Duas solidões: Um diálogo sobre o romance na América Latina
5/5
()
Sobre este e-book
Em setembro de 1967, Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa se encontraram em Lima para debater a literatura latino-americana. Gabo já havia vendido milhares de exemplares de Cem anos de solidão. Vargas Llosa tinha acabado de ganhar o Prêmio Rómulo Gallegos por A casa verde. Hoje, eles são considerados dois dos maiores expoentes da literatura em língua espanhola do mundo, mas, na época, estavam no início da carreira de romancistas.
O encontro foi gravado e, logo depois, a Universidade de Lima publicou uma transcrição da conversa, intitulada La novela latinoamericana, que rapidamente foi esquecida.
Duas solidões: um diálogo sobre o romance na América Latina é o encontro de dois grandes escritores, dois gênios literários, dois pontos de vista diferentes sobre literatura, dois temperamentos de certo modo contraditórios. A literatura latino-americana vivia seu boom, uma época em que o termo "realismo mágico" sequer havia sido cunhado. Nestas páginas apaixonantes, o leitor assiste a uma conversa sem igual.
Além da conversa entre os dois vencedores do Nobel, esta edição conta ainda com introdução de Eric Nepomuceno, tradutor de grandes obras de Gabo e amigo pessoal do autor, e também com textos de Socorro Acioli, autora de A cabeça do santo e aluna de Gabo na oficina de criação "Como contar um conto", e Pilar del Río, jornalista, escritora, tradutora, viúva de Saramago e presidenta da Fundação José Saramago. Ao final do volume, temos uma entrevista com Vargas Llosa sobre a vida e a obra do autor colombiano e um encarte com fotos que registram o encontro dos dois escritores.
"Há lições mais valiosas nesse livro do que em qualquer curso de literatura." – Juan Gabriel Vásquez
"Houve milhares de conversas literárias sobre esse tema, especialmente agora, no período de pandemia. Mas esta, lida mais de meio século depois de ter sido escrita, e após tanta água literária passada debaixo da ponte, traz questões fundamentais." – Sergio Ramírez, El País
Relacionado a Duas solidões
Ebooks relacionados
O CORREIO DA ROÇA - Julia Lopes de Almeida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCangaços Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGarcía Márquez: História de um deicídio Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMinha vida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPor que eu escrevo & outros textos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDiatribe de amor contra um homem sentado Nota: 5 de 5 estrelas5/5A viagem Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Causa Secreta Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMachado & Shakespeare: Intertextualidades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSuplemento Pernambuco #191: Morangos mofados Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBula para uma vida inadequada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Volta do Parafuso seguido de Daisy Miller Nota: 4 de 5 estrelas4/5A FILHA DO CAPITÃO - Pushkin Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Retrato de Dorian Gray Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Sra. Dalloway Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPrimeiros contos de Truman Capote Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEncontro de Marés Nota: 0 de 5 estrelas0 notasKatherine Mansfield: Contos Selecionados Nota: 5 de 5 estrelas5/5Essa coisa brilhante que é a chuva Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVitória Nota: 4 de 5 estrelas4/5Seleta: Um mundo de brevidades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEste Lado do Paraíso Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO curioso caso de Benjamin Button Nota: 5 de 5 estrelas5/5O frágil toque dos mutilados Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPRIMEIRO AMOR - Turguêniev Nota: 4 de 5 estrelas4/5Cartas a um Jovem Poeta Nota: 5 de 5 estrelas5/5O fim do ciúme e outros contos Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Número da Sepultura Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os mortos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Madame Bovary Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Crítica Literária para você
O mínimo que você precisa fazer para ser um completo idiota Nota: 2 de 5 estrelas2/5Olhos d'água Nota: 5 de 5 estrelas5/5Coisa de menina?: Uma conversa sobre gênero, sexualidade, maternidade e feminismo Nota: 4 de 5 estrelas4/5História concisa da Literatura Brasileira Nota: 5 de 5 estrelas5/5Cansei de ser gay Nota: 2 de 5 estrelas2/5A Literatura Portuguesa Nota: 3 de 5 estrelas3/5Um soco na alma: Relatos e análises sobre violência psicológica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComentário Bíblico - Profeta Isaías Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHécate - A deusa das bruxas: Origens, mitos, lendas e rituais da antiga deusa das encruzilhadas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Literatura: ontem, hoje, amanhã Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPara Ler Grande Sertão: Veredas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRomeu e Julieta Nota: 4 de 5 estrelas4/5Sobre a arte poética Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os Lusíadas (Anotado): Edição Especial de 450 Anos de Publicação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFelicidade distraída Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Literatura Brasileira Através dos Textos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistória da Literatura Brasileira - Vol. III: Desvairismo e Tendências Contemporâneas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA formação da leitura no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Jesus Histórico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEscrita não criativa e autoria: Curadoria nas práticas literárias do século XXI Nota: 4 de 5 estrelas4/5Fernando Pessoa - O Espelho e a Esfinge Nota: 5 de 5 estrelas5/5Palavras Soltas ao Vento: Crônicas, Contos e Memórias Nota: 4 de 5 estrelas4/5A arte do romance Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAulas de literatura russa: de Púchkin a Gorenstein Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMimesis: A Representação da Realidade na Literatura Ocidental Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPerformance, recepção, leitura Nota: 5 de 5 estrelas5/5Introdução à História da Língua e Cultura Portuguesas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Não me pergunte jamais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO tempo é um rio que corre Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Avaliações de Duas solidões
1 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Duas solidões - Gabriel García Márquez
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
García Márquez, Gabriel, (1927-2014)
G21d
Duas solidões [recurso eletrônico] : um diálogo sobre o romance na América Latina / Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa ; tradução Eric Nepomuceno. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Record, 2022.
recurso digital
Tradução de: Dos soledades : la novela en América Latina
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5587-600-0 (recurso eletrônico)
1. Literatura latino-americana - História e crítica. 2. Escritores hispano-americanos. 3. Livros eletrônicos. I. Llosa, Mario Vargas. II. Nepomuceno, Eric. III. Título.
22-79283
CDD: 860-9
CDU: 82-09(8)
Meri Gleice Rodrigues de Souza – Bibliotecária – CRB-7/6439
Copyright © Mario Vargas Llosa, e herdeiros de Gabriel García Márquez, 2021 Copyright © das fotos: Arquivo revista Caretas
Copidesque: Mariana Carpinejar
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Os direitos morais dos autores foram assegurados.
Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa somente para o Brasil
adquiridos pela
EDITORA RECORD LTDA.
Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: (21) 2585-2000, que se reserva a propriedade literária desta tradução.
Produzido no Brasil
ISBN 978-65-5587-600-0
Seja um leitor preferencial Record.
Cadastre-se no site www.record.com.br e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções.
Atendimento e venda direta ao leitor:
sac@record.com.br
SUMÁRIO
Anotações sobre Duas solidões e sua grandeza, Eric Nepomuceno
Duas solidões, Pilar del Río
Instaurar o impossível, Socorro Acioli
O ROMANCE NA AMÉRICA LATINA. Diálogo entre Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez (Lima, 5 e 7 de setembro de 1967)
Primeira parte
Segunda parte
García Márquez por Vargas Llosa
Anotações sobre
Duas solidões e sua grandeza
Eric Nepomuceno
1.
Em setembro de 1967, ocorreram dois encontros em Lima, capital do Peru, na Faculdade de Arquitetura da Universidade Nacional de Engenharia, reunindo o escritor peruano Mario Vargas Llosa e seu colega de ofício, o colombiano Gabriel García Márquez.
Na verdade, a proposta inicial era fazer um único evento, uma espécie de diálogo aberto ao público. Acontece que o êxito foi tão grande que a conversa iniciada à uma e meia da tarde da terça, dia 5, continuou na quinta.
Já no primeiro dia, não havia mais nenhuma das trezentas poltronas sem um ocupante ansioso pelo começo da conversa. Nem havia espaço para os que se dispusessem a sentar no chão, já abarrotado, ou a ficar em pé, recostados nas paredes. Foi permitido até mesmo um semicírculo de cadeiras no próprio palco, atrás da mesa onde estavam os responsáveis pelo ato e, claro, as duas estrelas da jornada.
Além disso, foram instalados alto-falantes no pátio, e o mesmo cenário se repetiu no segundo encontro, com jovens chegando com uma hora de antecedência para conseguir lugar lá dentro.
Na época, o que foi dito acabou sendo publicado em um livro, iniciativa de quem realizou o evento, o dramaturgo peruano José Miguel Oviedo, contemporâneo e amigo de Vargas Llosa.
Depois de esgotar a edição, o livro sumiu para só reaparecer agora, passados mais de cinquenta anos.
Durante esse longo tempo, as poucas cópias sobreviventes eram reproduzidas e circulavam como tesouro nas mãos de aspirantes a escritor, tanto no Peru como na Colômbia.
2.
É importante relembrar qual era o cenário das nossas comarcas em setembro de 1967 e recordar quem eram, naqueles tempos, Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez.
A América Latina vivia sufocada por ditaduras militares de maior ou menor ferocidade, mas todas brutais.
Se no Paraguai o eterno Alfredo Stroessner cumpria treze anos no poder, na Nicarágua Anastasio Somoza Debayle dava continuidade à dinastia familiar de mais de três décadas. No Panamá, o presidente Marco Aurelio Robles Méndez, que tinha sido afastado pela Assembleia Nacional, permanecia no posto graças à ação da Guarda Nacional.
Na Bolívia sempre sacudida por quarteladas, o general René Barrientos estava aboletado na presidência, da mesma forma que o general Juan Carlos Onganía encabeçava a ditadura na Argentina.
E, enquanto no Brasil o ditador da vez era Artur da Costa e Silva, o Peru aparecia como uma das pouquíssimas exceções do continente, pois era governado por um presidente eleito, Fernando Belaúnde Terry.
É também importante recordar que a imagem da América Latina havia conquistado espaço no mundo graças aos reflexos — tanto positivos como negativos — da Revolução Cubana, que tinha acontecido oito anos antes. Nossas próprias comarcas deste continente esgarçado punham as atenções na ilha caribenha, que também ganhara espaço entre nossos artistas e intelectuais.
A imensa maioria dos golpes de Estado e das ditaduras então implantadas faziam parte da Guerra Fria. A oposição a Cuba era, acima de tudo, parte dos serviços prestados a Washington.
Curiosamente, tanto Vargas Llosa como García Márquez se diziam, quando se deu o diálogo registrado neste livro, ardorosos adeptos da Revolução Cubana.
A partir de 1971, o peruano foi mudando de lado, primeiro aos poucos, depois com mais vigor, até chegar ao avesso. Já o colombiano permaneceu fiel até o fim.
3.
Quanto ao entrevistado naquele setembro aos 40 anos, García Márquez começava a passar da situação de escritor conhecido quase que só entre seus pares e por alguns estudiosos para se tornar figura pública graças ao sucesso retumbante de seu Cem anos de solidão, publicado três meses antes, lá se vai já mais de meio século.
Era o autor de pequenas joias de valor inestimável como Ninguém escreve ao coronel e A incrível e triste história da cândida Erêndira e sua avó desalmada, havia conquistado alguns prêmios, mas as vendas de cada livro não ultrapassavam a marca dos mil e poucos exemplares.
Estava, pois, a milhas marítimas de distância do prestígio e da popularidade de seu anfitrião.
É verdade que, um ano antes, o chileno Luis Harss havia incluído García Márquez entre os principais narradores latino-americanos em seu fundamental livro Los nuestros, mencionando a ainda inédita obra que seria a glorificação do colombiano, Cem anos de solidão.
Outro que também teve acesso aos originais, o já então consagrado mexicano Carlos Fuentes, dizia que o livro, terminado em junho de