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Indivíduos Em Rizoma
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Indivíduos Em Rizoma
E-book263 páginas4 horas

Indivíduos Em Rizoma

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Sobre este e-book

Minha proposta com esta dissertação é fazer uma descrição de como é a sociabilidade de um grupo de pessoas formado a partir da Internet. Por ter um caráter de rede, a própria noção de grupo é alterada conceitualmente, mas mantém a noção de agrupamento em rede de forma bem clara. O conceito de sociabilidade é trabalhado de modo a ser, genericamente, a troca entre estes indivíduos diante de um espaço múltiplo e fluido: a Internet e em seguida suas interações face-a-face. A proposta é cumprida com o máximo de rigor descritivo (a etnografia) e com algumas notas comparativas com outros agrupamentos contemporâneos similares. O resultado é que o grupo pesquisado (o grupo Galera ZAZ) se apresenta com características semelhantes e com algumas mais particulares em relação a um amplo espectro de sociabilidade possível no mundo atual e, como era minha proposta, a concentração está na descrição destas características: rituais, códigos, símbolos e formas de interação que dão sentido a essa sociabilidade específica.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de mar. de 2019
Indivíduos Em Rizoma

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    Indivíduos Em Rizoma - Fabiano Viana Oliveira

    Indivíduos em Rizoma:

    Sociabilidade em rede na

    Internet

    Resultados de uma pesquisa de campo

    Fabiano Viana Oliveira

    Indivíduos em Rizoma:

    Sociabilidade em rede na

    Internet

    Resultados de uma pesquisa de campo

    Fabiano Viana Oliveira

    (direitos autorais e diagramação)

    OLIVEIRA, Fabiano Viana. Indivíduos em Rizoma: Sociabilidade em rede na Internet - Resultados de uma pesquisa de campo. Saarbrücken: Novas Edições Acadêmicas, 2016.

    308 p.

    ISBN 978-3-330-72947-6

    1.Dissertação de mestrado 2. Antropologia. 3. Internet.

    Resumo

    Minha proposta com esta dissertação é fazer uma descrição de como é a sociabilidade de um grupo de pessoas formado a partir da Internet. Por ter um caráter de rede, a própria noção de grupo é alterada conceitualmente, mas mantém a noção de agrupamento em rede de forma bem clara. O conceito de sociabilidade é trabalhado de modo a ser, genericamente, a troca entre estes indivíduos diante de um espaço múltiplo e fluido: a Internet e em seguida suas interações face-a-face. A proposta é cumprida com o máximo de rigor descritivo (a etnografia) e com algumas notas comparativas com outros agrupamentos contemporâneos similares. O resultado é que o grupo pesquisado (o grupo Galera ZAZ) se apresenta com características semelhantes e com algumas mais particulares em relação a um amplo espectro de sociabilidade possível no mundo atual e, como era minha proposta, a concentração está na descrição destas características: rituais, códigos, símbolos e formas de interação que dão sentido a essa sociabilidade específica.

    Palavras-chave: Etnografia, Sociabilidade, Rede, Grupo, Internet.

    Sumário

    I - PONTOS E QUESTÕES INTRODUTÓRIAS - 7

    1. Objeto e Metodologia - 7

    2. Sobre algumas categorias aqui usadas - 15

    2.1- Virtual e Real - 15

    2.2- Noção de Grupo - 19

    II - O ESPAÇO DA INTERNET - 23

    1. Espaço - 23

    2. Características do espaço da Internet - 26

    3. Sobre a Escrita - 39

    4. Sub-espaços de Interação - 47

    4.1- Fóruns e listas de discussão por e-mail - 47

    4.2- E-mail - 51

    4.3- Chat - 53

    4.4- ICQ e similares - 56

    5. A Apresentação do Eu no espaço da Internet - 64

    5.1- No e-mail - 69

    5.2- Nos Fóruns - 71

    5.3- Nos Chats - 72

    5.4- No ICQ - 76

    5.5- Nos sites de encontros - 7

    III – SOCIABILIDADE - 80

    1. Introdução - 80

    2. Motivações. Identificação. Afinidades. - 85

    3. Motivações - 86

    3.1- Contexto - 86

    3.2- Juventude - 91

    3.3- Lazer - 95

    4. Identificação - 99

    5. Afinidades - 107

    IV - INTERNET E SOCIABILIDADE - 117

    1. Contexto e Perfil de Usuário Ideal da Internet - 117

    1.1- Perfil sócio-econômico - 118

    1.2- Sobre a Multiplicidade - 129

    1.3- Sobre os Usos da Internet - 134

    1.4- Sobre a Familiaridade com o Espaço - 140

    1.5- Sobre as Interações - 147

    1.6- Sobre a passagem da Net para o face-a-face - 164

    1.7- Sobre as considerações finais gerais - 174

    2. O grupo Net Galera ZAZ e Face-a-face - 179

    2.1- Alguns esclarecimentos anteriores - 179

    2.2- No chat, onde tudo começa. - 181

    2.2.1- Código de sociabilidade - 181

    2.2.2- Médias de fluxo de membros e usuários no chat - 191

    2.2.3- Afinidades - 200

    2.2.4- Aprendendo os rituais - 204

    2.2.5- A construção da intimidade - 206

    2.2.6- A afetividade no chat - 209

    2.2.7- Clones - 213

    2.2.8- Como os subgrupos aparecem no chat - 214

    2.2.9- Circuitos de interação no chat - 216

    2.3- Face-a-face - 222

    2.3.1- Apresentação - 222

    2.3.2- Aplicando os rituais - 226

    2.3.3- Fluxos internos do grupo - 228

    2.3.4- As aproximações por afinidade - 231

    2.3.5- Complementaridade entre espaços - 235

    2.3.6- Partilhamentos - 239

    2.3.7- A convergência de tantos diferentes - 240

    2.3.8- Cotidiano descritivo do grupo - 257

    2.3.9- Circuitos de sociabilidade (forma de trocas em rede) - 261

    2.3.10- Os subgrupos - 272

    2.3.11- Atualizações extras I - 279

    2.3.12- Atualizações extras II - 281

    V – CONCLUSÕES - 301

    REFERÊNCIAS - 307

    I - PONTOS E QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

    1. Objeto e Metodologia.

    O objetivo desse trabalho é estabelecer uma compreensão do tipo de sociabilidade que se dá em grupos formados a partir do espaço da Internet, comparando-se ainda esta sociabilidade com outras formas coexistentes na atualidade. Cuja relevância se torna explícita pela natureza contemporânea desse tipo de formação coletiva, que faz parte, inegavelmente, de nosso cotidiano, e por isso deve ser conhecida e compreendida em seu contexto e interioridade. A hipótese central que leva este empreendimento é que grupos formados a partir da Internet têm características próprias e específicas, particularidades relativas tanto a sua origem particular (no espaço da Internet) quanto ao seu desenvolvimento específico, com pessoas de um certo contexto; neste caso o esforço descritivo deverá ser mais importante que o comparativo, mas sem se ignorar a integração particular destes grupos com um contexto maior de outras formações coletivas e também de diversidade cultural.

    Para isso, este trabalho se inicia apresentando o contexto onde se desenvolve a sociabilidade suposta a ser estudada. O contexto contemporâneo das teorias sobre sociabilidade e o contexto do próprio espaço da Internet. Em seguida, inserirá o leitor numa amostra da variedade de articulações sobre o tema abordado e finalmente descrevendo os rituais da sociabilidade de um grupo¹ de pessoas formado a partir do espaço da Internet, que podemos chamar de grupos Net, por hora.

    Nosso objeto é o estudo etnográfico da sociabilidade de um grupo formado no espaço da Internet e que também se atualiza no espaço das relações face-a-face (real) e a reflexão comparativa com teorias sobre o contexto da sociabilidade contemporânea. Utilizando também, para isso, informações de outros pesquisadores de áreas afins para saber sobre outros possíveis grupos que possam servir de ponto de comparação.

    A aparente tendência lúdica de ver a sociabilidade no espaço da Internet me fez ir na direção de grupos que se reúnem de maneira primariamente afetiva e hedonista. Mas devo pôr o leitor a par da existência de outros tipos de agrupamentos com caráter mais funcional ou utilitário. Na verdade essas características aparentemente divergentes de agrupamentos contemporâneos têm uma separação e classificação muito mais acadêmica que fatual: no mais das vezes as características se entrelaçam (funcional, hedonista, utilitária, lúdica...) com a prioridade de umas ou outras a depender dos contextos possíveis de espaços de interação.

    Os métodos utilizados para o desenvolvimento desse objeto foram, por um lado, um questionário on line, para avaliar principalmente os pontos qualitativos de uma amostra representativa do universo de usuários da Internet e daí construir um esboço de contexto do espaço e um perfil ideal de usuário, que formam a primeira parte do capítulo IV deste texto; a acumulação de dados originados de diversas e aleatórias atividades de sociabilidade na Internet (Chats, Fóruns, etc.); e por outro, a observação-participante num grupo que se atualiza (se reúne) no IRL (o mundo das relações face-a-face ou real), assim como na Internet, que finaliza o capítulo IV deste argumento e fecha a dissertação.

    As etapas da pesquisa: Antes de iniciar este projeto vinha acumulando dados de Fóruns, Chats e e-groups; após a árdua caminhada de leituras e definição do objeto, comecei a escrever textos provisórios para serem preenchidos aos poucos, cujos produtos finais formam os capítulos I, II e III da dissertação. Depois preparei o questionário que foi aplicado on line, numa forma de trazer informações variadas das pessoas que usam a Internet para a composição do contexto do espaço e perfil do usuário. Enviei o mesmo no final de dezembro de 1999, após todas as revisões, para cerca de 800 e-mails (endereços eletrônicos) e dei um prazo de 2 meses para respostas. Recebi 42 respondidos. A média, aparentemente baixa, tem haver com uma das características do espaço da Internet e com os hábitos de seus usuários: multiplicidade de informações, atividades e, por conseqüência, de escolhas a serem feitas. Por uma questão de maior validação dos dados coletados, realizei uma nova aplicação do mesmo questionário em agosto de 2000, utilizando uma parte da amostra anterior (os 800 e-mails) somados a um outro contingente mais abrangente qualitativamente, chegando assim a um total de 96 questionários respondidos e um razoável perfil de usuário do espaço da Internet e a uma contextualização do mesmo. Além disso, eu busquei outras pesquisas mais quantitativas sobre o espaço da Internet² e outros dados complementares.

    Como forma ampliar a localização de nossa amostra de usuários da Internet para esta pesquisa, tomemos conhecimento dos seguintes dados: de acordo com estimativas da UNESCO em 1999 apenas 3% da população mundial (mais de 6 bilhões) têm acesso a computadores e à Internet, isto é, 180 milhões de pessoas³. Segundo pesquisa do Instituto DataFolha realizada em 1999, existem cerca de 8 milhões de usuários da Internet no Brasil⁴, isto é, apenas 5% da população (mais de 160 milhões) têm acesso à Internet. Nosso universo total foi de 1000 usuários, isto é, 1,25% do total de usuários da Internet no Brasil. Desse universo de 1000 usuários, 96 responderam ao questionário e por isso constituem nossa amostra, isto é, 9,6% do universo. Devemos ter claro que estes números mais gerais são mutáveis de acordo com as possibilidades de desenvolvimento do espaço da Internet no futuro próximo, no entanto, para o estabelecimento de um perfil contemporâneo de um usuário ideal do espaço da Internet, estes dados serão suficientes, enriquecendo a nossa compreensão posterior da Etnografia do grupo Galera ZAZ⁵, que também está inserido neste mesmo contexto.

    As questões foram formuladas de modo a apresentar um perfil mínimo de usuários da Internet e assim poder contextualizar melhor o espaço em que se dá a sociabilidade específica em estudo. Usei como auxílio os dados de pesquisa realizada on line pelo mestrando em Psicologia Social, Eduardo Krauze Diehl⁶, em colaboração com o portal/provedor ZAZ (hoje chamado TERRA), e que, por coincidência foi de onde se originou o grupo o qual pesquiso em campo: Galera ZAZ⁷. Esta pesquisa foi feita de maneira espontânea através de todas as salas de chat do ZAZ durante um período de seis meses (de Janeiro de 1999 à Junho de 1999). Fizeram parte dos dados coletados nesta amostra, sujeitos virtuais, usuários das salas de conversação do ZAZ, de ambos os sexos, de diversas faixas etárias de todas as regiões do Brasil. A amostra total foi de 24.834 sujeitos. Devo lembrar do período maior da pesquisa do Eduardo Krauze Diehl e o tipo de pesquisa (espontânea e em colaboração com um grande e muito freqüentado portal da Internet no Brasil). Foi recomendado aos usuários questionados que as respostas fossem dadas rápida e espontaneamente, o que demonstra o ponto de vista mais psicológico da pesquisa de Eduardo Krauze Diehl, mas que nos forneceram importantes dados complementares para a construção do nosso usuário ideal. Estes dados nos ajudaram também a formular um contexto mais amplo até se fechar em nossa amostra, mas qualitativa que quantitativa, e finalmente chegando ao nosso objeto central: um grupo que se atualiza regularmente na Internet e face-a-face (o grupo auto denominado Galera ZAZ).

    O passo seguinte foi a penetração em um grupo que se atualizasse na Internet e também face-a-face; em seguida a minha convivência com eles em suas atualizações nos diferentes espaços e situações. Este processo teve um recorte temporal de cerca de quatro meses, dentro do qual pude observar e participar de diversas situações que explicitam, mas não determinam precisamente o perfil do grupo, já que sua formação e manutenção é sem dúvida espontânea. O processo descritivo advindo desta metodologia etnográfica irá nos mostrar como se apresentam os membros do grupo dentro de cada espaço da interação; como se dão suas atividades e rituais; quais suas características diante do contexto contemporâneo de onde eles se formam (ou se atualizam); enfim, como é sua sociabilidade.

    Em primeiro lugar vemos como se desenvolvem as interações entre os indivíduos no espaço em que se originaram: o chat do provedor ZAZ (atualmente: Terra) segmentado⁸por cidades A-Z, Salvador (1 ou A) (a primeira sala de bate papoda cidade de Salvador). Em seguida veremos como se dá o movimento de passagem entre o espaço do chat para o espaço face-a-face, este centralizado e mais concentrado em encontros semanais num grande shopping da cidade. Em terceiro lugar veremos como se desenvolvem as interações do grupo no espaço face-a-face, este indo além do encontro central no shopping e atingindo ramificações em vários e diferentes espaços e situações. E finalizando, veremos como se dá a complementaridade entre espaços de interação do grupo: do chat para shopping, do shopping para praia e viagens, destes de volta ao shopping e ao chat e assim por diante num desenvolvimento não linear (rizoma) de interações complementares; algumas cumulativas e duradouras, outras passageiras e intensas, mas todas fazendo parte de uma rede de interações aberta e fluida⁹.

    Enfim, a revisão teórica dos três primeiros capítulos; a análise de dados qualitativos e quantitativos da primeira parte do capítulo IV e as descrições e análises da segunda parte do mesmo; tudo se complementa num processo contínuo de contextualização geral para a compreensão particulardo que é a sociabilidade no espaço da Internet.

    2. Sobre algumas categorias aqui usadas.

    2.1- Virtual e Real

    A oposição virtual - real não se sustenta logicamente, mas é usada coloquialmente, então, devemos fazer uma introdução explicativa sobre o tema e a explicitação dos termos utilizados para este trabalho.

    De uma maneira simples poderia dizer que o que é virtual é o que está por vir (ou o possível) e o real é a atualização dessa virtualidade, mas isto não põe a questão tão claramente. Acredito que todos que leiam este texto têm uma idéia relativamente segura do que seja uma coisa e outra, e muito provavelmente convivem bem com essa separação dicotômica entre virtual e real. A popularização da própria Internet causa isso: torna os termos familiares, mas não os explica satisfatoriamente. Tudo é real, inclusive aquilo que está virtual. Alguns exemplos: a língua (qualquer uma) é virtual, enquanto a fala é que a atualiza, no entanto, tanto língua quanto fala são reais. A informação na Internet está virtual (desterritorializada, Lévy, 1999), não está em lugar nenhum e pode estar em todo lugar... e ela é atualizada a todo momento de consulta e troca; como a língua, disponível a todos para falar. Ou ainda, o ensino é virtual e o aprendizado é a sua atualização. Quer dizer, a maneira que pareceria correta de se separar o virtual de outro termo seria o atual, mas nem mesmo isso parece conveniente para o nosso trabalho, pois mesmo quando um grupo está reunido em algum chat, ele está sendo atualizado ali... naquele ambiente chamado pelo próprio grupo de virtual (espaço da Internet).

    Uma outra maneira de ver a questão é admitir toda realidade como sendo intermediada por símbolos, isto é, nós compreendemos a realidade através de símbolos e estes símbolos são virtuais a todos, como códigos que todos são capazes de reconhecer, mas que não estamos usando o tempo todo (como a língua, exemplificada no parágrafo anterior). Deste modo, é claro, a noção de realidade se torna mais difícil ainda de ser reconhecida para o nosso trabalho, pois, afinal, o real estaria na constante intermediação com os símbolos, que são virtuais. E, neste caso, tomo emprestado de Manuel Castells a percepção de que a cultura é transformada pela mediação tecnológica (1999: 354), que nos coloca diretamente na mediação (virtual) de símbolos exatamente presentes no nosso espaço de investigação: o contexto (Internet) onde os grupos Net se desenvolvem.

    Segundo Pierre Lévy há várias formas de ver o virtual. É uma nova forma de relacionamento, uma nova forma de espaço (diferente e complementar) e que não é oposto ao real. A realidade das interações passa a se virtualizar¹⁰dessa nova forma. E as possíveis atualizações desse virtual são as diversas novas formas de interação. O virtualexiste, enquanto o atualacontece. O virtual não ‘substitui’ o ‘real’, ele multiplica as oportunidades para atualizá-lo. (1999: 88) Projetamos nós mesmosem vários lugares diferentes, virtuais, prontos a se atualizar em vários espaços e momentos diferentes; são desdobramentos de eus em diversas interações, todas reais, mas diferentes, ora aqui, ora em toda parte, ora em si, ora misturado. (Lévy, 1996: 33) No espaço da Internet em especial esse desenvolvimento fica bastante visível, como veremos.

    Os textos trocados na Internet são as atualizações de uma linguagem virtual em comum partilhada pelas pessoas presentes neste mesmo espaço. As pessoas fazem-se entender mesmo não estando próximas e são interpretadas a partir das atualizações de seus textos (uma interpretação veloz e em meio a uma grande multiplicidade simbólica); e quando ocorre o encontro face-a-face, estes textos se tornam virtuais diante da atualização corrente, que pode a qualquer momento trazer à atualização este repertório virtual. Regras e convenções estão virtuais nos grupos e são atualizadas durante as interações. A regra aparece em especial quando é quebrada ou prestes a tal, pois é lembrada (atualizada). Aprendemos e trocamos significados e virtualizamos as compreensões (todos podem conhecer os significados). Um grupo que se atualiza (estar-junto / Internet ou IRL), troca significados e apresentações; seus membros o têm virtual o tempo todo em cada um, pelo menos enquanto este tiver significado para eles ou para pelo menos um.

    Em outra obra Pierre Lévy sugere mais uma diferenciação de denominação para o espaço dos computadores (Internet, Ciberespaço) e o face-a-face: ...o universo da informação digital e o mundo ordinário. (1999: 37) O que dá uma espécie de impressão de extraordinário no espaço da Internet, mas a diferenciação é válida de um ponto de vista do espaço que é mais comum às interações e o que é menos comum; podemos inferir que eventualmente o espaço da Internet poderá deixar de ser visto como fora do ordinário, se este for considerado o cotidiano dos seus usuários.

    Mas todas essas constatações não resolvem de modo algum o problema... e não acredito que poderei resolver. Separar real de virtual é uma mera convenção popular para o mundo fora do computador e dentro do computador, o que vimos ser, nessa dicotomia simplificada, uma inverdade; ou, como diz Pierre Lévy (1999): ...no uso corrente, a palavra virtual é muitas vezes empregada para significar irrealidade, enquanto ‘realidade’ pressupõe uma efetivação material, uma presença tangível. (47) Permaneceremos com as denominações fixadas até aqui como as menos problemáticas (espaço da Internet e face-a-face), mas sabendo da subliminar presença das outras denominações, especialmente a virtual - real, muito utilizada por usuários, e que todas são inevitavelmente provisórias.

    2.2- Noção de Grupo

    Originalmente pode-se pensar a noção de grupo a partir do pertencimento de indivíduos a uma coletividade claramente identificada, com regras e objetivos bem definidos. O modo como cada indivíduo lida com o grupo é que constrói o pertencimento para com o mesmo. Um grupo que possui um objetivo estabelecido faz convergir para si indivíduos cujo interesse em comum é este objetivo: a realização de uma tarefa, um grupo de trabalho, a realização de um evento, a formulação de uma lei, a resolução de um problema, etc. O caráter afetivo também está presente na reciprocidade das relações desses grupos, pois se trata de interações entre subjetividades, no entanto, a afetividade não será o centro principal de atenção dos indivíduos diante da presença de um objetivo qualquer estabelecido. A noção de grupo nesta situação apresentada está fortemente ligada à proximidade e à convivência face-a-face. Isto não impede a manutenção do caráter de redes também presentes nos conteúdos das interações, mas há uma convergência maior dos indivíduos devido ao objetivo compartilhado. Mesmo quando não reunidos (em atualização), este tipo de grupo têm o objetivo como fonte de união. Este objetivo também pode entrar em rede com o compartilhamento das referências ao mesmo tempo em outro grupo, no entanto, seu caráter específico de identificação, o objetivo, estará centrado no grupo principal¹¹.

    No espaço da Internet também há possibilidades de convergências de indivíduos para agrupamentos com objetivos específicos, mas o caráter da não proximidade deixa uma maior abertura para o caráter de rede das interações. Podemos até sugerir que para esses novos agrupamentos a proximidade física possa ser substituída, ou melhor, complementada pela inter-conexão¹² (em rede de interações mútuas e múltiplas); um tipo de ligação simbólica que vai além do face-a-face. Em nosso recorte metodológico foi feita a opção pela concentração em agrupamentos contemporâneos cujo perfil pode ser considerado mais afetivo, o que não elimina quaisquer outros perfis possíveis dentro do mesmo agrupamento. Neste caso, a noção de grupo em rede passa a ser ainda mais forte. Como veremos no desenvolvimento de nosso argumento, ao se penetrar num grupo de caráter mais efetivo no espaço da Internet, se está penetrando numa rede móvel de relações, para a qual o próprio indivíduo

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