Direito E Justiça
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Direito E Justiça - Organizadora: Natalia Araújo
NATALIA ARAÚJO
Organizadora
Direito e Justiça:
Reflexões sobre direitos
constitucionalizados
1ª edição
Paripiranga
2016
4
Copyright © Natalia Araújo, 2016.
Edição: Natalia Araújo
Capa: Raul Sena
FICHA CATALOGRÁFICA
A663d
Araújo, Natalia (Org.)
Direito e Justiça: reflexões cerca de
direitos constitucionalizados / Natalia
Araújo [et al.] – 1. Ed. – Paripiranga – BA:
Edição do Autor, 2016.
179p.; 21cm (Direito e Justiça; v.1)
Vários autores
Bibliografia
ISBN 978-85-922053-0-0
1. Direito. 2. Direito Constitucional. 3.
Direitos sociais. I. Título. II. Série.
CDD: 341.27
CDU: 342.7
Os direitos sobre a edição desta obra pertencem à
organizadora.
A responsabilidade pelo conteúdo e originalidade das
informações apresentadas nos artigos é de seus respectivos
autores.
6
Sumário
A REPRESENTAÇÃO DO BANDITISMO SOCIAL
NO NORDESTE: A LUTA POR DIREITOS SOCIAIS 9
1
INTRODUÇÃO.......................................................9
2
O BANDITISMO SOCIAL COMO LUTA POR
DIREITOS...................................................................12
3
O CONTEXTO REGIONAL E SOCIAL DOS
CANGACEIROS..........................................................20
4
O IMAGINÁRIO DO BANDITISMO: DIREITO
SOCIAL OU TIRANIA?...............................................25
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................41
REFERÊNCIAS..........................................................44
O ACESSO À JUSTIÇA E OS MOVIMENTOS
SINDICAIS: REFLEXÕES A PARTIR DO
SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO
MUNICÍPIO DE APORÁ – SISEPA........................46
1
INTRODUÇÃO.....................................................47
2
MOVIMENTOS SOCIAIS, SINDICAIS E O
ACESSO À JUSTIÇA...................................................49
2.1
Introdução histórica.....................................49
2.2
O acesso à justiça.........................................58
3
REFLEXÕES A PARTIR DO SISEPA....................66
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................71
REFERÊNCIAS..........................................................73
MOVIMENTOS SOCIAIS E SINDICATOS DIANTE
DAS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO
TRABALHO...........................................................77
1
INTRODUÇÃO.....................................................78
2
MOVIMENTOS SOCIAIS.....................................79
3
HISTÓRICO DO MOVIMENTO SINDICAL.........81
3.1
Sindicalismo no Brasil..................................84
4
CONCEITO E PAPEL ATUAL DOS SINDICATOS
90
5
MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO E
CRISE SINDICAL.......................................................95
6
SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO
MUNICÍPIO DE APORÁ...........................................101
7
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................103
REFERÊNCIAS........................................................105
A INSTRUMENTALIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO NO CONTROLE DOS DIREITOS
8
FUNDAMENTAIS E OS DESCASOS DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..............................109
1
INTRODUÇÃO...................................................110
2
EVOLUÇÃO HISTÓRICA E DESENVOLVIMENTO
DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO BRASIL................112
3
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS E
MINISTÉRIO PÚBLICO...........................................116
4
O PARADIGMA DO MENOR INFRATOR,
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL E ATUAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO...........................................125
5
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DOS
DETENTOS E O DESCASO DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA..................................................................133
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................143
REFERÊNCIAS........................................................148
SINDICATO DOS PROFESSORES DO SETOR
PÚBLICO E O DIREITO DE GREVE....................150
1
INTRODUÇÃO...................................................151
2
LUTA PELO DIREITO À EDUCAÇÃO E AO
TRABALHO DOCENTE NO BRASIL........................154
3
VALORIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE.....161
9
4
TRABALHO E GARANTIA LEGAL DE
ORGANIZAÇÃO SINDICAL DOCENTE...................167
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................175
REFERÊNCIAS........................................................177
10
A REPRESENTAÇÃO DO
BANDITISMO SOCIAL NO
NORDESTE: A LUTA POR
DIREITOS SOCIAIS
Adriano Dias de
Almeida1
1 INTRODUÇÃO
O fenômeno conhecido como
banditismo social é um dos fatores mais
pesquisados por estudiosos que buscam
interpretar a causa de várias pessoas
aderirem ao fenômeno de associação de
pessoas revoltadas, vingadores, pessoas
que lutam por justiça. O banditismo aqui a
ser tratado será inserido no cangaço,
1 Graduando em Direito pelo Centro Universitário AGES –
UniAGES. Graduado em Letras Vernáculas com ênfase em
literatura e gramática, pela UNEB, Campus XXII Euclides da
Cunha. Pós-graduado do curso de Gestão Educacional com
ênfase em Coordenação pela Faculdade Batista Brasileira.
fenômeno ocorrido no Nordeste do Brasil
entre os séculos XVIII ao XX.
É bom lembrar que o significado mais
aceito para a explicação do termo cangaço
vem de canga, ou seja, um pedaço de
madeira colocado no pescoço do animal,
onde se penduram vários utensílios, dentre
eles armas, alforjes, alimentos, etc. Vale
dizer que se têm registro desses bandos de
cangaceiros desde o século XVIII, porém os
grupos organizados surgiram a partir do
fim do século XIX.
A grande tendência de formar grupos
onde deram nomes de cangaceiros, com
práticas do banditismo social, se deu pela
disposição ruralista que a sociedade
brasileira e os países da América Latina
tinham entre os séculos XVIII, XIX e XX,
bem como muitos países do mundo. Vale
ressaltar que o tema banditismo social foi
introduzido no meio histórico/literário na
década de 1960 com o estudioso Eric
Hobsbawn, na obra Bandidos
, cita em
alguns de seus textos ações individuais ou
13
coletivas de alguns tipos de grupos rurais
que se revoltaram contra a miséria ou
contra o poder dos governantes da época.
A pesquisa bibliográfica está baseada
nos seguintes autores e obras: Frederico
Pernambucano de Mello, com Guerreiros
do Sol (2007); Eric Hobsbawm, com
Bandidos (2010); Manuel Correia de
Andrade, com O nordeste e a questão
regional
(1993); Durval Muniz de
Albuquerque Jr., com, A invenção do
Nordeste e outras artes (2006); Rui Facó
com Cangaceiros e fanáticos: gênese e
lutas (1980); dentre outros autores que
definem cada modalidade do banditismo e
quais dos cangaceiros estão inseridos, seja
banditismo social, ou não, apresentando o
cangaceiro como homem de seu tempo e
com suas dificuldades.
Esta análise mostra o cangaceiro como
tipo representante de um sertanejo
valente, bravo, sentimental, com uma
língua original ao português vernáculo do
século XVI, o português de autores
14
clássicos como Gil Vicente e Camões;
aborda o sertanejo que sobrevive em
rigoroso isolamento, longe da cidade, da
lei, do contato com o capitalismo. Como se
sabe, o cangaceiro tem origens no
sertanejo, tornando-se vingador de injúrias,
de crueldades e de injustiças. Além de José
Gomes, o famoso Cabeleira vários
cangaceiros têm seu papel importante no
cangaço e na História do Brasil. A figura
mais conhecida e até lendária é a de
Lampião, o maior cangaceiro de todos os
tempos. O Rei do Cangaço como se
autodenominou, tinha um talento único,
estratégias nunca vistas antes, com um
pressentimento inigualável, que só
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião,
trazia.
Távora apresenta, em sua obra,
aspectos do determinismo, em que o
nomadismo fazia com que os cangaceiros,
em geral, participassem da vida ao ar livre,
convivendo com sol, chuva, seca e fome,
assemelhando-se com a luta do povo
15
liderado por Conselheiro na batalha de
Canudos e do movimento ocorrido no
sertão do Ceará, em Juazeiro do Norte,
conduzido pelo Padre Cícero que lutou
contra os descasos dos quais a população
carente teria que suportar. Sem contar que
estavam expostos a adquirir diversas
enfermidades e com ambientes de clima
quente com poucas chuvas, fazendo dos
cangaceiros homens que sobrevivem lado a
lado com o sol do sertão nordestino.
1.1 O BANDITISMO SOCIAL COMO
LUTA POR DIREITOS
Houve um período na história do
Brasil, a área Norte do país era totalmente
discriminada, escritores como Manuel
Correia de Andrade na obra, O Nordeste e
a questão regional, discute:
O conceito de Nordeste, a aceitação de
que existe uma região nordestina, é
relativamente novo no Brasil. Durante o
Império e a Primeira República, os
16
Estados hoje nordestinos eram chamados
de do Norte
, admitindo-se que o país
poderia ser dividido em duas porções: o
Norte e o Sul, a primeira se contrapondo
à segunda. (ANDRADE, 1993, p. 5)
A polêmica gerada entre José de
Alencar e Franklin Távora girava em torno
da diferenciação entre a literatura do
Norte e a produção literária considerada
sulista. Esta última se distanciava da
literatura nortista, de cuja autonomia
Távora era o grande defensor:
Não me é lícito esquecer aqui, ainda que
se trata do romance do Sul, um engenho
de primeira grandeza, que, com ser do
Norte, tem concorrido com suas mais
importantes primícias para a formação
da literatura austral. Quero referir – me
ao Sr. Conselheiro José Martiniano de
Alencar, a quem já tive ocasião de fazer
justiça nas minhas conhecidas Cartas a
Cincinato. [...] Quando, pois, está no Sul
em tão favoráveis condições, que até
conta entre os primeiros luminares das
suas letras este distinto cearense, tem os
escritores do Norte que verdadeiramente
estimam seu torrão, o dever de levantar
17
ainda com luta e esforços os nobres foros
dessa grande região, exumar seus tipos
legendários, fazer conhecidos seus
costumes, suas lendas sua poesia,
máscula, nova, vívida e louçã tão
ignorada no próprio templo onde se
sagram as reputações, assim literárias,
como políticas, que se enviam às
províncias. (1981, p 11)
Nas afirmações anteriores, concretiza-
se a ideia de que o regionalismo presente
em O Cabeleira é um fenômeno
diferenciado de obras como Cangaceiros e
Vidas Secas, escritas, respectivamente, por
José Lins do Rego e Graciliano Ramos. As
obras regionalistas são inspiradas e
contextualizadas em uma série de
romances voltados para o banditismo como
efeito da miséria, do latifúndio, das secas e
das migrações. Para Durval Muniz de
Albuquerque Junior, "a diferenciação
progressiva entre o Norte e o Sul do país já
era tema de diferentes discursos, desde o
final do século XIX" (2006, p. 57). Esse
distanciamento entre Norte e Sul se deu
18
pelo dilaceramento da nacionalidade entre
uma suposta civilização de brancos no Sul
e a presença da mestiçagem e negritude no
Norte.
Para alguns críticos, a finalidade do
romancista não se realizou. Alfredo Bosi
ressalta que: "visto de um ângulo
puramente externo (a fonte do tema) o
livro é baliza de uma série de romances
voltados para o banditismo como efeito da
miséria do latifúndio, das secas, das
migrações" (2006, p. 147). Utilizando
palavras do crítico literário, Bosi, obras2
como: A Fome e Os brilhantes, de Rodolfo
Teófilo, Os Cangaceiros, de Carlos D.
Fernandes, O Rei dos jagunços, de
Manuel Benício, Seara Vermelha, de
Jorge Amado e Os Cangaceiros, de José
Lins do Rego, são livros que apresentam
literalmente uma combinação "sofrível de
2 Essas obras citadas por Alfredo Bosi tratam da temática do
cangaço como uma forma de refúgio pelas pessoas que
aderiram a esse fenômeno. Esses romances são voltados
para o banditismo como resultado da miséria do latifúndio.
19
crônica do cangaço" e recursos
melodramáticos.
Na obra O Cabeleira, Távora, tendo a
intenção realista, fornece a reconstituição
do