Vida próxima, vida remota: pandemia e sociedade
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Vida próxima, vida remota - Jacques A. Wainberg
CONSELHO EDITORIAL EDIPUCRS
Chanceler Dom Jaime Spengler
Reitor Evilázio Teixeira | Vice-Reitor Manuir José Mentges
Carlos Eduardo Lobo e Silva (Presidente), Luciano Aronne de Abreu (Editor-Chefe), Adelar Fochezatto, Antonio Carlos Hohlfeldt, Cláudia Musa Fay, Gleny T. Duro Guimarães, Helder Gordim da Silveira, Lívia Haygert Pithan, Lucia Maria Martins Giraffa, Maria Eunice Moreira, Maria Martha Campos, Norman Roland Madarasz, Walter F. de Azevedo Jr.
Conforme a Política Editorial vigente, todos os livros publicados pela editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (EDIPUCRS) passam por avaliação de pares e aprovação do Conselho Editorial.
VIDA PRÓXIMA, VIDA REMOTA
Pandemia e Sociedade
Jacques A. Wainberg
logoEdipucrsPorto Alegre, 2021
© EDIPUCRS 2021
CAPA Thiara Speth
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Maria Fernanda Fuscaldo
REVISÃO DE TEXTO Trad. do Mercosul
Edição revisada segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
W141v Wainberg, Jacques A.
Vida próxima, vida remota [recurso eletrônico] : pandemia e
sociedade / Jacques A. Wainberg. – Dados eletrônicos. – Porto
Alegre : EDIPUCRS, 2021.
1 Recurso on-line (108 p.) : il
Modo de Acesso:
ISBN 978-65-5623-189-1
1. Mídia social. 2. Doença por Covid-19. 3. Comunicação
digital – Aspectos sociais. I. Título.
CDD 18. ed. 301.161
Anamaria Ferreira – CRB-10/1494
Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.
Todos os direitos desta edição estão reservados, inclusive o de reprodução total ou parcial, em qualquer meio, com base na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, Lei de Direitos Autorais.
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Sumário
Capa
Conselho Editorial
Folha de Rosto
Créditos
VIDA PRÓXIMA, VIDA REMOTA
REFERÊNCIAS
EDIPUCRS
Contracapa
VIDA PRÓXIMA, VIDA REMOTA
Pandemia e Sociedade
Jacques A. Wainberg
O que virá após a pandemia do COVID-19? Em 2020, esta era a pergunta que as pessoas faziam depois que se acostumaram a interagir virtualmente com os amigos e com a família.[ 1 ] Quem não sabia aprendeu a comprar online, a trabalhar em casa, a participar de webinars e a ter aulas pelo zoom e o Skype. Concluíram que distante é um lugar que não existe mais. A fina tela dos computadores, dos tablets e dos smartphones tornou-se a fronteira e a ponte que une os que estão distantes, às vezes vivendo além-mar (Witchel et. al., 2020). Em 2020, foi no ecrã que as pessoas passaram a maior do tempo trabalhando, socializando e se distraindo. O compartilhamento das imagens facilitou o contato de todos com todos estimulando a participação, a cooperação e o engajamento social. A tela produziu também o efeito reflexo, o que surge quando a pessoa se vê na companhia dos demais (Dael, 2016).
Coisas. O período de distanciamento físico causado pelo Covid-19 foi útil para comprovar os pressupostos da abordagem tecnosocial. Ela decifra a relação de intimidade que os sujeitos acabam desenvolvendo com as coisas. Por causa da pandemia a objectofilia que começa na infância com os brinquedos ficou visível com o computador e a telefonia.
Este é um tema emocional. A evidência de que os objetos influenciam a vida humana (Appadurai, 2014) é indigesta aos herdeiros da tradição humanista (Ellul, 1968). Eles resistem e valorizam o argumento de que as pessoas são os únicos atores da história.[ 2 ]
A recusa é contraditada pelos autores alinhados à Ecologia da Mídia.[ 3 ] Eles destacam o papel transformador da materialidade. A tipografia é exemplo disso. A partir do século XV ela se espalhou pelo mundo e mudou a sociedade para sempre (Eisenstein, 1980). Este impacto é melhor percebido no momento em que as novas tecnologias surgem. Depois que o uso dos novos equipamentos se torna rotineiro sua presença no ambiente submerge. A inovação só é sentida quando falha ou falta. É o que acontece com a eletricidade. Ela só é valorizada quando sucumbe por causa da tempestade. Sensação similar de desconforto aparece com a Internet quando o sistema cai
e sai do ar.
A despeito do fracasso de invenções como o videotexto e o Google Glass e da aversão e do temor que algumas invenções causam nos círculos críticos, o que se observa é que boa parte das inovações prevalece. Foi o caso do telefone. No século XIX os usuários não entendiam bem como esse sistema funcionaria. Ninguém acreditava que o aparelho estaria em todos os lugares. O mesmo pode se dizer do computador e da Internet que apareceram no século seguinte.
Figura 1. Cartão postal futurista. A vida imaginada no ano 2000.
Fonte: Publicdomainreview.org.
A história está marcada por novas tecnologias que pouco a pouco subvertem o estilo de vida vigente. Cartões postais futuristas produzidos na França entre 1899 e 1910 mostram como as pessoas daquela época imaginavam o mundo no ano 2000.[ 4 ] Fica clara a fé depositada no século XIX na tecnologia do século XXI (Asimov, 1986).[ 5 ]
O argumento dei ex machina causa mal estar aos libertários. Nessa visão a inovação parece impor uma vontade superior às pessoas. É o que diz o famoso slogan a ciência descobre, a indústria utiliza e o ser humano se conforma
utilizado em 1933 na Feira Mundial de Chicago.[ 6 ] A visão crítica sugere que a tecnologia é sempre perigosa, pois não é instrumento neutro.[ 7 ]
Figura 2. Feira de Chicago.
Fonte: Chicago Tribune.
Figura 3. O ciborgue.
Fonte: Thinking heads.
É o que hoje se chama de Complexo de Frankenstein.[ 8 ] Tal argumento faz parte de um amplo debate filosófico (Corrêa & Oliveira, 2021)[ 9 ] que discute a excessiva separação entre os seres humanos e a natureza. O vislumbre de um tempo no qual as invenções são incorporadas pelas pessoas sempre encontrou resistência. Isso se deve também ao fato de que este termo está deixando de ser metafórico. Neil Harbisson, um artista audiovisual, é reconhecido como o primeiro ciborgue. Ele instalou um olho eletrônico que lhe permite escutar as cores.[ 10 ] Outros exemplos de dispositivos biônicos são o implante coclear e o projeto Neuralink inaugurado por Elon Musk em 2018 (Rafferty, 2021). Ele pretende conectar os cérebros aos computadores através de um microchip implantado na cabeça. Seu projeto recorda a ideia antiga do cérebro numa cuba. Trata-se de uma história na qual um cientista o coloca num recipiente e conecta seus neurônios a um computador. A máquina