Recomeçar, reaprender, reinventar
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Recomeçar, reaprender, reinventar - Tânia de Santana Nunes
Dedicatória
Dedico este livro,
a todas as pessoas que passaram pela experiência do sofrimento e da superação, seja por terem sido acometidas por algum problema de saúde ou por algum trauma psicológico. E também aos seus familiares e amigos que partilharam essa experiência de bravura, determinação e vitória!
Agradecimentos
Este livro nasceu da ideia e insistência inicial de Tainá (minha filha), por entender que a minha história poderia ajudar pessoas que haviam passado por problemas semelhantes ao meu. A ela que é o melhor de mim, meu orgulho, minha amiga e confidente, que, também, foi meu sustentáculo e minha enfermeira em tempo integral (mesmo antes de concluir o curso), meu mais profundo agradecimento!
Meu agradecimento de amor ao Jadson (meu esposo) por todo zelo, (sobretudo, durante o pior momento da minha vida), cumplicidade, por ter me suportado e por cada segundo compartilhado ao meu lado.
Aos meus outros filhos, Caio e Bruna, pelo incentivo e por estarem sempre presentes, ainda que, muitas vezes, virtualmente.
À minha cunhada, Simone, minha revisora oficial, por ser minha grande incentivadora, por me encorajar a encarar o desafio de escrever esta biografia e por ter aceitado escrever o prefácio.
Minha gratidão a todos os profissionais de saúde (Minas Gerais e Bahia) que me acompanharam no período do AVC e durante minha reabilitação (aqui não pretendo citar nomes, pois foram diversos profissionais de diferentes categorias que me atenderam desde a internação). Todos tiveram sua parcela de grande contribuição na minha vida.
Meu comovido agradecimento à Lu (Luciana Oliveira), pela preocupação, orientação, encaminhamentos e acompanhamento durante meu tratamento, mesmo distante.
Aos meus amigos e colegas de trabalho, que me incentivaram e me encorajaram a todo o tempo.
A todas as pessoas queridas que fizeram e fazem parte da minha história e da minha vida.
A todos que contribuíram para tornar este livro uma realidade e contaram um pouco sobre os nossos encontros ao longo do caminho.
À minha família mineira (colegas da UFV) pelo carinho, pelo convívio e pela acolhida.
Aos meus pais, Balbino e Tereza, por todo apoio, ensinamento e amor incondicional ao longo da vida.
À toda a minha família (Nunes e Rocha), pelo acolhimento, carinho e por acreditarem e torcerem por mim.
A Deus por TUDO!
Prefácio
Uma história de superação bem contada.
Este livro relata uma parte da história de vida de Tânia de Santana Nunes, minha cunhada, ti Tã, como eu a chamo, que eu aprendi a admirar mais ainda após o AVC. Dizem que a gente conhece as pessoas depois de comer sal junto
. Isso porque viver com glória e felicidade é muito fácil, no entanto, viver com os acontecimentos, inclusive a tristeza, é bem mais difícil!
Conheci Tânia através de Jadson, meu irmão, que foi morar em Santa Inês, depois de ser aprovado como professor em um concurso do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano - Campus Santa Inês (IF Baiano). Como eu também era do IF Baiano - Campus Catu, escola-mãe de Santa Inês, tínhamos muitos assuntos em comum, apesar de precisarmos nos policiar para não ficarmos conversando sobre o mesmo assunto: nossas instituições de trabalho.
Então, Tânia foi para Viçosa acompanhar Jadson quando ele foi fazer doutorado. Foi transferida, e lá foi desempenhar as mesmas funções que fazia em Santa Inês, na área de Recursos Humanos, e que sempre atendeu muito bem pelo perfil que já lhe era próprio (determinação, capacidade técnica e atendimento ao ser humano com presteza).
Em meio aos quatro anos que lá estavam, foi acometida por um AVC, que lhe tirou
, a princípio, dos trilhos
, mas considerando a determinação de Tânia, ela conseguiu superar. É claro que existem alguns percalços que ainda precisam se ajustar, mas tenho a certeza de que ela vai conseguir!
Este livro, então, surgiu com o objetivo de relatar a trajetória de Tânia naquele momento, bem como incentivar as pessoas quanto à necessidade de acreditar em Deus e em si mesmas, de maneira que a superação depende muito mais de cada um de nós. Incentivei Tânia para que escrevesse, creio que a sua história pode ajudar àqueles que passam ou passaram por situações semelhantes.
A história é contada em primeira pessoa e os nomes dos personagens são verdadeiros. Revisei o livro e, realmente, os depoimentos qualificam Tânia com fidedignidade.
Finalizo, declarando aqui a minha admiração e carinho por você, Tânia, que sempre será um exemplo para todos nós!
Simone Maria Rocha Oliveira
Lista de siglas e abreviaturas
Ambiagro – Ambiência e Engenharia de Sistemas Agroindustriais
APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
AVC – Acidente Vascular Cerebral
AVCH – Acidente Vascular Cerebral hemorrágico
AVCI – Acidente Vascular Cerebral Isquêmico
BA – Bahia
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Colégio ACM – Colégio Antônio Carlos Magalhães
DETRAN – Departamento de Trânsito
EAFSI – Escola Agrotécnica Federal de Santa Inês
EBAL – Empresa Baiana de Alimentos
ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IF Baiano – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano
LDI – Laboratório de Desenvolvimento Infantil
MG – Minas Gerais
PA – Pressão Arterial
PDV – Plano de Demissão Voluntária
PGP – Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas
PPGEA – Programa de Pós-graduação em Educação Agrícola
TCI – Terapia por Contensão Induzida
UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
UFV – Universidade Federal de Viçosa
UTI – Unidade de Terapia Intensiva
Quem sou
Meu nome é Tânia de Santana Nunes, sou a segunda filha de uma família de quatro filhos (dois casais). Minha mãe é dona de casa e meu pai trabalhador rural, hoje aposentado. Nasci na cidade de Irará, no interior da Bahia, em 1972, onde, à época, meu pai gerenciava uma fazenda, porém, quando eu ainda era bem pequena, nos mudamos para Santa Inês, depois para Cravolândia, outras duas cidadezinhas no interior da Bahia, sendo esta última a cidade de origem dos meus pais, com pouco mais de 5.000 habitantes, conforme o censo 2010 (BRASIL, 2020). Estudei nessa cidade até o ensino fundamental, em uma escola municipal, e o ensino médio (antigo 2° Grau) cursei no Colégio ACM, na cidade vizinha (Santa Inês), com 10.363 habitantes, de acordo com o censo 2010, que fica a 8 km de distância de Cravolândia. Ali, concluí o ensino médio, no ano de 1990.
Naquela época, o ensino do 2° grau era regido pela Lei n° 5.692 (BRASIL, 1971) e proporcionava ao estudante a formação necessária para atuar no mercado de trabalho. Os currículos eram compostos por um núcleo comum, obrigatório em âmbito nacional, e uma parte diversificada, correspondendo às habilitações profissionais. Nós tínhamos, no Colégio ACM, duas opções de curso: Técnico em Administração e Magistério de 1° Grau. Eu ainda não tinha certeza de qual profissão queria seguir, mas, se dependesse de mim, não pretendia parar os estudos no 2° grau. O problema é que para eu cursar o ensino superior precisaria morar em outra cidade e meus pais não tinham condição financeira para isso. Como minha preferência era a área de exatas, optei, naquele momento, pelo curso Técnico em Administração.
No entanto, por influência, principalmente, do meu pai que se preocupava em minha inserção no mercado de trabalho e pelo fato do curso de magistério ter maior oportunidade de emprego, acabei fazendo a transferência para esse algumas semanas depois. A formação no curso de magistério de 1° grau habilitava o estudante para lecionar nas séries iniciais (da 1ª à 4ª série). Mesmo não sendo minha opção inicial, adaptei-me ao curso e me dediquei bastante. Essa sempre foi minha atitude em tudo que me propus a fazer. Identifiquei-me com o lidar com o próximo
. Muito me agradava essa ideia de saber que eu estaria contribuindo com o crescimento de alguém. Destaquei-me no curso, sobretudo, nos estágios, períodos em que atuava como professora, em sala de aula. Estes eram feitos em duas etapas, o pré-estágio, que realizei em um colégio municipal de Cravolândia, e o estágio, em Santa Inês.
Eu sonhava em fazer um curso superior. Naquela época, era muito difícil, pois eram pouquíssimas as opções e, além disso, eram em cidades distantes. As universidades mais próximas da minha cidade ficavam a 90 km de distância, outras a 250 km e 300 km. Minha esperança era um primo que morava em São Paulo (ainda mora) que sempre me incentivou, pois éramos muito parecidos, enquanto estudantes, tínhamos a mesma determinação. Ele já estava quase concluindo a faculdade de direito, em São Paulo. Mesmo lá, o acesso ao ensino superior não era fácil. Ele nos relatou toda a sua saga quando chegou à cidade. No entanto, me orgulho por ter se tornado quem é hoje, mas, ainda assim, ele me encorajou a ir morar lá quando eu terminasse o ensino fundamental.
Finalmente, em 1987, eu estava no meu último ano do ensino fundamental. Meu primo tentou vaga em escolas públicas próximas de onde ele morava para que eu iniciasse o ensino médio e fosse me adaptando para facilitar meu ingresso no ensino superior e continuar meus estudos em São Paulo, mas não conseguiu. Ele propôs que eu tentasse a matrícula no ano seguinte, mas tive receio que esse ano sem estudar me afastasse de vez da escola. Optei por não ir e continuei meus estudos em Santa Inês. Ao final do ensino fundamental, comecei a namorar e, quando falávamos sobre casamento, sempre conversava com meu namorado sobre projetos futuros. Ele tinha conhecimento dos meus planos e do meu desejo de continuar os estudos. Assim, como minha ida para São Paulo não se concretizou, acabei me rendendo a ideia do casamento. Ele falou com meus pais e, em dezembro de 1990, no momento em que concluí o curso de magistério, do ensino médio, me casei aos 18 anos de idade. Eu via no casamento uma esperança de continuar meus estudos, visto que planejávamos morar em Jaguaquara, cidade onde a família do meu noivo residia, e, próximo desta, em Jequié (pouco mais de 50 km de distância) havia a UESB. No entanto, na prática, não foi o que aconteceu. Meu esposo acabou começando a construir uma casa em Cravolândia e não saímos de lá.
Cabe registrar que relato muitos momentos da minha vida. Momentos esses que considero importantes e tiveram interferência sobre quem eu sou hoje. Contudo, em relação ao meu casamento (que durou exatos seis anos e onze meses), não apresento as ocorrências vividas em detalhes, atenho-me apenas a citar alguns fatos para melhor entendimento da minha história de vida.
Minha origem
Venho de uma família humilde, porém constituída de pessoas batalhadoras, das quais tenho muito orgulho. Meus pais sempre relataram sobre suas vidas e as dificuldades enfrentadas, inclusive para estudar naquele tempo (se na nossa época de formação inicial já era algo quase inacessível para a grande maioria, avalio como deveria ter sido em períodos ainda pregressos). Meus avós (maternos e paternos) eram lavradores. Nas duas famílias, o tratamento familiar era parecido: enquanto os pais trabalhavam na lavoura, as filhas cuidavam da casa e dos irmãos menores, e os filhos meninos mais crescidos
ajudavam na roça. Assim, meu pai nem chegou a frequentar a escola e minha mãe só estudou até a 5ª série (antigo colegial). Eles sempre falavam que seria diferente conosco, que iriam fazer o possível para que pudéssemos, pelo menos, estudar. Esse seria o maior legado deles para nós. Não se tratava de uma tarefa fácil, visto que o acesso à escola