Um Pediatra No Interior Do Brasil - Volume 2
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Avaliações de Um Pediatra No Interior Do Brasil - Volume 2
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Um Pediatra No Interior Do Brasil - Volume 2 - Dr. João Fanuchi
Introdução
Em 2014, lancei meu primeiro livro de memórias dos 33 anos de trabalho como Pediatra no interior de Minas Gerais. Por falta de tempo livre para escrever e não por falta de histórias, demorei cinco anos para terminar meu segundo volume.
Desta vez apresento crônicas do meu cotidiano e não apenas de casos médicos. Também inseri informações mais detalhadas sobre as doenças citadas, repassando informações do Ministério da Saúde e de sites das Sociedades Médicas, para que os leitores possam conhecer detalhes sobre as patologias citadas.
Continuo exercendo a Pediatria em minha Clínica Infantil, em Cambuí e sempre me inspirei em meu tio Dr. Newmann Fanuchi, médico, que trabalhou até os 90 anos de idade em seu consultório e o Dr. Antônio Márcio Lisboa, meu Mestre, que continua a exercer a Pediatria, aos 92 anos de idade, em seu consultório, no Lago Sul, em Brasília.
Agradeço, mais uma vez, aos meus queridos pais, já falecidos, Newton e Odette, pela minha formação moral e educacional e aos meus filhos Igor, Médico da Família e do Trabalho, Ludmila, Defensora Pública e a minha esposa Neuzilma, Enfermeira e Odontóloga, pelo incentivo para que eu pudesse publicar as histórias que sempre contei para eles no meu dia a dia. Agradecimento especial aos meus pacientes, seus familiares, colegas de trabalho e grandes amigos que conquistei nesses 38 anos de trabalho em Minas Gerais.
Os fatos relatados são reais, porém os personagens, em sua maioria, fictícios...
Capítulo 1: Daniel Dias, o Campeão Paraolímpico
Eu estava trabalhando na minha clínica quando uma jovem mãe me telefonou para marcar consulta de seu primeiro filho, recém-nascido, com 15 dias de vida. A mãe pediu horário especial para o atendimento, pois ele se apresentava com várias malformações.
Ao chegar à consulta ela me disse: Doutor veja só o que Deus me mandou! Eu estou muito preocupada e não sei o que fazer. Examinando a criança percebi que ela apresentava malformações nos braços e nas pernas sem que houvesse algum motivo aparente de problemas na gravidez. Resolvi orientá-la a procurar Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), em São Paulo para um acompanhamento completo com psicóloga, ortopedista, neurologista e pediatra. Disse a ela também, que tivesse fé em Deus, pois, com certeza, Ele ajudaria a família e a equipe médica a cuidar daquela criança. Acompanhei aquele menino por mais de uma década. Muito inteligente e com uma grande vontade de superar a sua deficiência física. Com o crescimento passou a usar próteses nas pernas e sempre procurando ter uma atividade normal para a sua idade. Jogava futebol com os amigos e adorava correr e brincar normalmente.
Seus pais gastavam mais do que podiam para comprar próteses que se desgastavam muito rápido. Certa vez, ele me perguntou se poderia algum dia, andar de bicicleta. Eu disse que tudo dependeria da sua vontade e dedicação, pois quando a gente quer, podemos superar todas as dificuldades para conseguir o objetivo desejado. Eu, entretanto, não acreditava que com aquelas malformações nos pés e nas mãos ele pudesse andar de bicicleta...
Passados alguns meses, eu estava trabalhando na Clínica, quando percebi que alguém batia na minha janela, abri para ver o que se passava e, qual não foi a minha grande surpresa, ao vê-lo andando de bicicleta. Ele me olhou e me disse: Doutor João consegui andar de bicicleta como os meus amigos, então o senhor estava certo. Quando a gente quer a gente consegue, basta ter muita vontade
.
Hoje esse garoto é campeão mundial de natação, colecionador de medalhas e um exemplo para todos nós. Devemos sempre enfrentar os problemas buscando soluções com força máxima para realizarmos os nossos sonhos. Parabéns Campeão! Parabéns Paulo Dias e Rosana queridos pais e meus amigos...
Descrição: http://www.camanducaia.mg.gov.br/wordpress/wp-content/uploads/2016/12/Daniel-Dias-632.jpgCapítulo 2: Cardiopatia congênita e adoção
Estava saindo do banho, após um dia de intenso trabalho no Hospital, quando toca o telefone e a Enfermeira da Maternidade me avisa que estava ocorrendo um parto complicado e o obstetra solicitava a minha presença. Isso em uma época, década de 80 onde eu era o único Pediatra da cidade. Com muita fome, apanhei uma banana e corri para Hospital. Tratava-se de uma paciente jovem que rejeitava a criança durante toda a gestação. Após algumas tentativas frustradas de abortar chegara a hora do nascimento daquele bebê, sem nenhuma consulta de pré-natal, nem exames laboratoriais ou Ultrassom.
Após me paramentar com o uniforme do Centro Cirúrgico e fazer a assepsia das mãos, adentrei a sala de parto. O colega obstetra estava molhado de suor, pois era mês de janeiro, um calor escaldante que o velho e barulhento aparelho de ar condicionado não conseguia refrescar a sala do Centro Cirúrgico. Após muito esforço da mãe e do médico, eis que nasce uma menina linda, de pele muito clara, olhos grandes, choro forte, lábios vermelhos... Após aspirar as vias aéreas superiores (narinas, boca e faringe), tomou seu primeiro banho, nas mãos da auxiliar de enfermagem do berçário e, no primeiro exame físico constatei que era saudável, mas apresentava um sopro cardíaco
que deveria ser investigado para saber a causa daquele sinal clínico...
Fui mostrar a recém-nascida para a sua mãe, como sempre fiz, mas a reação dela me surpreendeu. Virou o rosto no sentido contrário e falou alto: não quero ver, não vou criar essa criança! Pode doar para quem o senhor quiser!
A Enfermeira me confirmou para mim que a criança iria para doação, já que ao chegar à Maternidade ela já havia expressado essa vontade. Nas primeiras horas o bebê apresentou icterícia por incompatibilidade sanguínea com a mãe, os exames confirmaram o diagnóstico e mostravam que não havia necessidade de outros procedimentos além da fototerapia (banho de luz).
Nessa época a adoção era muito mais fácil, menos burocrática, então nós tínhamos uma lista de casais que desejavam adotar uma criança. Eu mesmo fazia a investigação se havia algum impedimento e se tinham boas condições psicológicas e econômicas para isso. Não havia psicóloga nem Assistente Social na cidade.
Chamamos o primeiro casal cadastrado. Conheceram a menininha e me perguntaram se ela era perfeita e se não apresentava algum problema de saúde?
Respondi que ela tinha uma cardiopatia e que seria encaminhada à cardiologia para investigar. Logo desistiram da adoção alegando que queriam uma criança sem problemas de saúde. O segundo casal chegou em seguida e, antes que visitasse o berçário eu orientei sobre a cardiopatia e a icterícia. Não quiseram nem conhecer a linda menina. Naquele dia só havia esses dois casais interessados na adoção. Preocupado com a situação avisei a minha esposa que levaria a criança para a nossa casa para evitar a sua permanência em ambiente hospitalar. Resolvi que, se não conseguisse outro casal para a adoção, a minha família receberia mais um membro. Ela seria a nossa terceira filha.
Ao sair da Maternidade encontrei uma grande amiga que estava com seu marido internado na Clínica Médica com cirrose e insuficiência hepática. Eram casados há muitos anos, sem filhos...
Contei a história a eles e, mesmo sabendo das dificuldades momentâneas que viviam devido à doença grave do marido, ofereci a adoção.
Ela estava acompanhada de sua irmã e ambas me pediram para ver o bebê. Eu as encaminhei ao Berçário, onde a criança estava tomando banho de luz (fototerapia). Deixei as duas irmãs lá e fui para o consultório.
Passadas algumas horas, retornei ao Berçário e as encontrei lá encantadas com a recém-nascida. Minha amiga me disse que a adotaria, mas queria meu apoio direto, pois sabia da gravidade da doença do marido e que ele teria pouco tempo de vida. Imediatamente fiz um acordo com ela: eu ajudaria em tudo que precisasse, inclusive seria o seu pediatra até aos 18 anos de idade, investigaria a causa do sopro cardíaco, sem nenhum custo para a família. Realizamos um Ecocardiograma que mostrou uma discreta malformação de valva cardíaca, configurando um sopro inocente
que desapareceria com o seu crescimento.
No outro dia pela manhã, a menina que recebeu o nome de Terezinha, em homenagem a Santa católica, saiu da Maternidade nos braços de sua mãe de coração,