Espadas Cruzadas

De Cleide Barbosa

Espadas Cruzadas conta a história de Goto, um jovem que ver sua vida virar de pernas para o ar quando descobre que é a reencarnação de um temido lorde. Goto e seus irmãos, os príncipes de Marfim, lutarão para impedir que o perverso rei Orlando não abra o medalhão Atro e governe todos os reinos com o exército que contém nele. Tudo começa a se desvendar na vida de Goto quando ele fica diante da sacerdotisa de salinas, e percebe que só poderá derrotar seu inimigo permitindo que o lorde adormecido desperte. Mas para isso ele terá que adormecer para sempre!

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 8 de abr. de 2013

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Espadas Cruzadas

O despertar

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pelo dom

gracioso que me deu e por ser dona de uma

mente incrivelmente criativa, agradeço aos

demais escritores do mundo todo que hoje me

servem de exemplos, e também a mulher que

além de me dar a vida fez de tudo para que eu

fosse feliz, minha mãe!

Agradeço a todos vocês que lerem este livro,

pois eu o fiz especialmente para vocês.

Que este livro seja como todos os brasileiros,

Extraordinário!

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Espadas Cruzadas

O despertar

SUMÁRIO

1- Os príncipes de Marfim..............pág. 4

2- O segredo de Miguel..................pág. 60

3- O despenhadeiro........................pág. 121

4- O traidor......................................pág. 138

5- A verdade...................................pág. 165

6- A conquista de Ibérica................pág. 209

7- O mistério...................................pág. 246

8- De volta para casa......................pág. 262

9- Os Equa-Hedland.......................pág. 292

10- O feitiço de Orlando.................pág. 329

11- A morte do camponês criador

de vacas........................................pág. 340

12- A mata que come....................pág. 357

13- O último cristal de Orion..........pág. 383

14- O fim de um início....................pág. 407

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Espadas Cruzadas

O despertar

Capítulo 1

X Os príncipes de Marfim. X

Havia ao pé da colina uma bela casa feita de

madeira, quase todos os dias eu ia até lá pedir

um pouco de chocolate quente para a velha

senhora Hedland. Na tarde de domingo fui visitá-

la por que sabia que o rabugento do marido dela

não estaria lá.

Sentei-me na poltrona da segunda sala,

enquanto esperava ela voltar com minha xícara

de chocolate quente, avistei pendurada no alto da

parede na terceira salinha, uma magnífica

espada! Meus olhinhos de doze anos de idade

nunca avistaram algo assim, não resisti, ela era

leve e haviam alguns nomes escritos, mas ainda

não sabia ler; se bem que tampouco me importei

com os nomes, e antes que viesse minha xícara

de chocolate a deixei no mesmo lugar.

Três dias depois o caixão da velha senhora

desfilava em frente a minha casa, no entanto não

demorou uma semana para passar também por

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O despertar

ali o caixão do senhor Hedland acompanhado por

uma multidão, minha mãe sempre me disse que

quando um casal é unido demais nem a morte os

separa. A verdade e que depois disto não desci

mais a colina!

Hoje a arrumação está geral no palácio de

Marfim, o rei Luiz vai dar uma grande festa para

comemorar as bodas de ouro com a rainha

Nathalia, a realeza convidou os dez homens mais

importantes do reino para o banquete, e me sinto

muito orgulhoso por que meu pai, Michael Deoto

o escriba do rei estará entre eles.

Eu sou Franco Deoto, mas todos me conhecem

por Goto, se por acaso algum dia alguém chegar

na minha casa ou na vizinhança perguntando por

Franco Deoto ninguém saberá responder! Com

tanta correria até me sinto enjoado, minha mãe

parecia louca correndo para lá e para cá grudada

ao braço de minha irmã; tentando ao mesmo

tempo agarrá-la para pentear aquele cabelo duro

dela, foi difícil segurar a moleca, aquela cena me

irritou então fui ver o que o papai estava fazendo,

pela cantoria logo percebi; lá estava ele

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O despertar

experimentando seu traje, parecia criança quando

ganha doce, todo bobo.

A noite finalmente chegou, nossa! Quando saí

fora de casa parecia que as pessoas haviam

sumido, de fato havia! Entramos na carruagem

para irmos, estava uma noite escura e tenebrosa;

o palácio ficava a duas quadras de casa, mas

meu pai disse que era elegante chegar à moda

clássica, era um fardo aquentar tanta tolice!

Eu já havia entrado no palácio muitas vezes, ou

melhor, vivia lá praticamente, mas confesso que

nunca havia visto aquele lugar tão esplêndido

como o vi desta vez.

Descemos da carruagem e subimos as

escadarias elegantemente; na entrada fomos

anunciados e então os guardas; Bruno que eu já

conhecia desde que nasci e o chato do Filipe;

levaram-nos ao banquete, fizemos uma grande e

longa reverência ao rei Luiz, quando sentei eu

logo percebi que aquela seria uma noite

inesquecível!

Ah domingo!

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O despertar

Dia de pescar com os amigos e correr atrás dos

empregados do palácio, roubar boas comidas da

cozinha real e tudo mais, lá estava eu deitado na

minha cama pensando em como seria

maravilhoso esse meu dia de domingo; quando

de repente pancadas fortes ecoaram pela casa,

ouvi os chilenos da minha mãe se arrastando e o

barulho da porta da frente se abrindo, de leve

ouvir o nome Bruno. O guarda do rei! O que ele

estaria fazendo em casa no domingo de manhã?

Fiquei curioso! Quando saltei da cama minha

mãe saiu aos berros chamando meu pai atrás da

casa, pelo tom da voz estava chorando, corri para

o corredor onde uma mão gelada me tocou no

pescoço e meus cabelos pareciam ter recebido

um raio, mas logo vi que se tratava da minha

irmãzinha:

_ O que está acontecendo Bim?

_ O rei morreu.

Ela estava chorando também:

_ O rei morreu, mas como?

_ O Bruno disse que foi envenenado, eles estão

vindo atrás do papai!

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O despertar

_ Quem está vindo atrás do papai?

_ Os soldados do rei, vão matá-lo.

_ Por que, o que ele fez?

_ Nos acusaram por que estávamos no banquete!

Era óbvio que acusariam a nós, éramos os mais

pobres perante os outros nove senhores. Bim só

tinha nove anos, tentei acalmá-la do jeito que

pude; mesmo com as pernas parecendo galhos

de bambu no vendaval.

_ Goto, vamos entre na carruagem! _ gritava meu

pai.

_ Aonde vamos papai?

_ Não pergunte, segure sua irmã e não a solte!

Entramos na carruagem e fomos embora

acenando um triste adeus para Bruno, nosso

destino era incerto, após seis horas de viagem

sem comida; sem água; roupas e tudo mais, nós

atravessamos a fronteira que liga as terras do rei

Luiz com o vale sem dono, demos esse nome por

que ele realmente não tinha dono, meu pai disse

que em uma semana chegaríamos nas terra do

rei Orlando, mas se eles deixariam agente viver

por lá era outra questão. Bim chorava e minha

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barriga vazia um barulho tremendo; ouvi um chi,

era minha mãe chorando, então virei o rosto.

Quando eu era mais novo ouvia atrás da porta

meu pai brigar com minha mãe, ele ficava

zangado sempre que ela se arrumava e seguia

para o castelo, quando voltava seu cabelo estava

todo esvoaçado, ela dizia que ajudava na cozinha

e a toca desarrumava seu cabelo, outras vezes

dizia que era o vento, mas zangado mesmo foi o

dia em que ela chegou em casa com o vestido

todo rasgado.

Até hoje não consigo entender o porquê daquilo,

ele a batia e seus gritos ecoavam pela casa, eu

corria para não ouvir, Bim era bem pequena na

época, quando relembro dos gritos dela sinto um

ódio tremendo do meu pai:

_ Goto!

Às vezes tenho vontade de perguntar a ele, mas

meu pai nunca demonstrou tanto interesse em

mim quanto os conselheiros do rei demonstravam

por seus filhos:

_ Goto!

_ Fala Bim estou ouvindo.

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O despertar

_ Estou com fome.

_ Não temos comida não está vendo? _ ela

chorou.

Minha mãe de cabeça baixa ainda chorava.

Suportar aquilo era ofegante!

Peguei a mão de Bim e apertei bem forte; a

certa distância nós paramos, meu pai desceu e

falou que poderíamos dormir seguros ali, assim

que eu desci da carruagem percebi que meu pai

me olhava de jeito meio que arrogante, ele tirou

as botas dos pés e falou:

_ Goto venha cá.

Cruzei os braços e fui até ele:

_ O que foi pai?

_ Goto, se por acaso as coisas não derem certo

para nós em Belgrado, se os guardas fizerem

qualquer coisa a mim ou a sua mãe, eu quero que

você segure na mão de sua irmã e fuja, fuja para

bem longe está me ouvindo?

_ Não pai, nada vai acontecer com o senhor e

nem com a mamãe. _ chorei.

_ Você já é um rapazinho Goto e tem que

aprender que homem não chora! Você vai fugir

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com sua irmã para muito longe estamos

entendido?

_ Tudo bem pai!

_ Muito bem garoto agora vá dormir.

Dormir, como? Depois de tudo aquilo dormir era

impossível, ele me pediu para fazer algo que já

estávamos fazendo, fugindo. Como viver sem ele

e mamãe, cuidar de Bim sozinho, como?

Meus pensamentos voaram, adormeci! No dia

seguinte acordei com um tropel de cavalos, já

estávamos nas terras do rei Orlando, minha mãe

e Bim comiam bananas, onde arranjaram não

faço ideia, havia quatro delas no meu colo. Os

dias se passaram e tudo que vimos no resto da

viagem foram altas montanhas; grandes árvores e

atravessamos um extenso campo de onde

avistamos uma estradinha ao longe, por onde

passavam três carroças. Aos poucos foram

surgindo casinholas na beira da estrada, e pela

janelinha avistei algumas crianças correndo atrás

dos porcos. Por uma fração de segundo sorri,

entretanto meu coração estava batendo mais forte

agora que estávamos chegando, as palavras do

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O despertar

meu pai não saíam da minha cabeça, até pedi

para Bim passar para o banco de trás e segura

minha mão, afrouxei um pouco a fechadura da

portinha se por acaso precisasse sair correndo.

Viajantes como nós sem coisa alguma de valor

jamais chegariam a falar com o rei Orlando, por

isso e que tínhamos que falar com o chefe da

tropa que guardava a entrada para saber se nós

poderíamos ficar em Belgrado.

Certa vez meu pai me disse que um rei de um

reino vizinho havia morrido, e que seu filho mais

velho um príncipe muito arrogante havia sido

coroado no lugar do pai, e se tornara um homem

terrível.

Pensei se este poderia ser o rei Orlando,

chegamos ao portal da muralha que contornava a

cidadela do palácio, quem veio para falar com

meu pai foi um homem barbudo, eu já estava com

o pé fora da porta pronto para correr se

precisasse; então eu olhei para Bim e falei:

_ Bim, quando eu disse que é para correr você

corre, você corre comigo promete?

_ E a mamãe?

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O despertar

_ A mamãe vai correr também!

_ Ta, prometo!

O barbudo chegou perto da carruagem; olhou

para dentro e disse:

_ Vocês não têm bagagem, estão de passagem?

_ Não, não senhor, na verdade queríamos saber

se nós poderíamos ficar por essas terras, pois

não temos para onde ir.

_ E de onde é que vocês estão vindo?

_ Das terras do conde Bartolomeu.

Não entendi por que meu pai mentiu, pois não

havia conde Bartolomeu algum em Marfim, o

guarda continuou:

_ Então estão vindo de longe sem bagagem

alguma?

_ Na verdade fomos roubados no caminho para

cá, os Chupins nos abordaram!

Chupins foi o nome que deram para alguns

ladrões famosos, que corriam de reino a reino

atrás de viajantes com seus objetos de valores,

uma vez roubaram um baú com o tesouro que um

certo barão presenteou o rei Luiz, a cidade ficou

alarmada.

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O despertar

O barbudo continuou com o interrogatório:

_ Então os Chupins os abordaram, e isto foi muito

longe daqui?

_ Oh sim, já faz dez dias que isto aconteceu.

_ Mas por que vocês vieram para cá?

Minhas pernas estavam tremendo, minha mãe

de cabeça baixa olha para Bim com um olhar de

doer à alma, o interrogatório parecia não ter fim e

o pior de tudo é que as mentiras do meu pai só

iam aumentando:

_ A nossa lavoura foi atacada por uma praga e

perdemos tudo que tínhamos.

_ Praga, certo! Bem, acho que poderão passar

desta vez, espero que se ajeitem por essas

bandas aí.

_ Muito obrigado!

Meu pai tocou a carruagem e eu enfiei meu pé

alegremente para dentro.

Nove anos se passaram:

_ Goto vai busca o trovão. _ gritara meu pai.

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O despertar

_ Esse cavalo maluco não sabe comer no pasto

como os outros, tem sempre que fugir. _ respondi

nervoso.

Durante esse tempo meu pai conseguiu um

pedacinho de terra para cuidar, eu fui crescendo e

com o meu trabalho ajudei meu pai a comprar

algumas vacas leiteiras e alguns cavalos, vivemos

bem, não como nove anos atrás, mas bem!

A Berinê agora já crescida não se chama mais

Bim, ela passou a se chamar Nê, Bim agora é o

apelido da mais nova integrante da família Deoto,

minha mãe deu a luz a uma garotinha á seis anos

atrás.

A danadinha é loirinha e muito sapeca, fui atrás

do trovão e acabei encontrando Daniel, ele é de

Marfim assim como eu, no entanto ele também

fugiu no dia em que o rei Luiz morreu! Ele é filho

de um dos homens que também estavam no

banquete naquela maldita noite, o pior de tudo é

que o pai e a mãe dele não tiveram a mesma

sorte que ele, estava uma noite escura e eles não

avistaram a curva, no entanto eles acabaram

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Espadas Cruzadas

O despertar

caindo em um despenhadeiro e somente Daniel

sobreviveu.

O lado bom da história é que ele é filho único e

está morando agora com o Rodrigo e o Pedro

numa casinha modesta perto da nossa ali mesmo

no campo! Ele se aproximou montado a cavalo e

disse:

_ E aí Goto, o que está fazendo?

_ Estou atrás do trovão como sempre.

_ E a Nê, como ela estar?

_ Não sei por que pergunta por ela, você está

enrolado com a Sheila, não está?

_ Claro que sim, mas que mal há em perguntar

pela sua irmã? Mas se faz caso não pergunto

mais.

_ Ela está muito bem e você sabe disso!

_ Amanha é domingo, você vai tentar ver o rei

Orlando desta vez?

_ Amanhã verei o rei nem que para isso eu tenha

que derrubar cinqüenta guardas.

_ Não vou perder isso por nada no mundo! _

disse Daniel sorrindo.

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O despertar

Durante esses nove anos consegui ver o rei

Orlando cinco vezes, ele é branco e alto de olhos

azuis; cabelos pretos e longos, totalmente ao

contrário do que meu pai disse há muito tempo

atrás, o rei é um homem bom! A ultima vez que o

vi ele estava sentado no jardim do palácio

rodeado de guardas, na época eu trabalhava para

um velho como entregador de leite e um dia

precisei ir até lá para fazer uma entrega, foi aí que

o avistei. No dia seguinte fui demitido por azarar a

filha do velho, ela sempre se engraçava pro meu

lado; ele nos pegou no flagra, nossa! Aquilo eu

jamais vou esquecer, o velho pegou a velha

garrucha e me fez saltar a cerca de arame

farpado como lebre fugindo do gavião!

Quando as coisas ficaram melhores, meu pai

contratou um velho para tomar conta do rebanho

de ovelhas que há pouco tempo criamos, mas o

que não sabíamos era que esse velho havia

acabado de chegar de Marfim e trazia notícias

quentes de lá, Pedro; Rodrigo e Daniel estavam lá

naquela noite:

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_ Marfim está de perna para o ar _ dizia o velho _

por que a rainha Nathalia faleceu e como ela não

teve nenhum filho com rei Luiz o trono está vazio;

então surgiu um boato entre os conselheiros que

o rei Luiz deixou vários filhos espalhados por aí, _

minha mãe de um gemido_ alguns dizem que são

boatos mentirosos dos conselheiros, pois eles

não querem ver o estúpido do Folvor reinar sobre

Marfim!

De repente percebi que Daniel abaixara a

cabeça; por qual motivo desconheço, mas não

nego que fiquei curioso, no entanto quando minha

mãe deu aquele gemido mil e uma coisas

passaram pela minha cabeça, principalmente

aquela cena do vestido rasgado, mas daí eu filho

do rei? Não, era o mesmo que me tornar amigo

do rei Orlando.

Meu pai saiu e durante horas não apareceu,

ficamos naquela conversa durante horas e Pedro

que não sabia nada a respeito de Marfim opinava

mais do que qualquer um de nós. Avistei de

relance Daniel jogar um beijo para Nê, e Bim

puxar a saia da mamãe.

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Fui dormir pensando em Daniel, ele me pareceu

triste depois das notícias, amanhã era domingo e

teria tempo para conversar com ele, eu sempre

levava Bim para passear na cidade aos

domingos, na verdade era um jeito de tentar ver o

rei Orlando sem que meu pai ficasse implicando

comigo, ele sempre desfila na manhã de domingo

para saldar o povo; e eu nunca cheguei a tempo

de vê-lo, mas desta vez eu vou chegar!

Logo de manhã eu fui até o quarto de Bim e a

chamei:

_ Levanta Bim, hoje é domingo dia de passear na

cidade.

_ O Pedro vai com a gente?

_ Por que você vive falando no Pedro?

_ Por que ele é legal!

_ Ele vai, anda logo quero chegar cedo para ver o

rei Orlando desta vez.

_ Eu não sei como você pode gostar tanto de uma

pessoa que você mal vê Goto?

_ Ele é o rei Papai, o rei!

Eu enchia a boca para falar a palavra rei, era

esplêndido para mim, no caminho encontramos

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os rapazes, Rodrigo estava com uma capa preta

nas costas que mais parecia às asas de um

morcego, estava escuro, pois dava até para ver

as estrelas no céu mais o clarão do Sol se via ao

longe.

_ Então Daniel? Percebi que ontem você ficou

meio abatido depois da conversa ...

_ É que ele acha que é filho desse tal rei Luiz. _

disse Pedro.

_ Eu não acho Pedro, eu sou filho dele!

Apertei a rédea do cavalo e parei olhando para

Daniel, aquilo foi como um tiro em mim!

_ Pedro você tem uma língua grande demais.

_ Qual é Rodrigo foi ele mesmo que disse isso

ontem lá em casa.

Fiquei pasmo, quis saber como; então ele me

contou tudo até os mínimos detalhes, obviamente

acreditei em tudo o que ele me disse, de repente

sentir meu braço tremer e meu coração batendo

mais forte, parecia querer saltar para fora e uma

súbita vontade de chorar me veio, mas lágrima

alguma apareceu. Daniel ali do meu lado; um

príncipe e eu apenas um mísero camponês idiota,

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meu cavalo avançou, não queria mais a

companhia de Daniel; mas ele avançou também e

vi aqueles cabelos batendo nos olhos como os do

rei Luiz, realmente era filho dele, era o herdeiro

de Marfim!

Chegamos na cidade bem a tempo, o desfile do

rei estava começando, não acreditei que veria o

rei Orlando depois de tanto tempo, até esqueci

que Daniel estava ao meu