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Futebol de Ouro: Os 100 Anos de Futebol em Conceição dos Ouros, MG
Futebol de Ouro: Os 100 Anos de Futebol em Conceição dos Ouros, MG
Futebol de Ouro: Os 100 Anos de Futebol em Conceição dos Ouros, MG
E-book557 páginas5 horas

Futebol de Ouro: Os 100 Anos de Futebol em Conceição dos Ouros, MG

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Sobre este e-book

Futebol de Ouro é um relato daquilo que aconteceu de mais importante nos cem anos de história do futebol em Conceição dos Ouros, Minas Gerais.
A história, que se inicia na segunda década do século passado, é uma viagem pelo tempo que dará ao leitor a oportunidade de conhecer melhor o desenvolvimento da cidade ao longo do século, a história de todos os clubes do município e de alguns clubes de cidades vizinhas, as seleções locais, os jogadores de maior destaque e suas características, todos os campeonatos nesses cem anos (desde o primeiro em 1947), os campeões de cada edição, os elencos, os dirigentes, os torcedores, os costumes de cada época, a análise tática das equipes, os fatos históricos e as curiosidades; o lado cômico do futebol, o futebol de rua e de campinho; o futebol infantil, o futebol feminino, o futebol de salão, o futsal masculino e o futsal feminino; o futebol de areia, os depoimentos, as imagens e as estatísticas.
De leitura agradável e descontraída, este livro dará ao leitor entendimento da evolução do futebol em Conceição dos Ouros e região, em questões táticas e técnicas, resgatando fatos que se perderiam no tempo, se não fosse por esta pesquisa.
Toda a história narrada aqui teve a contribuição de pessoas que participaram diretamente dos acontecimentos. É uma linda parte da história de Conceição dos Ouros.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de set. de 2022
ISBN9786525024516
Futebol de Ouro: Os 100 Anos de Futebol em Conceição dos Ouros, MG

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    Futebol de Ouro - Jéferson de Castro Rosa

    1

    O FUTEBOL CHEGA AO BRASIL

    Daniel Neves Silva, em matéria para o site Mundo Uol, descreve:

    "O futebol foi introduzido no Brasil no final do século XIX, por Charles Miller. Esse estudante paulista retornou da Inglaterra em 1894 e trouxe na bagagem diversos artigos, como bolas, uniformes e um livro com as regras estabelecidas. Por conta disso, Charles Miller é atualmente considerado o pai do esporte no Brasil.

    Após a chegada ao país, o futebol rapidamente se popularizou na sociedade. Inicialmente, a adesão aconteceu de maneira elitizada, pois era restrito à aristocracia da sociedade brasileira. No entanto, com o crescimento urbano do país, o esporte popularizou-se entre as camadas populares, com a organização dos clubes de futebol."

    (Daniel Neves Silva)

    No final do século XlX, a pequenina Freguesia dos Ouros (Conceição dos Ouros), distrito de Paraisópolis, não conhecia o futebol e nem imaginava que esse novo esporte poderia lhe dar tantas glórias.

    Conforme o futebol se instalava de vez em São Paulo e, aos poucos, no resto do Brasil, pelas ruas da freguesia as crianças já tinham contato com a bola, que ainda era feita manualmente e de maneira improvisada. Usava-se pano, papel e outros materiais disponíveis.

    Algumas pessoas já haviam lido ou ouvido falar do jogo com bola, mas a maioria fazia o uso da bola muito mais como um objeto de acrobacia.

    Adultos brincando com bola? Jamais! Isso era coisa de criança.

    O futebol começa a ser difundido na região, e no início do século XX, nas ruas da cidade, os jovens transformam a acrobacia em jogo.

    As notícias sobre o futebol se espalham e, de forma ainda acanhada, os adultos entram na brincadeira. Mas, não havia nenhum campo de futebol em Ouros, e as regras do jogo eram desconhecidas. Até que 20 e poucos anos mais tarde um coronel implanta o futebol em Conceição dos Ouros.

    2

    O INÍCIO DO FUTEBOL

    EM CONCEIÇÃO DOS OUROS

    No início do século XX, entre os nomes de maior destaque na política ourense, estavam o de coronel José Otávio Rosa (Zeca Rosa) e seu irmão, o coronel Domingos Ciríaco Rosa (Dominguinhos), meu avô e meu tio-avô, respectivamente.

    O coronel José Otávio Rosa foi vereador pelo distrito de Conceição dos Ouros e representou a política local nos anos 1920 e 1930.

    Pelo esforço do coronel José Otávio Rosa, as ruas do centro da cidade passaram a ter calçadas, o jardim público ganhou colunas, muros e novo paisagismo. A primeira escola foi inaugurada. Ouros passou a ter forma de cidade. As ruas passaram a ser traçadas planejadamente, dividindo a cidade em quarteirões, e a iluminação pública chegou por intermédio da Companhia Sul-Mineira de Eletricidade.

    O curioso é que o coronel José Otávio Rosa, embora fosse dois anos mais jovem que seu irmão, o coronel Domingos Rosa, liderou a política da época.

    Curiosidade: dizem os familiares que Zeca Rosa era muito sério e conservador e que, ao contrário, Dominguinhos era brincalhão e mais popular.

    O café e a pecuária eram os pontos fortes da atividade econômica no município.

    O Cel. José Otávio Rosa, Zeca Porfírio, Barnabé da Costa Resende e Benedito Barbosa Pinto iniciaram a fabricação do polvilho de mandioca, já de maneira menos artesanal, montando pequenas fábricas para a sua produção.

    A industrialização do produto transformaria Conceição dos Ouros na Capital Mundial do Polvilho.

    O coronel Domingos Ciríaco Rosa era muito querido por todos os ourenses, e a sua popularidade veio pelo apoio que sempre deu às causas sociais e às instituições existentes em Ouros, como a igreja, a escola e a banda de música. Preocupado sempre com o bem-estar e o lazer de seus conterrâneos, não poderia se apaixonar por outro esporte a não ser o futebol; dizem ter sido uma paixão à primeira vista. Acredita-se que a primeira vez que vira o futebol teria sido em Paraisópolis, MG.

    Cerca de 20 anos foram suficientes para que o futebol chegasse a Conceição dos Ouros, após a sua implantação no Brasil. No início dos anos 1920 (não temos a informação precisa do ano), o coronel Domingos Rosa implantou o futebol em Conceição dos Ouros. Construiu um campo de futebol em seu terreno, na entrada da cidade, saída para Cachoeira de Minas, à margem direita do Rio Sapucaí.

    A terraplanagem foi toda feita à mão, por meio de enxadas, picaretas e enxadões. Oneil Gória disse, em entrevista, que (por informação dos mais velhos) um burro puxava a terra em couros de bois e os trabalhadores a despejavam na parte mais baixa do terreno.

    Além dos empregados da Fazenda Cachoeira, muitos voluntários da cidade participaram de todo o trabalho, desde o acerto do terreno até o plantio do gramado.

    O senhor João Euclides contava-nos sobre as dificuldades enfrentadas para o acerto do terreno e o empenho da comunidade naquele trabalho. Dizia que muitos jovens, depois de deixarem seus afazeres, corriam para o local da terraplanagem para se somarem aos outros voluntários. Na parte mais alta do terreno (gol dos fundos) e na lateral mais próxima à margem do rio, foi retirada muita terra, até se formar um barranco. Na lateral, alguns anos depois, foi construída uma arquibancada de dois degraus. Foi um trabalho árduo, pelos recursos existentes na época.

    O gosto pela bola e um pequeno conhecimento do esporte já existiam, mas nunca houvera um jogo com regras específicas no distrito de Conceição dos Ouros. O primeiro a presenciar uma partida de futebol teria sido o próprio coronel.

    Após a inauguração do campo e de alguns treinos, o coronel montou uma equipe que, sob seu comando, começou a dar os primeiros passos. Entre um amistoso e outro, foi fazendo com que a população ourense tomasse gosto pelo esporte, e pouco depois Ouros já tinha um time de verdade.

    Começaram a surgir bons talentos, como seu filho João Silvério Rosa (Paraguai), Felix Tomé, Dodito, Vadão, seu genro Walter de Oliveira, Zé Lucinda, Luís Flausino, Benedito Pires, entre outros. Com o surgimento desses talentos, o coronel resolveu inscrever o Ouros Futebol Clube no Campeonato Sul-Mineiro de Futebol de 1928.

    Para alguns, uma loucura; para outros, indiferença. Poucas pessoas tinham a noção exata do que seria participar de uma competição como aquela. Apesar da euforia dos jogadores ourenses da época diante da inscrição de Ouros no campeonato, somente os novos talentos não bastariam para que se formasse uma equipe competitiva. Surgiu daí a necessidade de buscar reforços (escretes, como eram chamados) em outras cidades da região e de outros estados.

    Mas um novo problema apareceu. Como buscar e levar esses jogadores em suas cidades a cada jogo? Considerando a dificuldade que já havia no transporte da delegação durante os jogos, não seria viável aumentar essas despesas. A solução encontrada foi contratar como empregados da Fazenda Cachoeira os jogadores vindos de fora. Apesar de não terem uma atividade de trabalho na fazenda, ficaram todos alojados ali durante toda a competição.

    Recebiam alimentação, hospedagem e um salário pré-estipulado, vindos do bolso do coronel. Não temos a informação de quais pessoas indicaram aqueles jogadores e dos valores pagos a eles. Toda a despesa de transporte e estadia da delegação em outras cidades era também oriunda do cofre do coronel, que cedia dois carros, motoristas, pagava o alojamento e a alimentação.

    As viagens eram realizadas em três carros. Não obtive informações sobre o proprietário desse terceiro carro. Viagens de trem também foram utilizadas.

    Domingos Rosa montou uma bela equipe, mesmo com todas as dificuldades. O senhor Felix Tomé contava-nos quanto foi difícil. A viagem era lenta e demorada; a poeira entrava nos carros com facilidade, e era um aperto tamanho que mal dava para os jogadores esticarem as pernas. Iam de cinco a seis pessoas em cada carro. A delegação fazia paradas tão curtas que, hoje em dia, é impossível se imaginarem.

    Vadão dizia que os campos de jogo eram horríveis; poucos deles tinham gramado. Eram todos esburacados, e nem sempre a recepção era calorosa. Muitas vezes, trocavam-se dentro dos carros; em outras, em casas de família. Poucos campos eram assistidos de vestiário.

    O uniforme de Ouros era novinho e lindo; de causar inveja. Pela foto da época, podemos ter uma noção da sua cor; camisa listrada em azul e vermelho, shorts brancos com faixa azul e meião azul.

    Dodito fez o primeiro gol daquela equipe, jogando em casa. A equipe participou do campeonato com o seguinte elenco: Vadão (goleiro), Walter de Oliveira (genro do coronel), Beneito Pires (goleiro), Luís Flausino, Paraguai, Dodito, Zé Lucinda e Felix Tomé (Ferraz), todos de Ouros, Chiquito Tomazelli, Garcia e Romeu, de Taubaté, Bodinho, Euclides e Ricardinho, de São José dos Campos, e Alemão, do Rio de Janeiro. João Rosa, ainda muito jovem, chegou a jogar uma partida em Ouros, no início da competição.

    Figura 1 – Seleção Ourense, campeã do Campeonato Sul-Mineiro de 1928. O jogador de maior estatura no centro da foto é Paraguai, filho do coronel. O goleiro deitado com a bola é Vadão.

    Os outros jogadores não foram identificados

    Fonte: acervo de Museu Histórico e Arqueológico de Conceição dos Ouros

    O jogo final foi entre Eloi Mendes e Conceição dos Ouros em 6 de outubro de 1928, na cidade de Elói Mendes. Conceição dos Ouros sagrou-se campeã sul-mineira da Taça Dr. Wenceslau Braz. A solenidade de entrega da taça deu-se em Conceição dos Ouros.

    A tão comentada e discutida inclusão de jogadores de outros municípios em nossas seleções e nos clubes não é novidade nenhuma. Desde sempre, Ouros participou de competições com jogadores vindos de fora, e com eles Ouros conquistou diversos títulos em sua história.

    Dos 11 jogadores titulares na Taça Wenceslau Braz, Vadão e Walter de Oliveira foram expedicionários na Segunda Guerra Mundial. Walter de Oliveira tornou-se capitão do Exército Brasileiro; em 1940, assumiu o cargo de treinador do Ouros Atlético Clube e, em 1948, foi o responsável pelo contato entre o Atlético e a equipe do 8º RAM – Pouso Alegre, quando fizeram dois jogos brilhantes e que marcaram época.

    A equipe ourense, vinda de um pequeno povoado, não buscava nada maior do que uma boa participação no Campeonato Sul-Mineiro de 1928; mesmo assim, tornou-se campeã, desbancando as grandes cidades da época.

    Com esse título, a estruturação do futebol ourense estava consolidada, e daí por diante muitos novos jogadores surgiram no município. Mas Ouros não mais participou dessa competição em razão das dificuldades encontradas na primeira e única participação. Mas e a taça, que fim levou? Entre as pessoas da família Rosa, essa pergunta era recorrente. Alguns diziam:

    Deve estar na fazenda...

    Outros:

    Ela está por aí mesmo, vamos encontrá-la.

    Nunca tiveram sucesso, apesar da grande procura ao longo dos anos.

    Nos anos 1960, Chico e Zizinho encontram a taça em uma caixa de papelão, no forro da casa da vó Quinha (esposa do coronel José Otávio Rosa). Já não havia as alças nem a tampa. Quem a colocou lá? Nunca soubemos. A taça ainda se encontra com a família do Dedé Rosa.

    Figura 2 – Taça entregue ao campeão sul-mineiro de 1928. Na taça, a seguinte descrição: Dr. Wenceslau Braz. Ao campeão Sul Mineiro do ano 1928. Off. pelo Sport Club Santa Rita

    Fonte: acervo pessoal do autor

    O coronel Domingos Rosa foi o maior responsável pelo sucesso desse esporte em Ouros e o fundador dos dois primeiros clubes de futebol da cidade.

    Por meio do futebol, encontramos fatos interessantes e outros muito curiosos; às vezes, desconhecidos.

    No início do século, quando os ourenses estavam empenhados em estruturar a nossa pequena cidade, no litoral do estado de São Paulo, na cidade de Santos, um grande nome, com raízes fincadas em Conceição dos Ouros, tornava-se um grande político santista e daria o nome à vila mais famosa do mundo, a Vila Belmiro, em Santos, SP, que, por conseguinte, deu o apelido ao Estádio Urbano Caldeira, do Santos Futebol Clube.

    Dona Mercedes Carvalho Campos, por meio de suas pesquisas, postou o seguinte texto em sua página social:

    O QUE A VILA BELMIRO TEM A VER COM OUROS?

    NADA, A NÃO SER...

    Atribui-se ao Barão da Motta Paes, a paternidade (extraconjugal) de Tereza (Ribeiro de Oliveira Motta), nascida em Ouros em 1854. Tereza casou-se com Daniel da Silva Santos com quem teve o filho BELMIRO RIBEIRO DE MORAES E SILVA, nascido em 1869. Casou-se pela 2ª vez em 1874. Recebeu do Barão a fazenda Santa Bárbara, em Espírito Santo do Pinhal onde viveu com os filhos do 1º e 2º casamentos.

    BELMIRO mudou-se para Santos, dedicando-se à carreira política. Elegeu-se prefeito exercendo o mandato de 1911 a 1914, sendo reeleito para o período de 1917 a 1920. Ingressou na Câmara Municipal de Santos, tornando-se presidente da Mesa Diretora para o mandato de 1929 a 1930.

    Foi membro atuante da sociedade santista e proprietário de terras. Em 31 de maio de 1916, vendeu para o Santos Futebol Clube, uma área de 16.500 metros quadrados, no bairro da Vila Belmiro, para a construção de um estádio de futebol conhecido como VILA BELMIRO e que em 1933, passaria a se chamar Estádio Urbano Caldeira, Em 18 de setembro de 1955, aniversário de 5 anos da televisão brasileira, a Vila Belmiro se tornou o primeiro estádio do Brasil a contar com uma partida televisionada ao vivo, pela TV Record. Belmiro faleceu em 19 de julho de 1947 com 77 anos. (CAMPOS, 2015).

    Pesquisando sobre o tema, encontrei a informação, pelo site Novo Milênio, de que no sábado, 19 de julho de 1947, o jornal santista A Tribuna publicou na página 5 o seguinte necrológio:

    NECROLOGIA:

    Belmiro Ribeiro de Morais e Silva – faleceu ontem, na capital, em sua residência à Av. Brigadeiro Luiz Antônio, 2.074, após longa enfermidade. O Sr. Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva, antigo membro do Partido Republicano Paulista e figura de grande relevo nos meios políticos e sociais de Santos, onde foi vereador e prefeito municipal.

    O extinto, que desaparece com a idade de 77 anos, foi durante muitos anos corretor de café em nossa cidade, sendo também, desde 1915, diretor-presidente da Cia. Central de Armazéns Gerais e sócio-fundador da firma comissária Ribeiro, Carvalho e Cia. Ltda.

    [...]

    Valiosa também sua colaboração à Associação Comercial de Santos, de cuja diretoria foi presidente no período de 1921-1922, exercendo ainda o cargo de provedor da Santa Casa da Misericórdia nos anos compromissais de 1906 a 1908. (SANTOS, 2011).

    Figura 3 – Belmiro Ribeiro de Morais e Silva

    Fonte: Câmara Municipal de Santos²

    Quem poderia imaginar que um cidadão saído de uma família tradicional de Ouros tivesse tamanha importância na história da cidade de Santos e também do Santos Futebol Clube?

    Curiosidade: Belmiro faleceu 13 dias após o início do primeiro campeonato em nossa cidade.

    3

    O FUTEBOL NOS ANOS 1930

    Com a conquista do título sul-mineiro de 1928, Conceição dos Ouros passou a ser admirada e respeitada; e a ter um time competitivo.

    Foi uma década de revelações de ótimos jogadores.

    Surgiram para o futebol, ainda no início da década, José Germano, Né da Tiloca, Antônio do Quim, Chico Vitá, Pedro Siqueira, Gumercindo, Berto, João Rosa, Zuca, os irmãos Samuel (Guinho) e Sebastião Saturno, os irmãos Zequinha do Inácio e Neco do Inácio; Dedé Rosa, Zé Matos, Diamantino, Sérgio do Saturno, Vicente Manoel, Zé Gonçalo, Toninho Adolfo, João e Joaquim Germano (irmãos de Zé Germano e moradores da Fazenda do Emiliado, bairro Chapada); e outros mais apareceram a partir da segunda metade da década.

    Eram poucos os jogadores que participavam do Ouros Futebol Clube, de 22 a 25 jogadores. Apenas 11 jogavam, e com certeza, na maioria das vezes, sempre os mesmos. Isso desmotivava outras pessoas a jogar.

    Curiosidade: na época, nenhum jogador podia ser substituído por outro. Se algum atleta se machucasse, a equipe continuaria o jogo com apenas 10 jogadores. A Fifa e a International Board permitiram a substituição de até dois jogadores por partida a partir da Copa de 1970 no México. No futebol amador, a substituição de dois jogadores durante a partida, de comum acordo entre os clubes, já existia, contrariando as recomendações da Fifa, mas nem sempre isso acontecia.

    Nos anos 1930, muitas crianças e muitos jovens praticavam o futebol, mas havia apenas esse time na cidade, e era, com certeza, muito difícil entrar na equipe, pois havia poucas vagas. Esse problema arrastou-se até 1943.

    Mesmo assim, a década de 1930 teve um futebol ativo na cidade, com amistosos contra equipes das cidades vizinhas.

    O público ourense começou a participar dos eventos de forma tímida, mas, com o passar dos anos, foi ganhando mais atenção.

    Ouros já era uma cidadezinha bem traçada e muito bonita para a época. O Jardim era todo cercado com portões de acesso entre colunas, cercado por arames, e isto se dava pelo enorme tráfego de animais pelas ruas.

    Não foi encontrada nenhuma fotografia de jogadores e do time da época. Não obtivemos informações quanto às características daqueles jogadores que encerraram a carreira naquela década, tampouco daqueles que foram campeões em 1928, com exceção de:

    Pedro Siqueira, centroavante. Jogador de muita raça. Marcava muitos gols. Encerrou a sua carreira depois de um acidente, quando trombou com o goleiro Todi e levou a pior machucando gravemente o joelho.

    Chico Vitá, lateral direito. Chegou a ser titular da equipe nos anos 1930. Jogador viril, de boa marcação. Na fundação do Atlético, era o titular. Fez alguns jogos, até que Guinho assumisse o seu lugar. Dodito, que fez parte do grupo que conquistou a Taça Wenceslau Braz, jogou até o início da década de 1950.

    Observação: para mais compreensão do leitor, as características dos jogadores citados e as próximas descrições serão narradas conforme os posicionamentos táticos usados tradicionalmente em nosso futebol: goleiro, lateral, zagueiro, volante, meia, ponta e centroavante.

    Todas as informações contidas nelas foram colhidas de pessoas que presenciaram os jogos e assistiram às atuações dos jogadores da época em questão. Nos próximos capítulos, serão mencionadas apenas as características de jogadores que encerraram a carreira.

    4

    O FUTEBOL NOS ANOS 1940

    O futebol dos anos 1940 foi, sem dúvida nenhuma, sensacional. Todos os entrevistados que assistiram aos jogos da época são unânimes ao afirmar que aquela foi a geração de ouro. Desde 1940 os cidadãos ourenses puderam presenciar jogos fantásticos. Foi uma época de inovação e que revelou muitos jogadores de alto nível.

    Talvez os relatos tenham um tom saudosista, contudo essa afirmativa não vem apenas dos ourenses entrevistados, senão de pessoas de outros municípios.

    Foi um ano de conquistas do povo ourense. Nessa década, foi inaugurada a nova igreja matriz, novos times apareceram e foi realizado o primeiro campeonato. Um padre revolucionou o futebol do município. Desfiles com jogadores, madrinhas, banda de música deixavam as tardes de domingo mais bonitas. Bingos, quermesses, bailes e leilões eram realizados para arrecadar fundos para as competições. Ouros fez a sua emancipação política, e esse fato impulsionou o futebol. O campeonato de 1949 teve um final inesperado.

    Ouros Atlético Clube, em 1940; Botafogo da Fazenda Cachoeira, em 1943; Bela Vista do Bairro Campo do Meio, em 1944; Vasco e Confiança, em 1946, foram as primeiras equipes.

    Algumas outras equipes de bairros também surgiram até o final da década, como Vasco das Três Cruzes, Flamengo da Chapada, Flamengo do Brochado, JK do Campo do Meio, América do Ouros Velho, Bangú dos Barbosas e Vasco da Fazenda do Emiliano.

    A história dos clubes dessa década você verá com detalhes no Capítulo 12, Oitenta anos de fundação do Clube Atlético Ourense.

    5

    O FUTEBOL NOS ANOS 1950

    A cidade de Conceição dos Ouros, já emancipada, passou por uma fase de enorme sensibilidade cívica e de grande progresso.

    Nas gestões dos prefeitos Geraldo Rosa (Zuca) e João Silvério Rosa (Paraguai) foram realizadas as seguintes obras: Avenida Domingos Rosa, prédio da prefeitura, cemitério paroquial, calçamento da Praça José Maria de Souza, Escola Municipal Coronel José Otávio Rosa, Ponte do Rio Sapucaí e Cine Ouros.

    As fábricas de polvilho começaram a dar os seus primeiros passos para se firmarem como o ponto forte da economia local, transformando-se em verdadeiras indústrias.

    Depois do último campeonato da década de 1940, Ouros ficou sem campeonatos municipais durante três anos. Alguns motivos foram citados como responsáveis pela não realização de competições na época: a saída do padre João Cavalcante da paróquia em 1951, um dos responsáveis pela organização dos campeonatos; o afastamento de muitos jogadores talentosos da década anterior e também de alguns dirigentes; o desânimo das equipes rurais, que se sentiam prejudicadas, com a maioria dos bons jogadores dos bairros jogando pelos clubes da cidade; e a confusão que aconteceu na final do campeonato de 1949.

    No início dos anos 1950, foram realizados pelas equipes apenas amistosos e participações em torneios, em casa e em outros municípios.

    Atlético, Botafogo e Vasco terminaram essa fase de ouro do futebol ourense em 1952.

    O Confiança, em 1952, passou a se chamar Fluminense Futebol Clube. João Euclides afastou-se do cargo de presidente, e o senhor Francisco Damasceno de Oliveira, que era colaborador do clube mesmo antes da mudança de nome, assumiu o comando.

    Chico Masceno, como era chamado, foi um dos maiores incentivadores do esporte ourense. Além do futebol, era o organizador de uma competição que havia na época, uma maratona aquática que tinha como percurso o trecho do Rio Sapucaí Mirim, da Cachoeira dos Euclides (Prainha) à Cachoeira dos Pilões (Praia de Baixo). Os dois primeiros vencedores foram Antônio Borges e Dedé Rosa.

    Chico era proprietário da Loja Damasceno, na saída para Paraisópolis, hoje Rua 6 de Agosto: uma grande loja, que vendia de tudo, desde produtos alimentícios a tecidos, instalada ali na segunda metade dos anos 1930.

    Havia também na loja um serviço de alto-falantes que funcionava como rádio, dando as escalações das equipes para os jogos, notícias de jornal e oferecimento de músicas.

    Senhores, senhoras e jovens de toda a cidade aglomeravam-se em frente à loja para ouvir os serviços de alto-falantes.

    Minha mãe, dona Salomé, dizia que certa vez ouviu daqueles alto-falantes uma valsa oferecida a ela por meu pai, Dedé Rosa, seu futuro namorado e marido; tratava-se da música Rosa, de Pixinguinha, lançada em 1937.

    Naquela mesma época, uma notícia deixou a comunidade em pânico. Lampião e seu bando estariam descendo para Minas Gerais. Imagine o susto! Mas a notícia não se concretizou, e o Rei do Cangaço morreu no ano seguinte.

    Muitas outras notícias deixavam os ourenses mais bem informados sobre o que se passava no Brasil e no mundo. Nem todos tinham rádio naquela pequenina cidade, e muitas pessoas vinham de longe para ficar por dentro das notícias e ouvir as músicas.

    No início da década de 1940, começa a Segunda Guerra Mundial, e dezenas de pessoas passavam por ali para ouvir as notícias. A principal fonte era o Repórter Esso, jornalismo apoiado pelo presidente Getúlio Vargas, sob orientação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).

    A loja e o seu grande movimento diário fariam de Chico Damasceno uma pessoa muito popular e próspera. Era muito querido por todos, e isso colaborou para que a frágil equipe do Confiança se transformasse em um forte Fluminense.

    Figura 4 – Fluminense no ano de 1955. Em pé, da esquerda para a direita: Zé Sutero, Bento Lopes, Dedé Munis, Nano, não identificado e Luiz do Janir. Agachados, da esquerda para a direita:

    Toninho Padeiro, não identificado, Mário Rosa, José Maria Santana e não identificado.

    Provavelmente, os jogadores não identificados devam ser de outros municípios

    Fonte: acervo pessoal de Toninho Padeiro

    Em 1953 aconteceu o primeiro campeonato da década com novas equipes.

    Palmeiras e São Paulo surgiram logo após a paralisação das atividades de Atlético e Vasco em 1952 e se juntaram a Bela Vista, América, Bangu dos Barbosas, Vasco das Três Cruzes, Fluminense e Flamengo da Chapada, formando o grupo de clubes que participaram daquela competição.

    A Liga Desportiva de Ouros fez um acordo com os clubes; com a paralisação das atividades do Atlético e do Vasco e a pedido das equipes rurais, os jogadores que neles atuaram foram sorteados entre as novas equipes.

    Crescêncio, ex-treinador do Atlético, assumiu a condição de presidente e treinador do Palmeiras.

    Conheça os jogadores de Vasco e Atlético sorteados para o Palmeiras:

    Vindos do Vasco, Dito da Preta, Manoel Vergínio, Jaime Ferraz e João Matos.

    Vindos do Atlético, Sutero, Dedé Rosa, João Batatinha e Mano.

    A linha de ataque do Palmeiras ficou praticamente a mesma que antes jogava pelo Atlético, e isso deu uma vantagem enorme àquela equipe; o entrosamento entre eles era ótimo. Sutero participava ali do seu primeiro campeonato em Ouros.

    O Palmeiras sagrou-se campeão por pontos corridos em 1953.

    Jogavam no Palmeiras Dito Carias, Dito da Preta, Suster, Sutero, Dedé Rosa, Manoel Vergínio, João Ferraz (Batatinha), Jaime Ferraz, Roberto Rosa, João Matos e Mano.

    Figura 5 – Entrega de faixas — Palmeiras 1953. Da esquerda para a direita: Manoel Vergínio, Dedé Rosa e Antônio Borges

    Fonte: acervo pessoal de Alcindor Carvalho

    Em 1954, outra competição, e desta vez o São Paulo foi o campeão, ficando o Palmeiras como vice. Os irmãos Dedé e Mano, que haviam jogado juntos por toda a vida, desta vez foram separados pelo sorteio. Dedé foi para o São Paulo, e Mano para o Palmeiras.

    O Vasco das Três Cruzes teve no elenco Gumercindo, Vicente Manoel e Batatinha, jogadores que foram sorteados para aquela equipe. No São Paulo Futebol Clube jogavam: Tião Cajango, Klinger, Dito do Cassiano, Tite, Suster, Antonio Borges, Dedé Rosa, Jaime Ferraz, Mario Rosa, Dimas Viana, José Maria Santana, Batatinha e Hildebrando. Abel Alves era o treinador, e Yolanda Gória Viana a madrinha da equipe.

    Nesse ano jogavam no Palmeiras Joãozinho Rosa, Guarda-Chuva (Paraisópolis), Dorgão, Zé Gordo, Mano, Nenê Cassiano e Crescêncio, Homero, Wando Viana, André de Paraisópolis, Roberto Rosa e Totó do Zé Cride.

    Depois desta competição, Dedé e Mano jogaram ainda pelo Fluminense de Chico Damasceno e deixaram o futebol no ano seguinte. Dedé foi artilheiro em todos os campeonatos que disputou.

    Acontecia, nesse ano, o fim da geração de ouro.

    5.1 UMA NOVA GERAÇÃO SURGIA

    A partir deste campeonato, algumas equipes de bairro ganharam notoriedade, entre elas o Vasco das Três Cruzes, que passou a apresentar ao futebol ourense bons jogadores, como os garotos Pedrão, Mainha, Ferrinho, Negrão Lopes, entre outros.

    Mainha, no início de suas apresentações como jogador em Ouros, foi comparado a Ferrinho. Isso mostra quanto o jogador Ferrinho foi bom tecnicamente. Faleceu ainda muito jovem, vítima de um derrame.

    De 1955 a 1958, não tivemos o Campeonato Municipal, pois era época de reformulação do futebol ourense.

    Nos anos seguintes, novos jogadores surgiram em Ouros e, com eles, um novo Botafogo, desta vez formado na cidade. A equipe da estrela solitária era composta, em sua maioria, por jovens e contava com a experiência de alguns jogadores renomados.

    Mário e Rui Machado, dois irmãos de Cachoeira de Minas, foram os principais nomes de uma geração talentosa naquela cidade. A partir dali, Cachoeira de Minas passou a ter grandes equipes e grandes jogadores. Apresentava-se sempre com equipes muito competitivas.

    Os irmãos de Cachoeira de Minas jogavam pela equipe do Botafogo de Ouros, time com o mesmo nome da sua equipe local.

    Antônio Borges e Dito da Preta, já mais experientes, também compunham a equipe.

    O Botafogo Futebol Clube tornou-se campeão municipal em 1959, após vencer os dois turnos de um campeonato por pontos corridos.

    Figura 6 – Botafogo Futebol Clube, campeão de 1959. Em pé, da esquerda para a direita:

    Abel Alves, Luizão, Ildebrando, Dito do Cassiano, Chico Baiano, Antônio Borges, Joãozinho Rosa e Lott. Agachados, da esquerda para a direita: Dito do Dodito, Toninho Pagão, Tatão, Roberto Rosa, Mortadela. A garota com a taça é Dorothéia do Ditinho do Cassiano, e o massagista é

    Rubinho. O garoto não foi identificado

    Fonte: acervo pessoal de Dito do Dodito

    Crescêncio, Sebastião Ferraz (Tatá) e Abel Alves foram os principais organizadores do futebol dos anos 1950 e da década seguinte.

    Nas equipes mais jovens (aspirantes), grandes talentos começaram a surgir.

    Equipes fortíssimas vieram a Ouros para amistosos por intermédio de Joel do Zé Neco, e a Seleção Ourense voltou a ser convocada frequentemente.

    Joel teve uma grande colaboração para que o futebol ourense conhecesse outros estilos de jogo. O intercâmbio entre os atletas de Ouros e de São José dos Campos, Jacareí e Taubaté foi muito importante na formação técnica e tática dos nossos jogadores. Espelhar-se sempre nos melhores, esse é o segredo do sucesso. Bico de Corvo, Rodozá, GM, Ródia e outras fortes equipes do Vale do Paraíba visitaram Conceição dos Ouros com certa frequência.

    Figura 7 – São Paulo, final dos anos 1950. Em pé, da esquerda para a direita: Joel, Luiz do Janir, Nenê Sutero, Geraldo do Cassiano, Zé Amâncio, Dorgão, Dito Domiciano e Abel Alves.

    Agachados, da esquerda para a direita: Dito do Dodito, Tuí, Luizão, Teté e Flávio do João Neco.

    Fonte: acervo pessoal de Dorgão

    Figura 8 – Ouros Futebol Clube (Seleção Ourense) de 1959. Em pé, da esquerda para a direita:

    Zé Gordo, Joãozinho Rosa, Remo, Dito da Preta, Mainha e Jaime Machado. Agachados, da

    esquerda para a direita: Klinger, Toninho Pagão, Flávio, Luizão, Roberto Rosa e Toninho Tito.

    O garoto é Zé Marcos do Tatá

    Fonte: acervo pessoal de Toninho Pagão

    Um jogo memorável desse selecionado aconteceu nesse ano de 1959; Ouros Futebol Clube x Corinthinha de São José dos Campos.

    No plantel do Corinthinha estavam grandes jogadores, entre eles Orlando (Landão), do Sporte Clube São José, e Fidelix jogador do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, e da Seleção Brasileira.

    O primeiro tempo terminou em 3 x 0 para a equipe de São José dos Campos, com Landão fazendo os três gols. Incrivelmente, Ouros virou o jogo e venceu por 4 x 3.

    Toninho Pagão fez um lindo gol, vencendo a forte marcação de Fidelix; depois de um corte naquele craque, mandou uma bomba para os

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