Cuidando de quem cuida - vol. 2
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Sobre este e-book
É isso que faz da iniciativa "Cuidando de quem cuida" um movimento tão pioneiro. Ao identificar o profissional e o cuidador em geral como alguém que também precisa receber cuidados, o projeto não só procura conscientizar sobre a importância e as formas de se promover um melhor autocuidado. Ele também dá início a uma saudável discussão sobre a necessidade de pensarmos em maneiras mais específicas de cuidar daqueles que cuidam de nossos pacientes.
Algumas das experiências vividas e parte do conhecimento compartilhado nesse projeto você vai encontrar nas páginas deste livro, pensado e organizado com carinho por todos os envolvidos no "Cuidando de quem cuida".
Este é o volume 2 de "Cuidando de quem cuida", revisto e com novo prefácio.
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Cuidando de quem cuida - vol. 2 - Ana Claudia Quintana Arantes
Perguntas e mais perguntas: buscando significados para a vivência do profissional cuidador
Cristiane Ferraz Prade
A vida inserida no sistema do mundo
Certa noite fui colocar minha filha de seis anos na cama, e ela, que é muito sensível, estava receosa de dormir e se entregar. Começou a chorar baixinho e disse:
– Mãe, às vezes eu queria não existir. Porque eu não sei por que eu existo! Por que eu existo?
Chorou mais um pouquinho e aí foi hora de um colo gostoso, e de afagar e esperar para eu mesma pensar.
– Mas, filha, esse é o mistério maravilhoso de viver. A gente não sabe por que vive, ou para que vive. A grande brincadeira é que a gente pode escolher de que forma quer viver, e para o que quer existir. Diferente das abelhas que não podem escolher o dia de não fazer mel e ficar de preguiça na colmeia; diferente dos elefantes que sabem exatamente por onde caminhar e continuam caminhando até chegar à fonte de água, faça chuva ou faça sol; diferente das criaturas que existem com uma função no mundo, as pessoas nascem para se inventar! E pode ser uma brincadeira muito divertida!
Devagarinho ela caiu no sono, e eu fiquei desejando que ela sonhasse com um lindo caminho de existência amorosa e plena.
Vivemos a vida inseridos em um sistema que gosta de ter todo mundo alinhado em fileiras, todos juntos na faixa de normalidade como pessoas funcionais que contribuem para a economia; pouco importa se estão felizes; se pagam as contas e cumprem com as obrigações, está ótimo. Afinal, a vida é assim e as contas sempre chegam. Realmente, não há como discordar que as contas sempre chegam; mas o ponto que o sistema demonstra não enxergar é como
pagamos as contas: podemos pagá-las sorrindo, chorando, esbravejando, reclamando ou até não pagar e esperar o oficial bater na porta de casa e nos escondermos no banheiro. O sistema não entende que a maneira como se vive faz uma grande diferença e que, ao longo da jornada, pode impactar o que é feito. É preciso se adequar para viver em sociedade, vestir o uniforme do sistema.
Há os que entendem que é uma roupa que mantém sua identidade criativa alerta. No entanto, muitos vestem uma roupa tão apertada que sentem falta de ar ao respirar. Outros tantos vestem o uniforme e não se reconhecem mais. Há os que vestem a roupa e adoram, tem um prazer indizível quando pagam as contas e quando sentem o poder monetário nas mãos. Estamos em um mundo que abraçou um sistema de normalidade bastante rígido e que, inevitavelmente, faz parte de nossa vida.
Quando somos crianças e vemos os adultos, desejamos a liberdade e o poder de ser adulto, de fazer o que quiser sem ter hora para dormir, desejamos não ter lição de casa que a gente acha chata, ou não ter que ir na festa de aniversário da tia Clotilde, que sempre aperta nossa bochecha ou bagunça o nosso cabelo. Entramos na adolescência e começamos a questionar a vida dos adultos; ao mesmo tempo a desejamos e a repudiamos. A liberdade é maravilhosa, mas começamos a entender que o mundo é muito confuso e que há poderes e situações de fragilidade que não queremos. É tempo de sonhar, de dormir até as três da tarde, de querer salvar o mundo, de romper com padrões. E pode vir o medo da vida adulta que engole e aniquila os sonhos. Somos apresentados ao sistema que irá, de certa forma, controlar ou normatizar alguns, ou vários, aspectos da nossa vida.
Escolher uma faculdade e uma profissão é um dilema entre sonho e praticidade, fazer dinheiro, ser feliz, ter uma carreira, ser reconhecido, e mais mil perguntas. E as contas começam a chegar com o nosso nome, e entendemos que é nossa responsabilidade pagá-las, mas há aquele sonho de realizar coisas que não geram fortunas, ou a alegria de poder pagar todos os boletos e ainda sobrar dinheiro.
Estamos neste mundo, mas temos também uma vida que não é movida a contas, parcelas, juros, bolsa de valores. De que forma atendemos a demanda do sistema e atendemos a demanda da nossa vida? Como sentimos que estamos contribuindo com o sistema com algo que fale de nossa identidade, de nossos sonhos, e não somente com o uniforme endurecido? Será que estamos apenas apertando parafusos de uma engrenagem entroncada e cheia de números?
Se o sistema tem demandas, a vida também tem demandas. Aquele que veste o paletó, aquela que se arruma com a saia plissada, carrega dentro de si histórias e desejos que pedem realizações; desejos, estes, que não podem ser saciados no shopping center. Nada tem a ver com adquirir o novo iPad ou aquele perfume importado caro. Carregamos o desejo de realização pessoal, de sentido de vida, de construção de um legado.
Lembro de quando eu era adolescente e adorava um filme chamado The Breakfast Club (Clube dos Cinco). Era um filme sobre jovens que ficavam de castigo na escola em um sábado, com personagens estereotipados retratando cada tipo de adolescente: o nerd, o esportista, o doidão, a doidona e a patricinha. E em determinado momento, a doidona falava: Quando crescemos e nos tornamos adultos, nossos corações morrem
.
E eu, com 15 anos, uma romântica inveterada e alucinada por cinema, na hora em que ouvi aquilo, pensei: Ah, não! Eu é que não vou deixar meu coração morrer. Não vou perder meus sonhos e me transformar em uma adulta robozinha
.
Engraçado como essa cena permaneceu em mim e me marcou na adolescência.
Você se lembra de quando tinha 15, 16 anos e viu um filme ou peça de teatro, ou leu um livro que deixou uma mensagem para você? E as canções?! Aquelas que escutamos nas festas do colégio marcam todo um tempo e registram um período da nossa vida muito significativo, porque é comum ouvirmos alguém se referir a uma música da juventude dizendo: Essa aí é do meu tempo
, como se aquele momento, depois de anos, não fosse mais o tempo de ser vivido com aquele brilho.
Por que deixamos o brilho ficar opaco? Por que é tão óbvia a automatização do pagar as contas? Por que se quer tanto um emprego, mesmo que não seja o trabalho que se deseja realizar? Por que, então, vivemos tão atrelados a um sistema que coloca todos em uma mesma fôrma? Somos desencorajados a olhar para dentro de nós e estimulados a olhar para fora, comparar-nos aos outros, buscarmos o que não temos, termos coisas para sentirmos que somos alguém.
Tempo de viver enquanto se trabalha, tempo de trabalhar enquanto se vive
Quando trabalhamos com pacientes que estão diante da morte, olhamos junto com eles para o que é a vida. É um presente que eles nos dão sem se aperceberem do que fazem. Eles nos convidam a examinar nossas escolhas e como nos posicionamos diante do sistema, dos nossos sonhos, da nossa história. Porque é esse processo que eles estão vivendo; eles estão avaliando a jornada, estão se perguntando se viveram a vida que queriam ter vivido, se amaram quem queriam ter amado, se construíram o legado que sonharam quando eram meninos e