O Último Ditador
De Paulo Verzog
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O Último Ditador - Paulo Verzog
PAULO SANTOS
O ÚLTIMO DITADOR
O GOLPE DE 77
1ª edição
São Paulo
Paulo Henrique dos Santos
2019
Copyright © 2017 by Paulo Henrique Santos Capa
Luis Henrique
Revisão
Sílvia Cipriano
https://www.facebook.com/ultimoditador
https://paulohqsantos.blogspot.com/
[ 2 ]
PREFÁCIO .................................................................................................... 7
PRÓLOGO .................................................................................................... 9
PRIMEIRA PARTE 1993 ...................................................................... 10
SEGUNDA PARTE 1994 ........................................................................ 71
TERCEIRA PARTE 1995 ....................................................................... 89
O ÚLTIMO DITADOR
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O ÚLTIMO DITADOR
Este livro só foi possível
graças à valiosa ajuda do
meu filho César Augusto e
do
meu
irmão
Luís
Henrique.
Também
o
dedico à memória do meu
irmão José Henrique, que
gostaria de ler estas
páginas.
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O ÚLTIMO DITADOR
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O ÚLTIMO DITADOR
PREFÁCIO
Em latim, a palavra prefácio
significa dito (FATIO) antes (PRAE)
, ou seja, define as palavras que serão ditas antes do próprio livro, o que sugere o conhecimento prévio da obra. Por isso, o autor de um prefácio, costuma ser o próprio escritor, quando não, deve ser alguém que conheça a obra e tenha propriedade, o que não sei se é o caso, todavia, foi com imensa alegria que aceitei o desafio de preambular o presente romance de Paulo Santos.
O paulistano Paulo Santos representa inúmeros contadores de histórias que figuram, no século XXI, a batalha pela literatura independente.
Escritor de léxico simples e discurso poético, rico em uma oralidade própria da ficção de resistência popular, constrói cenários e cria personagens que ganham vida em nosso imaginário, a ponto de os reconhecermos nas ruas das periferias, grandes centros ou áreas nobres das cidades brasileiras.
Em O Último Ditator – O Golpe de 77, ao mesmo tempo em que apresenta a incrível saga política de personagens que poderiam ter existido, como o cabelos grisalhos
, Fernando Gonzaga ou Geraldo Trindade, expõe de forma crua o tráfico de mulheres.
A história da luta pelo poder é narrada de modo pungente e leve, ao mesmo tempo. Um paradoxo que transpassa todo o enredo, desenvolvido de forma eficaz. A linguagem flui, como se contada fosse em volta de uma fogueira.
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O ÚLTIMO DITADOR
Ao leitor desavisado, a teia narrativa parecerá fazer parte de uma história antiga e real, pois o êxito da obra ocorre – justamente -
pela força de verdade na apresentação do universo político, e histórico, do fictício Brasil de 77, período chave para o tempo do romance. É razoável atribuir parte desse êxito, também, às citações de nomes, obras artísticas e eventos que marcam a realidade dos brasileiros, além do desfecho inesperado que, com certeza, surpreenderá o mais hábil dos leitores.
É preciso, ainda, dizer que a sensação de realidade que transborda do livro, provavelmente, deve-se – ao trabalho excelente na construção das personagens e dos fatos ficcionais que parecem corroborar com a máxima de Nicolau Maquiavel: "O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta. "
Esta é a obra de apresentação de Paulo Santos, todavia, está claro que este contador de histórias veio para fincar raízes na literatura brasileira.
Sílvia Cipriano
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O ÚLTIMO DITADOR
PRÓLOGO
Beth Cristina tinha trinta e nove anos, dois dos quais foram gastos procurando, de quartel em quartel, seu marido desaparecido.
Numa dessas buscas, um oficial do Exército disse: - Você é a culpada pelo sumiço do seu marido. Ao ouvir algo tão absurdo, Beth reuniu toda sua coragem para responder:
- Vocês o mataram. E agora colocam a culpa em mim.
- Como sabe que o matamos? - o oficial falava aquilo com um sorriso cínico – você tem culpa, pois militava no Partido Comunista.
-Então... Por que não prenderam a mim, ao invés dele?
- Porque queremos que você sofra!
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PRIMEIRA PARTE 1993
SÃO PAULO
Fernando desligou a TV depois de verificar canal por canal. Todos transmitiam a posse do novo presidente da República, o general Eduardo Amorim.
- Vamos dormir mulher. Hoje, não tem novela.
- Tem novela, sim! Todo dia tem novela.
Fernando foi pra cama, Lúcia ficou no sofá. Quando ele acordou, ela ainda dormia, a TV ligada. O noticiário matutino dava destaque ao novo general-presidente. Fernando teve vontade de quebrar o aparelho, mas se limitou a ir para o chuveiro. Minutos depois tomava o café silenciosamente evitando o olhar de Lúcia. Porém, não conseguiu evitar as palavras dela:
- O que você vai fazer hoje?
Ele fingiu que não ouviu e se levantou, foi até a porta e disse:
O ÚLTIMO DITADOR
- Não me espere pro jantar. Tenho um compromisso, depois do expediente.
- Expediente? Que expediente, se você tá desempregado?
RIO DE JANEIRO
Aos pés do Cristo Redentor, Luís esperava. Não esperava por um milagre, mas se acontecesse seria bem vindo. Vinícius demorava, mais do que nos encontros anteriores. Tudo de pior passou pela mente de Luís, e isso era absolutamente normal, não só no caso dele, mas no caso de qualquer um que estivesse comprometido a derrubar a ditadura militar. Vinícius apareceu, misturado a uma multidão de turistas.
- Já estava achando que você tinha sido preso - Luís disse.
- Vamos conversar em outro lugar. Rápido! Acho que tem uns caras me seguindo.
Não perderam tempo. Logo, já estavam num barzinho em Ipanema.
- Luís, a gente tá cercado, cara! Eles tão pegando todo mundo.
- Ainda tem o Fernando lá em São Paulo. Enquanto ele não cair, a gente tá firme.
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O ÚLTIMO DITADOR
- Você que pensa. O Joaquim foi preso em Fortaleza. Parece que andou entregando uns nomes pros caras.
Uma Kombi parou na frente do bar. Saltaram três sujeitos que imediatamente sacaram suas armas. Entraram no bar atirando.
Luís foi atingido. Levantou-se derrubando mesas e cadeiras. Ao mesmo tempo, Vinícius se jogava no chão procurando um lugar para se esconder. Não deu. Tomou um chute na barriga e ficou se contorcendo de dor no chão. Alguém o ergueu pelo colarinho da camisa. Outros o agarraram pelos braços e pernas. Foi jogado para dentro da Kombi.
BRASÍLIA
O general-presidente Amorim estava relendo Dom Casmurro
, quando recebeu, em seu gabinete, o chefe do SNI, general Victor Seixas. Seixas e Amorim já eram velhos conhecidos. Ambos faziam parte da chamada linha dura
, ou seja, o grupo de militares contrários à abertura lenta, gradual e segura
orquestrada pela dupla Golbery-Geiselaté (1977). Pois, naquele 1977, o golpe liderado pelo general Sylvio Frota derrubou Geisel e a ala moderada do Exército perdeu o poder. Desde então, a ditadura militar eliminou os principais opositores do regime: Fernando Henrique Cardoso, Ulisses Guimarães, Mário Covas, Franco Montoro, Leonel Brizola, Orestes Quércia, Tancredo Neves... Todos assassinados.
Naquela tarde, Seixas foi parabenizar o velho camarada.
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O ÚLTIMO DITADOR
- Quem diria, Eduardo! Você no Planalto.
Diante do companheiro sorridente, Amorim tirou dois charutos da gaveta. Ofereceu um ao amigo enquanto pegava o isqueiro em outra gaveta.
- Pode fumar tranquilo, Victor. Não são de Havana...
Seixas soltou uma gargalhada.
- É claro que são cubanos. Você continua o mesmo brincalhão de sempre, Eduardo. Por falar nisso, como vão as coisas na ilha?
Amorim acendeu o charuto de Seixas, em seguida o seu.
- Tão logo tomei posse, o pessoal de Washington já quis saber quando nossas tropas se retiraram de Cuba. Parece que estavam esperando o fim do outro governo... Como se fizesse diferença.
O sorriso no rosto de Seixas desapareceu.
- Eduardo... Espero que você continue com a política anterior. Não podemos perder Cuba. Se não fosse a gente, eles ainda estariam aguentando aquele barbudo.
- Você tem razão. Os ianques se livraram do Fidel sem dispararem um único tiro. O serviço pesado foi feito pelo nosso pessoal. Então é justo que o Brasil continue administrando Cuba.
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O ÚLTIMO DITADOR
- É assim que se fala, Eduardo.
SÃO PAULO
Fernando já sabia da morte de Luís e da prisão de Vinícius.
Como sempre, as notícias chegavam depressa. Mas, junto com a notícia ruim chegou uma nova orientação do Partido. Ele foi ao terminal de ônibus, mas ficou do lado de fora. William havia marcado uma conversa com ele ali, pela manhã.
- Você tem uma nova missão, Fernando.
William era o agente de contato com o Comitê Central. Portanto, uma missão transmitida por ele era de fato uma missão ordenada pela cúpula do Partido.
- Quem eu tenho que matar dessa vez?
- Ninguém. Você deve se encontrar com um novo membro do Partido. Uma mulher. O nome dela é Marisa.
- Não entendi... Por que eu?
Essa não é a questão. Foi ela que te escolheu. Marisa é apenas um codinome. Ela é uma velha conhecida sua.
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O ÚLTIMO DITADOR
Oito dias depois daquela conversa, Fernando caminhava às margens da represa Guarapiranga. Havia muita gente ali, mas ele conseguiu distingui-la na multidão.
- Irene! Você continua linda.
- Marisa, Fernando, agora eu sou a Marisa, não esqueça. Como vai?
- Eu vou levando a vida. Uma vida clandestina. A única vida que eu conheço. Minha mulher sabe que eu aderi à luta armada, mas não dá a mínima. E o seu marido? Ele sabe que você se filiou ao Partido?
- Eu me divorciei