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Romance Em Nova Iorque
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E-book933 páginas7 horas

Romance Em Nova Iorque

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Sobre este e-book

Um acidente uniu seus caminhos, o amor uniu as suas almas. Vanessa Hiller, uma gentil e brilhante jovem dama londrina, encontrou Dennis Fielding, um jovem do Tennessee desprezado pela sorte, após um atropelamento em Manhattan. Com a convivência veio o amor, mas eles terão que superar muitos obstáculos que vão provar a força deste romance.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de abr. de 2022
Romance Em Nova Iorque

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    Pré-visualização do livro

    Romance Em Nova Iorque - Paulo Nascimento

    ROMANCE EM NOVA IORQUE

    Paulo Nascimento

    DENNIS FIELDING ............................................................. 7

    UMA NOVA-IORQUINA EM LONDRES ......................... 37

    O ACIDENTE ..................................................................... 71

    AMIZADE......................................................................... 117

    CORAÇÕES EM CONFLITO ......................................... 149

    REENCONTRO ................................................................ 199

    O PERSEGUIDOR ........................................................... 243

    A CHANTAGEM DE MAX .............................................. 297

    LAÇOS .............................................................................. 335

    O PEDIDO ........................................................................ 375

    O AUDITOR ..................................................................... 407

    VANESSA & MAXIMILLION ......................................... 453

    EM CRISE ........................................................................ 489

    REVELAÇÃO ................................................................... 527

    ENLACE ........................................................................... 573

    A Deus, sem Ele nada é possível

    Aos meus pais, grande fonte de inspiração

    Capítulo 1

    Dennis Fielding

    Cidade de Memphis, Tennessee. Uma chuvosa tarde de junho de 2005 no Kimbrough Family Cemetery onde cerca de uma dúzia de pessoas estavam reunidas em volta de uma sepultura, enquanto o padre dizia algumas palavras era impossível deixar de notar um deles… o filho do homem que estava sendo sepultado.

    Envolto em si mesmo o rapaz começou a se lembrar do ocorrido. Deu-se cinco dias antes na noite de 6 de junho, mais ou menos às onze da noite ele recebeu um telefonema avisando que seu pai estava novamente bêbado e causando confusão, como não era a primeira vez que acontecia ele não demonstrou tanta pressa em ir tirar seu pai do bar.

    Contudo quando chegou ao local encontrou muita correria, barulho e bagunça, um burburinho de gente falando alto e comentando sobre algo que teria acontecido lá dentro. Segundos depois alguém lhe disse para entrar no bar e rapidamente o rapaz foi para dentro do local, chegando lá avistou um grupo de pessoas aglomeradas em volta de outra que estava caída. Ele então chegou mais perto e pôde ver que a pessoa caída era ninguém menos que seu pai que se encontrava deitado sobre uma poça de sangue.

    — Pai! — disse o garoto já desesperado. — Pai, o que houve?!

    7

    Aparentemente houve uma briga e o pai do rapaz acabou sendo esfaqueado pelas costas bem na altura do coração.

    — Eu… eu… sinto muito… — foi só que o homem teve forças para dizer. — Eu não…

    E exalou seu último suspiro, sua cabeça, sobre as pernas do rapaz, tombou e o pobre garoto ainda ficou ali por longos minutos desconsolado, sem saber o que fazer até que a polícia e os paramédicos chegaram. Ele recebeu todo o suporte, mas a verdade é que o garoto estava completamente perdido.

    Pois bem, após algum tempo absorto nas lembranças daquela noite trágica o rapaz se encontrava tão fora da realidade que mal notou quando o caixão de seu pai desceu à cova, apenas voltou a si quando sentiu uma mão em seu ombro. Então voltou sua atenção para a pessoa que o havia tocado, era uma garota sua vizinha que lhe disse:

    — Vem, Dennis. Eu te acompanho até em casa.

    — Obrigado, Kristen.

    Então a garota Kristen acompanhou Dennis até a sua casa para não o deixar só nesse momento tão difícil.

    Como retratar Dennis Fielding? Talvez começando pelo começo. Nascido Dennis Thomas Fielding em 26 de janeiro de 1984 desde muito cedo esse rapaz já vivia de mãos dadas com o infortúnio, o primeiro revés de sua conturbada vida aconteceu quando ele tinha apenas cinco anos de idade.

    As coisas já não iam tão bem entre seus pais e o jovem Dennis e sua irmã mais velha Cindy, de quem tornaremos a tratar, 8

    não deixavam de notar tal fato. Em um dia do ano de 1989 com apenas cinco anos de idade Dennis testemunhou uma briga terrível entre sua mãe e seu pai, o garotinho podia ver a raiva nos olhos de ambos e pela primeira vez em sua vida tomou contato com palavras duras como vadia e prostitutas.

    Mas isso nem mesmo foi o pior. Ele ainda viu seu pai com uma grande faca em suas mãos atacar sua mãe, viu ainda o sangue escorrer do braço dela e naquele momento chorou, chorou como nunca havia feito antes. Dennis não reagia, apenas chorava nos braços de sua irmã enquanto a voz de sua mãe ecoava em seus ouvidos.

    "Para mim já chega"! — Foi o que ele ouviu de sua mãe que já estava extremamente frustrada. — Já aguentei bem mais do que podia de você, seu miserável! Fique com suas prostitutas! Foi a última vez que o garotinho ouviu a voz de sua mãe, quando Dennis enfim conseguiu se acalmar, se refazer do susto da briga ela já havia ido embora… aparentemente para nunca mais voltar. Pouco mais tarde naquele dia ele se aproximou de sua irmã e lhe perguntou:

    — Cindy, onde está a mamãe?

    — Dennis, a mamãe se foi. — ela disse sentindo a mesma dor que ele.

    — E quando ela vai voltar?

    — Eu não sei… eu…

    De fato, Cindy não sabia o que dizer, imaginem o peso para uma menina de nove anos de idade ter que dar uma notícia assim para o seu irmãozinho. Além disso, foi uma briga mesmo 9

    muito feia, havia a real possibilidade de ela e seu irmão jamais verem a mãe novamente.

    Dennis ficou muito traumatizado após ter visto o que viu, mas é como dizem, a vida continua. E de fato continuou para o garoto, seu pai Jack batalhou duro para dar aos dois uma vida digna, educação, saúde, comida e um teto sobre suas cabeças…

    tudo isso sozinho!

    Assim quatro anos de luta se passaram até que os Fielding foram novamente abalados pela tragédia. Em meados de março de 1993 a irmã mais velha de Dennis começou a apresentar sintomas muito incomuns, imediatamente Jack a levou ao médico, a garota foi submetida a alguns exames e logo veio o diagnóstico aterrador: câncer no sangue.

    O diagnóstico de linfoma caiu como uma bomba nas cabeças de Jack e Dennis, a isso se seguiu um intenso tratamento químico e radiológico que consumiu até os últimos recursos da família, mas foi inútil. A doença não cedeu e Cindy Thomas Fielding acabou falecendo em 15 de dezembro do mesmo ano.

    Podem imaginar o que se passou com Dennis. Sem a mãe já havia quatro anos ele amava muito a irmã e se espelhava nela em vários aspectos, o garoto, então com apenas nove anos de idade, ficou inconsolável.

    O que a morte de um familiar faz com uma pessoa? No caso de Dennis teve um efeito devastador, ele ficou doente por semanas após o funeral de Cindy e quando enfim se recuperou, ao menos fisicamente, as sequelas psicológicas persistiram.

    10

    Dennis se fechou em si. Por quase um mês não disse sequer uma palavra, após isso se comunicava o mínimo possível e quase que apenas com seu pai, andava sempre cabisbaixo e triste e por dois longos anos fez terapia para tentar lidar com o problema… em vão. Ele só conseguiu se recuperar, ainda que não completamente, com o tempo, mais exatamente com cinco longos e penosos anos.

    Nesse meio tempo nosso rapaz chegava à adolescência, uma época conturbada para noventa e nove por cento dos jovens deste planeta. Para ele foi ainda pior por causa de tudo de ruim por que havia passado em criança, Dennis tornou-se um pré-adolescente muito rebelde e criava problemas para seu pai quase todos os dias.

    Foi também nessa época que ele conheceu um dos grandes amigos que teve na vida, um dia em que o garoto, de apenas treze anos de idade, estava matando aula nas imediações de Graceland ele se deparou com um homem que tentava entreter alguns fãs de Elvis Presley que passavam pelo local. Mas esse não era o futuro amigo de Dennis, o garoto estava de olho em outro sujeito que aproveitava o show do imitador de Elvis para… subtrair carteiras e telefones dos presentes.

    — Ei, cara. — ele disse ao sujeito. — Você é bem rápido.

    — Vê se não me atrapalha, garoto. — disse o ágil punguista. —

    Estou no meio de uma coisa aqui.

    — Ei, prestem atenção! — Dennis gritou para o público que se aglomerava em torno do imitador de Elvis. — Vocês estão…

    11

    Então o batedor de carteiras tapou a boca do garoto quando todos começaram a olhar.

    — Não liguem. — ele disse. — Meu amigo aqui fala demais, aproveitem o show.

    Nisso o sujeito pegou Dennis pelo braço e o levou até a esquina de Graceland.

    — O que acha que está fazendo, seu bostinha?! — disse o rapaz bastante irritado. — Está acabando com o meu negócio.

    — Pode me ensinar a fazer isso? — Dennis foi direto ao assunto.

    — Fazer o que?

    — Isso que você estava fazendo, como consegue ser tão rápido?

    — Talento, garoto.

    — Eu quero que me ensine.

    — Não vejo por que eu faria isso. E afinal quem é você, garoto?

    — Dennis Fielding.

    — Ok, Dennis. Quer mesmo aprender o meu ofício?

    — Mas é claro.

    — Então eu vou te ensinar, mas não de graça.

    — Eu não tenho como pagar, eu não tenho dinheiro.

    — Não estou falando de dinheiro, garoto. Eu vou te ensinar a fazer o que eu faço, mas você vai me ajudar. A hora que eu 12

    precisar você aparece, o que eu mandar você faz, sem perguntar nada e sem me desobedecer, concorda?

    — Concordo.

    — Ok, Dennis. Vamos começar a sua educação, trambicagem básica.

    — Por acaso você tem nome?

    — Lee Torres ao seu dispor.

    — Certo, Lee. Me ensina o que você faz.

    Então daquele dia em diante Lee e Dennis se tornaram grandes amigos, Lee, a época com vinte e três anos de idade, ensinou todos os truques do seu… ofício ao garoto. Acontece que Torres era um excelente golpista com um talento incomum para enganar, desde que se profissionalizara no seu mister já havia aplicado dezenas de golpes variados, mas que nunca lhe renderam mais que alguns milhares de dólares por vez.

    Dias depois daquele primeiro encontro em Graceland Lee chamou Dennis para a sua primeira aula.

    — Olha só, Dennis. O que eu faço vai além de roubar carteiras, o que eu faço de verdade é mais… sofisticado.

    — Como assim, Lee?

    — Digamos que o meu trabalho de verdade exige um pouco mais de habilidade. Por exemplo, neste momento eu estou esperando um cliente.

    13

    Em seu jargão particular Lee Torres chamava de clientes as pessoas que estava enganando com seus truques, pouco depois seu cliente daquela hora chegou ao local do encontro.

    — Rápido. — Lee disse a Dennis. — Se esconde ali e observa.

    Dennis se escondeu em um lugar discreto do Chickasaw Country Park enquanto seu amigo Lee com sua lábia infalível aliviava o homem de algumas ações de uma grande empresa da área. O garoto ficou impressionado com a facilidade com que Lee convenceu seu cliente a lhe vender os papéis.

    — Nossa, Lee. Como você conseguiu enganar tão facilmente aquele cara?

    — Está tudo na aparência, Dennis. Não importa o que você está dizendo, importa que pareça que você sabe o que está dizendo.

    Mantenha isso em mente e não haverá pessoa que você não consiga enganar.

    Após essa lição valiosa Lee começou a usar Dennis em seus golpes. Juntos eles enganaram mais de trinta pessoas em um período de oito meses, mas, infelizmente de acordo com Dennis, essa… relação profissional chegou ao fim quando em fevereiro de 1998 Lee Torres foi preso após ser pego pela polícia de Memphis em um pequeno golpe imobiliário.

    Dennis havia perdido seu grande amigo, mas até então havia vivido seus momentos menos densos e mais alegres em anos.

    Contudo uma vida conturbada como a dele deixa marcas muito profundas, agora com a idade de catorze anos Dennis tratou de acatar os conselhos de seu pai e arrumou um emprego. Ele 14

    começou a trabalhar na academia InsideOut Gym na Cooper Street como assistente da gerência, tudo corria às mil maravilhas e não havia quem não lhe elogiasse o desempenho.

    Com poucos meses de trabalho ele já estava encarregado de algumas operações da academia, também já havia recebido dois aumentos de salário e estava na mira para uma promoção ali dentro.

    Mas como já destacado as marcas em uma vida como a dele são realmente profundas e mais uma vez Dennis se deparou com uma confusão. Já estando trabalhando na academia havia um ano o rapaz começou a chamar a atenção de uma das frequentadoras, seu nome era Christina Lennigan, tinha dezesseis anos de idade, era loira de um metro e setenta, cinquenta e dois quilos e um corpo que Dennis definia como escultural.

    — Ei, Dennis. — disse a garota na primeira vez que o encontrou.

    — Você não malha?

    — Ah não, senhorita. — ele disse um pouco por timidez e outro tanto tentando evitar uma situação desagradável entre funcionário e cliente. — Não me ligo muito nesse negócio.

    — Que pena. — lamentou a garota.

    O tempo passou e ela começou a reparar com mais atenção naquele garoto de apenas quinze anos e há que se dizer que a recíproca era verdadeira. Dennis gostou muito dela, mas nunca se aproximou primeiro por ser um funcionário e depois por causa do namorado dela, um grandalhão musculoso conhecido como Zeke, que gostava de achar que ela lhe pertencia e por isso Dennis constantemente testemunhava ásperas discussões entre os dois.

    15

    Ásperas realmente! Um dia em que viu sua namorada prestando… excessiva atenção em Dennis que fazia seu trabalho totalmente alheio ao casal Zeke foi até ela pedir-lhe contas.

    — Aí, Tina. — ele disse com um tom ligeiramente exaltado. —

    Está afim daquele cara?

    — Do que está falando, Zeke? — retrucou a garota. — Que cara?

    — O tal do Dennis. Eu vi que você não para de olhar para ele.

    — Se liga, Zeke! Ele não faz o meu tipo.

    — Acho bom você ficar bem longe daquele cara.

    — Que seja, Zeke.

    Discussões assim acabaram se tornando comuns entre eles. Foi após uma delas, provavelmente a pior que se deu entre eles naquele ambiente, que Tina, como ela era conhecida, decidiu fazer algo que já queria havia muito tempo. Aproximou-se dele e então os dois se engajaram em uma animada conversa.

    — Estava discutindo com o Zeke outra vez. — disse Dennis ao vê-la junto a cantina após seu tempo de corrida na esteira.

    — Honestamente? — desabafou a garota. — Já estou ficando cansada dele.

    — Como assim?

    — Zeke pensa que é meu dono. Está sempre em cima de mim me vigiando, controla com quem eu falo, a que horas eu chego, quando eu saio. Isso é tão sufocante!

    — E por que não acaba com isso de uma vez?

    16

    — Acredite, eu queria. Mas eu não consigo, sabe?

    — Tem que traçar uma linha, Tina. Chega uma hora que você tem que dar um basta numa situação que não está te fazendo bem.

    — É um bom conselho. Obrigada, Dennis.

    — De nada.

    Dennis e Tina foram se tornando cada vez mais próximos e tal fato não passou despercebido por Zeke que ao notar a intimidade que crescia entre eles ficou muito irritado…, mas não tanto quanto ficou quando a garota terminou seu relacionamento com ele.

    — O quê?! — disse o grandalhão indignado quando Christina anunciou a decisão que tomara. — Está terminando comigo?!

    — Estou, Zeke. — ela confirmou. — Para mim já chega. Eu não aguento mais o seu ciúme, está tudo acabado.

    — É por causa daquele idiota, o tal Dennis?

    — Não, Zeke! Isso não tem nada a ver com o Dennis, tem a ver comigo! Já me cansei de você, acabou.

    — Tina!

    Não teve quem fizesse a garota mudar de ideia, para ela seu relacionamento com o tal Zeke era página virada. De início as coisas ficaram meio estranhas por que o grandalhão estava sempre os cercando, mas com o passar das semanas ele começou a se afastar, com isso a intimidade entre Dennis e Tina aumentou.

    17

    Em meados de janeiro de 1999 os dois tiveram seu primeiro encontro, nada muito sofisticado, Dennis apenas levou Christina até o Starbucks próximo a academia para um café.

    — Eu queria te agradecer, Dennis. — disse-lhe a garota.

    — Me agradecer por que?

    — Pelo seu conselho. Me livrar do Zeke foi a melhor coisa que eu fiz, não sei como eu não fiz isso antes.

    — Fico feliz que esteja bem, Tina.

    — Estou, obrigada.

    Nesse momento o clima entre eles ficou mais quente ainda e um beijo acabou acontecendo.

    Dias depois eles ainda tiveram um segundo encontro dessa vez mais sofisticado, Dennis levou Christina ao restaurante Barksdale ali mesmo na Cooper Street e eles tiveram um jantar romântico… nada mal para um garoto de quinze anos de idade.

    Após isso a coisa começou a realmente esquentar, ambos pediam intimidade e todos sabemos aonde leva a intimidade. É

    claro que aconteceu entre os dois e as consequências disso não foram nada prazerosas para Dennis, dias depois, em meados de abril de 1999, ele recebeu uma intimação para comparecer à delegacia para prestar esclarecimentos… a acusação, estupro.

    Confuso o rapaz compareceu diante do delegado.

    — Sabe por que está aqui, Dennis?

    — Não, senhor. — ele disse ao delegado, estava bastante confuso com tudo aquilo.

    18

    — O senhor e a senhora Lenningan estão acusando você de ter estuprado a filha deles.

    — O que? — Dennis ficou chocado ao descobrir do que estava sendo acusado. — Não, eu não fiz nada disso.

    — Então não teve relações sexuais com Christina Lennigan?

    — Sim, mas… eu não a estuprei. Não, eu não fiz isso.

    — Nós temos o testemunho da senhorita Lennigan afirmando que vocês mantiveram relações sexuais contra a vontade dela.

    — Isso é uma mentira! — disse o rapaz indignado com tamanha calúnia. — Não sei por que ela disse isso, mas não foi o que aconteceu.

    — Bom, isso o júri vai decidir.

    — Quer dizer que eu vou a julgamento?

    — Temo que sim, Dennis.

    Ainda naquele dia ele foi retirado da delegacia pelo seu pai Jack.

    — O que houve, Dennis?

    — Sinto muito por isso, pai. — disse o garoto. — Eu não queria que isso tivesse acontecido.

    — Está tudo bem, garoto. Vamos passar por isso.

    Até por que não havia outro jeito, Dennis foi levado a julgamento em agosto de 1999. Caiu nas mãos do juiz Malcolm Bartlett.

    19

    — Dennis Thomas Fielding. — disse o juiz. — Na acusação de estupro estatutário de Christina Almond Lennigan como se declara?

    — Meu cliente se declara inocente, excelência. — respondeu o defensor público indicado para ele.

    — Muito bem, nos reuniremos em dois dias para o início do julgamento. Corte em recesso.

    Por não ter antecedentes criminais e não oferecer risco de fuga Dennis pôde aguardar o julgamento em liberdade. Dois dias depois começou o procedimento em si, o defensor público foi atrás de todas as testemunhas de caráter que pôde conseguir para tentar provar que Dennis não era um predador sexual da forma que todos já o pré-julgavam.

    Assim mesmo o resultado não foi favorável ao rapaz, ao final do julgamento ele foi condenado a reclusão em reformatório até que completasse a maioridade, seu pai Jack nunca acreditou naquelas acusações e por três anos fez visitas semanais regulares ao filho no reformatório.

    Seu tempo no Shelby County Juvenile Detention Center foi uma experiência gratificante até certo ponto, Dennis cresceu muito no seu tempo lá… especialmente com as surras quase diárias que levava dos outros internos no primeiro ano.

    Mas nem tudo foi ruim para ele no reformatório, naqueles dias eles fez mais um grande amigo. Tratava-se de outro interno conhecido apenas como Fox, eles se conheceram no segundo dia de reclusão de Dennis.

    20

    — Ei, garoto. — disse o tal Fox enquanto eles estavam na oficina de artes fazendo sua terapia… desnecessária, mas mandatória. —

    Desenho legal.

    — Obrigado.

    — Douglas Foxworthy, pode me chamar de Fox.

    — Dennis Fielding.

    — E então, Dennis? Por que está aqui?

    — Armaram para mim. — respondeu Dennis ainda certo de que não tinha cometido nenhum crime. — Me acusaram de estupro.

    — Que dureza cara.

    — E você? Por que está aqui?

    — Meu tio me levou num assalto a banco, ele queria que eu dirigisse o carro na fuga.

    — Sério?

    — Sério. Tudo estava dando certo, mas aí um cretino de um caixa acionou o alarme. Logo a polícia chegou, rolou o maior tiroteio.

    Meu tio e mais dois caras foram presos, eu tentei fugir e a polícia me pegou.

    — Que azar, cara.

    — É, azar mesmo.

    Dennis e Fox logo se tornaram amigos dentro do reformatório. E ele precisaria mesmo de um amigo, por que sem que sequer buscasse isso acabou fazendo um inimigo. Bom, para ser justo e preciso eles já eram inimigos desde os primeiros dias 21

    de ambos na escola. Mas ali no reformatório eles se reencontraram, ali estavam frente a frente Dennis Fielding e seu eterno rival Walt Bosman.

    Eles se odiaram desde a primeira vez que se viram… mais exatamente Walt odiou Dennis desde a primeira vez que o viu, não se sabe até hoje o que, mas algo em Dennis o incomodava demais. A rivalidade entre eles durou por longos quatro anos até que Walt mudara de colégio, mas com o tempo e a distância a animosidade entre eles jamais diminuiu.

    E ali no Shelby County Juvenile Detention Center Walt fez questão de deixar isso bem claro, todos os dias ele procurava um pretexto para atacar seu desafeto, o fazia sempre sem ser provocado. Nas constantes brigas entre os dois Dennis sempre contava com a ajuda de Fox para se defender, na única vez em que Douglas não pôde ajudá-lo, por estar isolado por mau comportamento, Dennis acabou com o braço esquerdo quebrado e uma pequena hemorragia interna após uma violenta surra.

    Tal situação perdurou por um ano e meio até que no final de janeiro de 2001 Walt deixou o reformatório ao completar dezoito anos e foi para a prisão condenado a vinte anos por sequestro e roubo de carro. O restante da estadia de Dennis no reformatório foi um pouco menos turbulenta, exceto por aquela uma vez em que o rapaz sofreu uma grave, e igualmente misteriosa, intoxicação e teve que passar três semanas no hospital.

    Apesar de todos os percalços aos dezoito anos Dennis saiu do reformatório como um homem, pouco após isso ele acabou reencontrando Christina Lennigan. Isso foi bom por que de um 22

    minuto para o outro tudo se esclareceu e enfim Dennis pôde descobrir por que passou três anos trancado naquele lugar.

    — Tina? — ele ficou surpreso ao vê-la. — É você?

    Ele a encontrou por acaso quando voltou ao InsideOut Gym.

    — Ei, Dennis. Soube que saiu do reformatório.

    — É, saí.

    — Olha, Dennis. Sinto muito pelo que aconteceu, de verdade.

    — Está tudo bem, já passou.

    — Foi o Zeke que convenceu os meus pais a te denunciarem a polícia. Eu ia dizer para eles que não houve estupro, mas meus pais me forçaram a mentir.

    — Obrigado por me contar isso, Tina.

    O grandalhão Zeke, após o fim de seu relacionamento com Christina, denunciou Dennis aos pais da garota que por sua vez o denunciaram a polícia e foi aquele escândalo. Os pais dela nunca a deixaram participar das audiências do julgamento, menos ainda testemunhar e contar sua versão da história… o reencontro foi esquisito, mas também esclarecedor.

    Pois bem, agora Dennis era um homem e como tal deveria assumir responsabilidades. Com isso Jack concordava, um dia dois ou três meses após sair do reformatório ele foi abordado por seu pai que lhe perguntou:

    — E então, Dennis? O que pretende fazer agora que está livre?

    23

    — Vou me alistar. — o rapaz soltou a bomba.

    — O que?

    — Isso mesmo, pai. Vou entrar para a Marinha.

    — Como assim?

    — Por dois anos eu ouvi os caras falando lá no reformatório sobre isso, sobre servir ao país e tal. De repente fiquei interessado, acho que vai ser bom para mim.

    Jack não parecia muito entusiasmado com a resolução de seu filho, mas tudo indicava mesmo que Dennis já havia tomado a decisão.

    — Se for te manter longe de encrencas… — foi o que seu pai lhe disse.

    E foi assim, meio a contragosto de seu pai, que Dennis se alistou nas Forças Armadas dos Estados Unidos da América. Em novembro de 2002 ele foi para a Memphis Naval Support Activity passar por outra experiência enriquecedora, essa também feita de dificuldades.

    Duas em particular, cabo Cole Parker e sargento Randy Baker. Esses dois tornaram a estadia de Dennis na base muito, muito menos agradável do que poderia ter sido, todos os dias esses dois passavam a maioria de seu tempo pensando em novos meios de humilhá-lo e desmoralizá-lo.

    — Recruta Fielding! — disse o cabo Parker em um dos primeiros dias da estadia do rapaz ali na base.

    — Sim, senhor!

    24

    — Por que está aqui?!

    — Quero servir ao meu país, senhor! — disse Dennis convicto.

    — E o que te faz achar que tem o que é preciso, seu moloide?!

    — Senhor, eu… — era uma boa pergunta de fato, uma para a qual Dennis não tinha uma resposta.

    — Vou ser bem claro com você, recruta! — falou o sargento Baker de um modo bastante… amigável. — Você é uma desgraça! Você é uma vergonha para a nossa grande nação e para tudo o que a Marinha dos Estados Unidos da América representa!

    Se depender de mim sua permanência aqui vai ser curta e extremamente desagradável! Eu fui bem claro, recruta?!

    — Senhor, sim senhor! — disse Dennis contrariado, mas também resignado.

    — Acho que não te ouvi, recruta!

    — Senhor, sim senhor!

    — Agora mexa-se, recruta! Leve esse seu traseiro inútil para o campo de exercícios agora mesmo!

    — Sim, sargento!

    Coisas como prejudicá-lo diante dos oficiais superiores eram bem comuns para o cabo Parker e o sargento Baker, não raramente objetos pessoais de tenentes, coronéis, e até dos generais eram encontradas em sua posse. Dennis esteve tantas vezes na solitária que até mesmo nas sombras conhecia cada centímetro das paredes, por vezes o cabo Parker e o sargento Baker chegavam a extremos como no episódio em que Parker 25

    sabotou o equipamento de Dennis que acabou caindo de um morro durante um exercício de corrida e quebrou o braço esquerdo pela segunda vez.

    Houve também outro episódio em que o sargento Baker lhe aplicou um trote quase mortal, com a ajuda de alguns de seus comandados colocou Dennis em um tambor cheio de água por quase dois minutos segundo ele para checar a extensão do fôlego do garoto.

    — Disse que quer ser parte da Marinha dos Estados Unidos da América, recruta! — disse o cabo Parker com um tom jocoso. —

    Vamos ver por quanto tempo consegue prender a respiração!

    Então seus superiores na hierarquia fecharam a tampa do tambor e o deixaram lá, Dennis sofreu um princípio de afogamento, ficou com água nos pulmões e foi parar no hospital por duas semanas.

    Após esse incidente Dennis teve relativa paz… ao menos por um tempo. Cerca de um ano e meio após se alistar veio um novo incidente para abalar a vida dele… esse o pior até então.

    Aconteceu no mês de agosto de 2004, o responsável pela base general Mason Rampling começou a desconfiar de que havia algo estranho acontecendo. Fez o que qualquer gestor responsável faria na sua posição, mandou abrir uma investigação do caso. De início nada suspeito foi encontrado, mas logo indícios de nada menos que tráfico de drogas começaram a surgir nas investigações.

    Primeiro foram as ligações suspeitas, depois cargas ainda mais suspeitas deixando a base a todo momento. O general 26

    Rampling estava chegando cada vez mais perto da verdade e dos responsáveis pelas atividades suspeitas, o que levantou em alguns ali a necessidade de um bode expiatório para levar a culpa caso o esquema fosse revelado. Os responsáveis pensaram em vários nomes para colocar na reta, mas apenas um deles foi de consenso… soldado Fielding.

    Então de repente, não mais que de repente, mais indícios tais como documentos e até mesmo um pouco da… mercadoria começaram a surgir na base, obviamente tudo apontando na direção de Dennis. Sem dúvida rapidamente o general Rampling tomou conhecimento de tais evidências e se viu forçado a tomar ações enérgicas.

    Resultado: Dennis foi detido e exaustivamente interrogado, claro que ele sempre negou qualquer conhecimento das ações criminosas creditadas a ele. O general Rampling estava sendo pressionado por resultados e mesmo sem evidências mais contundentes e sem saber quem eram os possíveis cúmplices do rapaz na operação de tráfico tratou de mandá-lo para a Corte Marcial.

    Dias depois em 20 de novembro de 2004 Dennis foi condenado a baixa desonrosa por suspeita de tráfico de drogas, somente como informação o general continuou com as investigações e acabou descobrindo, quase seis meses depois da saída de Dennis, que eram meia dúzia de responsáveis pela operação de tráfico de cocaína na base… entre eles o cabo Parker e o sargento Baker.

    Quanto a Dennis após deixar a Marinha ele voltou à cidade de Memphis onde arrumou um emprego no Lane Discount 27

    Auto Parts & Salvage, um ferro-velho próximo a Interestadual 69.

    Trabalhando cinco dias por semana das nove da manhã as cinco da tarde parecia que ele enfim iria acertar sua vida. De fato, ele até conseguiu… por quatro meses antes dos problemas começarem.

    Em março de 2005 Jack foi chamado para uma reunião pelo seu chefe no hotel The Peabody Memphis onde já trabalhava havia vinte e dois anos. Ele achava que após cinco anos de sua mais recente promoção, de ajudante geral para porteiro, ele receberia uma nova incumbência… foi exatamente o contrário.

    — Jack, primeiramente quero dizer que todos aqui no Peabody admiramos muito o seu trabalho. — seu chefe lhe falou. — Ao longo dos últimos cinco anos recebemos vários elogios dos clientes a seu respeito.

    — Muito obrigado, senhor Kitsch. — disse o pai de Dennis realmente esperando uma boa notícia.

    — No entanto estamos atravessando uma pequena crise financeira. Por essa razão nos vemos obrigados a cortar alguns postos de trabalho… e o seu é um deles.

    Jack ficou chocado com a notícia.

    — O que? — ele disse atordoado. — Está me demitindo?

    — Acredite, Jack. — respondeu o senhor Kitsch. — Queria que houvesse outro jeito, mas infelizmente não há. Não podemos mais manter você no nosso quadro de colaboradores.

    — Tudo bem, senhor Kitsch. — disse Jack conformado… não havia nada que pudesse ser feito.

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    — Desejamos a você toda a sorte nos seus projetos futuros, Jack.

    — Muito obrigado, senhor Kitsch.

    Então o pai de Dennis apanhou suas coisas e deixou o hotel, para ele pior que perder seu emprego de vinte e dois anos era ter que dar a má notícia ao seu filho. Claro que ele recebeu de Dennis todo o apoio nesse momento de crise, era um fato inesperado que gerou alguns contratempos. Mas logo Jack se aprumou e foi à luta para conseguir outro emprego.

    Nesse meio tempo cabia a Dennis cuidar das coisas, ser o homem da casa por assim dizer. Pois bem, toda a busca de Jack por um novo emprego acabou sendo infrutífera. Ele procurou, procurou e nada, sempre esbarrava no mesmo obstáculo, a idade.

    O fato era que ninguém queria empregar um homem de cinquenta e oito anos de idade, Jack já se via sem esperanças, mas se recusava a desistir.

    Mais ou menos por essa época Dennis acabou reencontrando seu amigo do reformatório. Douglas Foxworthy havia deixado o Shelby County Juvenile Detention Center uns três meses após Dennis.

    — Ei, Fox.

    — Dennis! Que bom te ver!

    — Bom te ver também.

    — E aí? O que você tem feito?

    — Na verdade eu passei um tempo na Marinha.

    — Então resolveu seguir o conselho dos caras?

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    — Pois é, foi um tempo muito bom. Mas e você? O que você fez depois que saiu do reformatório?

    — Fiz um monte de coisas. Uns bicos aqui e ali, agora estou meio que entre empregos. Inclusive eu preciso ir, tenho um… encontro de negócios.

    — Foi realmente bom te ver, Fox.

    — Anote o meu número, Dennis. Podemos sair um dia para tomar uma cerveja.

    — Claro, Fox.

    Dennis pegou o número do telefone celular de Fox…

    infelizmente essa cerveja ficou adiada indefinidamente por que um mês e meio após esse encontro Douglas Foxworthy foi morto com três tiros no peito durante uma batida da polícia em um depósito perto de Graceland, o rapaz foi pego junto com três conhecidos traficantes locais e um carregamento de cento e sessenta quilos de cocaína noventa e três por cento pura.

    Enquanto Dennis seguia como o único provedor da casa seu pai continuava em busca de outro emprego, mas dizem que todo homem tem um limite e pouco mais de dois meses de insucessos depois Jack havia chegado ao dele, nada havia conseguido e ficara frustrado, muito frustrado. Tão frustrado que só uma coisa conseguia arrancá-lo, ainda que por momentos extremamente breves, dessa frustração… o álcool.

    O pai de Dennis entregou-se de corpo e alma a sua nova

    atividade, todo o dinheiro que conseguia com um bico aqui e outro ali ia para os donos dos bares. Com a bebida vieram as 30

    encrencas, de início eram brigas ocasionais, mas logo tornaram-se diárias.

    Obviamente que Jack acabou se tornando o pesadelo de Dennis. Todos os dias o rapaz, então com apenas vinte e um anos de idade, tinha que correr para tirar seu pai de algum bar, todos os dias o encontrava totalmente bêbado e se comportando de modo extremamente inconveniente. A carga para Dennis estava se tornando demasiadamente pesada, quase insuportável, mas por amor ao pai ele passava por todos os problemas tentando tirá-lo do vício.

    Tal situação perdurou até aquela fatídica noite de 6 de junho de 2005. Tudo começou às seis da tarde quando como de costume Jack saiu para beber, andando pela calçada aparentemente sem rumo ele adentrou o primeiro bar que encontrou aberto e lá começou a beber sem parar. Partiu de umas cervejas e então tratou de subir o nível etílico, uísques, vinhos, conhaques, até vodca, nada faltava em sua lista.

    Jack bebeu até mais ou menos às nove da noite e então o dono do bar decidiu que já era hora dele parar, aproximou-se do pai de Dennis e lhe apresentou a conta… Jack havia consumido quase noventa dólares de bebidas. Ele tateou os bolsos em busca de dinheiro e nada achou, por sua vez o dono do bar começou a se irritar com ele.

    — Você tem dinheiro para pagar, não tem? — o dono do bar lhe perguntou já bem aborrecido.

    — É claro que eu tenho. — disse Jack com a voz arrastada de bêbado. — Não me enche, cara!

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    — Vai, me mostra a grana.

    Não demorou muito para que uma acalorada discussão começasse entre os dois. Jack, que mal se aguentava em pé de tão bêbado, ainda tinha uma boca bem dura, começou a xingar com veemência o homem que estava lhe cobrando e logo o tom da discussão começou a incomodar os outros frequentadores do bar, logo uns homens quase tão embriagados como Jack foram tirar satisfações. Daí para uma grande confusão foi um passo, infelizmente esse passo foi dado.

    Sem querer, ou não, alguém acabou empurrando Jack que sem pensar revidou em quem estava mais perto dele naquele momento e então começou uma enorme altercação entre os beberrões do bar. Socos e chutes eram dados por todos ali, de repente até mesmo mesas e cadeiras começaram a voar de um lado ao outro!

    Um amigo de Dennis do ferro-velho fez a tal ligação avisando-lhe que seu pai estava criando confusão naquele bar. De certa forma ele já estava acostumado com aquele tipo de coisa, então não teve tanta pressa…, mas aquela ocasião era diferente.

    Diferente por que dentre as trinta e cinco pessoas trocando sopapos dentro do bar uma delas tinha uma faca, essa pessoa vendo-se em apuros não hesitou em sacar sua arma.

    Outros dois homens tentaram desarmar o velhinho com a faca e não conseguiram, um deles até teve a coxa direita perfurada pela faca. Foi quando se deu a tragédia, bêbado como estava Jack sequer via com quem brigava, ele foi empurrado na direção do homem com a faca e teve o pulmão perfurado pelas costas.

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    Nesse momento toda a briga simplesmente parou. A maioria dos homens ali saiu correndo com medo das consequências e outras tantas pessoas cercaram Jack que já estava caído em uma grande poça de sangue. Um minuto ou dois depois disso Dennis chegou ao bar na Grahamwood Drive ainda encontrando muita correria, perguntou a um e a outro o que havia acontecido e acabou não obtendo nenhuma resposta. Depois encontrou seu amigo que havia feito a ligação para ele, este lhe disse:

    — Cara, vai lá rápido. Acho que seu pai está morrendo.

    Então o garoto entrou em desespero, correu para dentro do bar impregnado pelo fedor do álcool e do suor dos porcos brigões que até pouco tempo atrás trocavam tapas e pontapés. Foi diretamente até uma roda de pessoas e passou por elas… nesse momento viu seu pai lá deitado, respiração difícil, olhos semicerrados e o sangue em volta de seu tronco.

    — Pai! — disse Dennis apavorado. — Pai, o que houve?!

    Jack já estava à beira da morte, só conseguiu dizer:

    — Me… me desculpe… Eu… não…

    E exalou seu último suspiro com a cabeça tombando sobre as pernas de seu filho que estava ajoelhado junto dele, por sua vez Dennis permaneceu ali parado ainda por longos minutos.

    Cinco dias após esse fato Jack foi enterrado em Kimbrough, Dennis por sua vez ainda parecia tão perdido como na noite em que tudo aconteceu. As lembranças constantemente o assaltavam e faziam lágrimas verterem de seus olhos, diferentemente das outras vezes agora o trauma parecia realmente 33

    insuperável… muito por que pela primeira vez em toda a sua vida Dennis estava verdadeiramente sozinho.

    O trauma da morte de Jack foi tão grande que nove dias depois do funeral ele ainda não tinha sido visto por ninguém em lugar nenhum da cidade, isso deixou muita gente preocupada, sobretudo a sua vizinha Kristen.

    Sem notícias de Dennis desde o funeral na tarde daquele 20 de junho ela resolveu procurá-lo em sua casa. Ao chegar ao local a primeira coisa que ela notou foi a porta entreaberta, empurrou-a para entrar e logo sentiu o odor nauseabundo de comida estragada, banheiro sujo e gente que não toma banho.

    Kristen não podia crer que ele estava realmente ali, o chamou e não obteve resposta.

    Chamou-o novamente e ainda nenhuma resposta. Então foi caminhando devagar pelo corredor e logo subiu as escadas para o andar superior, então o chamou outra vez, mas Dennis nada disse. Foi quando Kristen viu a escada para o sótão montada já quase no fim do corredor, chegou mais perto e

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