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E-book168 páginas1 hora

IDENTICAMENTE OPOSTOS

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Sobre este e-book

No século XIX o nascimento de gêmeos idênticos Ike e Quiron, transformam a vida da família Harrison de imigrantes ingleses no Brasil colonial. Idênticos apenas na aparência e completamente opostos no caráter, os jovens gêmeos passam por discórdias familiares e se separam. Quiron fica na fazenda e Ike parte para a Europa. Durante anos ficam afastados e um homicídio faz com que Ike retorne ao Brasil. Nesse enredo de conflitos, separações e mortes, nasce um grande amor que de forma incomum une os dois gêmeos na vida e na morte.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de nov. de 2017
ISBN9781526002815
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    IDENTICAMENTE OPOSTOS - Elizabeti Felix

    Minas Gerais, outubro de 1.865

    Nicholas andava de um lado para outro, visivelmente nervoso, coisa que não era de sua índole, um homem extremamente calmo, mas tinha motivos para isto. Do outro lado, no quarto sua esposa estava em trabalho de parto pela primeira vez, um parto ao que parecia, extremamente complicado. Enxugou o suor da testa e fixou os olhos na paisagem que descortinava a sua frente pela janela aberta, era um dia quente e lá fora as pessoas trabalhavam normalmente na plantação, nas cocheiras, era um dia comum.

    Só que para um homem ansioso, era um dia especial, o dia que se tornaria pai de verdade, um sonho de anos, tornando-se realidade.

    De repente a porta se abriu e D.Ana saiu e o olhou apreensiva, no mesmo momento soube que algo não estava bem.

    -      O que passas, não ouvi nenhum grito até agora?

    -      A senhora está sofrendo muito, mas é uma dama até neste momento.

    -      Não entendo dessas coisas... não está demorando muito? D.Ana esfregou as mãos no avental parecendo nervosa.

    -      Vou buscar mais água quente e chamar a Candinha para me ajudar, fique esperando, não adianta agoniar-se.

    Nicholas ficou lá na sala aguardando, com um sentimento de impotência, o jeito era esperar, logo D.Ana entrou carregando água, acompanhada de Candinha, fechou a porta, ele achou melhor esperar sentado.

    Nicholas puxou a corrente do seu relógio de ouro e verificou as horas, o tempo não passava, sua ansiedade crescia. Depois de uma longa espera ele não ouviu nenhum grito, apenas pequenos barulhos abafados, então finalmente a porta se abriu e ele vislumbrou uma pequena trouxinha no colo de D.Ana e um rosto rosado apareceu das dobras do tecido.

    -      É um menino forte, veja Sr. Nicholas.

    Nicholas aproximou-se, um receio, um prazer desconhecido deixava-o mudo. D.Ana sorriu quando percebeu o estado de seu patrão, era mesmo um homem bom aquele. De repente a porta do quarto foi escancarada e a menina mulatinha apareceu com o olhar assustado.

    -D.Ana! Louvado Seja Deus, tem coisa errada, corre!

    Apressada com o tom de urgência na voz de Candinha, a pobre senhora praticamente jogou no colo da negrinha o pequeno embrulho e entrou no quarto.

    Nicholas olhou para a porta sentindo que desta vez algo muito estranho estava acontecendo e achou que não podia deixar de ver o que era. Abriu a porta devagar, cheiro de álcool e sangue pairava no ar, as duas mulheres estavam de frente a cama, Candinha apertava o pequeno embrulho no colo, os olhos assustados, D.Ana ajudava sua esposa a fazer força.

    -      O que está havendo aqui?

    -      Nicholas?

    Ouviu a voz da esposa, em meio a gemidos de dor.

    -      Saia Senhor meu marido, agora!

    Ele ficou parado, como sempre o tom autoritário de sua esposa, deixava-o estático, mas o momento era diferente, precisava ajudar de alguma forma.

    -      Entregue-me o menino Candinha, ajude D.Ana.

    A menina obedeceu rapidamente, depois ficou ao lado da mais velha, transmitindo a pouca experiência, a coitada estava apavorada.

    Nicholas foi mais para perto da janela e ficou quieto, tendo ao colo o seu filho. Será que sua esposa morreria?

    -      Abra as pernas Senhora, vou ter que fazer o toque mais uma vez.

    -      Faça logo então, não aguento mais! Soluçou Brigite, já cansada.

    Nicholas preocupou-se, sua mulher jamais admitia uma fraqueza, a situação realmente era estranha.

    Candinha molhava o pano e limpava o suor do rosto de sua patroa, as mãos tremiam, jamais havia visto tanto sangue de gente branca e constatara que eram da mesma cor, vermelho como o dos escravos. Porquê falavam que tinham sangue azul? Jamais entenderia aquele povo. Mas de uma coisa ela sempre se lembraria, o sangue não era azul, gente branca ou negra, o sangue não mudava de cor.

    Depois de alguns minutos D.Ana deu um grito de susto.

    -      Santo Deus, é outra criança...

    -      Não pode ser...

    -      É sim senhora, vamos força!

    -      Não posso mais...

    -      Não desista, ele está vindo!

    Um grito cortou o quarto, Nicholas estremeceu ante a mistura de raiva e dor contido naquele som vibrante que saiu da boca de sua esposa, ele jamais se esqueceria. Brigite uma dama em todos os sentidos, jamais tinha ouvido sua voz sequer alterar. Ela era uma mulher extremamente contida, educada, mas naquele momento ela se pareceu com as outras mulheres do mundo.

    D.Ana não conseguiu conter a emoção ao segurar outro ser nas mãos naquele mesmo dia, um tanto mais leve que o outro, o bebê remexia inquieto e abriu a boca a chorar.

    -      Veja senhora, outro menino!

    -      Gêmeos... sussurrou a dama, sucumbindo a uma fraqueza momentânea.

    -      Fui duplamente abençoado meu Deus! Nicholas estava tão emocionado que sentia as pernas tremerem.

    Candinha se benzeu, acreditava que duas pessoas nascidas no mesmo momento, exatamente iguais indicava maldição, uma roubava a alma da outra.

    Naquele mesmo dia D.Ana levou os bebês para a ama amamentá-los, sua senhora estava esgotada e queria descansar o resto do dia.

    Acompanhada de Candinha ela entrou no enorme galpão e depois numa ala isolada encontrou Serena a espera, a mulata era forte e certamente daria conta de alimentar seu filho e os gêmeos.

    -      Aqui estão os meninos.

    -      Meninos? A mulata arregalou os olhos assustada.

    D.Ana desenrolou um deles e colocou no seu braço, o outro ela pegou do colo de Candinha e também o desenrolou, deu um sorriso diante do espanto da pobre.

    -      Veja como são fortes, este aqui nasceu por último e não sei por quê é o meu preferido.

    -      Tudo igual, como vosmecê pode saber?

    -      D.Ana sorriu e aproximou-o de Serena.

    -      Veja aqui, bem ao lado dos olhos, três pintinhas quase minúsculas.

    -      O outro não tem?

    -      Não, já verifiquei. Se serão iguais na aparência, este aqui pode ser identificado com esta diferença.

    -      E a senhora?

    -      Sofreu muito, agora ela terá o descanso necessário. Vou deixá-los.

    -      O Senhor que me ajude, três meninos para dar o peito.

    -      É uma mulher forte Serena.

    -      Deixe esses pequenos aqui, tô terminando com meu filho.

    Na volta D.Ana deu um encontrão em Zecão, ele parecia afoito.

    -      Homem de Deus, que pressa é essa?

    -      Soube da novidade, dois belos meninos D.Ana, estão com Serena?

    -      Ela será a ama de leite, mas o que você tem com isto?

    D.Ana olhou-o intrigada, ele sorria com orgulho, como se ele fosse o responsável pela novidade.

    -      O que há de errado em ver os meninos?

    -      Mas que coisa... nunca demonstrou interesse por nenhuma criança antes.

    Ele fechou a expressão, meio relutante, uma coisa que não combinava com um homem daquele tamanho.

    -      Ora... dois meninos chamam atenção, nunca vi, curiosidade ora.

    -      Sei...

    Ele passou por ela, o olhar baixo, desconfiado. D.Ana não era boba, era estranho aquela atitude, mas ia descobrir o porquê daquele interesse.

    Brigite fechou os olhos e tentou descansar um pouco, mal havia visto os meninos, haveria muito tempo. Estava satisfeita com a sua procriação de vencedores, pois soubera escolher muito bem, seriam uma mistura da sua capacidade racional, seu caráter passional e seu sangue nobre. A genética iria garantir do lado paternal, a beleza, a virilidade e a sagacidade necessária a um homem. Jamais procriaria um filho de um fraco, infelizmente Nicholas era quase tudo que desprezava em um homem, era um tolo.

    Sorriu, estava sentindo-se vingada, foi obrigada a ter os benditos herdeiros, mas eles jamais teriam o caráter frágil do pai, seriam por natureza fortes e viris, o contraste do homem que foi obrigada a aceitar como marido.

    Nicholas sentia-se o homem mais feliz sobre a face da terra, seus herdeiros, finalmente haviam nascido, agora poderia deixar seu legado para eles, sua família não terminaria nele, seu pai ficaria orgulhoso. De descendência nobre, sua família havia se instalado no Brasil, um país que pouco lembrava a sua terra natal, mas inexplicavelmente toda família se adaptou longe de Londres e de toda aquela nobreza decadente. Nesse país de imigrantes e cultura diversa, a família prosperou ainda mais. As pessoas o respeitavam não apenas pelo título de barão, mas por ser ele mesmo. O patrão que conversava de igual para igual com seus empregados, o homem que respeitava seus escravos e era obedecido sem precisar usar da força do chicote.

    Imaginou o futuro, onde seus dois filhos se juntariam a ele, na tarefa de administrar a imensa fazenda, a propriedade de onde tantos tiravam seu sustento. E eles teriam a responsabilidade de conduzir e aumentar o que ele havia conquistado. Apesar de usar o dinheiro herdado, Nicholas havia trabalhado muito no seu projeto, sentia-se bem sendo fazendeiro e não mais um na corte, onde os boatos e maledicências podiam causar até morte, ali ele tinha tranquilidade.

    Pensou na esposa, ela era a única a sentir saudades da corte, das festas e do brilho da sociedade. Tinha sido uma das mulheres mais cortejadas e ainda assim havia se casado com ele, às vezes se perguntava se foi somente a sua fortuna que a atraiu, ou talvez o título de barão, quem sabe. Mas amor? Nunca haviam se amado. Como de costume na nobreza, seus pais haviam providenciado o casamento arranjado de acordo com a satisfação de cada família. Ele de início se encantou por sua beleza, por sua paixão, mas não a amava. Havia tido um único amor na vida, uma mulher tão singular que jamais havia esquecido, se não fosse a sua morte repentina, talvez ele teria enfrentado a ira de sua família e teria se casado. Suspirou nostálgico, a vida nem sempre trazia maravilhas, mas naquele momento ele se sentia maravilhado, pela oportunidade de ser pai, duplamente.

    Zecão ficou observando os meninos com cara de bobo e percebeu o olhar atento da mulata Serena, achou melhor explicar-se, antes que levantasse suspeitas.

    -      Nunca havia visto duas caras iguais, já tinha ouvido falar? Acredita que serão assim guando homens?

    Serena estava estranhando aquele

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