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Musas
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E-book151 páginas2 horas

Musas

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Sobre este e-book

Um escritor com bloqueio criativo, tem a inusitada ideia de procurar nas mulheres inspiração para escrever como os poetas e Deuses gregos procuravam nas chamadas musas. Tudo isso enquanto ele tenta lidar com seu noivado e a reaproximação de um amor do passado.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de nov. de 2020
Musas

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    Musas - Naedson Gomes

    ZERO

    Eram quase três horas da tarde, estava cochilando naquele desconfortável banco de espera.

    — Senhor Théo? — Chamava a assistente balançando a mão no ar e tentando me acordar, o que conseguiu.

    Abri os olhos e observei que era magra, muito magra, olhos esbugalhados e um rosto obtuso, pálida de forma quase anêmica, como folha de papel em branco.

    — Pode entrar. — Avisou.

    Levantei-me, grogue, andei alguns metros e haviam vários cartazes naquele corredor branco, alguns quadros confusos e três ou quatro vasos de plantas do lado oposto a eles.

    Na porta a esquerda, do outro lado da enorme parede de vidro, que denunciava o quão alto era o andar, estava a porta, eu entrei.

    Fui recebido pela Dra. Katiene. Ela me recebeu em pé, me cumprimentou e me convidou a sentar. Era de estatura baixa, branca e usava óculos de grau bastante chamativo. Tinha cabelos curtos e pretos. Estava de calça jeans, camisa branca e casaco. Essa era minha psiquiatra.

    — Estou feliz de finalmente nos encontrarmos. — Ela disse antes de se acomodar em sua cadeira — Espero que possa me dizer o que realmente aconteceu, talvez, quem sabe, possamos mudar a sua situação, Théo.

    Fiquei em silêncio, me sentei a sua frente. Ela pegou uma prancheta.

    — Podemos começar? Está pronto? — Ela perguntou — Vai dizer tudo? Tudo o que fez provocar aquilo?

    Fiquei em silêncio enquanto observava de soslaio aquela sala. Katiene parecia não gostar de atender seus pacientes da maneira convencional. Ela fechava as persianas, desligava as luzes e mantinha uma pequena luminária iluminando nossos rostos. Apesar dos esforços dela em manter a sala escura, o brilho acinzentado do tempo chuvoso daquela tarde conseguia penetrar as fendas das janelas não deixando a sala totalmente escura e nem totalmente clara.

    Puxei uma carteira de cigarro de dentro do bolso do meu casaco.

    — Se importa que eu fume? — Perguntei apenas por perguntar, pois já havia acendido um.

    — Agora está confortável? — Perguntou.

    Houve um clarão repentino, em seguida uma trovoada ainda mais forte no meio daquele silêncio, o que tornava a situação um pouco macabra por um momento.

    Soltei a fumaça do cigarro. Estava pensando por onde começar.

    CAPÍTULO 1

    PARTE 1

    Eu havia terminado de publicar um romance. Um livro tão bem aclamado, que uma emissora de TV bateu a minha porta dizendo que gostariam de fazer uma telenovela baseada no livro. Eles me ofereceram uma boa grana e eu, como uma prostituta gananciosa, abri as pernas e deixei eles meterem, meterem com força.

    A novela foi produzida e, como verdadeiros amadores, conseguiram transformar uma coisa maravilhosa num punhado de merda. Subverteram minha obra. Entretanto, eu seria hipócrita em dizer que não foi algo bom a bolada que me deram, dinheiro o qual eu gastei com o adorável Adderall: a pílula norte americana que oferecia 72 horas de sexo, drogas e o famigerado rock’n’roll. No decorrer de apenas seis meses torrei o dinheiro dos direitos autorais na mais pura e profunda putaria. No entanto, como esperado, o dinheiro acabou. A vida passou a ficar monótona e eu, entediado. Então voltei para minha cidade e acabei conhecendo uma garota legal.

    Num belo dia de primavera um outro sujeito bateu a minha porta, dizendo que representava uma editora e me ofereceu uma bolada ainda maior do que a anterior para escrever outro romance, dessa vez fechando o negócio com a editora dele. Como esperado, eu, novamente como uma prostituta que faz jus ao seu trabalho, abaixei as calças dele, tirei o pau para fora e o chupei, chupei com força, até deixei gozar na minha cara. Uma linda putinha. Peguei a grana e me foi estipulado um prazo de dez meses para os entregar o tal romance. A questão era que eu não tinha mais nada na cabeça, não havia imaginação suficiente para produzir algo como o último. Estava sem criatividade ou inspiração.

    Costumava escrever 18 a 22 páginas por noite e me vi reduzido a ficar parado em frente ao computador, congelado, vendo o ponteiro piscar e nenhuma palavra vinha em minha mente. Logo, quatro meses se passaram e não havia conseguido escrever uma linha sequer. Não sabia nem por onde começar.

    De novo, o dinheiro acabou e voltei para a realidade.

    CAPÍTULO 2

    PARTE 2

    Eu era um cara tranquilo, vivendo uma vida tranquila – nos meus termos – e acabei conhecendo uma jovem com quem comecei um relacionamento estável, entretanto, conturbado. Esta mulher havia acabado de se formar em engenharia e já era CEO de uma grande empresa. O rosto dela tinha formato de coração que terminava num queixo arredondado. A boca era pequena de lábios medianos em volúpia, os quais ela costumava cobrir com batons que não combinavam com nada que vestia. O nariz era pequeno e redondo na ponta. Os seus olhos eram castanhos, mas de tom indecifrável, mesmo atrás dos seus óculos quadrados com lentes flutuantes, ora se pareciam com um castanho figueira, ora era possível ver um castanho cor de flor-de-inverno. Tudo contornado pelos cabelos loiros de tom médio, que escorriam longos pelas laterais do rosto. Seu corpo era como se a própria Afrodite tivesse esculpido. Seu nome era Geovana Ferreira.

    Não me lembro bem quando a conheci, porém me recordo de estar numa praça tomando umas cervejas com meu primo e alguns caras mexeram com ela. Prontamente, os intimidei e acabei a levando para casa. Dias após, nós estávamos em certo evento indie conversando sobre as coisas que nos agradava e mais tarde já havia a levado para cama. Desde então criei um laço íntimo e, consequentemente, me vi num namoro.

    Não posso negar, no começo foi bom. Ela era tímida, carinhosa, tolerava as minhas ressacas e as dezenas de cigarros que fumava por dia. Contudo, com o tempo, começou a ficar desinibida, a reclamar de coisas rotineiras, como o cigarro.

    — Essa porra vai te matar! — Alertou. — Eu odeio isso em você.

    Foi a primeira coisa que me falou quando a busquei no trabalho uma vez, uns dois meses após efetivarmos seriamente o nosso relacionamento.

    Outro dia, após uma reunião e um jogo de pôquer no country clube primavera com os meus amigos do serviço militar, onde estávamos todos acompanhados das nossas senhoras, ela disse assim que estávamos retornando para casa:

    — Você anda bebendo demais, fumando demais. — Ela falava baixo e ajeitava os óculos os empurrando de encontro ao nariz. — Você tá me fazendo passar vergonha com essa cara de alcoólatra...

    Isso foi ainda dentro do carro. Ela, porém, não era todo tempo maldosa, ela me fazia rir e ria das minhas piadas idiotas, era carinhosa e cuidava bem de mim. Acredito que nenhuma mulher cuidou tão bem de mim quanto Geovana. Uma coisa que me chamava atenção – e eu adorava – era o seu jeito engraçado de sorrir.

    Uma mulher inteligente, de mente afiada. Conseguia solucionar problemas matemáticos e sociais num piscar de olhos e, curiosamente, era humilde e arrogante ao mesmo tempo. Usava todas as suas armas no seu infinito sarcasmo disfarçado pela baixa voz.

    Como em seu jeito de andar, no começo do relacionamento era meio desajeitada na cama, eu precisava assumir o controle. Ela não gostava de variar e depois passou a agir com safadeza palpável, como uma tigresa, sempre variando e procurando formas de obter o auto prazer, formas de me dar prazer. Ficou pervertida.

    Todavia, recentemente ela descobriu sobre uma pessoa do meu passado. Alguém que eu amei mais do que a mim mesmo e, como se isso não bastasse, descobriu que meu último romance escrito foi baseado nesta pessoa. O que acabou por deixá-la paranoica, ciumenta e insegura. Não é segredo que ainda amo aquela pessoa e ela sabe disso. Pensei em terminar, mas recebi um sábio conselho de um amigo.

    — Sua ex tocou a vida. — Ele disse — Está na hora de você tocar a sua.

    Talvez tocar a minha vida fosse algo extremo, algo que impactasse, de fato, tudo. Aquelas palavras penetraram meus ouvidos como lâminas enferrujadas, me levaram a cogitar pedir a mão de Geovana em casamento, mas não sabia se estava preparado para afirmar meus votos àquela garota. Não sabia se seria um bom marido. Ora, eu era um homem fodido, cheio de fantasmas no passado. Além de precisar escrever um romance, algo que estava fora de cogitação naquele momento – por minha falta de criatividade –, eu deveria ter negado, deveria ter mostrado o dedo do meio tanto para a TV, quanto para a editora, mas fui uma putinha insaciável e ambiciosa, e quis cada vez mais dinheiro.

    Geovana sabia da minha situação, tinha ciência do meu enorme bloqueio criativo e, mais que tudo, sabia que a única forma de eu conseguir uma inspiração era tendo contato com a minha ex, minha musa. Era só com ela que eu conseguia escrever belas palavras dentro de um determinado contexto. Tentei me basear em Geovana escrevendo alguns poemas, mas meus amigos ao lerem não sentiram a mesma paixão que existia quando me baseava na minha ex nessas tentativas patéticas.

    — Você já escreveu melhores — Disse Raphaela ao ler um certo poema.

    Raphaela era uma amiga que recentemente havia chegado abalando tudo. A conheci no curso de física – o qual não terminei, pois achei que me dedicando à escrita teria mais sucesso na vida, ledo engano –, ela tinha opinião sobre tudo, era sincera e conquistou a minha confiança com o seu jeito. O único defeito nessa dinâmica que posso lembrar, ela era furtiva, sumia com frequência, então nem me assustava quando reaparecia do absoluto nada.

    Admito que é raro alguém penetrar a minha couraça e se tornar o que ela se tornou: uma grande amiga. Ela acabou revisando meus dois últimos romances sabendo de toda a verdade por trás das histórias – fatos reais, não baseado. Me senti confortável o suficiente para revelar no que me baseei e, como uma boa amiga, fez críticas que me induziram a alterar o sentido que havia passado inicialmente no livro, já que eu era um porco preconceituoso.

    Neste poema em questão, não havia dito em quem me baseei, que havia escrito para Geovana. Em seus comentários sobre os anteriores – baseados noutra mulher –, ela sempre fazia uma ressalva dizendo que estavam bons. Estava evidente no poema para Geovana, não conseguia extrair inspiração suficiente e, se eu fosse escrever, provavelmente escreveria uma colossal montanha de merda.

    O RETORNO

    Assim que Fernanda retornou à cidade, uma semana antes do Natal, fui imediatamente vê-la e falar com ela. Era minha melhor amiga e conselheira. Tínhamos uma amizade que durava por muitos anos e duraria por mais.

    Nascida no sul de Minas, ainda quando criança, sua mãe foi aprovada num concurso público aqui no Estado da Bahia e por essa razão se mudaram para cá. Seu pai montou uma alfaiataria, enquanto sua mãe ensinava numa escola pública próximo do bairro onde moravam.

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