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Dog day: diálogos nas folhas em branco
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Dog day: diálogos nas folhas em branco
E-book73 páginas48 minutos

Dog day: diálogos nas folhas em branco

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Sobre este e-book

Dog day é resultado de oficinas na PUCRS, onde o grupo Atrito se formou, e participou de diferentes festivais pelo Rio Grande do Sul entre os anos 2016 e 2017, tendo recebido indicações no Festival Internacional Cena Livre, de Uruguaiana, e no Rosário em Cena, de Rosário do Sul, e sido premiada no Festival Nacional Art in Vento, de Osório, incluindo melhor dramaturgia e ator coadjuvante para Giordano Spencer. Além das temporadas na capital, o grupo promoveu sessões comentadas com debates sobre as temáticas de identidade, gênero, limitações físicas e suicídio.nnDiálogos nas folhas em branco, por sua vez, é a montagem de conclusão da oficina de teatro para adolescentes da Cômica Cultural e foi premiada no Festival Viamonense de Teatro Estudantil (FEVITE): melhor espetáculo adulto, melhor dramaturgia e melhor atriz para Amanda Fiore em 2017.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de ago. de 2022
ISBN9788539711956
Dog day: diálogos nas folhas em branco

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    Dog day - Fernanda Moreno

    POR UMA DRAMATURGIA DA ESCUTA E DO COTIDIANO

    O teatro, afirma o teórico francês Denis Guénoun [  1  ], é pensado a partir da condição de alteridade: a capacidade humana de ver e perceber (representar) esse outro. Conforme Guénoun, é o olhar que traz (faz, busca e provoca) a aprendizagem, e a esse processo se acrescenta o prazer. Condições tradicionais de uma arte (práxis) vital e transformadora para essa prática contemporânea de se autocegar (a propósito) e se colocar indiferente a esse outro (tão eu). Não falo em instrumentalização ou panfletarização, mas falo em percepção, em visão e, principalmente, em escuta. É esta a palavra-chave que caracteriza a dramaturgia de Fernanda Moreno. Uma dramaturgia da escuta.

    A escuta foi fundamental para que a atriz e diretora Fernanda Moreno começasse a também escrever os próprios textos. A escuta de suas alunas e de seus alunos de oficina teatral. A escuta dos desejos, dos medos, das inseguranças, das alegrias, dos anseios, dos sentimentos e dos prazeres de estar em cena e utilizar-se da cena para expressar essa escuta. A escuta do cotidiano. Talvez, por isso, esse caminho tenha sido natural, como foi para a atriz e professora se transformar em competente diretora e dramaturga, que sabe ouvir. Não preciso mais dizer, apenas apontar as informações: as duas peças têm, cada uma, os seus percursos de realizações.

    Dog day é resultado de oficinas na PUCRS, onde o grupo Atrito se formou, e participou de diferentes festivais pelo Rio Grande do Sul entre os anos 2016 e 2017, tendo recebido indicações no Festival Internacional Cena Livre, de Uruguaiana, e no Rosário em Cena, de Rosário do Sul, e sido premiada no Festival Nacional Art in Vento, de Osório, incluindo melhor dramaturgia e ator coadjuvante para Giordano Spencer. Além das temporadas na capital, o grupo promoveu sessões comentadas com debates sobre as temáticas de identidade, gênero, limitações físicas e suicídio. Diálogos nas folhas em branco, por sua vez, é a montagem de conclusão da oficina de teatro para adolescentes da Cômica Cultural e foi premiada no Festival Viamonense de Teatro Estudantil (FEVITE): melhor espetáculo adulto, melhor dramaturgia e melhor atriz para Amanda Fiore em 2017.

    Os dois textos podem ser pensados em conjunto, e é como proponho esta leitura, assim, deixando à margem as encenações e seus êxitos. Se, em Dog Day, a escuta parece não se efetivar e a pressa por expressar seus conflitos internos transforma as personagens em imagens-prontas-e-decodificadas da contemporaneidade, em Diálogos nas folhas em branco a escuta vai se estruturando a partir das dobraduras frágeis dos origamis e, por mais que não se consiga o pássaro perfeito, a tentativa já basta para fazê-lo existir.

    A solidão e a busca por uma inatingível completude, seja pelo amor romântico idealizado (Emma e Thomas), seja pela aceitação social (Camélia, Alma, Edward), seja pelos bens de consumo e materiais (Maggie), seja pela realização profissional (Sandy), seja pela atitude de apelo e ajuda (Dani, Amy, Cooper), encontra naqueles tipos desesperados, no sentido último da existência, uma faísca de sobrevivência, mas não encontra respaldo no diálogo e no convívio. Este soa impossível num dia de cão, em que tudo parece – e vai – dar errado e quando a única solução visível é colocar a cabeça no forno a gás ou se atirar do alto de um prédio. Visível. Entretanto, é justamente o que não é visível, o motor de funcionamento dessas engrenagens (circulares) todas: e daí surge a capacidade da escuta. Escutar o inaudível e perceber o invisível. E respirar.

    Essa percepção acontece como opção de caminho e chance de resposta às inquietações dos jovens adultos num dia de cão nos diálogos escritos (em construção) por seis adolescentes de nomes adjetivados (ou seriam adjetivos substantivados?): a nuvem espontânea de Aurora, a transparência tímida de Bianca, a translucidez compreensiva de Cristal, a gelidez dolorida de Nívea, o brilho esperto de Pérola e a rigidez profunda de Pietra. É como se cada um e uma desses(as) adolescentes buscasse um ou uma desses(as) jovens adultos(as) pela mão e falasse: – Estou aqui para escutar. Porque a ação de

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