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Maloi: Cortem Os Céus!
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Maloi: Cortem Os Céus!
E-book507 páginas5 horas

Maloi: Cortem Os Céus!

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Sobre este e-book

Alois e Marã se conhecem em um campo de concentração quando crianças. Após uma invasão nos acampamentos, os meninos são abruptamente separados. Dezesseis anos depois, eles se reencontram no meio de uma batalha de uma grande guerra que eclodiu - desta vez como líderes inimigos das maiores nações do mundo e possuidores do poder de um povo misterioso. Com o passar do tempo, a guerra toma proporções devastadoras, enquanto os encontros dos rapazes, às escondidas de seus reinos, tornam-se cada vez mais íntimos. O amor floresce em meio ao caos das batalhas. Infelizmente, em uma uma guerra, só um lado poderá vencer. O que acontece quando um corvo e uma águia se apaixonam?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de mai. de 2022
Maloi: Cortem Os Céus!

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    Maloi - Laís Basillie

    REVISÃO: Raulisson; e-mail: raulissonsilva@gmail.com

    DESIGNER ARTISTICO DOS PERSONAGENS: Laís Basillie

    ARTE FINAL DO MIOLO: Emilly Pereira, Instagram: @milly_arts.03; e-mail: Emillypf03@gmail.com

    ARTE FINAL DOS INÍCIOS DE CAPÍTULO:  Asuna; Instagram: 0su.na.

    ARTE FINAL DA CAPA: Ysis S. Cobra; instagram: ysis.s.cobra_art; e-mail: cobra.ysis@gmail.com

    ARTE DA CONTRACAPA, ORELHA, MAPA E ANIMAIS DE CONTRATO: Letícia C. do Vale Lima; instagram/twitter: @azza_weak; e-mail: azza.weak@gmail.com.

    CORTEM OS CÉUS/ Laís Basillie

    2022, 1ª Edição

    ISBN: 978-85-471-0561-7

    Literatura Nacional/ Ficção/ Homossexual/ Drama/ Romance histórico medieval/ Ação

    Esta obra contém gatilhos (violência, abandono parental, suicídio, citação ao estupro, genocídio, dentre outros) e cenas impróprias para menores de 18 anos. (sexo e violência)

    PRÓLOGO

    Durante de uma longa guerra sangrenta por territórios, vários escravos de batalha foram capturados por um exército ao leste; dentre eles havia crianças que foram recrutadas para substituir o Caram grande número de soldados feridos, e lutaram na guerra. Dois meninos, capturados após o fim das batalhas, foram acorrentados juntos e jogados em uma das celas fétidas, feita de madeira, pequeníssima ao ar livre; um menino preto, magro, de cabelos pretos ondulados médios e olhos castanhos, seu pescoço carregava um lindo amuleto com uma opala azul bruta na extremidade em formato cilíndrico e pontiagudo; e um garoto branco, loiro, com cabelos lisos, de corpo médio, de olhos verdes; ambos de mesma altura.

    O menino loiro chorava insistentemente, enquanto abraçava os joelhos, dizendo:

    ― Eu não deveria ter saído de casa.

    Ao ouvir o desabafo daquele menino, o de cabelos pretos se aproximou curioso, perguntando:

    ― Você não é soldado?

    O menino branco levantou o olhar e, soluçando, respondeu, enquanto agarrava o próprio peito:

    ― Não, eu fugi de casa e fui capturado.

    ― Por que fugiu?

    ― Meu pai…

    O menino de olhos verdes se calou constrangido; o de olhos castanhos, notando o desconforto causado pela pergunta, rapidamente mudou de assunto. Ao observar as roupas de linho fino azuis com bordados dourados, ele falou:

    ― Bom… suas roupas não são camponesas, você é filho de comerciantes?

    O choro do menino branco aumentou bruscamente, tanto que já começava a irritar os soldados. O garoto de pele preta abraçou a criança e falou, em um tom desesperado:

    ― Ei, não chora, não fomos mortos, talvez seremos vendidos, mas vamos sobreviver.

    ― Eu não quero ser vendido! ― O menino de olhos verdes exclamou aos berros.

    O garoto de cabelo preto puxou seu cordão que carregava no pescoço e o entregou ao menino loiro, falando:

    ― Isso é um amuleto que dá coragem, com ele você vai ficar forte e corajoso. Além do mais, combina com seus olhos.

    O menino de olhos esverdeados recebeu o cordão da mão do garoto, com uma aparência mais tranquila.

    O rapazinho de olhos castanhos perguntou:

    ― Eu sou Marã, qual é o seu nome?

    ― Alois.

    ― De onde você é?

    ― Eu sou de Karami. ― Alois falou, enquanto segurava fortemente o cordão dado.

    ― Karami?! Esse reino é muito rico!

    Alois curvou os lábios e abaixou as pálpebras, enquanto dizia:

    ― Um pouco… um pouco rico.

    ― Bom, eu não pertenço a nenhum reino, eu sou andarilho.

    ― E a sua família, onde está?

    Marã ficou em silêncio por alguns segundos. Suas sobrancelhas se inclinaram para baixo e seus lábios se abriram e fecharam lentamente. Ele respondeu, em um tom mais baixo:

    ― Eles morrerem na guerra.

    Alois franziu as sobrancelhas e, arrependido de ter feito aquela pergunta, respondeu:

    ― Morreram?! Desculpe-me, eu não sabia.

    ― Tudo bem, faz quase um ano.

    ― Você está preso todo esse tempo?! Você é do meu tamanho, eu acho. Qual é a sua idade?

    ― Fui preso recentemente. Eu tenho 11 anos, e você?

    ― Tenho 10.

    Com um sorriso no rosto, Marã falou, com animação:

    ― Como sou mais velho, eu vou te proteger!

    Ao ouvir o que Marã havia falado, o medo e desespero de Alois diminuiu, ele estava mais confortável; e, em um ato brusco, o menino se jogou contra Marã, abraçando-o fortemente. O rapazinho de olhos castanhos retornou o abraço e respondeu, em tom calmo:

    ― Não se preocupe, ficaremos bem.

    No dia seguinte, os raios solares inundaram o acampamento, incomodando os garotos que dormiam juntos naquela cela imunda e minúscula, e acordaram com a luminosidade. Um soldado bateu rispidamente na cela e a abriu em seguida.

    ― Anda! ― ordenou o soldado aos garotos, que caminharam lentamente, descruzando as correntes em seus pulsos.

    O soldado, já sem paciência, puxou os dois pelas correntes, levando-os para um local cheio de corpos. O cheiro era realmente putrefato; havias corpos de homens, mulheres e crianças escravos de guerra ou escravos sexuais. Alois se contorcia entre as correntes por não aceitar aquele tratamento.

    ― Retirem os corpos daqui e levem lá para fora. Nem pensem em fugir, tem soldados do lado de fora e eles não hesitarão em matar vocês. ― Alertou o soldado.

    Alois e Marã puxavam os corpos com toda a força, arrastando-os para o lado de fora do acampamento. Marã pensava, preocupado: Quando eles limparem todo o lugar e não acharem compradores, seremos mortos.

    Quando os meninos carregaram o último corpo, Alois tropeçou em uma pedra e caiu em cima de um dos soldados que mantinha uma postura impecável, enquanto deslizava sua mão por seus cabelos ondulados e ruivos. Com o impacto, Alois o derrubou em uma poça de lama. O soldado ficou completamente imundo, sua raiva transbordou e, em um ato grosseiro, o homem empurrou o menino e se levantou erguendo a espada, enquanto gritava:

    ― Eu vou te ensinar a nunca mais tocar suas mãos imundas em mim!

    O soldado desceu rapidamente a espada em direção ao rosto de Alois; no entanto, em um ato rápido e sem consideração do perigo, Marã entrou na frente do garoto e a espada cortou de sua testa até a parte de baixo de seu olho, deixando-o cego do lado direito; sangue escorreu pela bochecha do menino aos poucos, assustando Alois, que se jogou desesperado sobre o rapazinho, exclamando com os olhos lacrimejantes:

    ― Por que você fez isso?!

    O soldado sorriu, puxou Marã pelo braço e o jogou no chão, pisoteando-o e chutando-o; rapidamente, Alois se jogou na frente de Marã para protegê-lo, e foi agredido também. O soldado cuspiu no chão em resposta e falou, enquanto limpava a espada em seu manto:

    ― Vocês, vermes miseráveis, adoram ser heróis, não é mesmo? Desapareçam da minha frente!

    Após soltar um arfar pesado, Alois ajudou Marã a se levantar, apoiando-o em seu ombro. Um soldado de cabelos loiros, ao lado do de cabelos ruivos, ria da desgraça de seu companheiro; rapidamente puxou os meninos pelas correntes e, levando-os até a cela, em tom alegre falou:

    ― Muito bem, garoto, eu não suportava o ego daquele louco.

    Quando chegaram na cela, o soldado retirou as correntes dos meninos, dizendo com um sorriso:

    ― Este é o prêmio!

    Quando o homem trancou a sela e se retirou, Alois rasgou parte de sua roupa e vendou o olho de Marã.

    ― Por que você fez isso? ― Alois perguntou, de cabeça baixa.

    Marã lançou um longo sorriso que encantou Alois e falou:

    ― Eu disse que iria te proteger, não disse?

    Alois rodeou Marã para amarrar a faixa sobre o nunca do menino, e, ao notar um símbolo em formato de foice, branco claríssimo na nuca do rapazinho, perguntou:

    ― O que é esse desenho no seu pescoço?

    Marã abriu bruscamente os olhos e lançou a mão contra a nuca, dizendo:

    ― Não é nada, ignore.

    ― Mas é lindo! Deixe-me ver mais uma vez, por favor!

    Marã apertou os olhos e os dentes, e pediu, enquanto retirava a mão de sua nuca:

    ― Por favor, não conte a ninguém sobre isso.

    Marã e Alois ficaram em escravidão durante 6 meses. Marã cumpriu sua promessa ― dava a maior parte da comida para Alois e o protegia de apanhar dos soldados.

    *

    Em uma noite nublada, gritos e o soar de espadas se cruzando tomaram o campo de concentração. O tumulto de soldados indo e vindo assustou os meninos.

    ― O que está acontecendo?! ― Gritou Alois, desesperado.

    ― Uma invasão?! ― Exclamou Marã, enquanto se levantava.

    Marã olhou ao redor de modo desesperado e, ao ver uma pedra, esgueirou seu braço pelas grades de madeira e, com dificuldade, pegou-a e começou a batê-la contra a fechadura, até que a tranca se quebrou. Rapidamente Marã puxou Alois pelo braço e ambos correram na esperança de não sofrerem com o confronto.

    Estava tudo um verdadeiro caos ― os cavalos pisoteavam pessoas, tendas eram queimadas, havia sangue e corpos por toda a parte. Marã gritava, enquanto segurava fortemente a mão de Alois:

    ― Não olhe, Alois, vamos conseguir sair, essa é a nossa oportunidade!

    Os dois corriam, desviando dos cavalos e tropeçando nos corpos ensanguentados. Marã gritava, em um tom desesperado, enquanto olhava para o portão à sua frente:

    ― Nós vamos conseguir! Vamos conseguir, estamos quase nos portões!

    Quando estavam a poucos metros do portão, um cavalo tomou a frente dos garotos e derrubou um soldado, que caiu em cima de Alois; o fronte rapidamente invadiu o local; a poeira cegava os meninos e o barulho impedia que eles ouvissem um ao outro. Os garotos se separaram e, desesperadamente, procuravam um ao outro em meio à confusão.

    Um cavalo se ergueu próximo a Alois. O soldado acima do animal agarrou o menino e o colocou a sua frente, dizendo, em alto tom:

    ― Graças a Deus! Temos que sair daqui, Vossa Alteza!

    O garoto se assustou e, com uma respiração ofegante, falou:

    ― O exército imperial?!

    O soldado puxou as rédeas do cavalo e falou:

    ― Quando descobrimos onde estava, a rainha mandou te buscar imediatamente. Temos que ir agora!

    O garoto esperneou e, enquanto virou seu rosto para vários locais, gritou:

    ― Espera! Meu amigo! Marã ainda está lá, temos que pegar o Marã!

    ― Perdão, alteza, não temos tempo! ― Exclamou o soldado, enquanto tomava posição de fuga em seu cavalo.

    O soldado bateu as pernas no animal, guiando-o para fora do reino rapidamente. Alois gritava, em um tom desesperado, enquanto esperneava:

    ― Não! Para! Eu não posso ir embora, não posso deixar o Marã! É perigoso! Marã!

    O soldado levou Alois de volta para o reino, onde ele cresceu e se tornou o novo rei. Os confrontos só se intensificavam com o passar dos anos em uma guerra de luta por territórios que já durava décadas.

    CAPÍTULO 1

    Reino de Karami; 29 de abril; manhã

    Alois tinha se tornado rei aos 21 anos de idade, o reino prosperava e se mantinha firme com grandes vitórias em campo de batalha. Quando ele completou 26 anos, mais uma guerra estava para acontecer: era contra o reino de Tsuar, que continha grande poderio militar e contava com grandes generais e estrategistas.

    Era manhã quando Alois caminhava pelo jardim de rosas vermelhas do castelo, o rapaz estava elegantemente vestido com mantos brancos com detalhes dourados, acompanhado de sua conselheira ― uma moça branca, de cabelos castanhos escuros e olhos castanhos claros, mediana, vestida em um longo vestido branco escorrido, com mangas longas bufantes.

    ― Majestade? ― Chamou a conselheira, após respirar profundamente.

    ― Sim? ― Alois respondeu, com rosto tranquilo.

    A mulher voltou seu olhar para cima e falou, em tom cansado:

    ― Há um relato sobre um grande general, praticamente lendário, dizem que ele derrotou 6 reinos ao norte com muita facilidade.

    Alois inclinou seu sorriso e respondeu, com um apertar de dentes:

    ― Eu não estou preocupado com um mero general, eu não me importo se ele é uma lenda; entenda, lendas são mentiras.

    ― Vossa majestade, não deveria subestimar o inimigo, eles são fortes.

    ― Eu sei, a questão é…

    Alois foi rapidamente interrompido por um soldado que o abordou com uma carta com lacre vermelho:

    ― Vossa Majestade, é do rei de Tsuar!

    Alois inclinou os lábios em um sorriso, recebeu a carta e a abriu, era uma declaração de aceito da exigência de guerra que Alois havia enviado. O rapaz apertou a carta e, amassando-a, disse:

    ― Eles vão pagar por tudo o que fizeram!

    A conselheira o alertou, com rosto preocupado:

    ― Isso é péssimo, não nos recuperamos completamente da última batalha; não foi prudente, essa vingança está tirando a sua lucidez, Vossa Majestade.

    Alois pesou a mão sobre o ombro da mulher e respondeu, em tom amigável:

    ― Ora, tenha mais confiança! Nosso reino tem poderio militar suficiente para esmagar aqueles insetos.

    ― Excesso de confiança é veneno, Vossa Majestade.

    *

    Sangue jorrava dos soldados e cavaleiros, e o barulho das espadas e gritos eram avassaladores; homens caiam dos cavalos que tinham os pescoços cortados; uma grande líder de mantos dourados e brancos se erguia no cavalo com sua espada de ouro banhada de sangue do inimigo a cada corte.

    Os cabelos loiros e longos mudavam para um cinza claro, linhas negras subiam do pescoço até as bochechas daquela mulher. Gritos de Vitória e honra saiam daquela guerreira, que guiava seu exército e cavalaria rumo à batalha. A visão que o pequeno Alois tinha era de uma guerreira invencível, alguém intocável.

    Os olhos azuis brilhantes dela carregavam ódio e coragem na mesma medida, seu cavalo vestia uma armadura de ouro que parecia transformá-lo em um animal invencível e poderoso. A mulher olhava para Alois e, por vezes, ordenava, em tom estridente:

    ― Foco, Alois!

    Alois sentia que poderia fazer qualquer coisa, mesmo com seus poucos 12 anos; o garoto se mantinha firme, defendia-se e derrubava cavaleiros, mesmo com dificuldade.

    O pequeno Alois estava em seu cavalo em um terreno regular no campo de batalha quando um cavaleiro se aproximou, a ponto de golpear o garoto, que paralisou com a rápida aproximação do inimigo. Os olhos daquela mulher se abriram bruscamente e, em um ato rápido, ela se jogou junto com seu cavalo para a frente de Alois, que não conseguia se mover por causa do medo. Alois recobrou sua consciência ao ver sua heroína com uma espada atravessada na barriga.

    O soldado puxou a espada bruscamente, retirando-a da mulher, que caía de seu cavalo aos poucos, exclamando com voz rouca:

    ― Fuja!

    O garoto ofegava com lágrimas ao rosto. A mulher o olhou coberta de sangue, ergueu a mão com a espada de ouro enquanto caía, exclamando:

    ― É uma ordem! Vá!

    Alois largou sua espada metálica e agarrou a espada de ouro com as mãos trêmulas, deu meia-volta em seu cavalo e o guiou com velocidade, enquanto olhava para trás. Sua visão era cruel ― a mulher estava no chão de joelhos e estava sendo erguida pelos cabelos.

    O menino notou palavras mudas vindas da boca daquela mulher, que mantinha um sorriso ensanguentado, enquanto tinha a garganta cortada rispidamente por um soldado inimigo.

    Alois se ergueu na cama ofegante, acordando. Seus olhos se enchiam de lágrimas e tremor tomava seu corpo pouco a pouco. O rapaz colocou as mãos no rosto e, angustiado, exclamou para si mesmo, com voz ofegante:

    ― Essas lembranças não param de me atormentar! O que ela disse naquele momento? Eu não ouvi… ou não lembro?

    O rapaz se levantou de sua cama lentamente, foi ao lavatório e enxaguou o rosto. Alois retornou à cama, pôs as botas e, puxando um casaco grande e o vestindo, reclamou:

    ― Eu já tenho 26 anos, não deveria me preocupar tanto com isso.

    Alois se dirigiu à porta e, quando o rapaz saiu do quarto, deparou-se com uma confusão enorme ― pessoas indo e vindo com vestidos e doces. O rapaz gritou agoniado, enquanto apertava os cabelos:

    ― O que está acontecendo aqui?!

    Uma das damas parou seus passos e respondeu, assustada:

    ― A sua futura rainha, Mary, está aqui e ela exige vestidos e doces.

    No mesmo momento, Alois colocou um rosto de desgosto em si e pensou, enquanto se virou em direção ao quarto: Pelo amor de Deus! Mary não!

    Um grito estridente assustou Alois:

    ― Alois, querido! Há quanto tempo!

    Era Mary ― uma moça jovem e cordial, de cabelos ruivos longos ondulados, com corpo médio, seios médios, cintura larga e olhos verdes, um pouco mais baixa do que Alois ― que caminhava animada até o rapaz, acompanhada de sua dama de companhia, Joana ― uma jovem de cabelos loiros e olhos cor de mel.

    Alois se virou e, com um sorriso falso, falou:

    ― Mary, querida! O que faz aqui?

    A moça respondeu, com um olhar alegre:

    ― Vim ver o meu grande amor!

    Alois arfou, aproximou-se da moça, tocou seu ombro levemente e disse:

    ― Não use a palavra amor tão facilmente, Mary.

    ― O quê?! ― A moça se surpreendeu.

    A dama de companhia, Joana, lançou um olhar fulminante contra Alois, que, cansado e chateado com a situação, respondeu com rosto ríspido:

    ― Não nos conhecemos direito como um casal, entenda que nosso casamento é unicamente político, você não é obrigada a gostar de mim e nem eu sou obrigado a gostar de você como amante.

    Mary foi pega de surpresa e, decepcionada, ficou sem palavras. Joana pediu:

    ― Vamos para o quarto, minha senhora.

    Alois caminhou a frente, dizendo:

    ― Ainda não é tarde para encontrar alguém que goste verdadeiramente de você.

    Alois entrou em uma das salas do castelo em passos firmes, a conselheira o esperava; e, antes que pudesse falar, Alois ordenou:

    ― Mande Mary de volta!

    ― Mas, majestade…

    Alois puxou levemente o cabelo com uma das mãos e reclamou:

    ― Isso é uma loucura! Ela só tem 16 anos, pelo amor de Deus, ela é uma criança!

    ― Já é idade para casar, Majestade.

    ― Eu não vou tomar uma criança, eu não sou louco!

    ― Mas, majestade…

    ― Manda Mary de volta!

    A mulher se curvou, dizendo:

    ― Entendido, Majestade!

    A conselheira retornou de onde vinha e Alois se dirigiu para a parte de trás do reino; lá havia escravos de guerra de reinos pequenos recém-conquistados – dentre eles existiam crianças e adultos enjaulados e feridos. Os murmúrios eram incômodos e altos, principalmente os das crianças.

    Alois os olhou sem expressão e ordenou aos soldados:

    ― Tragam uma enfermeira com material de curativos, pão e água suficientes para todos. Diga a ela para curar as piores feridas dos soldados e todas as lesões das crianças. Alimente bem as crianças e as solte do lado de fora da muralha.

    Um dos soldados exclamou:

    ― Mas, Majestade…

    ― Faça agora! ― Ordenou Alois, em tom zangado.

    Os soldados se curvaram; e o rei se dirigiu para a catedral principal, que era enorme e dita pelo karaminianos como belíssima ― havia estátuas grandes de santos; as janelas exibiam eventos bíblicos em vidro colorido e o teto era uma verdadeira obra de arte pintado por grandes pintores trazidos de longe.

    Alois entrou e se dirigiu para o confessionário, ajoelhou-se e falou ao padre atrás da caixa:

    ― Padre, eu pequei.

    ― O que houve filho? ― Perguntou o padre, em tom acolhedor.

    Alois sorriu levemente e, com vergonha, disse:

    ― O mesmo de sempre.

    ― Sodomia? Se deitou com quantos homens?

    ― Dois, ao mesmo tempo.

    ― Isso é um pecado horrível, Vossa Majestade.

    ― Sim, eu sei. Por favor, pela graça de Deus, me puna como de costume.

    O padre ― um homem de cabelos castanhos e olhos verdes ― saiu do confessionário e levou Alois até uma sala velha com paredes imundas que se encontrava atrás do altar; o rapaz retirou as roupas até a cintura e se ajoelhou, havia marcas de cortes em suas costas, já cicatrizadas.

    O padre se aproximou com um chicote de couro, dizendo enquanto erguia:

    ― Cada pecado de sodomia tem como castigo 5 chibatadas.

    ― Eu sei, com isso serão 10. ― Respondeu Alois, enquanto apertava os olhos.

    O padre ergueu ainda mais seu chicote, dizendo:

    ― Senhor, este homem cometeu um pecado horrível, através do sangue dele, purifique-o.

    Alois se sentou nas próprias pernas e segurou os joelhos com força. O padre deu a primeira chibatada. Quando as dez chibatadas foram dadas, as costas do rapaz já estavam encharcadas de sangue. Uma freira se aproximou com panos e limpou o sangue do rapaz, que mantinha lágrimas no rosto.

    CAPÍTULO 2

    04 de Maio; madrugada

    Já havia se passado alguns dias depois da declaração de guerra; o exército e a cavalaria de Alois estavam prontos com armas às mãos, armaduras de bronze e capas brancas com pelagens para protegê-los do frio. Era um exército com treinamento rígido, a maioria guardava em si uma fé inabalável em seu Deus. Alois era, além de um bom rei, um líder militar excepcional. Aquela manhã estava gélida, os frontes se posicionavam à frente do palácio real. Naquele dia ocorreria o primeiro combate contra o reino de Tsuar.

    Alois colocou suas luvas, seu uniforme militar verde e preto e sua capa branca enorme; pegou sua espada – que lhe foi presenteada por aquela mulher tida como heroína pelo rapaz – saiu do palácio e subiu em seu cavalo branco.

    A cavalaria se moveu e passava pelas ruas do reino acompanhada do exército guiado por Alois; os súditos abriam passagem para a cavalaria; a população aplaudia e gritava: Vitória e honra!. As crianças olhavam para Alois com admiração; Alois, de fato, incentivava o desejo dos súditos pela carreira militar. Lutar ao lado de seu rei regido por Deus era considerada uma honra.

    Uma armadura de cristal se formava no corpo do rapaz por baixo da sua longa capa branca e seu cavalo recebia a mesma armadura se formando em pedaços que se uniam, encantando a todos.

    O exército e cavalaria se dirigiram para um território atrás das montanhas cobertas por neve; de lá avistaram um grande exército com mantos e capas negras e armaduras de bronze. Aquele confronto inicial seria épico: eram os dois maiores reinos do mundo, os mantos brancos contra os mantos pretos.

    O local era uma planície e não permitia vantagem a nenhum dos exércitos. A neve caia pouco a pouco. Alois observava em seu cavalo e a frente de seu exército branco o grande e poderoso exército inimigo.

    Do exército de mantos negros, saiu um homem de cabelos pretos curtos em seu cavalo preto e se pôs à frente da cavalaria; seu corpo emanava uma aura inabalável e seu rosto, coberto por uma máscara escura, gerava medo e intimidação na mesma medida.

    A hora havia chegado. Aquela neve no chão seria banhada por um vermelho vivo do sangue dos exércitos. Alois observou o homem da máscara preta e, franzindo as sobrancelhas, falou:

    ― Aquele é o general lendário?

    Um de seus generais respondeu calmamente:

    ― Provavelmente, Vossa Majestade.

    Alois riu, apertou a testa e respondeu:

    ― É ridículo e covarde, um reino que manda um general e não um rei para liderar a batalha. O general é meu!

    ― Tenha cuidado, Vossa Majestade, não o subestime.

    Alois assentiu com a cabeça, passou sua mão pela espada, cortando-a, o sangue de Alois escorria pouco a pouco; uma voz masculina falou aos ecos na cabeça de Alois: Novamente?! Deixe-me dormir!

    Alois inclinou os lábios em um leve sorriso, linhas verticais finas e pretas subiram do pescoço até o queixo do rapaz; seus olhos ficaram em cor azul brilhante e seu cabelo tomou um tom cinza claro. O jovem gritou para seu exército:

    ― Vitória e honra!

    Seu exército gritou de volta em um afronte contra o inimigo.

    O dito general lendário levantou a espada em um grito bravo de Força e coragem, e todo o exército negro se lançou contra o exército de Alois, que se ergueu rapidamente.

    As cavalarias se bateram e espadas se cruzavam a todo momento, homens caíam de seus cavalos, outros eram cortados ou pisoteados; pouco a pouco a neve se tornava vermelha. Alois se mantinha firme em seu cavalo derrubando inimigos com extrema violência, mas o confronto maior estava por vir, o general lendário se aproximou rapidamente até Alois que repetiu o ato, ambos levantaram as espadas e ela se cruzaram. Eram guerreiros excepcionais.

    O general ergueu a espada em direção a Alois, que a parou com a sua; enquanto apertava os dentes dizia:

    ― Então você é o general lendário?

    O homem não respondeu; os olhos antes castanhos escuros ficaram dourados e os cabelos saíram de uma cor preta para vermelho sangue. O general avançou em direção ao braço de Alois, que revidou, dizendo, surpreso:

    ― Você é amaldiçoado também?!

    Alois se jogou para o rapaz, ferindo parcialmente o cavalo dele – que, com a dor, derrubou o general. Alois desceu do cavalo, arrastando a ponta da espada no chão e, com um sorriso, berrou:

    ― Estás morto, escória!

    Alois ergueu a espada contra o rapaz, que desviou; uma chama enorme de fogo vermelho surgiu ao redor de Alois e se aproximaram com grande velocidade.

    Alois empurrou sua mão contra o chão e fez surgir pedaços de gelo em cristais endurecidos e cortantes, que prenderam as pernas do general, o qual incendiou o próprio corpo, derretendo o gelo; levantou sua espada prateada e se jogou contra Alois, que a segurou com a sua de ouro, dizendo:

    ― É um prazer duelar com o grande general lendário!

    O general empurrou sua espada contra o rapaz, fazendo-o se afastar alguns poucos metros. Os dois correram na direção um do outro, quebrando o chão conforme pisavam nele e emparelharam suas espadas. O general falou, com um sorriso por trás da máscara:

    ― O prazer é todo meu por duelar com o grande rei Sarun segundo.

    Com as espadas paradas, trêmulas e unidas, Alois debochou com um sorriso:

    ― Se ajoelhe e poderá me chamar de Alois.

    Ao ouvir o nome verdadeiro de Sarun, o general sentiu um pulsar forte de seu coração, a ansiedade o tomou. Um misto de surpresa e agonia tornaram, o inabalável general, um homem simples. Suas sobrancelhas franziram, seus dentes se apertaram e sua respiração se tornou mais lenta. Em meio a toda aquela sensação estranha, o general sentiu uma lentidão passar

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