Eu Sei o que Você Anda Lendo...: Como os Algoritmos Vêm Moldando a Nossa Leitura, Escrita e Pensamento
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Eu Sei o que Você Anda Lendo... - June Lessa Freire
PREFÁCIO
Discutir questões que impactam o mundo no momento em que mudanças acontecem não é tarefa fácil. June Lessa Freire, em Eu sei o que você anda lendo... Como os algoritmos vêm moldando a nossa leitura, escrita e pensamento, realiza essa importante tarefa. O livro cumpre o papel de antever os impactos do mundo tecnológico na vida em sociedade.
A autora, enxergando a necessidade de trazer essas discussões ao grande público, traz, nas páginas do livro, sua visão sobre leitura, escrita e o pensamento digital, atravessadas por um belo passeio entre distintos referenciais teóricos das áreas da Linguística, da Neurociência, da Psicologia, dos Estudos em Tecnologia, Mídias Digitais e Inteligência Artificial. Durante a leitura, percebemos o caminho escolhido por Freire de trazer reflexões aprofundadas acerca de questões contemporâneas que envolvem tanto a leitura quanto a escrita em ambiente digital e o quanto essas atividades, que têm suas particularidades quanto aos processos de aquisição, apresentam-se no bojo de amplas discussões a respeito do campo dos estudos da cognição e do letramento. Assim, a obra é fundamental por abrir caminhos de discussão que se espraiam para áreas, como o ensino de línguas, esta última alinhada com a possibilidade de pensarmos em uma nova pedagogia, já que estaríamos diante de novos sujeitos aprendizes nesses ambientes.
É perceptível, quando avançamos na leitura da obra, que a autora deixa flagrantes as suas inquietações pessoais sobre o processo de transformação que o mundo digital atravessa, impregnando a obra de provocações que, na verdade, são convites a uma imersão nesse espaço de conhecimento. O livro passa a ser, então, uma maneira de a autora apresentar uma diagnose
do momento que estamos vivendo, no que se refere ao espaço digital, com o foco especial sobre os impactos das redes sociais, dos algoritmos de busca e da Inteligência Artificial para o processo de compreensão dos textos e para a formação de leitores e de escritores.
Mais do que isso, a obra oferece ao leitor a possibilidade de enxergar a sociedade como reflexo das conexões que fazemos a partir do que pensamos. É nesse aspecto que Freire adentra com maestria uma reflexão, subsidiada por inúmeros especialistas em Neurociência, sobre a forma como processamos informação na Era Digital. Trata-se, então, de um convite a esse componente de abstrações, que é o cérebro humano, para que possamos acessar o filtro interno
, a partir do qual são geradas novas informações, o que definiria, inclusive, novas formas de existir.
Não bastasse essas questões que estão na vanguarda das discussões da chamada Era Tecnológica, Freire avança para temas sensíveis, como os impactos da prática da leitura em telas e o uso de ferramentas de Inteligência Artificial na educação e em como essas experiências são responsáveis por alterar rapidamente a vida em sociedade. A autora nos presenteia com a possibilidade de nos questionarmos sobre os impactos que a digitalização das relações pode produzir na nossa vida, a partir do momento em que passamos a não mais conviver em presença
. A virtualização das relações estaria, na percepção de Freire, produzindo um fenômeno de tribalização
, em que estariam sendo geradas diversas tribos
com múltiplas visões da realidade. Essa espécie de realidade partida
favoreceria, como nos alerta a autora, muitas práticas de violência nesses ambientes, que estariam estimuladas justamente pela existência de sujeitos camuflados por avatares.
Percorrendo as páginas do livro, nós, como leitores, percebemos que a autora não se furta em tocar em questões cruciais, contemporâneas e delicadas, como o pensamento sobre os sistemas digitais como agenciadores de vaidades, responsáveis pela maneira de percebermos o mundo. Na visão de Freire, esses sistemas tenderiam a fragilizar afetos, como empatia e compaixão, além de inibir as experiências de criatividade, ingenuidade, intuição, imaginação e pensamento crítico.
À medida que avançam as páginas, essas temáticas convergem para uma preocupação, que parece ser central para Freire: quais são as possibilidades para educadores no mundo digital? Esse questionamento parece lateralizar-se com muitos outros que estão presentes no ambiente da escola da era digital. Assim, o livro é, também, um convite (e uma convocação) para que pensemos nas possibilidades da dimensão interativa e colaborativa dos multiletramentos, que fraturam e transgridem as relações de poder estabelecidas, uma vez que essas experiências são híbridas, estão nas frestas e nas fronteiras e, sendo mesclas, oferecem-nos muitas possibilidades de alargamento de percepção do mundo.
Luciana Vilhena
Professora associada de Língua Portuguesa/Linguística
Escola de Letras/Departamento de Letras (DL)
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
Doutora em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
A questão não é qual será o futuro dos livros em um mundo de leitura digital. A questão é o que acontecerá com os leitores que éramos.
(Verlyn Klinkenborg)
INTRODUÇÃO
Este trabalho começou a ser pensado a partir de estudos sobre as Materialidades