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História E Estórias Do Povoamento E Gentes De Vila Sant'ana E Itaquera
História E Estórias Do Povoamento E Gentes De Vila Sant'ana E Itaquera
História E Estórias Do Povoamento E Gentes De Vila Sant'ana E Itaquera
E-book806 páginas7 horas

História E Estórias Do Povoamento E Gentes De Vila Sant'ana E Itaquera

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Sobre este e-book

Passados dez anos da publicação da primeira edição da obra História e Estórias do Povoamento e Gentes de Vila Sant’Ana e Itaquera, a segunda edição vem revista e atualizada com informações que trazem novos fatos sobre a história do povoamento de um dos bairros mais icônicos da cidade de São Paulo. A obra discorre sobre a história do povoamento do Distrito de Itaquera, divididos em 18 Capítulos e Anexos, distribuídos em 612 páginas com ilustrações, excertos de jornais antigos e contemporâneos e livros de referência, teses de Doutorado e dissertações de Mestrado, e depoimentos de descendentes dos pioneiros. Um mosaico harmoniosamente composto, é a melhor definição que podemos dar para a formação pluricultural de Itaquera ao longo do manto dos séculos que o cobrem. Índios, portugueses e demais povos europeus ocidentais; africanos, romenos e outros europeus orientais; japoneses, chineses e outrem asiáticos; judeus, libaneses e tantos outros anônimos do distante oriente médio participaram ativamente na formação da riquíssima e peculiar civilização brasileira, cujos descendentes radicados nesta Terra de Santa Cruz, e em particular no sagrado solo itaquerense, trazem a carga genética e a Fé de Ofício registrados em seus semblantes, sulcadas em suas faces.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de jul. de 2022
História E Estórias Do Povoamento E Gentes De Vila Sant'ana E Itaquera

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    História E Estórias Do Povoamento E Gentes De Vila Sant'ana E Itaquera - Marco A. Stanojev Pereira

    historia de itaquera Figuras_page-0001

    ©SAGITARIUS EDITORA

    Todos os direitos reservados

    sagitariuseditora@gmail.com

    ISBN:  978-65-00-50402-6

    São Paulo - 2022

    2a edição – Revista e Atualizada

    _________________________________________________________

    Ficha Catalográfica organizada pelo editor

    P4361

        Pereira, Marco Antonio Stanojev, 1969 -

       História e estórias do povoamento e gentes de vila Sant’Ana e Itaquera /      Dr. Marco Antonio Stanojev Pereira, Antonio Pacheco Pereira, Valquíria    Stanojev Coelho Pereira. – 2ª. ed. – São Paulo: Sagitarius Editora,          2022. 612p. ; il. col/pb. ; 21 cm

    ISBN : 978-65-00-50402-6

    1.Sociologia. 2.Etnologia. 3.Antropologia. 4.Geografia. 5. História. I. Título.

                                                                                                         CDD 900                                                                                                           CDU 930

     ___________________________________

    "A inspiração do céu, eu muitas vezes desejei penar e cruelmente expirar em duros ferros.

    Mas sofreram merecida repulsa meus desejos:

    Só a heróis compete tanta glória".

    São José de Anchieta (Versos 5777-5786)

    Prefácio da 2ª Edição

    Passados exatos dez anos da primeira edição, apresentamos a presente, revista e atualizada. 

    A publicação desta edição acontece em um ano cuja data contempla efemérides de grande significado para nossa civilização brasileira. Primeiro, o bicentenário da Proclamação da Independência do Brasil pelo nosso primeiro imperador S.M.I. Dom Pedro I, que cruzou nossa região quando a caminho do córrego Ipiranga e, o primeiro centenário da semana de Arte Moderna, na qual São Paulo dava ao Brasil novos rumos nas Artes, Cultura e Educação.

    Também este ano, Itaquera comemora o 102º aniversário de sua criação como Distrito Autônomo e, no campo esportivo, celebra o primeiro centenário da Sociedade Esportiva Elite Itaquerense, tradicional agremiação esportiva fundada em 01 de dezembro de 1922.

    A primeira edição teve um alcance que, honestamente, não esperávamos, mas para nossa alegria, enquanto educadores e apaixonados pelo nosso Brasil e pelo Bairro de Itaquera, a versão disponibilizada na íntegra, gratuitamente, na rede mundial de computadores alcançou o impressionante número de 10.935.433 visualizações e downloads, por diversos países não só de língua portuguesa, que queriam saber informações sobre o Bairro que sediou a abertura da Copa do Mundo da FIFA de 2014 na recém construída arena do Sport Club Corinthians Paulista, clube que também alcançou a gloriosa marca de seu primeiro centenário no ano de 2010.

    Publicada no ano de 2012, primeiro em Lisboa e logo em seguida em São Paulo, na ocasião apresentamos para o mundo a história e estórias de nossa Itaquera, localizada à Leste da cidade de São Paulo, contadas de diversas maneiras e por variadas fontes, como depoimentos colhidos em entrevistas, artigos de jornais antigos e contemporâneos, documentários, revistas, teses de Doutorado e dissertações de Mestrado, entrevistas para jornal e televisão, mostrando que a história é dinamicamente construída por cada um, todos os dias, em todos os ramos de atividade.

    Índios, portugueses e demais povos europeus ocidentais; africanos, romenos e outros europeus orientais; japoneses, chineses e outrem asiáticos; judeus, libaneses e tantos outros anônimos do distante oriente médio participaram ativamente na formação da riquíssima e peculiar civilização brasileira, cujos descendentes radicados nesta Terra de Santa Cruz trazem a carga genética e a Fé de Ofício registrados em seus semblantes, sulcadas em suas faces.

    Nesta segunda edição alguns capítulos foram criados, outros suprimidos, outros deslocados, e outros ampliados, como o Capítulo 7 – Gentes, - o qual graças ao recebimento de novos depoimentos pudemos acrescentar novas e empolgantes estórias contadas pelos descendentes dos pioneiros de Itaquera, que ao se deslocarem para o bairro ajudaram a erguer, tijolo por tijolo cimentado com sangue suor e lágrimas, nossa identidade nas expressões culturais, sociais e econômicas de nossa realidade de hoje, e que daqui a pouco também farão parte da história, contadas por nossos filhos, netos, bisnetos...

    Frisamos agora que nenhuma estória e deveras pequena e insignificante, pois cada um que a carrega e tem a coragem de registra-la, seja em um diário, livro, artigo ou vídeo, colabora para a construção do monumento chamado humanidade.

    Apresentamos esta segunda edição com grande alegria, esperando que todos que a lerem possam ser inspirados para também registrarem a história de seus avós e ascendentes em depoimentos orais e fotográficos, guardando desta forma informações valiosíssimas para as novas gerações.

    Muito obrigado.

    Prof. Dr. Marco A. Stanojev Pereira, Ph.D.

    Introdução

    Este foi um trabalho gigantesco.

    Penoso em alguns sentidos e grandemente prazeroso em outros. Escrever sobre história, sem entrar em estória é muito delicado pois, em muitas circunstâncias o que temos em nossas mãos são relatos de pessoas, pouquíssimo patrimônio edificado e trechos de documentos em péssima situação de conservação.

    Outro fato, que muito dói no coração, é quando descobrimos uma fonte preciosa e, para nossa surpresa chegamos tarde pois a implacável ceifadora adiantou-se a nós. Também quando chegamos tarde para impedir a grande fogueira das vaidades, que queima sem dó nem piedade fotos velhas, recortes de jornais imprestáveis e memórias inúteis, guardadas com carinho por décadas.

    Precisamos aprender a preservar e guardar em registros, as memórias de nossa família, que é a célula de uma nação pois, é com o passado que vivemos o presente e construímos o futuro.

    Mas assim é…

    A ideia da organização deste trabalho, surgiu em setembro de 2008, como sugestão dos pares de diretoria, enquanto participávamos como diretor cultural da Associação dos Comerciantes, Empresários e Moradores de Itaquera – ACEMI, para organizar um levantamento histórico sobre a Vila Sant´Ana, sobre a Igreja de Sant’Ana e sobre o grande benfeitor da região, o coronel da Guarda Nacional Francisco Rodrigues Seckler.

    Ao iniciar o levantamento da bibliografia, de fatos, fotos e depoimentos de antigos moradores, fui advertido que deveria ter muita paciência, pois o trabalho deveria ser enorme. Pensei com meus botões: - qual nada! Todo mundo tem uma foto guardada de recordação e algum documento sobre a família!

    Ledo engano!

    Para minha surpresa, em estado sempre crescente, descobria que famílias antigas na região não possuíam mais nada pois, os herdeiros haviam jogado fora as recordações, memórias e documentos, assim que o patriarca ou a matriarca da família faleciam.

    Nada mais verdadeiro do que a frase de George Orwel que "A história é escrita pelos vencedores", que neste caso, são aqueles que guardam suas memórias e passam assim a posteridade, imortalizando os membros de um clã.

    Cruel esta frase?

    Muito cruel! E em nosso país, tradicionalmente rotulado de sem memória, cruelmente verdadeira.

    Certa vez, estava esperando o trem na estação do Brás, em São Paulo, para ir para a Universidade onde lecionava. Estava parado na plataforma, tranquilamente, apreciando as estruturas antigas que o governo estava recuperando, quando se aproximou de mim um senhor, com seus sessenta anos de idade e puxou conversa.

    Volto a reiterar que eu estava tranquilo apreciando os entalhes.

    Que absurdo, não é? Disse o senhor.

    Perdão, não entendi! Disse eu já antevendo o que vinha, pela entonação dos hums no final da frase.

    E continuou:

    Quanto dinheiro jogado fora. Restaurando estas baboseiras, velharias. Se fosse eu que mandava aqui, mandava um trator passar por cima!

    Bem, resumindo, discutimos, filosoficamente claro, e ele acabou se afastando de perto de mim.

    O fato, é que a grande maioria dos brasileiros pensam iguais a este senhor. Ele não está errado de pensar assim. Pensa desta forma pois os governos, os intelectuais e outros ditos sábios de nossa civilização brasileira, nunca agiram de forma diferente, cuidando do patrimônio, permitindo o acesso à cultura, amando a história e a estória de nossas raízes.

    Se as coisas estão mudando, se um interesse no patrimônio cultural está aumentando e a preocupação da preservação da identidade está vindo à tona, isto é graças às mudanças de mentalidade, mas em nossas crianças. Estas mesmas que ensinam e bronqueiam com os adultos sobre a importância de separar o lixo reciclável, preservar as águas e o meio ambiente.

    Os poucos abnegados que guardam em seus arquivos pessoais, a memória de uma região, deveriam ser declarados heróis pois deixam, à revelia da opinião de seus familiares, que nossas crianças saibam quem são e de onde vieram.

    Fiquei contente quando vi uma reportagem, no começo de fevereiro de 2010, que dizia que os repentistas do nordeste haviam adquirido o direito de aposentadoria.

    Que bobagem! Alguns diriam, mas eu pergunto: Sabes, por acaso, fazer versos em tempo real, de qualidade iguais a eles? Eu não e, quando vou me aventurar em escrever um poema, preciso consultar um dicionário de rimas.

    Fiquei triste quando, por ordem do progresso, a estação de trem de Itaquera, construída ainda no império brasileiro foi posta abaixo, sabendo que na Europa é comum se transportar até castelos, pedra por pedra. Agora a preocupação é com a casa do Chefe da Estação, que fica em frente à antiga estação e data aproximadamente do mesmo período da construção do prédio principal, 1930.

    Este trabalho vai descrever, ou tentar, acerca da fundação e povoamento de uma das vilas mais antigas de Itaquera, a Vila Santana, ou como aparece no frontispício da Igreja Matriz: Sant´Ana. Daremos foco nas pessoas, famílias, ocupações dos pioneiros e nos edifícios que a compunham e, quando possível, fazendo um antes e depois.

    Outro detalhe importante de se anotar, é quanto ao fato de escritores se basearem e citarem referências duvidosas para dar algum crédito em suas obras, o que vem na verdade a não auxiliar outros pesquisadores, dado a inconstância e inexatidão da informação veiculada. Fato observado em muitas publicações somente comerciais, sem a responsabilidade histórica.

    Esta obra não tem a pretensão de fixar, contestar ou reinventar datas, nomes e acontecimentos. A parte áurea desta humilde obra tem o objetivo de mostrar a história de nossa região através dos depoimentos e ilustrações de verdadeiros heróis Ítacos, com a diferença que não estavam perdidos, onde por meio de descrições detalhadas, podemos construir uma época vivida intensamente em nossa região.

    Costumes, práticas alimentares, arquitetura, política, vestuário, educação, enfim, um universo maravilhoso e emocionante vivido por pessoas muito próximas de cada um de nós, e que na esmagadora maioria dos casos, não nos damos conta de sua importância para nossa própria identidade: Nossos parentes mais velhos!

    Espero que aqueles que leiam esta obra possam também participar da mesma emoção que participamos ao escreve-la e, os jovens, possam utilizar estas poucas páginas como prefácio da obra maior e mais ampla que eles escreverão sobre a história de sua família e a própria, colaborando com a construção da identidade de nossa gente, somando à esta obra como volumes incontáveis.

    Capítulo 1

    A conquista do litoral

    Desde a chegada de Cabral na Ilha de Vera Cruz, o contato com os índios sempre foi constante, ora pacífico, ora sob chuva de flechas. O trecho abaixo foi retirado da Carta de Achamento do Brasil, que Pero Vaz de Caminha enviou ao Rei D. Manoel, o venturoso.

    (…) Passou-se então além do rio Diogo Dias, almoxarife que foi de Sacavém, que é homem gracioso e de prazer; e levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se com eles a dançar, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam, e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem, fez-lhes ali, andando no chão, muitas voltas ligeiras, e salto real, de que eles se espantavam e riam e folgavam muito.

    Itaquera não se fez em um dia e, as palavras de Washington Luís em seu livro "Na Capitania de São Vicente[1], que A fundação de uma cidade é uma [obra] coletiva e não é obra de um só homem, de uma só classe, de um só partido., mostra exatamente o que gostaríamos de retratar neste trabalho, no que se refere a história de Itaquera e dezenas de outros bairros que gravitam ao redor da hoje Metrópole São Paulo, nascida em uma casinha paupérrima, coberta de palha.

    Sua fundação ou, como dizem alguns historiadores, povoação, se fez de modo longo e continuado, daí vem sua riqueza histórica e a necessidade de criar cátedras específicas nas várias universidades de nossa região Leste para o estudo sistemático de seu crescimento, de sua história e de suas estórias. Deixo isso como uma sugestão bastante viável para um futuro breve.

    O plano de colonização do Brasil era prático. Com o tratado de Tordesilhas, dividindo o orbe no eixo Norte-Sul, as terras descobertas e a serem descobertas eram então de propriedade de Portugal e Espanha.

    Aceito o tratado, Portugal dividiu a parte que lhe cabia em Capitanias hereditárias, com poder e administração feudal. Os Capitães, fidalgos e cavaleiros do reino tinham a obrigação de fundar Vilas e, distribuindo sesmarias, promoviam a fundação de povoamentos em toda sua donatária, cuja objetivo tinha o princípio de tomar posse do litoral e avançar rumo ao sertão, ou interior do Brasil.

    O fidalgo e governador Martim Afonso de Souza vem de Portugal com a seguinte recomendação régia, assinada por D. João III[2].

    Dom João por graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves, d’aquém e d’além mar, em África senhor de Guiné e da conquista, navegação, comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia, &c. A quantos esta minha carta virem, faço saber, que as terras que Martim Afonso de Sousa do meu conselho, achar e descobrir na terra do Brasil, onde o envio por meu capitão-mor, que se possa aproveitar, por esta minha carta lhe dou poder para que ele dito Martim Afonso de Sousa possa dar às pessoas que consigo levar, e às que na dita quiserem viver e povoar aquela parte das ditas terras que bem lhe parecer, e segundo lhe o merecer por seus serviços e qualidades, e das terras que assim der serão para eles e todos os seus descendentes, e das que assim der às ditas pessoas lhes passará suas cartas, e que dentro de dois anos da data cada um aproveite a sua, e que se no dito tempo assim não fizer, as poderá dar a outras pessoas, para que as aproveitem com a dita condição; e nas ditas cartas que assim der irá trasladada esta minha carta de poder, para se saber a todo tempo como o fez por meu mandado, lhe será inteiramente guardada a quem a tiver; e porque assim me praz lhe mandei passar esta minha carta por mim assinada e selada com o meu selo pendente. Dada na vila do Crato da Ordem de Cristo a 20 de novembro. Francisco da Costa a fez, ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1530 anos. REI.

    Foi assim que a Capitania da Vila de São Vicente foi fundada em 1531, seguida da Vila de Santo André da Borda do Campo em 1531, Vila de Itanhaém em 1532, Vila de Santos em 1546 e, posteriormente, a Vila de Piratininga ou Vila de Piratininga de São Paulo, em 1554.

    A Figura 1, mostra o marco de fundação da Vila de São Vicente que, imponente, olha para o oceano domado pelos navegadores portugueses do século XV.

    No local de sua fundação, já havia um modesto povoamento e dois portugueses, João Ramalho e Antônio Rodrigues que estavam no Brasil há muito tempo, algumas fontes os descrevem como sendo vítimas de naufrágio ou ainda degredados por crimes. Ambos eram casados com filhas de caciques da região. O primeiro com Bartira, filha do cacique Tibiriça e o segundo com a filha do cacique Piquerobi, irmão de Tibiriça, ambos chefes dos índios guaianás, que é o que nos interessa.

    No ano de 1531, Martim Afonso concede uma sesmaria a João Ramalho na ilha de Guaíbe, ao longo do curso do rio Ururaí, até Jaguaporecuba, o qual funda a Vila de Santo Amaro e outra, já em local acima da Serra, chamado Borda do Campo e tendo como orago Santo André.

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    Alguns autores, como o próprio Pedro Taques, dizem que esta vila era próxima da hoje cidade de Santo André, contudo nenhuma referência ou indício arqueológico foi achado até o momento.

    O texto abaixo foi extraído do livro História da Capitania de São Vicente de Pedro Taques de Almeida Paes Leme[3].

    Correndo Martim Afonso de Sousa toda a costa de Cabo Frio até o rio da Prata, onde na ilha dos Lobos meteu um padrão com as armas d’el-rei seu senhor, tomando a altura de vinte e quatro graus, em que está a ilha de S. Vicente, nela fundou a primeira vila que houve em todo o Brasil, com vocação do mesmo santo, pelos anos de 1531

    Sabe-se que Martim Afonso de Sousa distribui três sesmarias à capitães-mor. A de Pero de Góes, que é a que nos interessa pois é onde está assentada Piratininga, foi dada em 10 de outubro de 1532. Começava no porto Apiaçaba ou porto das Almadias, rebatizado por Martim Afonso como Santa Cruz. Deste porto, partia pela barra do Cubatão, subia direto a serra até o cume da serra do Mar e daí pelos outeiros que estão no caminho que vem de Piratininga. Atravessando esse caminho ia pela mesma serra até atingir o vale do Ururaí (que está no Norte dessas terras), e por ele voltava serra abaixo até encontrar o mar[4].

    No Cartório da Tesouraria da Fazenda, Livro 10 de sesmarias antigas e maço 4 de Próprios Nacionais[5], está registrada a carta de doação à Pero de Góes a qual transcrevemos abaixo.

    "Martim Afonso de Souza do Conselho de El-Rei Nosso Senhor, governador destas terras do Brasil, etc. Faço saber aos que esta minha carta virem, que havendo respeito em como Pedro de Góes, fidalgo da casa de El-Rei Nosso Senhor, servio muito bem Sua Alteza nestas partes e assim ficar nesta terra para povoador que será com ajuda de Nosso Senhor ficar povoado. Eu hei por bem de lhe dar e doar as terras de Taquararira com a serra de Taperovira que está na banda donde nasce o sol com águas vertentes com o rio Jarabatyba o qual rio e terras estão defronte da ilha de S. Vicente donde chamam Gohayó a qual terra subirá para serra acima até o cume e daí a buscar o Capetevar, e dali virá entestar com o rio adiante que está da banda do Norte e por ele abaixo até Ygoar por terra em outro rio que tem ali o outeiro e daí tornará dentro a um pinhal que está na banda do campo Gioapê e daí virá pelo caminho que vem de Piratininga a entestar com a serra que está sobre o mar e dai por uma ribeira que vem pelo pé da serra de Ururay e virá dentro por este rio a entestar com a ilha Caremacoara e então pelo rio de S. Vicente tornará a entestar com a dita serra de Taperovira donde começou a partir e assim os outeiros e cabeças d'águas e todas as entradas e saídas das ditas terras por virtude de uma doação que para isso tem de El-Rei Nosso Senhor, a qual seu conteúdo é o que se segue: (…).

    E por virtude da qual doação lhe dou as ditas terras, as quais serão para ele dito Pedro de Góes e para todos os seus descendentes, com declaração que ele as aproveite nestes dois anos primeiros seguintes e não o fazendo, as suas ditas terras ficarão devolutas para delas fazer aquilo que me bem parecer e as ditas terras serão forras e isentas sem pagarem nem uns direitos, somente dízimo a Deus, e por este mando que logo seja metido de posse das ditas terras e esta será registrada no livro do tombo que para isso mandei fazer. Dada em Piratininga a 10 dias do mês de outubro. Pedro Capico escrivão de El-Rei Nosso Senhor e das sobreditas terras o fez. Ano de mil quinhentos e trinta e dois."

    E o Auto de posse de Pero de Góes

    Saibam quantos este instrumento de posse virem como no ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de Mil quinhentos e trinta e dois aos quinze dias do mês de outubro, em a ilha de S. Vicente dentro da fortaleza por Pedro de Góes, fidalgo da casa de El-Rei Nosso Senhor, foi apresentada a mim escrivão ao diante nomeado uma carta de doação de certas terras que o mui magnífico Senhor Martim Afonso de Souza, do conselho de El-Rei Nosso Senhor, governador em todas estas terras do Brasil, deu ao dito Pedro de Góes por virtude de um poder que para isso lhe deu Sua Alteza, as quais terras se chamam Tecoapara e a serra de Tapuribetera que está da banda donde nasce o sol, águas vertentes com o rio de Gerybatyba, o qual rio e terras estão defronte da ilha de S. Vicente das quais terras com todas as suas entradas e saídas, cabeças de águas e rios que nela houver com todas as suas confrontações, o dito Sr. governador manda que seja metido de posse o dito Pedro de Góes e por virtude da qual carta e doação em cumprimento fui eu escrivão às ditas terras com o dito Pedro de Góes e lhas divisei e demarquei, puz todos os nomes das mais terras e confrontações, e levei comigo a João Ramalho e Antonio Rodrigues, línguas destas terras já de quinze e vinte anos estantes nesta terra, e conforme o que eles juraram assim fiz o assento como mais largamente se verá pelo livro do tombo que o dito governador para isso mandou fazer e com meu poder o meti de posse delas ao dito Pedro de Góes de todas as terras que na carta faz menção, e lhe meti nas suas mãos terra, pedra, páos e ramos de árvores que das ditas terras tomei e pela qual o dei por empossado e dou deste dia para todo o sempre tão solenemente como de direito se pode fazer, e lhe publiquei e notifiquei a doação de El-Rei Nosso Senhor e assim as condições dela para que em nem um tempo possa alegar ignorância, e ele dito Pedro de Góes aceitou a dita posse e se deu por empossado e ficou de cumprir as ditas condições que as hei por declaradas como se claramente as especificasse. Testemunhas que a tudo foram presentes o sobredito João Ramalho, Antonio Rodrigues e Pedro Gonçalves que veio por homem de armas nesta armada, que veio por capitão-mór o dito Sr. Governador, as quais assinaram no livro do tombo comigo escrivão. Em testemunho da verdade, eu como público escrivão da Fazenda de El-Rei Nosso Senhor e destas sobreditas terras e tabelião público pelo dito Senhor fiz este instrumento e traslado do sobredito tombo. Aquelas cláusulas e forças necessárias para dar tudo por instrumento ao dito Pedro de Góes, feito em Yrarabul, onde tem feito por virtude da dita posse o dito Pedro de Góes uns tijupares, e o assinei de meu público sinal que tal é.

    (…) E sendo assim tudo trasladado como dito é e o dito Pedro de Góes disse que à conta das ditas dezessete peças de escravos já tinha 12 e lhe faltavam ainda 5, e portanto fez esta declaração, e assim consta nos próprios papéis que aqui trasladaram, e o dito governador lhe mandou dar este. Testemunhas que a tudo foram presentes Antonio do Valle, escrivão do público judicial, e Francisco Pinto, cavaleiro e fidalgo. E eu Antonio de Almeida, escrivão do público judicial, que isto escrevi.

    O mapa da Figura 2, com texto em latim, mostra a Capitania de São Vicente e arredores, compreendendo os anos de 1553 a 1597. Nas inscrições, vemos descritas tribos indígenas da região. Carijós ao Sul, Tupiniquins de Cananéia a São Vicente, Muiramomis na região de Bertioga, Tamoios ao Nordeste e os caminhos dos Goianases e do padre Anchieta entre São Vicente e São Paulo de Piratininga.

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    Figura 2 – Capitania de São Vicente – Caminho de Peabirú⁶.

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    Figura 3 – Caminhos de acesso ao planalto de Piratininga.

    No livro Capitães do Brasil de Eduardo Bueno[7] vemos o mapa da Figura 3, que ilustra o novo caminho aberto para subida da Serra, evitando assim os índios tamoios, conhecido por Caminho do Padre Anchieta, que ia até o porto de Santa Cruz na encosta da serra e daí para o vale do Rio Perequê.

    Capítulo 2

    Subindo a Serra

    Para começar a falar sobre Itaquera, é necessário que comecemos do princípio, falando sobre as Vilas e Cidades que vieram primeiro, seguindo uma sequência lógica.

    Saindo da Capitania de São Vicente, o caminho para se chegar até o local onde se encontravam as aldeias de Tibiriça e Piquerobi, no alto da Serra do Planalto de Piratininga, era sacrificante e, no depoimento do padre Anchieta em 1585 em Informação do Brasil e de suas capitanias[8], sobre a subida da Serra do Mar, do século XIV, lemos:

    Vão lá por umas serras tão altas que dificultosamente podem subir nenhuns animais, e os homens sobem com trabalho e às vezes de gatinhas por não se despenharem e por ser o caminho tão mau e ter tão ruim serventia padecem os moradores e os nossos grande trabalho.

    A dureza da subida também é dramaticamente descrita pelo Padre Mestre Simão de Vasconcelos[9] e, o qual transcrevemos ipsis litteris, do original.

    148. A propria aspereza das serras faz mais aprazivel a benignidade dos campos: da qual aspereza só digo, que a paragem por onde se atravessam estas serras, é a mais fácil, que depois de experiencia, e discurso dos tempos poderam achar os moradores da outra parte do sertão de Piratininga para passarem ao mar (chamando-lhe os índios Paranápiacaba), e com ser parte escolhida, e o caminho feito por arte, é elle tal, que põe assombro aos que hão de subir, ou descer. O mais do espaço não é caminhar, é trepar de pés e de mãos, aferrados ás raízes das arvores, e por entre quebradas taes, e taes despenhadeiros, que confesso de mim que a primeira vez que passei por aqui, me tremeram as carnes, olhando para baixo. A profundeza dos valles é espantosa: a diversidade dos montes uns sobre outros, parece tira a esperança de chegar ao fim: quando cuidas que chegais ao curso de um achai-vos ao pé de outro não menor: e é isto na parte já trilhada e escolhida. Verdade é, que recompensava eu o trabalho desta subida de quando em quando; porque assentado sobre um daquelles penedos, d´onde via o mais alto cume, lançando os olhos para baixo me parecia que olhava do céo da lua, e que via todo o globo da terra posto debaixo de meus pés: e com notavel formosura, pela variedade de vistas do mar, da terra, dos campos, dos bosques e serranias, tudo vario, e sobremaneira aprazivel. Se se houvéra de medir o grande diametro desta serra, houveramos de achar melhor de oito leguas: porque supposto que vai fazendo em paragens algumas chans a modo de taboleiros, sempre vai subindo, e tornando á mesma aspereza; ainda que em nome diverso, chamada em uma das paragens, Praná Piacá Mirí, e logo em outra Cabarú Parangaba; e tudo é a mesma serrania. E finalmente vai subindo sempre até chegar ao raso dos campos, e a segunda região do ar, e onde corre tão delgado, que parece se não podem fartar os que de novo vão a ella. A grande copia de alagôas, fontes, e rios; a formosura de bosques, brutescos, e arvoredos; a diversidade de hervas e flores; a variedade de animaes terrenos e voadores; as apparencias admiraveis da compostura da penedia posta em ordem desigual; desde o princípio (parece) da criação do mundo; a riqueza dos mineraes de ferro, cobre, chumbo, e ainda ouro, prata, e pedraria; tudo isto, se se houvéra de escrever em particular pediria leitura mui diffusa.

    A trilha, sempre íngreme, era o Caminho de Piaçagüera, primeira via utilizada pelos índios guaianás e pelos portugueses, que partindo dos Campos de Piratininga, desciam a Serra pelo vale do Ururaí, em direção ao vale do Rio Mogi e vice-versa. A partir de 1554, este caminho teve que ser inutilizado, pois os Tamoios, que eram inimigos dos portugueses e dos guaianás, ocupantes do vale do Paraíba e o litoral Norte, começaram a atacar os viajantes que transitavam por esta via.

    Dependendo do mapa, este caminho recebe uma denominação diferente. Os Tupis a chamam de Piabirú, que ligava o oceano atlântico ao Pacífico. Os europeus o chamavam de Trilha dos Tupiniquins, dos Goianases, Caminho de Piaçagüera, Trilha do Rio Mogi e Trilha da Raiz da Serra.

    Subindo-se a Serra, chega-se ao planalto de Piratininga onde os Guaianás e outras etnias tinham suas aldeias, como pode ser observado no mapa da Figura 2.

    Da fundação de São Paulo e a missa de celebração, feita pelo Padre Manoel de Paiva, superior dos jesuítas, Anchieta relata ao Geral Inácio de Loyola as seguintes palavras[10]

    (…) Assim, alguns dos irmãos mandados para esta aldeia, que se chama Piratininga, chegamos a 25 de Janeiro do ano do Senhor 1554, e celebramos em paupérrima e estreitíssima casinha a primeira missa, no dia da Conversão do Apostolo São Paulo e, por isso, a ele dedicamos a nossa casa.

    (…) De Janeiro até o presente tempo permanecemos, algumas vezes mais de vinte, em uma pobre casinha feita de barro e paus, coberta de palhas, tendo quatorze passos de comprimento e apenas dez de largura, onde estão ao mesmo tempo a escola, a enfermaria, o dormitório, o refeitório, a cozinha, a dispensa: todavia, não invejamos as espaçosas habitações, de que gozam em outras partes os nossos Irmãos, pois N. S. Jesus Cristo se colocou em mais estreito lugar, e dignou-se nascer em pobre mangedoura entre dois brutos animais e morrer em altíssima cruz por nós. Os índios por sí mesmos edificaram para nosso uso esta casa: mandamos agora fazer outra algum tanto maior, cujos arquitetos seremos nós, com o suor do nosso rosto e o auxílio dos índios.

    São Paulo de hoje, nasceu de uma casa paupérrima, coberta de palha, como descreve também o padre mestre Simão de Vasconcelos[11].

    "(…) Aqui no mais patente destes campos, junto a um rio, e perto da vivenda dos índios, escolheram os padres o sitio para seu collegio, e por bom annuncio do futuro, disseram nelle a primeira missa aos 25 de Janeiro, dia da conversão do sagrado Apostolo S. Paulo; de cujo nome quizeram todos se denominasse o sitio, e depois se denominou a villa, e territorio todo.

    151. O modo da pobreza, e edificação religiosa, com que aqui começáram a viver estes obreiros da vinha do Senhor, descreverei pelas mesmas palavras, com que o pinta o mesmo irmão José de Anchieta: e diz assim a letra. Aqui se fez uma casinha de palha, com uma esteira de canas por porta, em que moraram algum tempo bem apertados os irmãos; mas este aperto era ajuda contra o frio, que naquella terra é grande com muitas geadas. As camas eram redes, que os índios costumam; os cobertores o fogo, para o qual os irmãos commummente, acabada a lição da tarde, iam por lenha ao mato, e a traziam ás costas para passar a noite. O vestido era muito pouco, e pobre, sem calças, nem sapatos, de panno de algodão. Para mesa usaram algum tempo de folhas largas de arvores em lugar de guardanapos: mas bem se escusavam toalhas, onde faltava o comer, o qual não tinha donde lhes viesse, senão dos indios, que lhes davam alguma esmola de farinha, e ás vezes (mas raras) alguns peixinhos do rio, e caça do mato. Muito tempo passaram grande fome, e frio: e com tudo prosseguiram seu estudo com fervor, lendo ás vezes a lição fóra ao frio, com o qual se haviam melhor, que com o fumo[12] dentro de casa. Até aqui José. Esta mesma substancia com pouca mudança escreveu o mesmo a Roma a nosso padre Ignacio de Loyola, em carta sua feita em Agosto do mesmo anno, em que imos de 1554. E diz assim no mesmo Latim em que escreveu. A Januario usque ad præsens nonnumquam plus viginti (simul enim pueri catichestæ degebant) in paupercula domo luto et lignis contexta, paleis cooperta, quatuordecim passus longa, decem lata mansimus. Ibi schola, ibi valetudinarium, ibi dormitorium, cænaculum item, et coquina, et penus simul sunt: nec tamen amplarum habitationum, quibus alibi fratres nostri utuntur, nos movet desiderium; siquidem Dominus noster Jesus Christus in arctiore loco positus est, cùm in paupere præsepi inter duo bruta animalia voluit nasci; multo verò arctissimo cùm in Cruce pro nobis diquatus est mori.

    152. Aqui nesta pobreza se abriu a segunda classe de grammatica que teve o Brasil (porque já na Bahia se tinha aberto uma) frequentavam-na nossos irmãos, e bom número de estudantes brancos, e mamelucos, que acudiam das villas circumvizinhas. Lia esta classe o irmão José de Anchieta: occupação em que perseverou alguns annos, com grande aproveitamento de seus discípulos, e com maior opinião de sua santidade. O trabalho era excessivo: ainda naquelle tempo não havia nestas partes copia de livros, por onde podessem os discipulos aprender os preceitos da grammatica".

    O crescimento de São Paulo é marcante e sua importância estratégica é tal que, em 1560 o Governador Mem de Sá decide dissolver a Vila de Santo André e a transfere para Piratininga. Contudo os índios ficam incomodados com um aumento na densidade demográfica de brancos, pessoas estranhas ao seu modo de vida e, receosos com o impacto que isso teria em seu dia-a-dia, decidem abandonar as proximidades do colégio e seguem para a aldeia São Miguel de Ururaí acompanhando seu chefe, o cacique Piquerobi.

    Está aldeia também tinha um posicionamento estratégico pois, em linha reta, acompanhando os rios Baquirivu, próximo da atual Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, em São Miguel Paulista, chegavam ao rio Anhembi, atingindo o local onde se pode avistar o Mar, em tupi, Paranapiacaba.

    Em 1562, Piquerobi ataca a vila de São Paulo e é derrotado, o que o faz isolar-se em definitivo em Ururaí. Como a briga e a dissidência era com os portugueses, não com os Jesuítas, estes continuam a visitar regularmente a aldeia e fundam uma nova missão, catequizando assim os índios de Ururaí. Anchieta e os demais Jesuítas que o acompanha veem o crescimento da aldeia e resolvem fundar uma capela em louvor a São Miguel Arcanjo que, diferente que alguns historiadores escreveram, não era o Orago de devoção do padre José de Anchieta, mas sim o Sagrado Coração de Jesus, cuja devoção ainda não era oficial e, Nossa Senhora, mãe de Jesus. O fato de ter escolhido o Arcanjo, general das milícias celestiais é, com certeza, uma identidade aos guerreiros de Piquerobi. O que suscita a tese de que os jesuítas, e principalmente Anchieta, torciam em favor dos índios e sua causa, e mais, a data de fundação de São Miguel, deve ser revista e, de minha parte, depois de rever as referências de forma isenta e comparativa, reforço sem sombra de dúvida, a conclusão feita pelo historiador Sylvio Bomtempi[13],[14], onde propõe a data de 1560 e o Padre Anchieta como um de seus fundadores.

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    Figura 4 - Detalhe da Carta Corográfica - Capitania de S. Paulo, de 1766[15].

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    Figura 5 – Trecho do "Mappa da capitania de S. Paulo, e seu sertão em que devem os descobertos, que lhe forão tomados para Minas Geraes, como tambem o caminho de Goyazes, com todos os seus pouzos, e passagens". Detalhes: 1-Vila de São Paulo, 2-Arrayal de São Miguel, 3 – Vila de Mogi. Os Tracejados são caminhos de ligação entre São Paulo, o litoral e os sertões. Século XVIII. Por Francisco Tosi Columbina. Arquivo Biblioteca Nacional[16].

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    Figura 6 – Detalhe do Mapa Corográfico da Província de São Paulo. Daniel Pedro Muller. 1841[17].

    A fim de salvaguardar os interesses dos índios, Jerônimo Leitão, Capitão-mor de Lopo de Souza, faz provisão de uma sesmaria de terras de seis léguas[18] em quadra, aos índios da aldeia de S. Miguel de Ururaí ao longo do rio Ururaí, como

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