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Gasli
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E-book231 páginas3 horas

Gasli

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Sobre este e-book

Um atleta do remo, faz um documentário na Amazônia, quando um acidente o faz encontrar uma comunidade isolada. Poderá existir um amor entre pessoas que tem hábitos e costumes totalmente diferentes? É possível amar alguém quando este foi ensinado a vida inteira a odiar os costumes do outro? Quem se sujeitaria a ter que conquistar seu amor novamente quando este nem sabe que você existe? Essa é uma história de um amor impossível , onde alguns elementos da natureza tiveram que mostrar a sua força. Não importa quanto tempo fosse demorar, o destino e a determinação estavam obstinados a superar qualquer obstáculo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de jun. de 2020
Gasli

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    Gasli - Eric Ebling Dubugras

    Eric Ebling Dubugras

    GASLI

    O Mistério da Andorinha

    1ª Edição

    São Paulo

    Clube de Autores

    2020

    Agradecimento

    Este livro é dedicado a todas as mulheres que em pleno Século 21, ainda têm que lutar todos os dias pela igualdade de direitos.

    Minha gratidão especial a duas delas; minha irmã Evelyn, incentivadora obstinada, corretora das minhas gafes e minha mãe Alaydes pela sua fascinante vontade de viver, que aos 88

    anos mesmo sem enxergar, faz questão de escutar todas as minhas estórias.

    Capítulo 1

    Amazônia

    Naquela tarde de verão, o sol quente deveria estar perto dos quarenta graus. Só era possível aguentar porque estavam dentro da água e a mata densa criava uma certa névoa refrescando o ambiente. Por outro lado, isso seria um pouco mais arriscado porque os animais selvagens poderiam ir para a beira dos rios se arrefecerem.

    Paulo estava com seu caiaque um pouco atrás dos de Anthony e Marlon. Era difícil imaginar que, o que no princípio era uma rivalidade, se transformou numa grande amizade. Mais do que isso, agora eram sócios em uma agência de documentários, com um grande patrocínio de uma empresa de material esportivo e de um canal de televisão.

    Percorriam os grandes rios e documentavam desde a vida marinha até as aldeias e comunidades que se formavam ao redor deles, sua cultura, alimentação, costumes, enfim tudo que pudesse se diferenciar dos hábitos dos grandes centros.

    Eram fascinantes as descobertas: novos tipos de peixes, novos frutos, temperos, rituais, danças, tipos de roupas (quando usavam), o jeito de que os povos se relacionavam, suas religiões e crenças. Com o tempo, aprenderam a apenas documentar; deixaram de expressar suas opiniões sobre qualquer tipo de assunto, apenas respeitavam a cultura de 1

    cada lugar. Não estavam ali para mudar nada, simplesmente queriam compreender.

    ******

    Ano de 2022, dois anos atrás, Olimpíadas de Tóquio: Depois de uma tarde intensa de competições, os atletas do remo estavam na Vila Olímpica. Confraternizavam naquele momento histórico. Em sua grande maioria conseguiam separar a rivalidade que tiveram nos últimos dias; tinham plena consciência do que todos passaram nos últimos anos para chegar naquele momento, se sentiam vitoriosos, independente ou não de ter uma medalha no peito.

    Essa olimpíada era ainda mais marcante, pois teve que ser adiada de 2020 para 2021, por causa de uma crise epidemiológica.

    No geral, os atletas estavam em quase 90% de seu preparo físico, mas tiveram que refazer seus planejamentos e treinamentos já que a competição seria adiada em quase um ano e, o pior de tudo, não tinham certeza de que seus índices de classificação seriam mantidos ou se teriam que atingi-los novamente.

    A força mental desses atletas tinha sido algo surpreendente, quase todos eles não perderam o foco um único instante e, quando já estavam novamente prontos para retornar à competição, outra notícia ruim, uma segunda onda do vírus atingiu a Ásia, onde a competição foi adiada mais uma vez.

    Enfim, com dois anos de atraso, lá estavam eles comemorando o final daquele evento.

    2

    Para alguns atletas aquele momento era ainda mais especial.

    Paulo, o atleta brasileiro medalha de bronze, cumprimentava seu amigo americano.

    - Parabéns, Anthony, você realmente foi muito bem. Naquele sprint final eu realmente não consegui te seguir, me desgastei demais antes para tentar te acompanhar.

    - Obrigado, frango. Comecei a ficar preocupado, achei que não ia desistir nunca.

    Paulo e Anthony estudaram dois anos juntos na Universidade do Alabama, onde ganharam bolsas de estudo em função de se destacarem no remo.

    Paulo ganhou o apelido de frango, porque alguns alunos não conseguiam pronunciar seu nome corretamente e acabavam chamando-o de Pollo, muito parecido com frango em espanhol.

    - Você viu o Marlon por aí? - perguntou Anthony.

    - Ele deve estar chegando, sei que estava no banho -respondeu Paulo.

    - Ele está chateado? - continuou Anthony.

    - Claro que não! Nós sempre brincamos que chegaríamos nas três primeiras posições, mas sabíamos que seria muito difícil.

    Afinal, ele tinha plena consciência que seus tempos não andavam muito bem ultimamente e ter chegado na final foi um sonho para ele. Parecia bem tranquilo.

    - Acho que você tem razão, sétimo lugar não é um resultado ruim.

    3

    - Ruim? Cara! Você se cobra muito! Ele é sétimo lugar no mundo inteiro. Sabe o que é isso? É claro que sabe, você é o primeiro! – comentou, dando uma risada e continuou.

    - Talvez se você estivesse no lugar dele ficaria arrasado, porque esteve sempre entre os quatro primeiros nos últimos cinco anos. Agora você tem que entender que ele nunca ficou nem entre os dez e o sétimo lugar é uma conquista incrível.

    - Estou feliz por ele, sério mesmo.

    - Eu sei que está - disse Paulo.

    Os três já eram veteranos, competiram juntos por oito anos, cada um defendendo seu país, mas a amizade sempre esteve em primeiro lugar.

    Como Marlon treinava na sua terra, o Canadá, tinha mais dificuldade em encontrá-los, mas sempre que havia uma competição, na primeira folga saíam para se divertir e conhecer garotas novas.

    A princípio pretendiam competir até as olimpíadas de 2024, mas com o adiamento desta não teriam mais a mínima condição de rivalizar com os atletas mais jovens. Os tempos das cinco primeiras posições foram muito próximos nesse evento, os garotos mais novos estavam melhorando a cada dia e eles já estavam em decadência. Desta vez foi muito desgastante manter este ritmo, seus corpos já começavam a reclamar e as contusões deveriam chegar com maior frequência.

    ******

    4

    Eles estavam há mais de quarenta dias remando naqueles rios.

    Saíram de Manaus e foram seguindo pelo rio Amazonas na direção da Colômbia, depois fizeram um pequeno desvio no rio Jutaí. Tinham naquele momento mais 200 horas de gravação, colhidos em dezoito povoados diferentes, entre pescadores, extrativistas e povos indígenas. Isso era material para quase seis meses de programação.

    Pretendiam navegar por mais quinze dias, quando um helicóptero os buscaria em Santo Antônio do Içá, uma cidade relativamente maior que as outras naquela região.

    O rio Jutaí era muito mais estreito do que o Amazonas e, em certas regiões, era muito interessante; tinha diversos afluentes fazendo uma malha como se parecesse com uma teia de aranha, com isso acabava criando várias ilhotas.

    Em outras regiões você poderia andar por horas sem que houvesse nenhuma saída, parecia aquelas auto estradas que quando um veículo adentra só consegue sair vinte ou trinta quilômetros à frente.

    Em um destes trechos, Marlon faz uma observação:

    - Ei, pessoal! Prestem atenção nisso! Nesta parte do rio podem perceber que os caiaques são puxados para a esquerda. A gente só consegue ver esse emaranhado de raízes e folhas nessa lateral, mas a força da água é muito grande.

    - Isso quer dizer que tem uma saída à nossa esquerda, mas que é intransitável porque a mata sobrepôs o rio- disse Paulo.

    - Exatamente! E as margens também têm uma mata muito fechada, é sinal que daquele lado tem uma área inexplorada -

    complementou Marlon.

    5

    - Calma, pessoal, também não é assim! Vocês já viram que em determinadas partes deste rio existem várias entradas para o mesmo lugar, então pode ser somente um acesso interrompido - contestou Anthony.

    - É, pode ser, mas você tem que levar em consideração que estamos há mais de meia hora remando sem ter visto nenhuma saída. A correnteza por aqui é muito forte então, mesmo que daqui a alguns metros à frente tenha uma saída, a pessoa teria que subir contra a correnteza para chegar do outro lado - disse Paulo.

    - O que vocês sugerem, então? -perguntou Anthony.

    - Vamos serrar estas raízes e ver o que tem do outro lado-complementou Marlon.

    Na ponta de cada barco existia um compartimento onde eram guardados os equipamentos de filmagem, kits de primeiros socorros, alimentos, roupas secas, ferramentas e outros objetos necessários para sobrevivência naquela situação.

    Tudo era muito bem distribuído para que um pudesse auxiliar ao outro no momento oportuno, por isso a necessidade de andarem sempre juntos.

    No barco de Anthony tinha uma pequena serra elétrica movida a bateria e totalmente vedada contra a umidade, desenvolvida exatamente para situações dessa natureza.

    Ele começou a serrar aquele emaranhado de raízes; rezava para que a profundidade daquela armação não fosse tão longa assim, só que estava muito mais complicado do que imaginavam.

    6

    Durante quase uma hora e meia, eles foram tirando aquelas raízes de sua frente, até que puderam enxergar do outro lado.

    Tiveram que passar um caiaque de cada vez, já que a abertura que conseguiram fazer não era tão grande.

    - Cara, isso aqui é muito lindo! - disse Paulo.

    Logo depois da passagem das raízes, o rio, apesar de forte, desembocava em um lago. Suas margens estavam totalmente floridas e na sua margem direita existia uma grande pedra achatada, parecia um deck feito pela própria natureza.

    - Vamos parar ali para filmar e descansar - disse Marlon.

    ******

    Dois anos antes...

    Depois de comemorar com os amigos, Paulo resolveu falar um pouco mais sério;

    - Então, pensaram na minha proposta?

    - Eu acho muito legal, mas só em pensar em me aposentar me dá um frio na barriga - disse Marlon.

    - É por isso mesmo! A única coisa que a gente faz bem feito nessa vida é remar, e não é só isso, a gente adora viver dentro d’água. Então, vamos unir o útil ao agradável. O que gostaria de fazer? Dar aula de remo? Ser comentarista esportivo? Você sabe que nós dois não aguentaremos treinar mais quatro anos para uma próxima Olimpíada. Para o Mundial daqui a dois, até poderia ser, mas para outra Olimpíada? Jamais.

    -Não! Eu tenho plena consciência disso. O Anthony até poderia beliscar uma medalha, mas sabe que seu treinamento teria 7

    que ser totalmente diferenciado, senão vai se estourar inteiro até lá.

    - Não, eu parei. Vou cumprir meus contratos com os patrocinadores até o final do ano e chega. Só Deus sabe o sacrifício que foi pra chegar até aqui, não tenho nem saúde física e nem psicológica para continuar - complementou Anthony.

    - Estamos esperando o que? - insistiu Paulo.

    - Eu topo, vamos afinando essa conversa até o final do ano. -

    disse Anthony.

    - Ok, eu também - disse Marlon.

    - Vai ser bem legal! Já tenho conversado com alguns patrocinadores, nosso projeto já está bem encaminhado. E

    tem outro fator ao nosso favor, nós três temos o mesmo patrocínio de material esportivo. Se unirmos as forças poderemos convencê-los a nos apoiar.

    8

    Capítulo 2

    A cachoeira

    Depois de um pequeno descanso, colocaram os caiaques na água novamente; queriam desbravar mais um pouco, mas tinham ciência de que em algum momento teriam que voltar ao rio Jutaí. Alguma nova saída teria que existir, senão teriam que remar contra a maré por um bom tempo e isso seria tremendamente cansativo.

    Desceram por mais uns quinze minutos. Por algum motivo parecia que a correnteza estava ficando cada vez mais forte, foi quando Anthony gritou:

    - Pessoal, acho melhor voltarmos. Isso aqui está uma delícia, só que estamos fugindo totalmente do nosso caminho. Se não acharmos uma saída, ficará impossível de voltarmos antes do anoitecer. E eu juro pra vocês que é a última coisa que quero fazer, se navegarmos à noite seremos uma presa fácil.

    - Concordo com você. Só vou até a próxima curva, porque tem algo brilhante que está me chamando a atenção - respondeu Paulo.

    - Também enxerguei. Vá lá dar uma olhada, eu e Anthony ficaremos agarrados nesse tronco, meus braços já começaram a doer. Preciso descansar um pouco - disse Marlon.

    - Ok, fiquem aí. Eu volto logo.

    Paulo desceu o rio muito próximo à margem direita onde a força da água parecia menos intensa e até formava umas 9

    pequenas piscinas. Ao se aproximar da curva se assustou com um movimento na mata. Três enormes jacarés-açus pularam no rio em sua direção, dois deles tinham mais de cinco metros e aparentemente deveriam pesar próximo a uns 500 quilos.

    Tentou remar desesperadamente para o outro lado, mas a quantidade de pedras que tinha ao seu redor o impossibilitava de fazer grandes manobras. O primeiro jacaré abriu sua bocarra e ia lhe estraçalhar pelo meio do corpo, quando o segundo abocanhou a traseira de seu barco o arremessando contra o rio.

    Anthony e Marlon ficaram estáticos, não sabiam se corriam em direção a ele ou se ficavam por ali.

    Rapidamente se lembraram de algumas dicas que um guia da região havia lhes passado.

    - Pegue um dos sinalizadores e atire na direção deles. Cuidado para não acertar o Frango, se é que é possível descobrir onde ele está nesse momento - disse Anthony.

    Marlon atirou, fazendo um clarão enorme. Foi fácil de visualizar alguns jacarés correndo para o meio da mata, só não sabia se eram os mesmos que atacaram o seu amigo.

    Enquanto isso, Anthony remava obstinadamente em direção à curva do rio.

    -Meu Deus, me ajude! Não o estou enxergando!.

    ******

    Outubro de 1980.

    10

    A socióloga Maria Helena Reimberg queria acompanhar e entender o trabalho social feito pela Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur perante aos pobres das vilas ribeirinhas do rio Amazonas.

    Formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós graduada pela Sorbonne, era feminista e aproveitava essas excursões junto às freiras para entender o papel da mulher nessas comunidades e, principalmente, nas diversas etnias indígenas espalhadas pela região. Sempre levava consigo algumas alunas de pós graduação, desde que tivessem um perfil parecido com o seu, ou seja, a mulher em primeiro lugar.

    Em uma dessas visitas, quando estavam navegando pelo rio Amazonas, uma forte tempestade afundou seu barco, matando as freiras e algumas de suas alunas.

    Maria Helena foi arrastada pela correnteza e foi salva por uma tribo de índias, junto com quatro de suas alunas.

    Demorou semanas para que se recuperassem totalmente.

    Ao ter plena consciência de onde estava, achou aquele local fascinante. Por um período de três meses, as mulheres faziam praticamente tudo sozinhas, plantavam, pescavam, cuidavam dos animais, dos filhos, cozinhavam, teciam e administravam o local enquanto os homens saíam para caçar. Depois eles voltavam, passavam três meses em casa e novamente partiam para a caça.

    ******

    Paulo bate a cabeça no fundo do rio, fica meio tonto, tenta se controlar. Tinha passado mais da metade da sua vida dentro da água e não seria agora que teria medo dela.

    11

    Olha para cima e vê um enorme clarão, não consegue identificar o que seria aquilo, percebe que uma grande quantidade de sangue sai de seu braço, deixando a água turva no seu lado esquerdo.

    Tem a consciência que precisa emergir rapidamente porque o ar de seus pulmões já está escasso, tenta não se preocupar com os jacarés, porque naquele momento o ar passa a ser o mais importante.

    Sobe, e quando consegue colocar a cabeça um pouco fora d’água, não reconhece o lugar. Já estava há centenas de metros para baixo no leito do rio de onde os animais o tinham atacado. A correnteza estava cada vez mais forte, as margens estavam muito longe, suas forças estavam acabando. Escuta um som e agora fica realmente apavorado.

    -

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