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Cartas De Um Führer
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E-book237 páginas3 horas

Cartas De Um Führer

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Sobre este e-book

Uma simples carta datada de mais de cem anos atrás pode mudar o destino de uma pessoa? Como reagir ao descobrir que você pode ser descendente de uma das pessoas mais conhecidas e temidas da história? Até onde um ser humano se sujeita a fazer coisas inescrupulosas para proteger a sua família? Esse livro é sobre descobertas, cumprir promessas, amizades eternas e acima de tudo perseverança.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de mai. de 2021
Cartas De Um Führer

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    Cartas De Um Führer - Eric Ebling Dubugras

    Er i c Ebl i ng Dubug r a s

    CARTAS DE UM FÜHRER

    1ª Edição

    São Paulo

    Clube de Autores

    2021

    Essa obra é dedicada em memória de meu amigo/irmão Christian Arvid Johnston incentivador contumaz em qualquer situação. Me aguarde mais um pouco que daqui à pouco estaremos novamente tomando aquele whiskie que tanto gostava.

    Introdução

    Acredito que todas as pessoas tenham a curiosidade de saber sobre o passado de suas famílias.

    Onde estavam os meus parentes franceses durante a Queda da Bastilha e consequentemente na Revolução Francesa? E como, e se, participaram da Resistência na Segunda Guerra?

    É sobre isso que estou falando...

    Este livro trata de uma simples carta datada de mais de cem anos atrás.

    Como ela pode mudar o destino de uma pessoa? Como reagir ao descobrir que você pode ser descendente de uma das pessoas mais conhecidas e temidas da história? Até onde um ser humano se sujeita a fazer coisas inescrupulosas para proteger a sua família?

    Essa estória é sobre descobertas, cumprir promessas, amizades eternas e acima de tudo perseverança.

    Esse é um livro ficcional, as pessoas conhecidas da história que aparecem durante a obra têm mais valor para determinar uma época, do que propriamente para trazer veracidade aos fatos.

    1

    ÁRVORE GENEALÓGICA

    FAMÍLIA SCHULTZ

    2

    ÁRVORE GENEALÓGICA

    FAMÍLIA RIGONNI

    3

    Capítulo 1

    O acaso

    Verão, final de 2020...

    Depois de oito meses praticamente preso por culpa desse maldito vírus, comecei a inventar todo tipo de coisa para passar o tempo.

    Me chamo Alfredo, sou descendente de italianos, mas a minha família está estabelecida no Brasil desde 1900, então a única coisa que realmente herdei daquela terra é o sobrenome, já que a língua e os costumes foram ficando para trás.

    Voltando ao maldito (me desculpem o termo, sei que muitas pessoas não gostam dessa palavra, mas cá para nós, não existe expressão melhor para tratar esse vírus)...

    Minha esposa foi para Curitiba ficar com seus pais que já estão em uma idade avançada. Por incrível que pareça, eu não consigo entender por que os idosos têm uma necessidade assustadora de se arriscar; você pode dar todas as condições possíveis para que eles tenham uma vida tranquila dentro de casa, mas a saidinha para o dominó, a ida à igreja e as fofocas de comadres são insubstituíveis. Não teve jeito, lá se foi a minha patroa ficar de cuidadora, ou melhor, de babá já que eles parecem duas crianças mimadas e birrentas.

    Como eu ia dizendo...

    Comecei a inventar várias coisas para passar o tempo: marceneiro, pintor, inventor e, por último, filatelista.

    4

    Na década de 70, quando eu tinha lá pelos meus 12 anos de idade, estava brincando de frente à minha casa quando percebi um dos meus tios por parte de mãe mexendo em uma grande quantidade de caixas velhas no fundo da garagem. Toda criança por si só já tem uma tendência de ser curioso, mas eu era alguém além da normalidade. Fui até ele, comecei a bisbilhotar e perguntar sobre tudo que estava lá. Era um universo incrível de coisas antigas, as quais, muitas delas eu não tinha a mínima noção do que eram e para que serviam.

    Depois de descobrir um ferro de passar a carvão, um telégrafo e um mimeógrafo, encontrei um álbum envolto em vários sacos plásticos.

    Removendo-os com maior cuidado constatei que era uma coleção de selos antigos. Fiquei fascinado.

    Meu tio, que já estava perdendo a paciência com tantas perguntas, percebendo o meu entusiasmo, me fez a seguinte proposta:

    – Quem me deu essa coleção foi sua avó. Pode perceber que ela está muito conservada. Ela tem selos e envelopes muito antigos. Você tem seis meses para classificar os 50 selos mais antigos, e também quero que me conte a história de um único envelope. Se você conseguir, ganhará toda a coleção.

    –E tem mais, eu acredito que devam haver alguns selos com valores consideráveis aí no meio.

    – O que você quis dizer com classificar os selos? – perguntei.

    – Quero saber o nome deles, de que países eles são, em qual a data foram confeccionados e quanto valem atualmente.

    – E a história do envelope?

    – Quero que me conte por que essas pessoas estavam se correspondendo, se eram parentes, amigos, namorados, essas coisas.

    5

    – Só isso? Em seis meses? Acabei de ganhar uma fortuna!

    – Então vá lá, espertinho, e não se esqueça de que o álbum deverá estar conservado e limpo do mesmo jeito que está encontrando agora.

    Doce engano! Estamos falando da década de 70, não havia internet nem a facilidade para adquirirmos catálogos como nos dias de hoje, só que para uma criança aventureira aquilo era um paraíso.

    Passei muito tempo indo à biblioteca da cidade, sem considerar que vários adultos também procuraram algumas informações para mim, mas todos, sem exceção, valorizaram bastante a entrega dos seus achados. Provavelmente queriam que eu aprendesse a correr atrás das minhas coisas e no momento certo revelariam seu material.

    Faltavam apenas cinco dias para encerrar a aposta e eu ainda tinha que localizar seis selos. Fui ao quarto do meu tio ver se ele seria compreensivo caso eu não conseguisse cumprir a minha parte; quando empurrei a porta do quarto, ele estava caído no chão. Saí gritando pela casa à procura de minha mãe; ele tinha enfartado. Em pouco tempo uma ambulância veio resgatá-lo.

    Meu tio ficou internado por oito dias antes de falecer. Eu não tive ânimo para continuar a procurar os selos e o restante dos parentes que tinham guardado algumas informações também não fizeram questão de me entregar; era um momento muito triste para todos.

    Quase um mês depois levei o álbum para minha mãe e falei para guardar já que eu não tinha cumprido a minha parte. Ela me disse que isso era uma bobagem e que meu tio ficaria muito feliz em saber que a coleção continuaria comigo e que de qualquer forma ela seria minha. Tentou me explicar que aquela aposta foi para me incentivar a gostar e cuidar bem deles. Depois de muita insistência fiquei com o álbum, mas nunca mais tive a coragem de encará-lo como uma coleção; ele era apenas uma 6

    lembrança amarga de meu tio favorito. Sempre o limpei com bastante frequência, só que nunca mais tentei saber mais nada sobre nenhum selo ou envelope.

    ******

    Enfim, aqui estou, preso dentro de casa, longe de minha mulher que está a centenas de quilômetros de distância, olhando novamente para aquele álbum. Não tenho mais 12 anos de idade e já aprendi a lidar com a morte com mais naturalidade. Ainda lembro do meu falecido tio, mas a sua morte não me assombra mais.

    Agora percebo a importância, e não entendo por que demorei tanto tempo para fazê-lo, acho que vão aparecendo outras prioridades e talvez pensasse que fosse me sentir como um desocupado gastando várias horas tentando entender aqueles pedaços de papel com goma.

    No momento a minha percepção é diferente, eu tenho uma noção plena da importância da história em nossas vidas, sem considerar que em períodos de pandemia temos que ser os mais criativos possível senão acabaremos enlouquecendo.

    Comecei pelos selos, afinal eram quase 1500 unidades de dezenas de países diferentes. Nas próprias estampas era possível ver várias passagens da história, desde algumas guerras, países que consolidaram a sua independência, costumes, reis, rainhas, mas o que me chamou mais atenção foi o poderio do Império Alemão. É visível perceber que várias nações tiveram que de repente adotar em seus selos um carimbo de "Deutsches Reich" sobreposto em suas antigas marcas, demonstrando que naquele momento eles estavam sob o poderío alemão..

    7

    Antes de começar a catalogá-los, peguei os envelopes e imediatamente lembrei de meu tio, ele queria que eu desvendasse a história de pelo menos um deles e, para dizer a verdade, eu nunca havia tentado. Fiquei tão eufórico e entretido nos selos que os deixei para um outro momento.

    Agora eles estavam ali na minha frente. Comecei a manuseá-los e um me chamou a atenção.

    Era da minha avó se correspondendo com alguém na Áustria.

    – Na Áustria? – pensei. – Nunca soube que minha família tivesse qualquer contato com alguém desse lugar.

    Continuei a mexer nos envelopes e percebi que quase mensalmente ela recebia cartas do mesmo local e da mesma pessoa.

    A princípio achei estranho, mas também pouco sabia da vida dela, afinal ela faleceu quando eu tinha apenas três anos de idade.

    Lembro de algumas coisas, dela esbravejando em italiano, mas realmente não sei se é uma lembrança ou fruto de minha imaginação.

    Minha mãe costumava contar inúmeras histórias sobre ela, principalmente quando estava brava, quando deixava de falar na nossa língua para xingar na sua língua de origem.

    Enfim, Dona Antonella Rigonni Bianchi era uma mulher bonita, magra, cabelos e olhos negros, não muito alta, cintura fina e um corpo muito bem definido. Pelas fotos que vi, tenho certeza de que apareceria em várias propagandas se ainda fosse jovem nos dias de hoje.

    Passei a pensar em cumprir a aposta que fiz com meu tio, mesmo que tardiamente. Estava decidido a classificar essa coleção inteira e também queria saber a história por trás desse envelope de minha avó.

    8

    Capítulo 2

    1905

    Em 1905 a família Rigonni chega em Caxias do Sul a convite de amigos que estavam se dando muito bem no cultivo de uvas e na produção de vinho.

    Benito Rigonni não era um homem de se arriscar muito, sempre pensou na segurança da família em primeiro lugar e demorou muito até decidir sair do norte da Itália, mais precisamente da região de Veneto, e vir para o Brasil. A maioria de seus vizinhos não titubeara e partira em torno de dez anos antes; ele ficou lá até a fome começar a bater à sua porta.

    Enquanto seus amigos já estavam assentados e colhendo os frutos de muito trabalho, Benito teve que se contentar em ser um simples empregado e a se submeter aos serviços mais braçais, preço esse pago por vir muitos anos depois.

    Fiorella, sua esposa, que fora professora no ensino fundamental na Itália, ajudava fazendo bordados para vender e era a responsável pela educação de suas duas filhas, Antonella, a mais velha, e Bianca.

    Apesar de levarem uma vida simples, estavam muito felizes com sua nova moradia. No Brasil não faltava alimento, o clima era bom e a proximidade com várias famílias italianas não os deixava ter muitas saudades de casa.

    Apesar dessa confinidade com seu povo, foi uma austríaca que ofereceu emprego para Antonella, a filha mais velha dos Rigonni. Nessa época ela 9

    já estava com catorze anos e Dona Amélie, que tinha várias crises de labirintite, precisava de uma acompanhante.

    A garota apesar de toda a sua timidez, foi até o outro lado da rua entender qual era a proposta. Se aproximou da casa e ficou quase dez minutos tomando coragem para bater; quando ia desistir a porta se abriu.

    – Olá! Faz tempo que está aqui? – perguntou uma senhora com um sorriso no rosto.

    – Não! Acabei de chegar, ia bater quando a senhora apareceu.

    Dona Amélie ia fazer uma brincadeira, mas se conteve quando percebeu a insegurança da garota. Ela estava sentada no sofá quando notou pela cortina transparente da sala a garota se aproximando há alguns minutos atrás.

    – Entre, você deve ser a Antonella.

    – Sou sim, senhora – respondeu a garota.

    – Muito prazer, me chamo Amélie. Vamos entrar.

    A garota ia retirar os sapatos, quando foi interrompida.

    – Não tem necessidade, minha querida, nós só tiramos os calçados quando vamos para o andar de cima. Lá ficam os quartos e não gostamos dessa terra vermelha em nossas roupas de cama.

    – Me fale um pouco de você. Já trabalhou? Tem estudado muito? –

    continuou a senhora, dando celeridade à conversa até Antonella se sentir um pouco mais à vontade.

    – Não, eu nunca trabalhei, mas ajudo bastante minha mãe em casa. Sei lavar, passar, cozinhar e bordar.

    10

    – Que ótimo, estou vendo que um dia será uma ótima esposa.

    – Quanto aos estudos, nós chegamos aqui faz apenas três meses e o ano letivo já estava em andamento, como a minha mãe foi professora, ela achou melhor me dar aula em casa até o início do próximo ano –

    complementou a garota.

    – Que bom que sabe fazer muitas coisas em casa, mas não é para isso que estou precisando de você. Eu tenho uma doença que me deixa tonta de vez em quando, então eu preciso estar acompanhada o tempo inteiro. Eu tenho uma filha que aparenta ter a sua idade, mas ela precisa ir à escola no período da tarde e alguns dias da semana tem aula de alemão no período da manhã. O meu marido faleceu há alguns anos, então somos só nos duas.

    – Entendi, mas eu não sou enfermeira, não sei como cuidar da senhora.

    – Eu sei, criança! A minha doença não é tão grave assim. Eu não fico tonta e saio caindo por aí! Eu aviso quando estiver começando, você me dará o braço e me conduzirá até um local para me sentar, me dará água e um remédio que fica na minha bolsa; em poucos minutos voltarei ao normal. Em raras exceções já cheguei a ficar desacordada por uns cinco minutos, mas logo depois recobro a consciência e parece que não me aconteceu nada. Por outras vezes, essas não tão raras assim, depois da tontura tenho uma forte dor de cabeça, então preciso vir para casa e me deitar.

    – Se a senhora diz...– falou Antonella, sentindo pena da senhora, mas não sabendo o que responder.

    – Gostei muito de você, mas isso não vai prejudicar os seus estudos?

    – Não. Minha mãe tem estado muito ocupada bordando para fora e nesse momento meu pai está precisando da nossa ajuda, as coisas no 11

    começo não estão muito fáceis. Por esse motivo ela tem me dado aula no começo da noite.

    – Tudo bem, então vamos fazer o seguinte. Você vem todos os dias depois das 13 horas e fica até às 18, e de terça e quinta você entra às 11

    horas da manhã, quando minha filha está nas aulas de alemão.

    – Nos finais de semana também?

    – Não! Não! Me expressei mal, você só vem no meio da semana.

    – Por mim está tudo bem – disse a garota.

    – Quantos anos você tem mesmo?

    – Quatorze, senhora.

    - Ah, então você não tem idade parecida com a minha Valentina, vocês têm a mesma idade. Tenho certeza de que serão boas amigas.

    Depois de acertarem seu salário a garota saiu de lá radiante; era muito difícil achar um emprego nessas condições. O desemprego estava num patamar muito alto, várias crianças tinham que trabalhar no campo ou em fábricas sem a menor segurança e por uma jornada de 12 a 16 horas por dia.

    Logo após a abolição da escravatura no Brasil, os imigrantes vieram para suprir a necessidade do trabalho braçal; as relações de trabalho patrão-empregado ainda estavam se consolidando, mesmo havendo se passado quase trinta anos as condições de trabalho não tinham se modificado muito.

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