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Sacerdotiza
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E-book320 páginas5 horas

Sacerdotiza

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Sobre este e-book

A complexidade da vida e suas inter-relações com o material, o espiritual e sentimentos. O romance Ontem no Hoje relata a trajetória de uma mulher contemporânea, suas angústias, medos, insegurança e, principalmente, os fatos do cotidiano que a empurraram para uma experiência mística, que lhe abriu os horizontes e transformou seu psiquismo. A autora demonstra como um ser humano pode tornar-se um guerreiro obstinado, otimista e corajoso, vencendo qualquer obstáculo. A personagem central do romance constrói para si um novo mundo de vitórias que se estende ao campo profissional e amoroso. A obra faz evocar, em todos os que desejam aceitar o desafio de ser feliz, o otimismo da luta pelos seus desejos mais caros. De forma sutil, deixa uma mensagem de amor e coragem, colocando sua personagem principal como a transmissora dessa filosofia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de mar. de 2019
Sacerdotiza

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    Sacerdotiza - Silvia R. Pellegrino

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    Sylvia Regina Pellegrino

    A Sacerdotisa

    1a. edição e-book

    Direitos autorais

    Silvia Regina Pellegrino Freitas da Rocha

    Pseudônimo da autora

    Sylvia Regina Pellegrino

    e-book editado no formato Kindle

    A SACERDOTISA
    Início de nova caminhada

    Uma solitária é o que era aquela bela mulher, que distraidamente atravessava a rua. Seu pensamento vagueava entre tantos sonhos e desejos, que no íntimo definia como irrealizáveis. A vida parecia-lhe em especial monótona naquele momento.

    Sem querer esbarrou em uma senhora de seus cinquenta anos, pediu desculpas e já ia, apressadamente, seguir seu destino. Para surpresa sua, a senhora resolveu sorrir-lhe e perguntar sobre sua tristeza, que devia estar estampada na face.

    Diante daquela constatação ficou consternada, como criança pega em flagrante peraltice. Mas, após alguns segundos de reflexão, pensou que a vida não nos dá sempre oportunidades e que devia aproveitar aquela, dada tão graciosamente. Seguindo seu instinto, deixou fluir a conversa e, um tanto quanto envergonhada, confessou sua solidão e aquela sensação incômoda de sentir-se infeliz, apesar da beleza do dia ensolarado, das flores da rua XV de Novembro, de fisicamente ser uma pessoa saudável, enfim, diante de tantas bênçãos divinas.

    A estranha, mas simpática senhora, convidou-a para um café em sua residência, ali perto. Diante do inusitado convite, não resistiu à tentação e acompanhou-a até seu apartamento.

    Era um belo apartamento, decorado com bom gosto e requinte. Percebeu, no entanto, que os quadros eram só de pintores baianos, com motivos regionais. Intrigou-a aquela obsessão por obras de arte daquela região e, levada pela curiosidade incontrolável, comentou:

    — Vejo que tem muito bom gosto em matéria de decoração, mas o que me intriga é perceber sua obsessão por obras de arte de pintores baianos.

    — Ah! Isso se deve a minha crença. — disse-lhe a senhora.

    — Sua crença? — questiona a jovem mulher, entre intrigada e curiosa.

    — Exatamente. Sou participante de Candomblé, por isso meu interesse por tudo que diz respeito àquela região do Brasil. Além do mais sou uma espiritualista convicta e... ainda, sou descendente de ciganos.

    Olhou-a espantada e observando seus modos refinados, o elegante apartamento, não atinava como aquela senhora podia fazer parte de costumes tão primitivos.

    — Entendo seu espanto, porém não o abono. — falou a senhora em tom de crítica.

    — Como assim? — perguntou a jovem mulher, sem entender como aquela senhora havia percebido o que se passava em sua mente e o seu preconceito sobre o tema.

    — Porque vocês aqui do sul imaginam tolices em relação à crença do Candomblé. Não há similaridade com feitiçaria, mas sim rituais antigos que são respeitados desde nossos ancestrais. A própria Igreja Católica não tem tantos rituais que são seguidos até os dias de hoje?

    — Sabe, percebi que estou eu cá, após ser delicadamente convidada ao recesso de seu lar, fazendo críticas silenciosas sobre seu modo de viver e crer, sem ao menos ter me apresentado...

    — O fato de fazer críticas, como já lhe disse, eu compreendo, posto que é hábito das pessoas, mesmo desconhecendo o assunto, criticá-lo, desde que não faça parte do alcance de seu entendimento. Quanto a nos apresentar, meu nome é Carmen e o seu qual é?

    — Sandra.

    — Pois muito bem Sandra, já nos apresentamos.

    — Apenas isto?!! Não deseja saber quem é essa pessoa, a qual convidou para sua casa?

    — O que, por exemplo? — perguntou Carmen.

    — Ora, a minha profissão, onde moro, enfim detalhes que a façam confiar em mim.

    — Minha cara, esses são detalhes insignificantes, diante do caráter que está sempre estampado no semblante da pessoa.

    — Mas... como consegue definir o caráter das pessoas apenas pelo seu semblante.

    — Através da minha crença, que me ensinou como fazê-lo.

    — Como uma crença tão primitiva... — começou, timidamente Sandra, a questionar.

    — Antiga. — atalhou Carmen.

    — Desculpe, antiga. — consertou Sandra.

    — Isso é um estudo de anos sobre os costumes de nosso povo, que passa de gerações para gerações.

    — Por que fala nosso povo, já que percebo ser brasileira? — perguntou Sandra, de certa forma divertida e curiosa.

    — Porque como descendente de africanos posso dizer que somos um povo com usos e costumes, independente da nação onde estivermos, assim também acontece com o povo cigano que tem seus usos e costumes diversos de qualquer nação.

    — Por que há tanta confusão quanto ao que seja o Candomblé?

    — Exatamente pelo que disse anteriormente. Existe total desconhecimento de seu povo pelos costumes do meu e, como o desconhecimento traz o medo, formulam-se várias definições não verdadeiras. De forma simplista há muita similaridade com o Kardecismo, assim também uma miscigenação com a Igreja Católica.

    — Entendo... — fala Sandra, sem convicção.

    Carmen, percebendo a maneira não convicta de Sandra, resolve explicar um pouco sobre os fundamentos do Candomblé.

    — Ocorre que dentre os povos africanos trazidos ao Brasil entre os séculos XVI e XIX estavam em maior número os Iorubás e os Bantos, oriundos da Nigéria e do Congo, atualmente Congo e Angola. Tais povos tinham uma estrutura econômica e social bastante complexa e avançada para a época. Estavam organizados em Reinos, que ocupavam imensas áreas de terras divididas em províncias, distritos e aldeias. Sua estrutura de comunicações era avançada. Possuíam manufatura, metalurgia, comércio, finanças, governo e força militar. Tinham como traço característico e comum a organização matriarcal nas aldeias, o que se refletia em sua religião.

    Percebendo o interesse de Sandra, continuou:

    — Sendo muito organizada, complexa e rica, a religião desses povos contava com dois tipos de hierarquia sacerdotal: as mulheres eram responsáveis pelo contato direto com os deuses, por intermédio do êxtase ritual e dos cuidados do templo; os homens cuidavam da adivinhação e da cura.

    Os Iorubás cultuavam os Orixás e esses deuses tinham como característica a jovialidade. Esse povo se mantinha distante do culto aos mortos.

    Já os Vodus do Daomé, alguns dos quais chegaram ao Brasil trazidos diretamente pelos Jeje ou por meio da religião Iorubá, eram deuses austeros e temíveis, muito ligados à terra e à morte.

    Os Inkices, deuses dos Bantos, foram assimilados pelos Orixás que a eles se pareciam.

    Com o início da colonização do Brasil, os Bantos foram trazidos para cá e foram pouco a pouco se espalhando pelo território nacional, com isso tendo grande contato com os portugueses e com os índios. Dessa mistura restou uma miscigenação da religião Banto com o xamanismo indígena e as crenças religiosas e mágicas dos europeus. Dessa forma, enquanto a religião Iorubá foi renascendo e se reorganizando na Bahia, onde esse povo ficou mais concentrado, a religião Banto foi amalgamada com inúmeros outros elementos, desde os rituais caboclos até o espiritismo abraçado pelas classes médias urbanas no final do século XIX, resultando numa religião totalmente nova e essencialmente brasileira.

    Inobstante isso, eu tenho uma crença pessoal que exercito e, posso dizer, é o somatório de toda essa gama de tradições da qual descendo e de todo estudo por mim encetado ao longo da minha vida. Desse somatório deduzi algumas leis. A primeira é a Lei da Causa e Efeito. Aquilo que você causar a outrem estará criando um campo energético propício para que retorne a você, seja o bem, seja o mal. Nós somos basicamente energia. Nossos pensamentos são energia pura. Vivemos num mar de energia impalpável, propiciando aos nossos pensamentos, como ondas de rádio, caminharem e encontrarem seu alvo.

    — Neste caso, para que rituais? — replica Sandra.

    — São tradições de meus antepassados africanos, as quais respeito muito e que me ajudam na concentração para alcançar os meus mais caros desejos, como por exemplo a ajuda ao meu próximo.

    — Similarmente ao pedido que fazemos aos santos da Igreja Católica? — pergunta, interessada, Sandra.

    — Não exatamente. Nós, os descendentes de africanos, desejamos e acreditamos que vamos receber. Como disse, nosso pensamento é energia pura e ele caminhará em busca da energia igual para a concretização daquilo que queremos. A possibilidade de concretização de nossos desejos está diretamente atrelada ao quanto conseguimos concentrar e acreditar naquilo que pensamos. Daí a necessidade de aprendermos a nos concentrar corretamente. Como nossos antepassados nos legaram rituais, que nos colocam diretamente ligados aos Orixás, comandantes daquela energia que necessitamos para a concretização de nossas metas, é que fica importante e necessária toda essa ritualística.

    — Começou a ficar complicado para a minha compreensão — declara Sandra.

    Diante da declaração de Sandra, Carmen resolve parar com todas as suas explicações e convida Sandra para um café. Vai até a cozinha e prepara o cafezinho que deixa no ar aquele aroma típico e agradável.

    Após tomarem o café, Sandra assusta-se como as horas passaram rápido e diz que necessita ir embora. Carmen dá-lhe seu número de telefone e pede que ligue para marcarem nova conversa, caso o papo lhe tenha sido agradável.

    Prometendo retornar em breve, Sandra se retira apressadamente.

    Chega em casa, achando que o filho a estava esperando angustiado, e percebe que o garoto está brincando animado com aquele novo amiguinho da escola.

    Beija o filho e fica com o coração aliviado e feliz de saber que o menino, antes tão arisco pela convivência apenas com adultos, já conseguia comunicar-se com maior facilidade com crianças de sua idade, tanto que até carregou o amigo para dentro de casa.

    Alegre vai para a cozinha e prepara um lanche bem gostoso para ambos, que fazem a festa ao perceber os sanduíches e sucos colocados na bandeja, ao lado do Forte Apache, o jogo com o qual estavam totalmente distraídos.

    Deixa os meninos a sós, envolvidos com os brinquedos, e vai para a sala. Coloca um disco de música romântica para tocar e volta aos seus sonhos.

    Devaneia, enquanto a música soa no aposento.

    De repente começa a pensar na filosofia de Carmen, na forma como ela vê as coisas. Em como acredita com tanta força de que é capaz de realizar seus desejos, na medida de sua concentração neles. Imagina como poderia ser feliz se pudesse também acreditar daquela forma, mas, como Carmen deixou claro, aquilo era uma crença de seu povo.

    Foi para a janela do quarto e viu o sol morrer lentamente no horizonte. A música já havia cessado e seus pensamentos voaram para aquela cidadezinha do interior, onde havia se casado e tinha tido uma vida tão pacata, sem grandes aspirações. Como ocorreu o acidente de carro, levando à morte seu marido e deixando seu filho órfão de pai. Relembra sua vinda para a capital, a época difícil em que teve que aprender a viver sem seu companheiro e ser a única responsável pelo filho. Apesar de no início contar com a ajuda da mãe, a responsabilidade sobre o filho era apenas sua. Depois sua mudança para aquele apartamento. Como sentiu-se uma heroína quando conseguiu vender sua casa na pequena cidade do interior do Mato Grosso do Sul e comprar aquele apartamento na capital do Paraná. Não restava dúvida de que muita coisa já havia sido enfrentada, mas ainda a assustava o mundo lá fora. Seu lar era como um oásis, onde bebia da fonte mais fresca e límpida e podia repor suas energias.

    Ao pensar em energia, novamente seu pensamento foi tomado por Carmen e toda aquela crença sobre energia, concentração de pensamento, desejos realizados.

    Imaginou-se desejando um bom emprego, que lhe trouxesse fundos suficientes para proporcionar ao filho a permanência naquele bom colégio, onde conseguira a bolsa de estudos, com a ajuda de alguns amigos que conheciam a Diretora, mas sabia também que a tal bolsa não seria eterna.

    Caso aquela filosofia fosse realmente verdadeira e tivesse algum fundamento, com toda a certeza ela conseguiria aquele emprego.

    Não deixaria dúvidas invadirem sua mente, não imaginaria como conseguiria o emprego, apenas acreditaria e ponto.

    Saiu de seu devaneio quando percebeu que o garoto, amigo de seu filho, já havia ido embora para casa e Marcelo já estava no banho. Correu para a cozinha e aprontou rapidamente um jantar.

    Ao deitar naquela noite sentiu uma alegria inefável invadir lentamente seu peito e... deixou-se levar para os braços de Morfeu.

    O dia seguinte amanheceu ensolarado. Sandra acordou com um ânimo renovado como há muito não acontecia.

    Marcelo já estava na cozinha batendo sua vitamina.

    Fez um café, aqueceu o leite e sentou-se para tomar seu desjejum. O garoto, como sempre, apressado, beijou-a na face e despediu-se com um: Até o almoço, mãe!

    Olhou novamente a geladeira para certificar-se de que o almoço estava pronto para ser aquecido ao voltar da Faculdade onde lecionava.

    A vida corrida de professora às vezes a cansava e imaginava se não deveria mudar sua profissão. Tentar ser secretária de uma grande empresa. Afinal falava e escrevia correntemente o francês e o inglês. Deveria tentar sim. Planejou preparar seu currículo durante os intervalos das aulas e enviá-lo para grandes empresas radicadas em Curitiba. Este pensamento a animou e saiu feliz para sua caminhada até a Faculdade. Pelo menos, por uma coisa era feliz, não precisava enfrentar academia e fazer ginástica para manter a forma. As suas caminhadas até o trabalho já eram suficientes. Deu risada, intimamente, desse pensamento e apressou o passo.

    Os colegas acharam-na especialmente bonita naquele dia. Diziam haver no seu rosto um colorido não comum. Alguns mais ousados perguntaram-lhe se havia algum caso de amor às escondidas.

    Contrariamente a todos os dias ela não ficou ofendida com essas perguntas. Simplesmente sorriu e deixou no ar uma ponta de dúvida.

    Após toda a correria das primeiras aulas, pôde, no intervalo para a última aula da manhã, sentar à frente da máquina elétrica e datilografar seu currículo. Depois do término do turno da manhã passou pela copiadora da esquina e extraiu várias cópias xerográficas. Na papelaria mais próxima comprou vários envelopes grandes para remeter os currículos sem dobrá-los.

    Ao chegar em casa, com o assunto bailando na cabeça, resolveu ligar para Ana, sua melhor amiga, e contar a novidade.

    — Ana? É Sandra.

    — Ora, que milagre é esse, você telefonar no horário de almoço. Vive dizendo que sua vida está uma correria e que esse horário é impossível.

    — Vamos lá, não brigue comigo. Estou louca para lhe contar a novidade.

    — O que é? Achou o homem da sua vida?! — atalhou Ana de maneira divertida.

    — Você é impossível. — replicou Sandra, já dando risada.

    — Então diga logo. — concluiu Ana, de forma expedita.

    — Vou mudar de emprego. — respondeu Sandra.

    — Para onde você vai, afinal? — questionou a outra.

    — Bem... ainda não sei ao certo. Mas decidi que vou mudar de profissão. Providenciei meu currículo, extraí várias cópias e vou enviá-las a empresas de grande porte, aqui em Curitiba. Que tal?!

    — Você ficou maluca, amiga? Ou, quem sabe andou bebendo. Eu não conhecia essa sua faceta. O que foi que aconteceu afinal? Você sempre foi tão centrada, toda certinha. E de repente, isso. Sequer sabe para onde vai e já me liga, na hora do almoço, para dizer que vai mudar de emprego? — fala Ana, dando risada.

    — Oh! Desculpe ter ligado neste horário. Fiquei tão contente com a minha decisão que precisava contar a alguém especial. — diz Sandra, já consternada.

    — Primeiro, obrigada pelo especial, gostei muito. Depois, não tem a menor importância o horário, para mim. Preocupei-me com você que está sempre correndo. — responde Ana entre feliz e divertida.

    — Para dizer a verdade já estou atrasada, mas obrigada por ouvir-me, um beijo. — diz Sandra em tom de pressa.

    — Um beijo e boa sorte na empreitada. — conclui Ana.

    Ao olhar o relógio de pulso Sandra apressa-se em aquecer o almoço e escolher, dentre as três toalhas floridas na gaveta, a mais bonita. Vai até a sala de jantar estende a toalha, pega os pratos de porcelana, os talheres do faqueiro, os guardanapos, as taças de cristal, ainda da época do casamento, o vinho que estava guardado para ocasião especial e, após tudo devidamente arrumado sobre a mesa, aprecia o resultado, feliz.

    Marcelo chega e olhando todo aquele aparato pergunta se haviam ganho na loteria.

    Sandra responde, divertida:

    — Não, apenas resolvi que vou mudar de profissão e que vamos mudar de vida.

    — E como você vai fazer isso, mãe? perguntou o garoto, entre divertido e espantado.

    — Vou enviar meu currículo a várias empresas, tentando o cargo de secretária. — responde Sandra.

    — Mas você sempre disse que jamais deixaria de ser professora, que dar aulas fazia parte de sua vida! — atalha Marcelo, preocupado.

    — Porém, mudei de idéia. É mudando de idéia que a gente cresce. Quero me dar chance de mudar de vida, de melhorar. Ser professora no Brasil não é nada gratificante, porque ninguém reconhece o seu trabalho. Nosso País precisa evoluir muito nesse aspecto. A única gratificação que se tem é o aprendizado dos alunos, mas isso não basta. O ser humano precisa evoluir em todos os sentidos, tanto no intelectual, como no material e financeiro, assim como no social. A vida é uma escola de eterna evolução e crescimento para todo o ser humano. — ensina Sandra ao filho.

    — Ser secretária vai fazê-la feliz? Se isso acontecer vou torcer por você, para que tudo dê certo e alguém possa contratá-la. — diz o garoto com carinho.

    Sandra sentiu-se extremamente feliz com a conversa com o filho e desejou intimamente que todas as suas aspirações se concretizassem logo.

    Voltou à Faculdade, para o período da tarde, menos angustiada porque pressentia que sua vida tomaria um rumo diferente em muito pouco tempo.

    De repente estranhou ao perceber que a conversa com aquela senhora, Carmen, havia mudado muito o seu psiquismo.

    Anteriormente uma pessoa pessimista, derrotista, agora se via como uma otimista e corajosa. Seus medos estavam bem minorados. Resolveu que deveria entrar em contato com Carmen o mais breve possível, para agradecer-lhe a melhora em si mesma.

    Decidiu que iria ligar para Carmen na quarta-feira seguinte, quando tinha horário livre na parte da tarde. Os alunos teriam um seminário e ela estava dispensada daquelas aulas. Rezou intimamente para que Carmen pudesse estar em casa naquele horário.

    O dia seguinte transcorreu arrastado. A agonia de Sandra para que aquele dia passasse aumentou quando percebeu que sequer poderia ir almoçar em casa, com o filho. Tudo parecia conspirar para que as horas demorassem.

    Conseguiu ir para casa fazer um lanche entre às 18 e 19 horas, quando conversou com Marcelo, rapidamente , e voltou à Faculdade para as aulas noturnas, com intervalos entre a primeira e a última aula da noite. Voltou esfalfada para casa. Os pés doíam imensamente dentro dos sapatos de salto alto. As costas estavam doloridas. Beijou Marcelo já meio adormecido — não aguentou esperá-la, como na maioria das noites — tomou um banho e caiu na cama num sono quase imediato.

    Na manhã seguinte tinha mais certeza ainda de sua decisão de mudar de profissão. Não podia levar a vida sem ver seu filho crescer, sem estar com ele pelo menos durante as noites, mas sabia que, enquanto desse aulas, precisava daqueles horários todos e, evidentemente, do dinheiro que aquelas aulas lhe proporcionavam. Era a única forma de ter e dar o mínimo de conforto, alimentação e vestuário para si e filho.

    Entre os intervalos da manhã lembrou-se de ligar para Carmen. Para sua alegria a própria Carmen atendeu e marcaram encontro, na casa de Carmen, para a parte da tarde daquela quarta-feira. Ambas estavam imensamente felizes quando desligaram. Sabiam que ali se iniciava uma grande amizade, inobstante a diferença de idade entre elas.

    Naquela tarde, exatamente às 14 horas, Sandra tocava a campainha no apartamento de Carmen.

    Feliz, Carmen convidou-a a entrar. Sandra um tanto tímida, ainda, entrou naquele apartamento tão agradável, energeticamente falando. Riu, por dentro, ao pensar como Carmen já a havia influenciado, com aquela história de que tudo tem energia, boa ou ruim.

    Imediatamente após convidá-la para sentar, Carmen foi até a cozinha e trouxe um cafezinho recém passado, por isso o aroma já estava no ar, quando Sandra entrou no apartamento.

    — Como passou esses dias? — perguntou Carmen a Sandra.

    — Para lhe dizer a verdade este é o principal motivo que me trouxe até aqui com tanta rapidez. — disse Sandra.

    — Como assim? — retorquiu Carmen.

    — Eu sempre fui uma pessoa pessimista. Depois que a conheci tenho estado com mais ânimo, acreditado mais em possibilidades positivas para a minha vida. Enfim, estou uma pessoa mais alegre e feliz. Dá para acreditar? — pergunta Sandra.

    — Dá. — responde Carmen.

    — Por que você é tão enfática em sua resposta? Você mal me conhece. Depois, por que tanto tempo perdido com uma pessoa como eu, tão desconhecedora da espiritualidade? — questiona Sandra, um tanto assustada com a objetividade da futura amiga.

    — Primeiro, por notar que você, com seus 25 anos, já pratica uma lei bastante difícil de ser exercitada: a Lei da Gratidão. Você se dispôs a vir em minha casa com o coração cheio de gratidão porque sentiu-se ajudada e, segundo, pelo simples fato de que existe uma outra lei na qual acredito sobremaneira. A Lei da Afinidade. Somente os afins se aproximam por acaso. As pessoas afins espiritualmente são puxadas para perto uma das outras. Nós somos afins, por isso fomos levadas a nos encontrar. Temos algo a aprender e ensinar uma a outra. Portanto, é importante que conversemos, nos comuniquemos. Sempre haverá alguma coisa a aprender ou a ensinar. E, evidentemente, já consegui passar para você um pouco do meu otimismo e crença na vida. — fala Carmen.

    — Mas acontece que eu nada tenho a lhe ensinar. Primeiro pela minha idade e, segundo, pela minha própria inexperiência de vida. — diz Sandra, muito constrangida.

    — Somente a nossa convivência dirá o que você tem a me ensinar. Depois a idade cronológica não quer dizer absolutamente nada para essa lei, o que vale é a idade espiritual. — ensina Carmen.

    — Idade espiritual?! O que quer dizer isso? — questiona Sandra com indizível espanto.

    — Ora, essa é uma forma de expressão somente. Quer dizer quão velho é o espírito. Quantas vezes uma pessoa veio a este planeta. Quantas vezes ela encarnou.

    — Sua maneira de ver as coisas é bastante nova para mim. Acho que o meu mundo ainda é bastante pequeno e a minha visão estreita. Minha vida tem sido uma correria atrás de bens materiais para suprir o mínimo para minha subsistência e de meu filho. — diz Sandra.

    — Ah! Você tem um filho? — pergunta Carmen, já em tom de constatação.

    — Sim, um garoto de oito anos. O nome dele é Marcelo. — responde Sandra, com o rosto iluminado.

    — Vejo que esse filho é uma luz em sua vida. — assevera Carmen.

    — Ele é tudo para mim. — conclui Sandra.

    — Ninguém é tudo para alguém, Sandra. Temos afinidades com vários espíritos aqui encarnados e não encarnados. No momento Marcelo é um espírito encarnado, que faz parte de sua família espiritual e que também faz parte de sua família física. Realmente isso é uma bênção.— instrui Carmen.

    — Realmente ele é muito especial para mim.— apressa-se Sandra.

    — Então isso quer dizer que vocês já devem ter vindo juntos em várias encarnações. —

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