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Como A Genética Transformou O Mundo
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E-book95 páginas1 hora

Como A Genética Transformou O Mundo

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Sobre este e-book

Alimentos geneticamente modificados, sequenciamento do genoma humano, testes genéticos e bebês editados são alguns dos temas com os quais ainda estamos aprendendo a lidar neste começo do século XXI. Em menos de 150 anos saímos do desconhecimento total das leis que regem a hereditariedade para um mundo caótico - que fala de DNA no Jornal Nacional. Se um único fato na história da ciência fosse alterado, o mundo seria como o conhecemos hoje? A partir do resgaste de personagens e momentos cruciais na construção do conhecimento sobre a molécula da vida, este livro aborda como o campo de estudo da genética – renegado e julgado por muitos como complicado demais – moldou profundamente o mundo como conhecemos hoje. Neste livro, o autor e biólogo Jorge A. P. Marchesi confronta o leitor com fatos e histórias que mostram que há mais “genética” na produção de alimento, manutenção da saúde, funcionamento da sociedade, e até mesmo no autoconhecimento, do que se pode imaginar à primeira vista.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de abr. de 2020
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    Como A Genética Transformou O Mundo - Jorge A. P. Marchesi

    PREFÁCIO

    Se você tivesse uma ideia que fosse chocar a sociedade, você a guardaria para si? Charles Darwin

    Todos nós já vivenciamos aquele momento específico em nossas vidas em que, de uma hora para a outra, todos os nossos planos são alterados. Este meu momento de virada foi em setembro de 2010. Na época eu era apenas um jovem estudante, recém ingressado no curso de biologia, na iminência de começar a trabalhar em um laboratório de análises microbiológicas de alimentos. Tudo parecia muito bem encaminhado, estava estudando, prestes a começar no meu primeiro emprego, quando eu recebo um telefonema perguntando se eu tinha interesse em uma bolsa de iniciação científica em um laboratório de genética. Meu nome havia sido indicado por uma grande amiga, e eu não pensei duas vezes antes de responder que sim. Alguns dias depois, me lembro de já estar dentro do laboratório com meus olhos pesando toneladas ao ouvir as longas explicações sobre o funcionamento de um sequenciador. Mas, rapidamente, fui contaminado pelo ambiente agradável e estimulante do grupo. Logo um caminho foi levando a outro, novas portas foram se abrindo, e eu nunca mais abandonei a área.

    Após 10 anos submerso no campo da genética, coloco, para mim mesmo, o desafio de apresentar neste livro, de forma simples e acessível, um pouco de tudo que ouvi, aprendi e refleti neste período. Quero levar para fora das reuniões caretas de acadêmicos – e das paredes das universidades – um conhecimento que diz muito sobre quem somos, o que vivemos, e o que ainda viveremos. Saiba desde já que não se trata de um livro técnico com o objetivo de te preparar para um vestibular ou concurso. Muito menos que tenho a pretensão de apresentar verdades absolutas sobre os assuntos abordados, aliás, na ciência não existem verdades absolutas. Meu objetivo aqui é relatar a partir do meu ponto de vista como esta área do conhecimento se relacionou com a história da humanidade, e como a modificou de maneira profunda.

    Com este livro quero fazer você refletir sobre a forma como o mundo em que vivemos foi moldado pelas descobertas da genética e pelas pessoas que decidiram dedicar suas vidas ao seu estudo. Espero que, ao final, você não se limite a apenas relacionar o estudo do DNA à resolução de exercícios de chinchilas e ervilhas rugosas, as quais, por acaso, você nunca viu. Quero, na realidade, que você perceba como a genética modificou desde a forma como sua avó é medicada até como a comida em sua geladeira foi produzida.

    Ao longo dos capítulos, discutirei – sem me deter à ordem cronológica dos fatos ou explicações minuciosas de conceitos –como o estudo da genética mudou a forma como nos alimentamos, nos relacionamos, lidamos com a nossa saúde, e até como enxergamos a nós mesmos. Trago aqui a reflexão acerca da revolução biotecnológica que estamos vivenciando, e como ela irá impactar o nosso futuro como espécie.

    CAPÍTULO I - O jardim do monge

    Tudo tem um começo

    O ano de 1854 aparentemente foi um ano típico do século XIX. Enquanto D. Pedro II inaugurava a primeira ferrovia brasileira, na Venezuela a escravidão era abolida, ou acontecia o primeiro desfile de carros alegóricos no carnaval do Rio de Janeiro, algo aparentemente menos especial ocorria nos fundos da abadia agostiniana de St. Thomas, na cidade de Brno, na República Tcheca. Um monge de 32 anos cultivava os seus primeiros pés de ervilha (Pisum sativum), que viriam a se somar a aproximadamente 30 mil em sete anos ¹. Se engana quem pensa que este monge agostino cultivava ervilhas com o objetivo de fazer sopa para os mais necessitados. Seus objetivos eram menos religiosos e mais acadêmicos. Em 1866, doze anos após o início dos seus trabalhos, o monge Gregor Johann Mendel (1822-1884) publicava seu estudo intitulado Experimentos sobre hibridação de plantas, que viria a se tornar conhecido como a base da genética moderna.

    Os experimentos realizados por Mendel ajudaram a explicar como as características de um organismo eram passadas para seus descendentes. Mas parece que estas ideias estavam muito à frente de seu tempo, e a comunidade científica da época não compreendeu muito bem suas descobertas. Uma das pessoas a quem Mendel enviou sua publicação foi o naturalista inglês Charles Darwin, que aparentemente não as leu. Após a morte de Darwin, uma cópia do livro foi encontrada na biblioteca do britânico, com as páginas ainda seladas pela impressora ².

    Pesquisas sobre sua vida indicam que Mendel sempre ansiou pela glória e notoriedade, no entanto, sua fama só veio após a morte ². Apenas em 1900, com a confirmação de suas descobertas por um grupo de cientistas que diziam não conhecer seus escritos, é que seu trabalho assume sua devida importância, e são estabelecidas as Leis de Mendel.

    O século XX começava a todo vapor para o recém-nascido campo da genética. No entanto, naquela época nem o maior entusiasta poderia prever que em um pouco mais de 100 anos estaríamos discutindo sobre clonagem de animais, alimentos geneticamente modificados, ética e leis regulatórias na edição gênica de bebês, ou as características singulares do material genético do coronavírus. Até mesmo as ervilhas que Mendel plantou em seu jardim há quase 170 anos atrás hoje já são geneticamente modificadas e capazes de combater infecções em galinhas ³.

    A nova revolução, iniciada a partir das descobertas de Mendel, abalou o mundo e mudou para sempre os rumos da história. Se na Grécia antiga as pessoas recorriam ao deus Esculápio quando sofriam de alguma doença, ou no século XIV queimavam ervas aromáticas e tomavam banho com vinagre para tratar a peste

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