produção

    tecnológica e das manifestações artísticas.

    II. Compreender a proposta de redação

    e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo - argumentativo.

    III. Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações- problema.

    III. Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

    IV. Relacionar informações, representadas em diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente.

    IV. Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.

    V. Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.

    V. Elaborar proposta de solução para o problema abordado, mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.

    14

    Na competência I, espera-se que o participante escolha o registro adequado a uma situação formal de produção de texto escrito. Na avaliação, serão considerados os fundamentos gramaticais do texto escrito, refletidos na utilização da norma culta em aspectos como: sintaxe de concordância, regência e colocação; pontuação; flexão; ortografia; e adequação de registro demonstrada, no desempenho linguístico, de acordo com a situação formal de produção exigida.

    O eixo da competência II reside na compreensão do tema que instaura uma problemática a respeito da qual se pede um texto escrito em prosa do tipo dissertativo-argumentativo em prosa. Por meio deste tipo de texto, analisam-se, interpretam-se e relacionam - se dados, informações e conceitos amplos, tendo-se em vista a construção de uma argumentação, em defesa de um ponto de vista.

    Na competência III, procura-se avaliar como o participant e, em uma situação formal de interlocução, seleciona, organiza, relaciona e interpreta os dados, informações e conceitos necessários para defender sua perspectiva sobre o tema proposto.

    Na competência IV, avalia-se a utilização de recursos coesivos da modalidade escrita, com vistas à adequada articulação dos argumentos, fatos e opiniões selecionados para a defesa de um ponto de vista sobre o tema proposto. Serão considerados os mecanismos linguísticos responsáveis pela construção da argumentação na superfície textual, tais como: coesão referencial; coesão lexical (sinônimos, hiperônimos, repetição, reiteração); e coesão gramatical (uso de conectivos, tempos verbais, pontuação,

    sequência temporal, relações anafóricas, conectores

    intervocabulares, intersentenciais, interparágrafos).

    Na competência V, verifica-se como o participante indicará as possíveis variáveis para solucionar a problemática desenvolvida, quais propostas de intervenção apresentou, qual a relação destas

    15

    com o projeto desenvolvido sobre o tema proposto e a qualidade destas propostas, mais genéricas ou específicas, tendo por base a solidariedade humana e o respeito à diversidade de pontos de vista, eixos de uma sociedade democrática.

    Preliminares

    Escrever bem significa estar familiarizado com a linguagem. O primeiro passo é formar o hábito de escrever.

    Para começar, você deve organizar seu horário de forma a ter, pelo menos, 30 minutos diários para estudar e escrever.

    1. Sentido mais amplo: a prática da escrita tem, porém, um sentido mais amplo do que o simples ato de escrever; a prática da escrita ou da redação traz implícita a necessidade do conhecimento do assunto ou do tema solicitado.

    2. Escrever e pensar: escrever bem é inseparável do ato de pensar.

    3. Escrever e ler: a leitura é fonte de ideias novas, ela promove um conhecimento cada vez mais amplo da língua e aprofunda as ideias que já temos.

    4. Aspectos de um texto: para interpretar bem um texto é preciso dominar o entendimento de seus vários asp ectos:

    a. vocabulário;

    b. ideia principal;

    c. minúcias;

    d. gramática;

    e. organização do conjunto e de suas partes.

    16

    17

    Capítulo 1: REFLEXÕES SOBRE A LINGUAGEM

    1. OS VÁRIOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO UTILIZADOS PELO HOMEM

    Um anúncio de publicidade sugeria que a vida sem comunicação era uma folha em branco. Virando-se a página, ele mostrava várias fotos de meios de comunicação (telefone, rádio, televisão, aparelho de som, revista e jornal) dizendo que com comunicação era semelhante ao que as fotos mostravam. EXERCÍCIO: Sem recorrer unicamente à linguagem escrita,

    como você representaria o mundo sem comunicação e o mundo com comunicação? FORME UM GRUPO DE 5 A 8 COMPONENTES. Mímica, dança, jingle, paródia de músicas famosas, dramatização, desenho, são alguns dos recursos a que seu grupo poderá recorrer. Esse é um bom exercício para você se aquecer para as ideias que terá que obter para suas redações.

    2. RELAÇÃO ENTRE LÍNGUA E CULTURA

    A língua é um meio poderoso de acesso à cultura de um país e do mundo todo. A falta de desenvolvimento cultural gera em alunos dos mais diversos níveis (do nível fundamental até o ensino universitário de pós-graduação) uma defasagem cultural lastimável, o que é demonstrado pela imaturidade cultural profunda que se observa em muitos alunos inclusive de excelentes escolas de terceiro grau (USP, PUC, por exemplo).

    Vamos citar alguns exemplos, colhidos no dia-a- dia, exemplificados pelos professores Vicente Keller e Cleverson Bastos, no livro Aprender a Aprender - Introdução à Metodologia Científica:

    A) Ao se falar da corrente dos enciclopedistas (da filosofia francesa), há a confusão com o indivíduo que trabalha com enciclopédias.

    B) Quando se aborda o assunto Evolução, os alunos lembram que ouviram falar de alunos nomes relacionados com o tema, mas não conseguem distinguir quais os elementos principais.

    18

    C) Ao se referir à Primeira e à Segunda Guerra Mundiais, sabem apenas que houve conflitos, mas desconhecem fatos ou detalhes.

    D) Em se tratando de política nacional, é pedir demais o nome dos cinco últimos presidentes.

    E) Em sala de aula, ao fazer um exercício, um aluno comenta: para fazer este exercício é preciso conhecer história, geografia, matemática, biologia.... No entanto, as noções pedidas no exercício eram elementares, tais como: Tiradentes, Pedro Álvares Cabral, Cristóvão Colombo, capitais, estados; operações simples de multiplicação, adição e subtração.

    Dois outros exemplos, extraídos de nossa experiência em cursos de pós- graduação:

    1. Uma professora de Português, que leciona em uma escola que procura avaliar rigorosamente seus professores, num curso de pós-graduação, como aluna, estava anotando em seu caderno o que o professor estava ditando sobre um filósofo francês, que - acredito - deveria já ser conhecido de todos ali. O nome do tal filósofo já estava escrito no quadro-negro e dele o professor já havia falado várias vezes. Trata-se de René Descartes. O sobrenome do filósofo francês tem a pronúncia, de acordo com a língua francesa, claro, de-car-te, ou seja, a consoante s, escrita duas vezes, pelas regras de pronúncia do francês não se devem pronunciar. Muita gente, por ignorância (falta de conhecimento, portanto), pronuncia des-car-tes. Paciência, a pessoa ainda não deve ter aprendido! O que ocorre com a tal professora, aluna de pós-graduação, porém, é que o professor já havia pronunciado corretamente (de-car- te), relacionando a pronúncia correta ao nome do filósofo, que já havia escrito no quadro-negro. Quando ele, posteriormente, dando sequência ao seu ditado, falou o nome do filósofo, com a pronúncia certa, o que a professora escreveu em seu caderno foi Decarte ! Nem o que estava escrito na lousa, ela teve a curiosidade de conferir!

    2. O professor citava um autor antigo, dizendo sobre ele o seguinte: Um autor latino.... O que o professor queria dizer era

    19

    que o autor teria vivido na época da Roma antiga, quando o latim era a língua (aliás, a língua que deu origem ao Português) do Império Romano. Uma aluna de pós-graduação (outra) interrompeu-o perguntando se ele fazia referência ao cantor Latino, ilustre representante de um tipo de música popular de consumo muito difundido no Brasil em programas televisivos dirigidos a um público certamente menos preocupado com os autores antigos.

    A esses tristes fatos, que denotam um universo cultural restrito, alia-se a gritante falta de hábito de leitura, que, segundo os autores citados acima, tem um bom indicador no espanto de uma turma ao constatar que um dos colegas lia um livro, em média, a cada dois meses (eles consideram isto o máximo!).

    A consequência imediata de tais fatos é a geração de uma dependência cultural (do Brasil para com outros países), o pouco ou nenhum crédito dado às pesquisas em sala de aula (pelos alunos, culturalmente defasados) e o recurso a uma bibliografia estrangeira (no caso de pesquisadores, já que o país não forma, devido a essa enorme defasagem cultural, pesquisadores que depois publiquem livros em Português, editados no Brasil).

    SE QUISERMOS SER INDEPENDENTES, TEREMOS QUE RESOLVER COM COMPETÊNCIA O PROBLEMA DA DEFASAGEM CULTURAL DE NOSSOS ESTUDANTES. ISTO SE FAZ NO NÍVEL UNIVERSITÁRIO.

    Quem estiver disposto a ingressar numa universidade deverá, pois, preparar-se não apenas para o ingresso, mas para ampliar sua condição de absorver cultura.

    É importante que conheçamos como é nosso desempenho e nosso interesse pela linguagem e pela cultura. Um perfil breve que façamos de nós mesmos pode auxiliar a que tenhamos mais proximidade de nossa realidade atual e possamos fazer um diagnóstico a partir do qual poderemos saber de onde partir, o que temos que reforçar em nossos estudos de linguagem, o que poderemos colher como elementos para ganhar condições de fazer boas redações e não escorregar em situações lamentáveis como as narradas acima.

    20

    PERFIL BREVE

    Nome:

    _______________________________________________________

    Data: ________/______/_______ ___.

    Atenção: não se dirija, em nenhum momento, a ninguém para perguntar (ou você sabe, ou não).

    Por favor, responda às questões que seguem, procurando ser sincero (a), nem aumentando nem diminuindo suas considerações sobre si mesmo (coloque seu nome). Você se julga como?

    ( ) Inteligente.

    ( ) Medianamente inteligente.

    ( ) Pouco inteligente.

    ( ) Nada inteligente.

    ( ) Bastante inteligente.

    Defina o que entende por inteligência! (duas linhas, no máximo):

    Você, segundo lhe parece, para os assuntos que lhe interessam, é: ( ) Disciplinado.

    ( ) Medianamente disciplinado.

    ( ) Pouco disciplinado.

    ( ) Nada disciplinado.

    ( ) Bastante disciplinado?

    Como é, segundo sua interpretação, que alguém se comporta quando tem disciplina? (Atenção: a resposta parece óbvia, mas não é. Duas linhas).

    21

    3. Diga, para aquilo que você pretende conhecer – apenas um assunto, por favor! –, se julga necessário conhecer algumas coisas, ter noções, e quais seriam elas! (duas linhas).

    4. Em se tratando da disciplina Gramática da Língua Portuguesa, você presume que conhece os assuntos abaixo em que nível? Para suas respostas, considere a seguinte conceituação:

    1. conheço com muita segurança;

    2. conheço com alguma segurança, mas com alguns p roblemas, algumas dúvidas;

    3. conheço com certa desenvoltura, mas ainda com grandes dúvidas;

    4. conheço um pouco mais que o básico, mas tenho dificuldades que me provocam alguns problemas;

    5. conheço praticamente o básico, apresento grandes dificuldades e, consequentemente, sérios problemas;

    6. tenho um profundo desconhecimento do assunto.

    (coloque nos pontinhos o seu conceito)

    A. Pontuação: ...........

    B. Morfologia:

    b.1. Classes de palavras: ........

    b.2.1. Flexão de substantivos: .........

    b.2.2. Flexão de adjetivos: ..........

    b.2.3. Flexão de numerais: .....

    b.2.3.1. Classificação e denominação dos numerais: .....

    b.2.4. Flexão dos pronomes: ....

    b.2.4.1. Classificação dos pronomes: ..... b.2.4.2. Colocação pronominal: ..... b.2.5. Flexão de verbos: . ...

    b.2.5.1. Aspectos verbais: ....

    b.2.6. Flexões possíveis dos advérbios: ....

    22

    b.2.7. Usos e flexões dos artigos: ....

    b.2.8. Conjunções: ....

    b.2.9. Preposições: ....

    b.2.9.1. Emprego da crase: .....

    b.2.10. Interjeições: .....

    C. Acentuação gráfica: .......

    D. Ortografia, exceto acentuação: ......

    E. Prosódia: ......

    F. Sintaxe:

    f.1. Sintaxe analítica; conceituação geral: ...

    f.2. Termos essenciais da oração: .... f.3. Termos integrantes da oração: ... f.4. Termos acessórios da oração: ....

    f.5. Relação entre sintaxe analítica e morfologia: .... f.6. Termo independente: ....

    f.7. Processos sintáticos do período: ....

    f.8. O valor das orações, suas classificações: ....

    f.9. Relações semânticas decorrentes do uso das orações: .... f.10. Paralelismo sintático e semântico: ....

    f.11. Ênfase decorrente do uso das orações: .... f.12. Frases nominais: ....

    G. Sintaxe de Concordância: g.1. Concordância nominal: .... g.2. Concordância verbal: ... H. Sintaxe de Regência: h.1. Regência nominal: ... h.2. Regência verbal: ...

    I. Semântica:

    i.1. Figuras de linguagem: a. figuras de palavras: .....

    b. figuras de sintaxe: .....

    23

    c. figuras de pensamento: ..... i.2. Vocabulário: a. arcaísmos: .....

    b. neologismos: .....

    c. estrangeirismos: .....

    i.3. Vícios de linguagem: a. solecismos: .....

    b. barbarismos: .....

    -------------------------------------------------------------------------

    Perguntas gerais:

    5. Você sabe o que é quiasmo? (não enrole; se souber, dê um exemplo!).

    6. O que é assíndeto, e o que é polissíndeto? (exemplos).

    7. Dê um exemplo de índice de indeterminação do sujeito, se souber (se não souber, escreva não sei).

    8. Quais são as partes de um raciocínio dedutivo? (se não souber, diga não sei, mas não enrole!).

    24

    9. O que você entende por aliteração? (se não souber o que é, diga não sei, mas não enrole! Se souber, dê um exemplo).

    10. Qual é a diferença, em termos semânticos, particularmente o que diz respeito ao aspecto ênfase, entre os seguintes períodos: a. Ele é sincero, mas às vezes cede à vaidade pessoal.

    b. Embora às vezes ela ceda à vaidade pessoal, é sincero.

    (Não enrole, seja objetivo! Se não souber responder, diga não sei!).

    11. Fale um pouco sobre os seguintes aspectos de uma boa redação: clareza:

    correção:

    coerência:

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    ênfase:

    elegância:

    (Seja breve, ou diga nada sei!).

    Submeta o teste acima a um especialista (um professor de Português é o mais indicado, obviamente) para que ele avalie as suas respostas.

    Você verá, no decorrer da leitura deste manual, que você precisará de vários dos conceitos acima e do conhecimento da s várias partes da gramática acima enumerados para desenvolver uma boa redação.

    Note, porém, que ainda não fizemos nenhum tipo de questionamento sobre conhecimentos gerais. Isso será objeto de um pouco mais de reflexão antes de entrarmos propriamente na teoria da redação.

    26

    27

    Capítulo 2: ESCREVER ALGO

    I

    REQUISITOS

    Escrever é conseguir mostrar aos outros o que está

    incomodando quem escreve. No lugar de incomodando, poderíamos também colocar outro verbo como atormentando, alegrando, ou algum outro denotativo de um sentimento qualquer, mas a escrita deve ser, apesar de revelar sentimentos do autor, feita de uma maneira concatenada, coerente e clara.

    Obra escrita é algo com vida e características próprias, não um ser amorfo ou disforme, apenas compreensível a quem o criou.

    A ideia para o escrito é o resultado direto da capacidade imaginativa, o reflexo de qualquer conflito consciente ou subconsciente.

    Conflito não é disputa, discordância. Conflito é o foco principal da ação dramática, que pode surgir de uma discordância de pensamentos, apenas, até ações violentamente contrárias.

    A ideia, que jamais surge sozinha, mas sempre no meio de muitas outras, necessita de elaboração, a que damos o nome de criatividade.

    Criatividade é a lapidação da ideia.

    O objetivo primordial do homem é sobreviver. O que diferencia um homem do outro é a maneira como cada um utiliza os recursos de que dispõe para sobreviver. Ou seja, o como cada um faz para continuar vivo. Isto é a originalidade.

    28

    A originalidade na escrita é justamente a maneira diferente como cada autor enfoca e conta a mesma história e nos ingredientes que usa para temperá-la. Camões, Shakespeare, Dante, Carlos Drummond de Andrade trataram dos mesmos temas (por exemplo, o amor irrealizável), mas de maneira original.

    Qualidade de uma obra é o fato de estar ela bem escrita, bem montada, sem erros gramaticais. Quer dizer, uma boa ideia não se sustenta se o autor não souber o que é sujeito, predicado, se não souber como utilizar os pronomes e não conhecer nada sobre concordância verbal. A gramática é o acabamento da obra. Quanto melhor o acabamento, melhor será a obra, melhor será ele aceito por quem o lê e julga.

    Não se deve achar que o que se escreve não será cr iticado. A crítica existe e é completamente útil para quem escreve, principalmente para apontar falhas técnicas significativas, ou para dizer se o caminho escolhido foi o melhor, se o texto está aceitável, tem graça, é original, tem sabor.

    II

    COMO NASCE A IDEIA

    O cotidiano é uma fonte infindável de acontecimentos.

    Estes são fatos geradores de ideias. Basta saber vê-los. Saber ver o cotidiano é muitíssimo importante para quem pretende escrever com criatividade.

    A memória é uma fonte rica de ideias. Será tanto mais rica quanto maior for o nosso mundo interior. Saber transformar o que parece desinteressante e comum em algo original, artístico é a verdadeira arte de escrever. Um trecho da infância, uma passagem da juventude, uma paixão, uma decepção, tudo isto serve para materializar o mundo interior. Mas, cuidado, nem tudo deve ser

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    colocado para o exterior, há necessidade de traduzir apenas uma parte, para que algum suspense e uma aura de mistério possam existir.

    Outra fonte de ideias são os jornais e telejornais, sempre repletos de acontecimentos fabulosos, como um sequestro espetacular, que daria um escrito razoável, se bem tratado por alguém atento.

    A pesquisa é uma fonte ótima, também, de ideias.

    Uma boa ideia vale muito dinheiro. Nunca devemos menosprezar uma ideia, por mais que pareça, a princípio, inútil ou ruim. Trabalhada, modificada, pensada e repensada, ela pode se transformar em algo genial e que pode até gerar dinheiro.

    Intelectuais vivem de suas ideias, elas são a matéria- prima de tudo quanto eles produzem. Ou seja, o seu ganha-pão. Não se deve divulgar levianamente suas ideias, entretanto. É bom, caso isto seja procedente, saber registrá-las e exibi-las adequadamente.

    Mas, uma ideia por si só não significa nada. É preciso desenvolvê-la até o final. Transformá-la em forma, cuidar bem do acabamento e da apresentação.

    Aí entram as construções, as figuras de linguagem, o conhecimento do idioma, de suas possibilidades expressivas, a escolha de vocabulário adequado, o conhecimento de gramática, uma boa percepção de possibilidades gráficas expressivas, enfim, toda uma bagagem do idioma, que é preciso cultivar. Isto só será possível se o escritor tiver apreço pelo idioma em que escreve, que é a fonte de suas realizações. A ideia literária só ganha boa forma num idioma bem cultivado. Não adianta abusar de gírias, linguagem vulgar, preciosismos, sintaxe complexa, inovações extravagantes, isto tudo vai ser de difícil aceitação, hoje em dia. É preciso

    30

    objetividade, bom senso e criatividade, com simplicidade, mas com alguns recursos de impacto.

    Ninguém gosta de textos sem sabor, ou textos sem trabalho sério, jogados, vulgares, ou textos herméticos, ou inovações exuberantes, pavoneantes, sem vínculo com a realidade. Uma medida equilibrada e expressiva é a melhor saída, principalmente para os principiantes.

    III

    ESCOLHER TEMAS

    Ter uma boa ideia é ótimo, mas, se o tema é ultrapassado,

    maçante, o escrito não agradará.

    Escrever é possível sobre qualquer coisa. Mas, há conteúdos já por demais sabidos, óbvios, que não conduzem a informação nenhuma, não dizem mais nada do que chover no molhado, o que significa subestimar a inteligência de quem lê. Ideias tolas, infantilmente tratadas, com visões ingênuas sobre o bem e o mal, por exemplo, não geram boas críticas. Por exemplo, dizer ditaduras são ruins, num país democrático, é chover no molhado. Ou explicações como as pessoas devem interessar-se por ajudar umas às outras, porque isto é bom para o país é tão banal e ingênuo, por ser óbvio, que parece induzir o leitor a pensar se o escritor está considerando que quem lê é tão tolo quanto quem escreve.

    O público participa do texto. Existe liberdade e independência para escrever, mas existe o julgamento de quem lê. Também existem as leis e os costumes. O que fira princípios constituídos oficialmente ou por hábito trará críticas severas de quem lê.

    Mesmo temas tido como sempre universais, como o amor, por exemplo, devem merecer tratamento não banalizado. Isto só é possível se o autor enxergar a fantasia de amor que existe em todas

    31

    as pessoas, por exemplo, algo que é tão eterno quanto o tema do amor. Não se deve reproduzir a maneira de Shakespeare, por exemplo, mas o sentido de tratar o amor de forma original aproveitando o tanto de fantasia que ele inspira, que é o que fizeram Shakespeare e tantos outros.

    Outra preocupação do escritor é não querer ser mais original do que a realidade. Um exemplo: falar da corrupção em terras onde é comum haver especialistas em tal assunto, fazendo da realidade um verdadeiro espetáculo de originalidade, é arriscar-se a perder feio para a tal realidade. Enquanto se corre com a ficção analisando, aquilo que acontece já está superando o que foi escrito. Além disto, assuntos esgotados pela imprensa, em suas abrangentes reportagens torna praticamente óbvio o assunto. Cabe uma pitada de originalidade, através de uso de figuras de linguagem (ironia, por exemplo) para se safar da enrascada.

    Temas abomináveis do dia a dia também são perigosos, porque ninguém mais quer ver escrito algo que já foi massacrado pela imprensa. Miséria, fome, desemprego, matança, violência, poluição, catástrofe, política ineficiente, são assuntos revoltantes, mas busque-se, muitas vezes por algo que seja contrário a isso, um contraponto ao massacre do cotidiano. Quer dizer, uma das boas maneiras de tratar tais assuntos repulsivos é procurar compará- los com os opostos (fartura, banquete, estabilidade, vida, paz, saúde , tranquilidade, competência administrativa). Ou seja, expor os ideais desejados, buscar uma esperança a quem lê. Ou seja, mostrar como se combate o que é asqueroso, não o exaltando.

    IV

    TRABALHAR TEMAS

    Exige-se de um bom tema que tenha verossimilhança. Ou

    seja, a possibilidade de ter realmente acontecido ou de vir, de fato, a acontecer, o que é narrado.

    32

    Lógico, quando se escreve, o que ocorre é a escrita (e a leitura ao leitor). Tudo é, tecnicamente, ficção. A menos que se trate do chamado realismo fantástico, pede-se algo verossímil, portanto diverso de Mozart no século XXI, ou a CIA como uma instituição financeira. É lógico que podemos extrapolar dos meros fatos verossímeis, mas para chegar lá é primeiro passar pelo já difícil caminho da verossimilhança. Para quem quer aprender a escrever, isto é o primeiro passo. Ousar sair da realidade verossímil é outro estágio.

    Verossimilhança se obtém com pesquisa, que deve ser exata. Ou seja, não se deve chutar o que se escreve. Se uma igreja ou cidade é descrita, nunca se fantasiem sobre as características, deve-se ter um conhecimento perfeito do que se está descrevendo. Escrever sobre uma praça de uma cidade errando o nome do bairro de sua localização é gravíssimo.

    Erros geográficos, portanto, devem ser evitados, especialmente pensando que é comum cair-se na generalidade completamente inexata (a de quem chuta), como, por exemplo, dizer que a Amazônia é uma imensa planície coberta por árvores enormes e seculares, quando lá existem morros, montanhas, zona s alagadas, áreas onde praticamente não cresce nada além de mato rasteiro, especialmente depois dos desmatamentos e queimadas.

    Erros históricos são também graves. Já houve erros destes cometidos por autores muito consagrados. Mas, mesmo que isto tenha ocorrido, não devemos nos pautar por tal procedimento, sob pena de cairmos no ridículo. Daí ser necessária a pesquisa, muito exata, sobre um assunto. Datas não devem ser erradas, instituições do passado devem se mostrar, como, por exemplo, as igrejas e sua influência há dois séculos no Brasil.

    33

    Há outros erros também, por exemplo, os chamados erros de tecnologia, que seriam um tipo particular de erros históricos. Confundir calibres de armas é algo possível, mas não desejável . Certas peripécias não são possíveis a determinados equipamentos, como, por exemplo, um helicóptero executar um looping. A credibilidade do leitor vai depender de não falarmos do que não sabemos, apenas tratarmos de assuntos que conhecemos, de uma maneira que não suscite a dúvida sobre se o que escrevemos é verossímil ou não.

    Pesquisar é montar um banco de dados, consultando jornais, enciclopédias, compêndios, dicionários, tratados, perguntando a quem sabe mais que nós (Nélson Rodrigues consultava até listas telefônicas!).

    Cuidado também com exageros: descrever minuciosament e pode cansar o leitor e fazê-lo perder-se em detalhes. É preciso garantir o fôlego a quem lê. Ficar adjetivando sem noção de medida é tornar o texto precioso, talvez desnecessariamente. Um caminho de pedrinhas multicoloridas e das mais variadas formas pode não querer dizer muito. Pedras coloridamente irregulares pode soar melhor, por exemplo. Também pobreza demais não leva a nenhuma compreensão: um caminho qualquer, lá não é nada mais que algo desconhecido.

    Escrever é fruto de esforço, não de banalização da linguagem. Tentar considerar exotismos como atos normais, por exemplo, pode destoar de seu tempo. É preciso enxergar além de suas próprias opiniões, porque, afinal, os valores gerais podem estar superando questões pessoais de cada um de nós. Alg uém considerar estatisticamente majoritário alguém cumprimentar a mãe da namorada, ao ser apresentado, com um beijo na mão, em pleno final do século XX, numa grande metrópole, é estar muito fora de sintonia com o mundo.

    34

    Também a célebre expressão encher linguiça deve ser desprezada por alguém que se pretenda bom escritor. Se h á delimitação de espaço mínimo, não adianta forçar sobre inutilidades, o que deve ser demonstrado é conhecimento, não exagero de detalhes. Repetir sempre os mesmos dados e ideias e querer impressionar por detalhes desinteressantes e adjetivos pouco esclarecedores, sem nenhum tratamento sutil, mais criativo, é gerar um julgamento pouco lisonjeiro do leitor.

    35

    Capítulo 3: Criar ideias

    Antes de tentarmos pensar em qualquer coisa para que possamos desenvolver nossa criatividade, temos que considerar o seguinte:

    • Sem a paixão por resolver um problema, nunca poderemos dar asas à nossa criatividade.

    • A paixão é a condição essencial para criar. Você é pago por suas ideias.

    Mesmo que você apenas execute, o modo como enxerga sua execução, antes de fazer qualquer coisa, é determinante para todos os seus atos.

    Você vende ideias, não trabalho, nem serviços, nem produtos.

    E onde obter ideias ?

    Ideias parece que surgem como mágica em nosso cérebro, não é?

    Mas...

    Nada é assim tão mágico no mundo das ideias.

    A ideia é o resultado final de longa série de invisíveis processos construtores de ideias, que operam continuamente sob a superfície do nosso consciente.

    Ahn?

    Observar criadores de ideias pode nos fornecer pistas de como consegui- las.

    As ideias surgem como numa linha de montagem de automóveis.

    Pode-se aprender a técnica de obter ideias.

    Utilizar ideias:

    • É questão de prática .

    • É preciso exercício para isso.

    • Traz consigo uma fórmula muito simples de enunciar. 36

    • Embora simples de enunciar, requer imenso trabalho intelectual.

    A Teoria de Pareto

    Vilfredo Pareto era um sociólogo italiano que escreveu um livro chamado Cérebro e sociedade, onde sugere que há dois tipos de pessoas:

    • A) as especulativas: sempre preocupadas com possibilidades de novas combinações; e

    • B) as seguidoras: rotineiras, manobradas pelas pessoas do primeiro tipo.

    Especuladores e seguidores

    Especula quem:

    • É homem de negócios;

    • É inventor;

    • É diplomata;

    • É p olítico;

    • É inconformado com o status quo ante ;

    • É ansioso por mudanças;

    • Pode ser auxiliado por técnicas de criação de ideias. •

    Segue quem:

    • Contempla; • Vive de rotina; • É pacato;

    • É maria vai com as outras;

    • É conservador, monótono, repetitivo, sem interesse; • Não é receptivo a técnicas de criação de ideias.

    Algo mais sobre os criadores:

    37

    • Não são raros.

    • Interessam-se por publicidade.

    • Querem dominar a(s) técnica(s) para produzir ideias. • Esforçam-se para cada vez mais cultivar ideias e obter ferramentas para que as ideias tenham melhor aplicação .

    • Querem saber quais os meios de desenvolver a capacidade que têm para criar ideias .

    Bem determinados os destinatários, exercitemos o cérebro! Duas coisas são importantes para que aprendamos qualquer

    coisa:

    • Princípios

    • Métodos .

    Para a criação de ideias, isso é também verdadeiro.

    Não dá para querer parcelas de conhecimento, apenas. Isso significa não aprender nada, porque esquece-se rapidamente o que é fragmentário .

    O que vale não é onde procurar uma ideia, mas exercitar o cérebro no método pelo qual se criam as ideias e apoderar-se dos princípios que são a fonte das ideias.

    Princípios gerais para a criação de ideias

    DOIS APENAS são os princípios que norteiam a geração de ideias:

    38

    • Uma ideia é nada mais, nada menos que nova combinação de velhos elementos.

    • Reunir velhos elementos em novas combinações depende de se conseguir descobrir relações . Onde devemos procurar relações?

    Na leitura de livros de... Ciências Sociais.

    Ahn?

    Sim, eles dizem mais sobre as pessoas que tratados de publicidade.

    Porque, só conhecendo a sociedade em que se vive, com suas regras, limites e possibilidades, é que se pode criar .

    No ENEM e em grande parte dos vestibulares na atualidade, exige-se conhecimento de Sociologia, que é bastante cobrada nas redações. No Ensino Médio, também é importante o estudo da Geografia, pois ela nos fornece muitos dados sobre a realidade social em que vivemos.

    Métodos para a formulação de uma ideia

    A técnica de criar ideias segue 5 estágios, que devem ser seguidos obrigatoriamente numa certa ordem (parecerão óbvios, mas, na prática, é espantoso ver como não são seguidos).

    O PRIMEIRO DELES É:

    Dar ao intelecto condição favorável de recolher matéria - prima .

    Primeiro passo: obter matéria- prima

    O material a obter tem duas espécies: específico e genérico. 39

    Se pensarmos na publicidade, o material específico é o que se refere ao produto e às pessoas a quem vendê- lo.

    Na prática, isso significa, ter profundo conhecimento do produto e do consumidor, algo difícil de obter.

    Saber diferenciar cada produto e cada consumidor e saber classificar produtos e consumidores com características semelhantes: são duas qualidades de quem quer obter matéria - prima de qualidade.

    Exemplo de compilação de material específico: caso famoso foi o de um anúncio de um sabonete já bastante difundido pela publicidade como produto de consumo. Aparentemente, tudo havia sido dito sobre sabonetes. Mas, com estudo profundo, obtiveram- se muitos dados sobre a relação entre o sabonete a e a pele ou o cabelo, que resultaram num livro de bom tamanho que proporcionou ideias para 5 anos de publicidade! O aprofundamento leva a obter uma relação quase individual de um consumidor com um produto, o que leva a muitas ideias.

    O estudo profundo, tanto na publicidade quanto na teoria da redação, serve para melhorar a condição de nossas ideias.

    O material genérico é tão importante quanto o material específico. Já tratamos um pouco dele quando falamos da questão da linguagem e da cultura, mas cada tratar um pouco mais dele . Quem quer vender e quem quer escrever deve ter interesse por qualquer assunto. A vida está nos assuntos .

    As leituras feitas com interesse trazem o material genérico. A cultura geral, portanto, é o material genérico.

    40

    Da obtenção de muitos dados, no caleidoscópio do nosso cérebro, surgirão novas combinações. Quanto maior o número de pedaços de vidro colorido e mais variados forem eles, no caleidoscópio, mais possibilidades de combinações surgirão.

    Pode-se pensar em etapas para a obtenção de material, mas, de uma forma bem simples, se pode dizer que uma parte do material será obtida no momento, quando se necessitar com urgência de uma pesquisa sobre algum assunto, mas outra parte é trabalho da vida toda.

    Tanto para uma pesquisa urgente quanto para a organização para várias ocasiões, cabem duas sugestões básicas:

    1ª. Suporte físico sistematizado para registrar o material (anotações em fichas, do mesmo tamanho, ou anotações em um sistema eletrônico);

    2ª. Arquivo físico para compilar o material específico colhido (pode ser um fichário, um álbum, uma coleções de pastas e arquivos em computador) – o importante é organizar as ideias e classificá- las.

    Todo criador que se preze deve construir um livro-fonte de ideias. Isso pode valer para um profissional da criação, mas um arquivo mental com ideias e a organização de nossos avanços em pastas ou num livro-fonte é algo realmente valioso.

    O livro-fonte será construído a partir da coleta organizada de dados e da sistematização dos dados em arquivos.

    41

    Não se deve desprezar nenhuma ideia. Deve-se procurar relacioná-la por alguma propriedade a alguma outra, com o intuito de ser sistematizada e fazer parte do livro- fonte.

    Segundo estágio: digerir o material

    O intelecto deve estudar os dados, ver, um a um, cada dado, com vários ângulos, sob muitos critérios. O objetivo é encontrar significados nos dados.

    Ajustar dois fatos, a partir do estudo, é o primeiro passo da digestão intelectual.

    Montar o quebra-cabeça é a continuidade desse processo de digestão.

    Podem ocorrer alguns problemas neste segundo estágio, dos quais listamos os que seguem:

    • Ocorrência de conjecturas insignificantes, ou ideias parciais. Não as abandonem, registrem-nas. Elas prenunciam a ideia legítima que está por vir. Consultar o fichário anteriorment e sugerido ajuda a trabalhar com tais fragmentos e coisas ainda sem significado.

    • O cansaço de tanto pensar. Usem as reservas do cérebro para evitar a exaustão.

    • O desespero de nada conseguir, ainda. Vale a perseverança, ou seja, continuar e seguir para o próximo estágio.

    Terceiro estágio: descansar

    Esquecer-se da ideia .

    Dormir.

    Deixar o inconsciente trabalhar .

    42

    Desligar- se.

    Ir fazer outra coisa, como sessões de lazer (música, teatro, dança, ler um livro sobre um assunto completamente diferente, ver uma partida de futebol).

    Só pratiquem coisas que os encantem, porque elas servirão como estímulo à imaginação e às suas emoções.

    Aqui, a digestão intelectual estará sendo estimulada, sem que o percebamos.

    Obviamente, na hora da prova de redação, você não vai poder dormir, o objetivo, aqui, é fazer o estudante perceber que uma ideia deve penetrar em sua mente a partir do inconsciente, o que é feito com um tempo de repouso para a(s) ideia(s). Esse tempo deve ser administrado de acordo com a circunstância – no exame, deve-se garantir um tempinho para essa reflexão.

    Quarto estágio: E ureca!

    Surge a ideia: eis o quarto estágio.

    Ahn?

    Se seguirem os três estágios anteriores, aparentemente do nada surge a ideia.

    Quando menos esperarem, estará ela lá, sistematizada, pronta para o uso.

    Quinto estágio: o mundo

    E o quinto estágio? Não eram cinco?

    É a manhã seguinte.

    O quê?

    Lançar a ideia ao mundo que nos circunda, à realidade. E agora?

    A ideia não é tão maravilhosa quanto pareceu.

    Ela precisa ser adaptada à realidade.

    43

    Deve-se ter paciência para tornar executável uma ideia.

    O correto é submeter a ideia à apreciação dos outros, por mais que sejamos expostos ao ridículo.

    Novas ideias que facilitem a inserção da ideia à realidade surgirão (as sugestões dos outros).

    No caso da redação, assim como no mundo dos profissionais da criação, há a necessidade, quando se aprende a escrever, de submeter seu texto à apreciação de um especialista, que, no caso, é o professor de Português. Mais adiante apresentaremos textos que foram submetidos a nós, com os comentários que fizemos a partir das dificuldades apresentadas.

    Síntese do método

    • compilar matéria-prima org anizadamente;

    • estudar a matéria-prima, elaborá-la mentalmente; • incubar a ideia, pelo descanso (inconsciente);

    • a ascensão da ideia ao consciente: Eureca!

    • o desenvolvimento prático da ideia.

    O processo, em si, é simples, porém, é trabalhoso. Não há nada de contraditório nisso, porque a ideia de ter princípios e uma sequência que configura um método é simples de contemplar, porque é o caminho percorrido por todos os criadores, sejam eles profissionais ou iniciantes, sejam criadores de peças publicitárias vencedoras ou alunos de redação.

    O mais valioso dos estágios é o acúmulo de material genérico, que se dá pela leitura ávida, pelas experiências da vida (como cônjuge, pai, profissional, criador, motorista, conversador, palestrante, etc.). Isso é o nosso last ro.

    Nossa educação não acaba no final do ensino médio. Quem quiser levar a sério a vida deve querer prosseguir. Obviamente, para o ENEM, não vai haver tempo para acumular experiências

    44

    próprias, por isso é importante verificar a experiência acumulada da humanidade, por meio de leituras.

    Há quem crie sem passar pelos 5 estágios? Aparentemente sim, mas isso é só aparência, pois, operacionalmente, as pessoas criativas praticam os cinco estágios (recolher material, estudá-lo, levá-lo ao inconsciente, fazer brotar a ideia e operacionalizá-la), embora a velocidade com que parece criarem suas ideias permita supor que não os utilizem.

    O método e o uso das palavras

    As palavras são, em si, ideias, mas não ideias prontas, apenas ideias em suspensão.

    Palavras são símbolos de ideias. Colecionar palavras é, de certa forma, colecionar ideias .

    O dicionário é uma coleção de histórias sobre as palavras (ver a origem delas, de vez em quando, tem um verdadeiro sabor de aprofundar-se na vida do homem).

    Algumas considerações sobre a criatividade

    Henry Miller, um escritor estadunidense, escreveu: No dia em que deixarmos de exercer, ao máximo, a nossa capacidade, matamos a parte do Cristo, do Einstein e do Da Vinci que existe em nós. Nós devemos, portanto, trabalhar para atingirmos soluções criativas para um mundo novo e cada vez mais competitivo, a exigir de nós novas soluções. Voltaire, filósofo francês, dizia: Criatividade é como a barba: você só a terá se a deixar crescer.

    O único ganhador de dois prêmios Nobéis (de Química e da Paz), o cientista Linus Pauling, disse: A melhor maneira de ter uma boa ideia é ter várias ideias. O mecanismo, portanto, de

    45

    tempestade cerebral (brainstorming) é um modelo interessante para a geração de ideias.

    Já o nosso maior escritor, Machado de Assis, escreveu: As coisas valem pelas ideias que nos sugerem. De fato, um bom texto é aquele que nos desperta a imaginação.

    E Machado de Assis foi um escritor que trazia ideias elaboradas de uma forma que parecessem simples, ele conseguia realizar o que uma cantora de fado portuguesa, talvez a mais célebre de todas, Amália Rodrigues, dizia: Ser simples é complicado. De certa maneira, outro músico, este de jazz, Charles Mingus, dizia: Tornar o simples complicado é fácil; tornar o complicado simples, isso é que é difícil.

    Todas essas ideias são reflexões úteis sobre a criatividade. Um aprendiz de redator deve considerá-las e refletir muito sobre o que representam, porque deverá ter um diferencial criativo para compor sua redação. O uso da imaginação é vital para esse fim.

    O grande problema de nosso ensino está em que não desenvolvemos a imaginação, apenas modelos teóricos de pensamento. Isso não condiz com nossa natureza, pois, de acordo com o publicitário brasileiro José Predebon, Nascemos sabendo voar com a imaginação. Como adultos, perdemos essa liberdade, inibidos pelo compromisso com a realidade.

    De fato, após termos o contato com dívidas, montarmos nossa casa, termos nosso próprio automóvel, constituirmos famíl ia, estarmos diante de obrigações do mundo adulto, parece que perdemos o contato com a imaginação, pois só pensamos em como sobreviver. Isso é um erro, porque nunca podemos abandonar a imaginação. Einstein, o grande cérebro da física, escreveu: A imaginação é mais importante que o conhecimento. Sem ela, o que conhecemos é apenas uma reprodução, sem nenhum diferencial de uso.

    Retomando o motivo que impulsionou as reflexões sobre princípios e um método para a geração de ideias, que é a paixão, temos que considerar o que um publicitário brasileiro, José Kfouri, diz sobre o tema:

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    "Estou convencido de que a técnica de produzir ideias não estará completa se não procurarmos desenvolver dentro de nós a técnica de ter a coragem de amar apaixonadamente o problema – a coragem e a capacidade. Quem ama o problema já tem dentro de si a primeira condição para criar uma boa solução. amar o problema significa dar ao cérebro um estado optimum para o início da boa solução.".

    Como redatores, teremos que dar uma solução ao tema proposto, que é o nosso texto.

    O pior é que há uma lenda em pessoas que acompanham o estudante no nível fundamental e médio, que é dizer que para redação não é preciso estudar. Isso é algo absolutamente ao contrário da realidade, porque redação é, sem dúvida, a matéria mais difícil de todas, porque não há previamente como saber qual será o tema a ser pedido. Por mais que tentemos projetar um tema para o ano, não há como saber o que interessará ser desenvolvido. É esta a razão pela qual, para se desenvolver uma ótima redação, é preciso muita leitura, nos mais diferentes assuntos, para não haver surpresa quanto ao conteúdo. As técnicas podem ser ensinadas, mas não o conteúdo.

    Não há como diminuir o valor da técnica. A esse respeito, o publicitário Reinhold Niebuhr sentencia: Andaríamos errados se supuséssemos que alguém, já tendo provado seus notáveis dons de imaginação, pudesse transmiti-los integralmente por meio de uma técnica. Há no artista (indivíduo criador) uma qualidade enganosa que desafia a análise e a imitação. Há, contudo, técnicas e procedimentos que se podem aprender e transmitir.

    Podemos concordar com o que diz o publicitário que um artista é realmente inovador. No estudo da literatura, vemos que aqueles que mais de perto seguiram as regras de uma determinada corrente foram os menos criativos; os que fugiram, pessoalmente, aos moldes rigorosos tiveram destaque em seu tempo como verdadeiros criadores, aqueles que impulsionaram a literatura. Do estudo de seus avanços é que surge a contemplação de técnicas que permitem aos aprendizes desenvolver seus textos. É importante,

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    porém, estar atendo a tudo que nos rodeia, pois, como diz José Predebon (já citado), As informações que usamos no exercício da criatividade estão contidas em tudo o que a nossa percepção consegue captar. Do primeiro princípio acima exposto podemos tirar algo semelhante: a criação é um rearranjo de algo já feito.

    Leis gregas para a associação de ideias

    Dos antigos filósofos gregos, especialmente das especulações de Aristóteles, temos algumas relações associativas entre ideias, que podem significar um desvendamento a quem tenha dificuldade em constatar a existência de relações. Lembremo - nos de que o segundo princípio trata, justamente, da necessidade de existir relações para que haja criação.

    Contiguidade

    Contiguidade é a proximidade existente entre duas imagens. Alguns exemplos: mar lembra navio, pena lembra pássaro.

    Semelhança

    A semelhança ocorre quando duas imagens se sobrepõem. Exemplos: gato lembra tigre, caderno lembra bloco de papel.

    Sucessão

    A sucessão ocorre quando uma ideia segue a outra. Exemplos: trovão lembra tempestade, abraço lembra beijo.

    Contraste

    O contraste ocorre quando duas imagens são opostas. Exemplos: preto lembra branco, ódio lembra amor.

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    Bloqueios à criação de ideias

    Este é o maior pesadelo para quem quer escrever: o bloqueio. Ele ocorre quando:

    • Quando há conformismo com o que está estabelecido.

    • Diante de atitudes e meio excessivamente autoritários.

    • Quando existe medo de se expor ao ridículo.

    • Quando há intolerância para atitudes mais ousadas.

    • Diante de hostilidade em relação a uma personalidade divergente.

    • Diante da falta de vontade e tempo para pensar. • Em face da rigidez da organização que inibe o

    novo.

    É preciso, pois, praticar a escrita e submetê-la a um especialista. Se não se quiser mudar, não haverá progresso. Querer aprender redação apenas por decorar nomes de termos técnicos – descrição, narração, dissertação – trará, no máximo, o reconhecimento dessas espécies em um texto, para uma interpretação, que é apenas um caminho para desvendar textos, não para criar os próprios escritos.

    E, para um texto original, que traga algum diferencial no momento de ser corrigido por uma banca examinadora, deve- se buscar algo diferente, mas não ridículo. Por isso, é preciso antes experimentar com a ajuda de um profissional que possa dar indicações dos melhores caminhos. Escreva e peça que um profissional leia seus textos e aconselhe sobre os melhores caminhos a desenvolver na escrita!

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    Capítulo 4: Filosofia e redação como primeiro desafio de busca de ideias

    Filosofia: uma proposta de estudo

    Ricardo Nascimento Fabbrini

    O curso de filosofia deve desenvolver no aluno uma habilidade técnica na interpretação de diferentes modalidades discursivas – análoga ao exercício de escuta, no sentido psicanalítico - que lhe permita a experiência da dominação intelectual: da posse, ainda que provisória, de uma língua da segurança que coloque em suspensão os lugares de conversação. Quebrando a barreira entre os gêneros dos discursos, entre as diferentes disciplinas e entre os diversos interlocutores, o curso de filosofia – seja na universidade, no ensino médio e mesmo fora dos cursos regulares – poderá, desse modo, estimular a produção de um diálogo intenso, laicizado, entre múltiplos sujeitos de enunciação, contribuindo para a constituição do espaço público. Somente assim a filosofia conquistará definitivamente, entre nós, sua

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