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Sangue Dos Inocentes
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E-book424 páginas6 horas

Sangue Dos Inocentes

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Sobre este e-book

1475, um mundo sombrio e cruel. A caça às bruxas está em pleno andamento e muitas vidas estão sendo ceifadas. Hector, um homem consumido por vingança e ódio, jura matar todos os responsáveis pela morte de sua amada esposa. Do outro lado, Catalina, uma jovem iluminada, enfrenta todos os perigos para encontrar seu amado pai desaparecido. Quando seus caminhos se cruzam, eles precisam superar suas diferenças e unir forças em uma jornada repleta de ação e aventura, onde a sobrevivência é a única opção. Com um enredo intrigante e personagens carismáticos, essa história vai prender a sua atenção do começo ao fim, não perca essa incrível aventura!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de abr. de 2021
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    Sangue Dos Inocentes - Laurence Sorene

    SANGUE

    DOS

    INOCENTES

    Editor responsável

    Esta obra é uma publicação da

    Zeca Martins

    Editora Livronovo Ltda.

    CNPJ 10.519.6466.0001-33

    Lilian Nocete Mescia

    www.editoralivronovo.com.br

    Capa

    @ 2021, São Paulo, SP

    Zeca Martins

    Impresso no Brasil. Printed in Brazil Revisão

    Equipe Editora Livronovo

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

    S713s

    Sorene, Laurence.

    Sangue dos inocentes. / Laurence Sorene. – Águas de São Pedro - SP: Livronovo, 2021.

    496 p.; 23 cm

    ISBN 978-65-87005-13-3

    1ª edição

    1. Literatura brasileira. 2. Ficção. 3. Romance. I. Sorene, Laurence. II. Título.

    CDD – 869.9

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o prévio e expresso consentimento dos editores.

    Ao adquirir um livro você está remunerando o trabalho de escritores, responsáveis por transformar boas ideias em realidade e trazê-las até você.

    2

    AGRADECIMENTOS

    Quero agradecer primeiramente a Deus por atender minhas preces, a minha família que esteve comigo ao longo dos anos acompanhando meu planejamento, me dando dicas, avisos de cuidado e claro respeitando meu sonho dessa publicação, aos meus amigos que por muito tempo ficaram do meu lado aguentando cada vez que eu citava o livro e me deram apoio incondicional, a todos que estiveram ao meu lado ouvindo minhas queixas de dor nas costas e café frio, que me questionou sobre as cenas que eu precisava melhorar e ter uma lógica melhor, aos grandes autores, cantores e tanta gente que foi minha inspiração para isso e por fim, a você que irá ler este livro, o meu mais sincero, muito obrigado.

    3

    PREFÁCIO

    Caro leitor,

    Devo informar que o mundo em que irá entrar não é bonito, não é colorido, o que você enfrentará nas páginas a seguir só mostra dor, sofrimento, ódio e dúvidas, consegue suporta-las? Consegue compreender? Nessa história, você terá contato com um homem simples que apenas buscava aquilo que é mais simples e desejado por todos nós, a felicidade e isso lhe foi tirado da maneira mais cruel e covarde do mundo, ou talvez queira conhecer uma jovem cujo a única preocupação era o bem estar de sua família e está em busca de seu amado pai desaparecido deixando que as dificuldades aumentassem substancialmente após longo período de guerra, os caminhos vão se cruzar e juntos passarão pelas mais difíceis provações para os corações humanos. Portanto, antes de continuar, pergunte a si mesmo, até onde você iria por uma vingança ou para achar quem você mais ama e descubra o quão profundo pode ser o inferno que nossos heróis foram em busca de seus objetivos.

    4

    PRÓLOGO

    Montes Transilvanicos-Romênia.

    Até onde a loucura poderia levar a humanidade? Um momento de paz, talvez? Não... Algo pior... É difícil imaginar como seriam se fosse diferente, já que o mundo era negro, sombrio, dias cinzentos nada mais era que a pura realidade, mas nada fora pior que aquele momento assombroso na nossa história, era o ano do nosso Senhor 1475 depois de Cristo, finalmente uma paz estava começando a pairar e o sol voltava com o brilho aos poucos, como se buscasse a todos nós para nos abençoar com seu calor, as terras estavam voltando a ser prósperas e férteis e a liberdade...

    Muitos pensavam que finalmente nossa era de felicidade havia chegado, mas que ingênuo nós fomos, será que é possível mudar o mundo com palavras? Com verbos, pronomes e preposições? Sim, é possível sim, mas não quer dizer que seja para melhor, para apodrecer o coração dos humanos é preciso apenas fechar-lhe os olhos para a realidade e plantar uma semente envenenada em seu coração, assim verá o quão obscuro pode ser a alma das pessoas.

    5

    Um simples usar de tinta preta em um papel amarelado de tão velho que chegava a ser, um decreto que a muito os mais fanáticos sonhavam, os líderes religiosos, nossos guias espirituais, aqueles que são responsáveis a nos levar ao caminho do nosso criador para paz eterna nos levou ao inferno numa velocidade maior que um piscar de olhos. Tomando a simples decisão de caçar, julgar e condenar toda e qualquer mulher que fora considerada bruxa, enforcar sua cria feminina, para cada bruxa morta sete gatos deveriam ter seu fim por serem considerados mensageiros do Diabo, a carta escrita e assinada pelo punho de sua santidade foi levado a todos os reinos da Europa para que abrissem ao mesmo tempo no dia 13 de Outubro, uma sexta-feira.

    Assim foi feito, toda mulher que tivesse conhecimento fora do comum, como ervas medicinais, qualquer que fosse além da compreensão de curandeiros, clérigos ou até mesmo grandes escritores ou estudiosos das estrelas, eram acusadas de bruxaria, corrijo... Acusadas não, condenadas e executa-das sem um julgamento justo, muitas eram amarradas em uma pedra e jogadas no rio, outras eram queimadas, jus-tificavam dizendo que se elas fossem bruxas sobreviveriam a isso, mas caso contrário estariam a caminho do reino do nosso Senhor.

    Assim foi feito, para cada mulher condenada, sete gatos e suas filhas eram sacrificadas para garantir que as bruxas não se crescessem e multiplicassem, você pode imaginar o horror que muitas pessoas viveram não? Nessa época, nem mesmos a nobreza e a realeza estavam salvas da ira divina declarada pelas palavras de sua Santidade, em especial a um homem....

    6

    Um homem que já viu o inferno diversas vezes e um dia fora capaz de sonhar com a paz, mas a sua paz foi arrancada de seu peito como um golpe furtivo no coração.

    -Cristina! –Gritava repetidamente o homem.

    Homem alto, pele clara, olhos azuis num tom bem claro quanto o céu num dia bem iluminado, cabelos negros, bem lisos e caídos na altura de seu queixo, chamava-se Hector, seus trajes eram simples, camisa branca com um colete de lã e calças cinzas cobrindo até o tornozelo com a barra suja de barro, os pés estavam descalços já que seus sapatos a muito ficaram para trás, permanecia correndo em desespero por um caminho complicado com espinhos cortando a pele dos braços e perfurando seus pés, um breve rastro de sangue era deixado demarcando seu caminho, mas não podia parar, seu semblante era de preocupação, algo estava acontecendo e não era nada bom.

    Logo o homem chegava ao seu vilarejo, chão de terra batido, diferente de vilas mais prósperas que era de pedras simetricamente encaixadas e niveladas, no lado direito o pequeno comercio com tendas feito de madeira e uma lona de tecido para bloquear o sol, cada uma vendendo um produto diferente, flores, frutas, legumes, verdura, tudo o que dava na terra, não haviam rebanhos bovinos, tecidos eram trazi-dos de fora, no lado esquerdo as cabanadas montadas com barro e pedra, telhado com madeira e palha amarrada para fugir do sol e da chuva, tudo bem simples, porém feito com destreza, no seu centro um poço onde abasteciam os baldes d’agua apesar de ser próximo a um rio e no final uma igreja 7

    não muito alta feita de pedra, ornada com portas em abobadas, janelas redondas com vitrais em mosaicos com gravuras religiosas, na frente uma janela redonda na frente com um vitral simples minuciosamente posicionado para que os primeiros raios do sol ilumine o altar onde o clérigo realizaria as primeiras orações, para passar recado a seus fiéis de que Deus estava vigiando-os e abençoando-os através de seu re-presentante na terra.

    Era um dia nublado, triste, sombrio, ele parou ao chegar do lado do poço e olhou para todos os lados, buscava um sinal de vida que claramente não tinha, seu coração apertou em apreensão, garganta seca, já não podia mais perder tempo e esperar, se não havia mais ninguém naquele lugar, só restava um único canto onde os acharia.

    E assim o fez.

    Correu o mais rápido que pode até o final da vila até chegar na Igreja, sua porta principal estava trancada por dentro, tentou balança-la e jogar seu corpo contra, mas foi inútil e então tornou a correr para trás da construção afim de encontrar uma nova entrada, já do lado de dentro muitas vozes exaltadas eram ouvidas, sua euforia era notada de longe, algo não estava certo e a cada segundo a tensão se mostrava ainda maior.

    Dentro da Igreja estava havendo uma verdadeira inquisição, toda a pequena população do Vilarejo estava em pé afastados três metros das acusadas caídas de joelhos e amarradas perante ao altar, onde a inquisidora, uma viúva com sua pele enrugada e desgastada com o tempo aparentando 8

    ter 50 anos, cabelos grisalhos presos de forma bem firme, tão firme que chegava a repuxar um pouco seu rosto, um vestido preto cobrindo do pescoço aos pés, dos ombros aos pulsos, luvas de renda preta, sem brincos ou joias, seus olhos possuíam um tom negro seco e sem vida, as mãos dela estavam repousados sobre um púlpito vertical marrom com um crucifixo dourado, a musculatura de sua face era rígida como se demonstrasse desprezo, essa era a religiosa mais fervorosa dentre todos os moradores daquele lugar.

    As três estavam ajoelhadas de cabeça baixa e amarradas, as pessoas ao fundo, gritavam ofensas tenebrosas para as acusadas, na direita estava a jovem Andreea, donzela de 13

    anos, baixa estatura, 165 de altura, pele clara, olhos verdes, cabelos loiros caídos até sua cintura, desgrenhados, o rosto sujo e os olhos inchados de tanto chorar, seu vestido azul-

    -claro cobria-lhe do pescoço aos tornozelos, dos ombros aos pulsos, como mandava a tradição, porém suas vestes estavam sujas e rasgada mostrando que a mesma fora arrastada. A Jovem Andreea fora acusada de bruxaria de uma maneira cruel, estava colhendo flores nos campos floridos ao oeste da Vila com seu pretendente a marido, um jovem rapaz que conhece desde pequena e fora prometida a ele.

    O jovem estava ajudando-a com as flores quando fora espetado por um espinho e sentiu um fio de sangue escorrer pelo seu dedo, ela cuidadosamente pegou a mão do rapaz limpou o sangue com um pano e deu um breve beijo no seu pequeno ferimento, ele sentiu uma sensação estranha naquele momento e correu gritando que ela era uma bruxa, não demorou muito para que chegassem e capturasse a jovem.

    9

    No meio, era Amália, uma jovem viúva de 19 anos, pele clara, olhos azuis, cabelos negros e curtos na altura do queixo, totalmente irregular mostrando que fora cortado com uma faca, trajava um vestido preto de luto que se encontrava em um estado deplorável totalmente sujo de terra, sangue e rascado nos ombros, havia sido rasgado a manga esquerda por completo e abaixo da cintura deixando suas pernas até os joelhos expostas como uma meretriz, seu rosto estava inchado, o olho esquerdo inchado com um roxo bem forte, hematomas espalhados pelo corpo e um fio de sangue seco no canto de seus lábios. A jovem Amália havia perdido seu marido com uma doença desconhecida até então, pouco tempo depois de ser anunciado a caçada, fora a única que compareceu ao enterro do pobre coitado e daquele mesmo lugar já fora arrastada até a praça, amarrada pelos moradores, humilhada e espancada pela beata.

    E finalmente na esquerda a jovem Senhora Cristina, amada esposa de Hector, possuía lindos olhos verdes como esmeralda, cabelos negros caídos em sua cintura, o lenço que cobriria seus cabelos fora arrancado, pele clara como a neve e seu vestido cobria-lhe como a tradição mandava, do pescoço aos pés, dos ombros aos pulsos, não havia sinais de demonstração de violência, era a única que estava intacta. Cristina fora considerada como Bruxa após tentar curar uma criança que estava com uma doença grave usando plantas que havia colhido na floresta, o pai dela era um estudioso da alqui-mia e havia passado alguns de seus ensinamentos para ela, infelizmente sua família falecera um ano antes de toda essa desgraça e não era possível defende-la disso.

    10

    Após mais alguns segundos daquela baderna dentro da Igreja, a Beata levantou sua mão direita mandando que todos parem de falar e assim obedeceram a mulher, ela logo fechou os olhos respirando fundo e ao abrir novamente abriu os braços, seu olhar severo e seco era firme como uma ponte de pedra na tempestade percorria inicialmente pelo salão, depois as acusadas e por fim o vitral da frente.

    -Queridos irmãos, venho diante do nosso Senhor para julgarmos essas traidoras da palavra de nosso salvador! Essas mundanas, filhas da perdição venderam suas almas para o temido Diabo! E para que? Possuir, enganar e coletar suas almas para o inferno, meus irmãos! –Gritava a beata no altar.

    O fanatismo daquela mulher já havia ultrapassado qualquer barreira do limite, Cristina olhava para todos espantados, era impressionante como ela conseguia ter o controle da situação, a forma como a sua palavra era lei perante a todos em um domínio claro de suas ações, todos gritavam e gesticu-lavam ameaças de morte, fogo, mandavam render-se e isso só as deixava com mais medo do que se imaginava, cada segundo se passando, era um pulo próximo ao abismo da morte.

    -NÃO! POR FAVOR! NÃO SOMOS BRUXAS! É

    MENTIRA DELA! –Gritava Amália inutilmente.

    A jovem olhava desesperada para todos os lados quando no meio da multidão notou que seu pai estava presente, um ancião com a pele bem enrugada, barba grisalha, camisa branca e calça cinza suja de barro, segurava seu chapéu marrom no peito e apertava com as duas mãos olhando para ela com tristeza, aquela cena a fez cair em prantos chorando mais.

    11

    -PAI, POR FAVOR! ME SALVA, PAI!

    A Jovem viúva se levantou com dificuldade devido as dores e as mãos amarradas nas costas e tentou caminhar na direção de seu pai clamando por sua ajuda, seus gritos ficavam mais agudos e desesperados a medida que insistia e não obtida resposta, ele por sua vez estava crente que sua pequena era mesmo uma bruxa e seu olhar triste ficava mais cabisbaixo de vergonha se encolhendo a sua insignificância perante a situação, pressionando os dedos em seu chapéu amassando-o em meio as lagrimas que molhavam o mesmo.

    Ela caminhou mais um pouco para perto dele chamando-o como uma criança desesperada em busca de proteção até que sentiu um forte impacto atingir o lado direito do seu rosto derrubando-a no chão imediatamente, ela cuspiu sangue voltou a chorar em desespero, dessa vez já não tinha forças para gritar, mas soluçava quase inaudível pelo seu pai que estava parado em choque sem saber o que fazer.

    O homem que havia desferido o soco em Amália começou a gritar ferozmente para que elas calassem a boca, caminhou até as outras, seus punhos estavam fechados e rígidos, era um homem de meia idade, não tinha tanta musculatura no corpo, mas diante de corpos frágeis como os delas, seu soco tinha o peso de uma marreta, deu um chute no tórax de Andreea derrubando-a no chão e um chute na mesma gritando ofensas a honra dela, Cristina começava a gritar ordens para que o mesmo parasse e isso o deixou com mais raiva, olhou para ela com vontade castiga-la pela sua petulância e preparou um soco, a mulher ao notar que seria a próxima vítima fechou os olhos esperando ser atingida.

    12

    Mas o silencio pairou.

    Cristina pressionava tanto suas pálpebras para manter os olhos fechados esperando o golpe que não notou a Igreja ficar num silencio ensurdecedor, quando se deu contar abriu seu olho esquerdo e depois o direito e viu que Hector havia lhe salvado de levar o golpe, estava segurando o punho do homem com firmeza, possuía mais forças que ele o que faci-litava tudo, imediatamente seu coração acelerou em alivio.

    -Se encostar um dedo em qualquer uma delas novamente eu arranco o seu coração pela boca, entendeu?

    O homem tremulo de medo balançou sua cabeça em sinal positivo desesperadamente, Hector era muito respeitado pelos moradores, por alguns chegava a ser temido devido a diversas histórias que surgiam com seu nome sobre seu passado, a única verdade era a que ele um dia pertenceu a uma vida intensa de batalhas. Para se livrar do homem, Hector o empurrou na multidão, seu olhar pesado e firme de alguém desrespeitado percorreu pelo salão, cuidadosamente caminhou até Amália desamarrando-a e ajudando que se levantasse, em seguida voltou e desamarrou Cristina e Andreea deixando que se sentassem num banco no canto da Igreja.

    -Vocês deveriam se envergonhar! Subjugando e humi-lhando suas próximas? Por Deus são apenas mulheres!

    Hector olhou para o pai de Amália e sentiu seu sangue ferver, seu desejo era de bater naquele homem.

    -O Senhor deveria se envergonhar de ver sua filha nesse estado e não a defendes! É SUA FILHA! SUA OBRIGAÇÃO DE PAI É DEFENDE-LA!

    13

    O homem ao receber tal critica desabou em lagrimas, suas palavras quase inaudíveis a si mesmo implorava perdão pela covardia, o medo do que aconteceria fora maior que a dor de ver sua amada filha apanhar daquela forma, as demais pessoas pareciam estar em choque com tudo, era o único que estava desafiando a todos.

    -Que fique bem claro aqui, nenhuma dessas mulheres merecem ser mortas, elas são inocentes e essa loucura acaba agora! -Gritava em ordens severas.

    Os aldeões olharam uns para os outros envergonhados, alguns engoliam seco e em seguida começavam a se retirar, os passos lentos e múrmuros inaudíveis de uma população envergonhada de seus atos, parecia que era um fim pacifico, Hector pode respirar profundamente relaxando os ombros, mas a Beata não estava disposta a deixar isso acabar tão fácil.

    -Esperem! Irmãos! Não podem ir, vocês não perceberam?

    Elas enfeitiçaram ele! Não estão vendo o quão furioso ele está? É a fúria de Satanás por estarmos expurgando suas crias da terra!

    Hector olhou para a mulher espantado.

    -Mas que absurdo sem sentido!

    Os aldeões voltaram e iniciou-se uma nova discussão entre ele e a beata, uma batalha verbal cada um advogando para um lado, todos estavam divididos entre o respeito a Hector e a obediência da mulher mais próxima da igreja, mas o homem estava perdendo aquela batalha, porque não importava o quão lógico e verdadeiro fosse seus argumentos, 14

    aquela mulher sempre rebatia com dúvidas e venenos, disse-minando palavras que o colocavam em cheque e isso estava desestabilizando-o.

    -Pelo amor de Deus, isso é loucura, não podem matar três mulheres só por que ela está mandando!

    As palavras de Hector perderam seu efeito com o veneno da Beata, claro que ele nunca fora muito políti-co e as palavras lhe eram armas das quais ele não tinha o dom de manuseá-las, apelou para o bom senso, para amizade, conhecimento, respeito de honra, para o amor que tinham por todos, mas nada, nada era possível para reverter o que ela fez, um arrepio subiu por toda a sua espinha, um fio de suor frio escorreu pela sua testa e seu coração voltou a acelerar, como resposta imediata ele levantou os punhos e ficou na frente delas para defende-

    -la, sabia que com aquele número de pessoas as chances eram mínimas, mas se elas fossem morrer, teriam que tirar sua vida também e pela primeira vez Hector sentiu a sensação de medo, deu uma breve olhada para sua amada sobre os ombros e tentou não transparecer sua tensão.

    -Vai ficar tudo bem, querida, eu vou tirar vocês daqui.

    –Disse ele tentando acalma-la.

    -Hector...

    -Você confia em mim?

    Cristina olhou para ele e depois para a multidão.

    -Confio...

    15

    Bastou aquela palavra para que ele ficasse confiante novamente, tentou concentrar no número de pessoas e em como levaria a luta para dar tempo de fugirem.

    -Que Deus nos abençoe... –Murmurou de forma quase inaudível.

    Para sua surpresa, ao lado dele se juntou o pai de Amália, que olhou para ela, seus olhos tremiam de medo, mas ao ver Hector pronto para uma briga tomou coragem para fazer a coisa certa, segurava um castiçal da parede que estava solto, com a ajuda dele agora as coisas poderiam melhorar.

    -Pai... –Disse Amália.

    -Papai foi covarde, mas agora não será mais.... Este velho já fez pela vida o que poderia fazer, quando fugir, quero que seja feliz e que um dia possa perdoar este homem falho, está bem?

    Os olhos de Amália encheram de lagrimas emocionada ao ver seu pai novamente como herói, em seu coração só esse gesto fora suficiente para perdoa-lo, logo os aldeões partiram para a briga contra os dois, derrubaram um, dois, três.... O

    tumulto apertava mais, um não esperava o outro para atacar, era um embate tão comum quanto na guerra. Mesmo sendo experiente, Hector ainda estava com uma desvantagem muito grande e uma hora isso ia pesar.

    -PAI!!! –Gritou Amália.

    O destino, um tapete confeccionado pela ironia que gosta de brincar com todos, Amália gritou com toda a sua força ao ver seu pai sendo atingido no estomago por um forcado 16

    manuseado por um jovem rapaz de pele clara e cabelos loiros, o pretendente de Andreea que não teria se sensibilizado com nada e estava disposto a matar sua ex-noiva a todo custo, logo o ancião caiu no chão falecendo e Hector o atingiu com um cruzado de esquerda certeiro no rosto desmaiando-

    -o, agora estava sozinho contra muitos e cada vez estava mais próximos delas, pelo medo e desespero começando a tomar conta da sua mente ele gritou CORRE! FOGE! FOGE! , ficaria para trás e morrer se fosse preciso para salva-las, mas as três estavam paradas, congeladas de medo e não conseguiam se mexer, não demorou muito até que o agarrassem pelos braços e atingisse na parte de trás de sua cabeça com um objeto pesado de madeira. Hector sentiu seu corpo perder as forças e cair com um dos joelhos no chão.

    Ainda conseguiu levantar o braço para se defender do próximo golpe na cabeça que talvez seria fatal e contra-atacar com um pedaço de madeira pontudo no chão atingido o homem no estomago matando-o, fora tudo o que pudera fazer e logo sua visão começou a se fechar em trevas, tentava levantar inutilmente, já não podia ver mais nada até ser atingido por um soco em seu queixo que o derrubou no chão, seu corpo já não se movia, os olhos não podiam ver, estava desacordado, mas não suficiente para seu cérebro ainda conseguir captar os últimos gritos de Cristina por ele, o desespero de Amália que se debateu em gritos e lagrimas tentando se soltar até ser silenciada com uma faca no coração, o sangue escorrer pelo piso de madeira e seu corpo cair ao lado de seu falecido pai, ficou olhando para ele que ainda estava com os olhos abertos e vazios, a jovem Senhora sentiu suas últi-17

    mas gotas de lagrimas escorrerem pelo seu rosto, enquanto o sangue escorregava entre seus dedos sobre a ferida e a outra esticava com dificuldade até conseguir tocar na mão dele.

    Por fim, Amália morre com os olhos abertos para seu pai.

    Tempo se passou e Hector despertou, sentia sua cabeça latejar forte com muita dor, a visão que antes era turva já começava a dar forma até que volte a enxergar normal, a sua volta uns aldeões nocauteados, outros mortos, os olhos dele percorreram pelo lugar observando cada um até chegar em Amália e seu pai e um suspiro pesado foi solto por ele.

    -Deus...

    Com muita dificuldade, Hector se obrigou a ficar em pé e caminhou até os dois, onde caiu de joelhos diante de pai e filha, respirou profundamente lamentando não ter sido capaz de evitar suas mortes, por fim ajeitou os corpos dos dois de costas para o chão e juntou suas mãos sobre a barriga.

    E então os olhos foram fechados...

    Seu corpo ainda estava pesado, cambaleou pela vila se forçando a ir mais rápido mesmo que isso significasse cair de rosto no chão, as vezes perdia o equilíbrio se segurando no que estivesse à sua frente, por instantes parou segurando firme sobre a fonte e respirou fundo.

    -Vamos lá.... Não me abandone! Não posso sozinho!

    Ele bateu em sua perna.

    -VAMOS! NÃO ME ABANDONE!

    Bateu outra vez.

    18

    -VAMOS!

    Hector bateu em sua coxa mais uma vez, com força e voltou a se forçar a caminhar em direção ao lago, era fundo o suficiente para afogar uma pessoa, sabia que era ali onde todos estariam reunidos, desde que todo aquele pesadelo havia começado, os aldeões construíam cadeiras onde prendiam as acusadas e as mergulhavam morressem afogadas e só os escolhidos da Beata poderiam retornar para o local e buscar a cadeira que seria limpa e pronta para reutilizar.

    Andreea já estava embaixo d’agua há alguns minutos e já não subiam mais bolhas para a superfície do lago, agora chegara a hora de Cristina, era colocada em cadeira e para sua triste surpresa uma das mulheres a amarra-la em sua senten-ça de morte era sua melhor amiga, Aurora Supärätor, uma jovem donzela de pele clara, cabelos loiros e soltos, caindo pelo seu voluptuoso corpo até a cintura, o espartilho por mais apertado que fosse não conseguia impedir seus seios de serem notados nem mesmo seus vestidos por mais que cobrisse seu corpo por completo o tecido ainda lhe fazia grandes volumes.

    -Aurora, não faz isso, por favor!

    Aurora permaneceu em silencio e Cristina tentou se mexer para se soltar, para castigar a mulher, a Beata inquisidora aproximou-se e com sua mão esquerda acertou um tapa firme no rosto dela com o lado externo de sua mão esquerda causando-lhe quatro linhas de arranhões fundos devido as pontas metálicas do anel que ela usava, já estava gasto com o tempo e suas pedras haviam se perdido.

    19

    Cristina soltou um grito assim que sentiu o metal cortar sua pele e permaneceu com o rosto virado e o sangue escorrendo pelo mesmo, Aurora olhou para Beata assustada, o coração da mulher estava disparado, aquela inquisidora dos olhos secos e sem vida deu um sorriso amarelo e assustador e em seguida ordenou que fosse jogada no lago.

    Aurora caminhou e depositou as mãos nos braços da cadeira, os olhos daquela doce mulher mostravam dor e sofrimento por fazer tal barbárie, então Cristina a olhou profundamente, com aquele olhar marejados de medo.

    -Aurora... Você prometeu que seriamos amigas para sempre...

    Ela fechou os olhos

    -Cala a boca, Cristina...

    -Me salva, vamos fugir...

    Cristina apelou para o coração de sua amiga.

    -Por favor.... Não me mata, você prometeu...

    Aquilo travou o coração de Aurora, que respirou fundo apertando os braços da cadeira, beijou a testa de Cristina, por um momento a mulher sentiu um alivio acreditando que seria salva, mas logo foi interrompido assim que foi em-purrada para o lago.

    Era uma cadeira feita de madeira maciça pesada com grandes pedras para dar mais peso ao objeto, a acusada era presa pelos pulsos, tornozelo e busto para que não tivesse chance de tentar se desamarrar com os dentes, minutos se 20

    passaram e ela tentava se soltar como podia, tentando se mexer para todos os lados, lutando pela sua vida, Hector avistava uma pequena quantidade de pessoas aglomeradas na ponte, correu em direção a mesma já tendo seu corpo todo recuperado, subiu na beirada da mureta da ponte correndo por ela, era feita de madeira com uma largura de 15

    centímetros.

    Assim que o avistaram correndo por aquela parte alguns se afastaram, menos a Beata que lançou um olhar desafiador, assim que chegou no ponto que precisava para saltar, ele pegou impulso com seu pé esquerdo e jogou o direito a frente atingindo o rosto daquela mulher, seu corpo continuou o movimento em um giro de 180º graus caindo de cabeça no lago.

    A beata caiu no chão com o canto de sua boca sangrando enquanto Hector mergulhava até o fundo para salvar Cristina. Nadou até a mulher com a respiração presa, já de imediato começou a tentar desamarrar, parecia impossível, tentava desamarrar, puxar, arrebentar, nada acontecia, nada tinha eficiência alguma.

    Na hora em que ele levantou o rosto de frente ao dela, pode notar o semblante triste de alguém que havia desistido de lutar, com um pouco de dificuldade ela fechou os olhos e balançou sua cabeça de forma negativa pedindo para o mesmo desistir, como mais uma tentativa, ele tentou arrastar a cadeira pelo fundo do lago, o peso era muito grande e mal conseguia arrastar-se por alguns centímetros, e tudo só ficava pior ao ver que seu folego demoraria mais, subiu até a su-21

    perfície puxando mais oxigênio e voltou para o fundo dando um beijo em sua amada para prolongar um pouco mais a respiração dela, estava disposto a fazer o que fosse preciso.

    As mãos começavam a se cortar na corda, mas os nós muito bem atados não se afrouxavam nem mesmo debaixo d’agua, Cristina fechou os olhos e deixou seu corpo relaxar pronta para a morte, as gotas de lagrimas dos olhos de Hector misturava-se ao lago, ele balançou a cabeça em sinal negativo implorando para que ela não desistisse, porém, a resposta foi apenas aquele doce sorriso que ela usava para tranquiliza-lo.

    Atendendo ao pedido de sua mulher, logo encosta a testa na dela sentindo seu coração doer de tristeza, acariciou os cabelos bem devagar deixando o tempo passar, aos poucos Cristina foi fechando os olhos e abaixou a cabeça.

    Minutos se passaram e Hector aos poucos sentiu seu corpo pesado, necessitava de mais oxigênio, mas sua mente era impossível trabalhar naquelas condições, ainda mais quando não sentia vontade alguma de querer continuar vivo, em sua mente só se passava em tudo o que passaram juntos, seu desejo começava a ser realizado, podia sentir a morte se aproximando para ceifar-lhe a vida.

    E então tudo ficou sombrio...

    "A vida do homem é um caminho curto, em tão pouco tempo somos capazes de amar, odiar, sorrir e chorar, ter coragem e também medo, lutamos por aquilo que queremos e sofremos pelo que perdemos e então chega o dia em que fechamos os olhos para o descanso eterno chamado morte, assim como as flores podem brotar e murchar e as estrelas se apagar, somos todos feitos 22

    da mesma matéria, pelo mesmo artesão, nem mesmo o próprio universo seria capaz de fugir desse evento transitório chamado vida..."

    O despertar foi súbito, tirando-o da morte, de sua amada Cristina que acabara de partir ao outro mundo sem ele, o corpo permaneceu alguns segundos imóvel e a visão turva completamente em choque, mas para sua surpresa pode assimilar a realidade, Hector não havia morrido e estava deitado na beira do lago com o corpo enfraquecido, alguns dos aldeões estavam próximos a ele observando-o se recuperar.

    Levantou-se assustado ao notar que sua realidade era mais terrível do que se podia imaginar, seu corpo não falecera naquela agua onde o homem havia deixado suas lágrimas e seu coração, a visão já estava recuperada, vozes vinham de todos os lados perguntando se estava bem, se podia levantar, mas seu olhar ficou fixo na água, no lago... Onde a calmaria já estava presente.

    Cris...Tina... C-Cris... Cristina... – Pensava Hector.

    Aos poucos seus olhos começaram a encher de lagrimas novamente, seu corpo parado com o olhar fixo no rio, alguns até tentavam sacudi-lo para provocar uma reação, o que era totalmente inútil naquela ocasião. Lentamente o homem abaixou a cabeça sentindo uma forte dor assolar seu peito de uma maneira que ele não esperava, a respiração se descontrolar.

    -Cristina... –Sussurrou com dificuldade.

    Os aldeões ficaram em silencio tentando compreende-lo.

    23

    -Cristina... –Disse num tom mais audível.

    Eles olharam entre sem saber o que falar numa situação constrangedora, aos poucos ele se levantou

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