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Duologia Clã dos Dragões: A Princesa Perdida
Duologia Clã dos Dragões: A Princesa Perdida
Duologia Clã dos Dragões: A Princesa Perdida
E-book409 páginas8 horas

Duologia Clã dos Dragões: A Princesa Perdida

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Sobre este e-book

O continente Meridiano é dividido em quatro reinos dotados de mistérios, criaturas místicas, deuses e clãs de conjuradores elementais chamados descendentes dos dragões. E é neste ambiente que dois cavaleiros das Terras do Norte partem numa aventura em busca da filha perdida do Rei, esta, que além de ser uma princesa é também a descendente mais próxima da deusa draconiana e por isso, guarda dentro de si, um poder lendário e raro: o dom de manipular os quatro elementos; Ar, Água, Terra e Fogo.
IdiomaPortuguês
EditoraBOOKERANG
Data de lançamento30 de set. de 2022
ISBN9786500379815
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    Duologia Clã dos Dragões - Isa Moreira

    Moreira, Isa.

    Duologia Clã dos Dragões, Livro 1. A princesa perdida.

    Isa Moreira, 2022.

    ISBN nº 978-65-00-37981-5.

    PRÓLOGO

    O continente Meridiano foi originado por Khah, o deus que se transformava em um dragão de quatro cabeças elementais, e sua mulher, a misteriosa deusa Saphira. O casal teve cinco filhos, quatro homens e uma mulher. Então Khah, no intuito de treinar e dar lições aos seus filhos, anunciou o Torneio da Escolha, em que os quatro filhos lutariam entre si e quem fosse o melhor dos quatro teria direito de escolher o maior território do continente e, ficaria responsável em dividir as outras partes do Meridiano entre o restante dos irmãos. Desta maneira, cada parte dividida tornou-se um reino e cada reino fora designado a um filho. E assim, os quatro ficaram conhecidos como Os Primeiros Elementais, pois cada rei era controlador de um elemento. O Rei Dracun, o Grande Dragão Vermelho que governava as terras quentes do Leste, era o controlador do elemento fogo. O Grande Dragão de Gelo, Rei Valladolid das terras do Sul, o primeiro controlador do elemento água. O Grande Dragão Negro, Rei Airus das terras do Norte, controlador do elemento ar. E o Rei Telúrio das terras do Oeste, controlador do elemento terra.

    E a filha, a caçula do clã, se chamava Scarlatien. Ela não se interessava por terras ou reinos e sim, por manter o equilíbrio e a união entre deuses e humanos e todos os controladores elementais, isso porque, fora agraciada pelo poder de manipulação dos quatro elementos, como o seu pai e podia controlar as criaturas mágicas, assim como sua mãe, além de ter uma força descomunal, por isso, e por seus cabelos ruivos, era também chamada de Fênix. E Scarlatien fez seu papel com

    maestria, até ser alvo da inveja de Kovak, seu tio e irmão mais velho de Khah, também era conhecido como Personificador, pois podia se transformar em qualquer deus, humano ou criatura. E o que ele mais queria, era ter nas mãos os dons da Fênix. Ele estudou diversas maneiras de roubar os poderes da sobrinha e quando não conseguiu, resolveu armar um plano que viesse a prejudicar Scarlatien de modo que ela tivesse que abdicar de seus poderes. Kovak matou o próprio irmão, personificado como a Fênix, para que todos achassem que tinha sido ela. E com ajuda da feitiçaria, criou seu próprio clone, para que todos percebessem que ele estava presente no momento e que não poderia ser ele personificado. Com isso, a deusa Saphira não viu uma alternativa, senão banir sua filha do mundo dos deuses, tomando-lhe todos os seus poderes e mergulhando-os nas profundezas do mar. Kovak desaparecera à procura dos dons da Fênix e Scarlatien, mesmo sem poderes, seguira em seu encalço, onde ambos travaram batalhas infinitas, até que, Saphira, vendo o esforço da filha, lutando contra o Personificador, resolveu intervir e toda a família se unira e finalmente, destruira Kovak. Então, Scarlatien foi aceita de volta e a paz voltou a reinar no Meridiano. Quanto aos poderes da Fênix, ninguém nunca mais ouvira falar… Até agora...

    Capítulo 1. Confusão no Mercado Velho Era o meu último dia no Orfanato Castiel, o lugar que vivi por longos anos, mas agora que havia atingido a maioridade, eu não poderia mais continuar a viver lá. A diretora de Castiel, contou que fui encontrada em um navio mercador que veio do Norte para o Sul. Onde eu estava desacordada e uma senhora nobre me levou para lá. O curioso é que não me lembro de nada.

    Não sei em que circunstâncias vim parar aqui.

    Enquanto a inspetora do orfanato tagarelava sem parar sobre as recomendações ao sair dali. Eu fitava o dia lá fora, frio, do mesmo modo que sentia minha barriga e distante, como meus pensamentos naquele momento.

    Eu ficava me perguntando se conseguiria sobreviver longe do orfanato, pois eu nunca tinha saído de lá. Afinal, quase ninguém sabia da existência desse casarão, quase abandonado, localizado no Pontal de Irídia. Por esses lados não havia muitos atrativos. Das terras do Sul, o local mais visitado era Kendal.

    — Entendeu tudo, garota? Espero que sim, pois eu não vou falar de novo. - disse a inspetora.

    — Entendi sim, senhora Demussy. - disse, embora eu não tenha ouvido nada do que ela havia falado. A inspetora nunca dizia nada que importasse mesmo, apenas deboches e ironias.

    Enquanto me dirigia à porta do dormitório com uma sacola nas costas, alguns colegas me seguiam. Passei pelo corredor e havia alguns garotos encostados

    nas paredes e na porta do dormitório masculino estava Ned, apoiado à porta. Um dos maiores amigos que fiz no orfanato. Ele se aproximou de mim e falou:

    — Lily, você não pode ir embora. Quem vai me ganhar na queda de braço, quando você não estiver por aqui?

    Eu ri e respondi:

    — Pense pelo lado positivo, agora você vai ganhar todas.

    O garoto sorriu cabisbaixo. Ele era um ano mais novo que eu. Eu estava completando 18 anos e ele tinha 17 anos. Era um garoto bem alto, cabelos castanhos e costas encurvadas, devido à altura. Não era um garoto musculoso, mas ele era o maior e mais forte dos garotos. Até hoje eu não entendia o porquê conseguia ganhar dele e dos outros garotos também, o desafio de queda de braço. Aliás, foi assim que nos tornamos amigos. Pensei que talvez, em breve, poderia voltar a vê-lo. E algumas das garotas também.

    — Anda logo, garota. Você terá um dia longo pela frente.

    — falou a inspetora, me apressando.

    Um misto de saudades e medo apertava-me o peito.

    Levei a mão até o colar que eu levava pendurado em meu pescoço. Era um colar de prata envelhecido, com uma pedra de esmeralda de cor incomum, um verde azulado. Eu o tinha desde que cheguei ao orfanato. De alguma maneira, a presença desse colar me deixava mais tranquila. Tinha quase certeza de que aquele amuleto, que era como eu o denominava, tinha algo a ver com o meu passado. E era isso que me dava esperança.

    Mesmo me afastando do casarão velho que era o orfanato, ainda escutava a voz irritante da inspetora a resmungar.

    Quando o silêncio pairou, me dei conta de que estava sozinha, sem nada ao redor, além de algumas árvores e vestígios de neve no chão, por consequência do final do Inverno.

    Mesmo com a temperatura já mudando, o Pontal era um lugar de frio constante; talvez fosse pela presença das gélidas águas oceânicas de Winchér, que fazia o lugar ficar mais frio.

    Alguns garotos contavam histórias, ou mentiras, sobre um dragão

    de gelo que habitava aquelas águas, por isso elas eram tão geladas.

    Peguei um pouco de neve do chão e tentei fazer uma bola: uma tentativa malsucedida, pois havia pouca neve. Porém, eu estava entediada com a paisagem vazia e nem ao menos conseguia me lembrar das recomendações da inspetora. A neve não era nenhuma novidade nas Terras do Sul e pelo que sei, também era muito frequente nas Terras do Norte no Inverno, no entanto, pelo que via nos livros, havia um território no Continente, denominado de Terras Quentes, devido a um grande vulcão que havia lá. Mas alguns garotos diziam que era para esse território que eram levados os prisioneiros pegos pela guarda real nortista.

    No orfanato, nós inventamos contos e histórias para nos distrairmos dos problemas e abandono que sofremos, principalmente para os menores.

    Felizmente, uma ou outra criança era adotada.

    O grande problema de Castiel, é que este era afastado e pouco conhecido.

    Caminhei na neve por algum tempo, pois o orfanato ficava um pouco distante da Vila Leenor. Precisava chegar até o mercado velho da vila. Talvez eu conseguisse um trabalho por lá.

    Ou talvez, até conseguir informações sobre a origem do amuleto que carrego comigo. Enfim, resolvi seguir o meu próprio caminho.

    Ao chegar na parte central da vila, já era possível notar que o clima ficava mais ameno. Na vila havia mais movimentação nas ruas, devido aos mercadores e compradores. O mercado velho era o local perfeito para comprar coisas antigas e quinquilharias.

    Chamávamos de mercado, mas era mais como uma pequena feira

    ao ar livre, com um corredor para os compradores e barracas dos lados direito e esquerdo. Estava uma aglomeração de pessoas naquele corredor, tagarelando de um lado a outro. Não sei se era a aglomeração de pessoas ou a caminhada de um lugar a outro, mas, já comecei a sentir a temperatura subir por ali, então desabotoei um pouco o casaco.

    Caminhava devagar entre as barracas, observando as mercadorias, como frutas e peixes nas bancadas e carnes de sol penduradas nas hastes das barracas. Uma comerciante mostrava tecidos a uma senhora; ao lado, uma barraca de objetos esculpidos de madeira, carrancas, colares com penas e pedras, o que me chamou à atenção. Parei para olhar se havia algum colar parecido com o meu. Nada parecido.

    — Belo colar que você tem aí, mocinha. — disse o comerciante olhando para o colar em meu pescoço. Era um homem baixinho, pardo e com um cavanhaque e não pude deixar de notar que lhe faltava um dente da frente.

    — Obrigada. — Eu disse já me afastando, do homem que tinha olhos de águia.

    Quando o homem deu a volta na barraca e aparatou em minha frente.

    — Posso dar uma olhada mais de perto na peça? - ele disse, enquanto eu olhei desconfiada. - Ajuda numa melhor identificação, mocinha. — Embora eu estivesse meio desconfiada, ao mesmo tempo, percebi que estava julgando precipitadamente. Talvez ele fosse um senhor prestativo e soubesse mais informações sobre o meu amuleto. Eu tirei do pescoço e mostrei ao homem. Ele pegou uma lente de aumento para observar. - Uma pedra de Esmeralda. Sim. Muito bonita, mas acho que é falsa. — O comerciante olhava hipnotizado para a pedra, mesmo após dizer que ela era falsa. E naquele momento, me arrependi profundamente de ter dado o meu colar na mão daquele estranho.

    — Obrigada. Pode me devolver agora? — eu perguntei já tentando pegar o colar das mãos do homem, porém ele se esquivou do meu movimento. — Pode me devolver? Isto é meu!

    — eu disse já perdendo a paciência. Pensei no que poderia fazer para distraí-lo. - Olha, um dragão! - gritei apontando para o céu.

    Disse a primeira coisa que me veio à mente. Quem acreditaria que teria uma criatura dessas voando no céu? Logo dragões, que nunca mais foram vistos por aqui. Mas consegui, por um rápido momento, que ele se distraísse e eu pudesse puxar à força o colar das mãos do homem e embrenhar-me no meio do corredor de compradores, sumindo das vistas do comerciante. Porém, não contava que ele começasse a berrar:

    — Pega ladrão! A trombadinha me roubou!

    As pessoas me fitavam incrédulas, mas ninguém tentou me deter, nem por isso, deixei de apressar o passo pra sair logo daquela aglomeração e fugir para outro canto, que não aquele local. Enquanto corria, dava olhadinhas para trás pra ver se o comerciante ou alguém estava me seguindo, quando, na pressa, bati de cara no lombo de um cavalo negro e com o choque, caí no chão e fiquei ali por um tempo. Massageei as têmporas, pois, minha cabeça ficou dolorida instantaneamente com o baque que sofri. Estava um pouco atordoada, assustada e com fome, que meu estômago chegava a roncar. Lembrei que não tinha comido o suficiente antes de sair do orfanato. Passei as últimas horas em Castiel, devaneando sobre a minha vida depois dali e de nervosismo, não me alimentei direito.

    Sacudi a cabeça de modo a voltar a realidade de que estava no meio de uma fuga e quando me preparava para levantar, vi um par de botas pretas de couro surgir à minha frente. Concluí que era o dono do cavalo que bati.

    Levantei a cabeça vagarosamente e pude analisar o homem dos pés à cabeça, literalmente. As botas pretas e calças pretas, uma túnica de malha e couro, bem reforçada, como uma espécie armadura. E era exatamente isso. Pois, se tratava de um cavaleiro

    armado. Havia um emblema nos trajes do homem, com o fundo verde e detalhes prateados que formavam duas espadas cruzadas à frente de um escudo. Já havia visto aquele emblema antes, mas não me lembrava onde. Uma capa longa e negra descia pelas suas costas e o rosto, tinha uma barba rala de um tom castanho claro, os cabelos eram castanhos claríssimos, quase loiros, olhos azuis, como lagoas cristalinas. Parecia um príncipe de contos de fadas.

    Ele aparentava ter uns vinte e cinco anos; não mais do que isso. Se eu pudesse ver minha cara naquele momento, eu me veria babando, certamente.

    Despertei de meus pensamentos, antes que alguém percebesse notar minha cara embasbacada. Nisso, ouvira ao fundo, a voz irritante do comerciante que tinha me alcançado, então, levantei-me do chão imediatamente, já preparando-me para sair dali.

    — Pega ladrão! — ele gritou ofegante ao homem do cavalo.

    - Nobre cavaleiro, eu fui roubado! — ele falou com dificuldade, apontando para mim.

    — O que está acontecendo aqui? — o cavaleiro perguntou segurando em meu braço.

    — Não é preciso me segurar. — Eu disse me desvencilhando da mão do rapaz — Eu não roubei nada deste senhor louco! Pelo contrário. Ele tentou me roubar! - conclui, guardando o colar dentro de um bolso de fora do casaco.

    Enquanto o rapaz, observava cada movimento meu.

    A confusão, além de olhos curiosos, atraiu mais dois cavaleiros, portando trajes iguais aos do primeiro: Aquele com cara de príncipe. Ambos querendo saber sobre a confusão que se formou ali. E eu, só queria desaparecer daquele lugar, como num passe de mágica. Então eu olhava ao redor, buscando alguma rota de fuga. Observei atrás dos cavaleiros que chegaram depois, onde havia um grupo de camponesas, todas encantadas e alvoroçadas com a presença dos rapazes, que eram senhores muito belos. Pude observar todos, enquanto traçava minha fuga. Pensei em me

    misturar com o grupo de garotas quando os homens se distraíam com as falácias do comerciante, porém, um dos rapazes fitava-me, como se estivesse procurando algo em meu rosto. Era um jovem de cabelos escuros encaracolados e os olhos verdes a me observar. Pensei que talvez eu pudesse estar com o rosto sujo por causa do tombo no chão.

    Por que esse homem está me encarando? Ele está sendo um empecilho e tanto nos meus planos de sumir daqui, pensei.

    Finalmente ele desviou a sua atenção de mim e foi até o cavaleiro loiro, provavelmente, o líder do grupo, que estava a fazer perguntas ao comerciante. O rapaz de cabelos escuros cochichou algo no ouvido do loiro e eu aproveitei o momento para me misturar ao clube de jovens que suspiravam pelos guardas.

    Sem olhar para trás, corri com dificuldade por causa do chão escorregadio com vestígios de neve. Fui para trás de uma das casinhas do vilarejo e atravessei uma e outra casa, até que eu perdesse de vista o tumulto do mercado. Depois de me afastar de lá, me encostei na parede de uma casa para descansar. Estava ofegante devido à fuga. Apoiei a cabeça na parede e levei minha mão no bolso esquerdo do casaco, onde havia guardado o colar e me assustei.

    Inspecionei todos os cantos do bolso esquerdo e do bolso direito, o cordão não estava em nenhum deles. Desabei ao chão, chorando.

    Não acreditei que depois de tudo que tinha feito, havia perdido o meu amuleto...

    Capítulo 2 - O interrogatório na taverna Me levantei do chão e resolvi procurar o cordão, que poderia ter caído pelo caminho. Mesmo que corresse o risco de um daqueles cavaleiros de preto me encontrar. Já não estava me importando muito com isso. Só gostaria de encontrar o colar.

    Dei uma espiada por trás da parede da casa para ver se via alguém e dei uma boa olhada no chão para ver se encontrava alguma pedrinha verde caída pelo caminho. Fiz o mesmo percurso que havia feito para sair do mercado velho, na esperança de encontrar o cordão. Ficava o tempo todo olhando para o chão. Ao atravessar um dos lados de uma casa, me deparei com dois homens: Era o cavaleiro loiro, junto com seu colega de olhos verdes curiosos.

    — O que é que vocês querem? — eu perguntei, mas nem esperei a resposta. - Se vieram atrás do colar, perderam tempo. Eu o perdi e a culpa é de vocês! —disse apontando para os dois rapazes. Antes deles começarem a falar eu continuei. — Não! A culpa é do comerciante! Droga! A culpa é minha, por ser tão idiota! — concluí com voz de choro, levando as mãos ao rosto.

    Para uma garota que não sabe nada sobre seu passado, aquela era a única pista que tinha.

    — Não chore, senhorita. — disse o moreno delicadamente estendendo um lenço em minha direção. Eu peguei o lenço, observei o belo bordado que havia nele com as iniciais P.V.

    Devia ser as iniciais do nome dele. Sequei as lágrimas, sentindo um cheiro amadeirado muito agradável.

    — Obrigada. — Agradeci, observando enquanto o rapaz mudava de lugar com o seu colega, o cavaleiro de cabelos claros, que pegou uma bolsinha de veludo e sacudiu-a na palma de sua

    mão e de lá caiu o colar de esmeralda. Eu me deslumbrei ao ver novamente o meu amuleto.

    — Está falando desse colar? — ele estendeu a corrente à minha frente.

    — O colar! Vocês o encontraram. — Eu avancei pra cima do colar e o peguei de volta.

    — Na verdade, você não o perdeu. — Ele disse apoiando-se na parede e cruzando os braços. — Eu o peguei do seu bolso enquanto ainda estávamos naquela confusão do mer...

    — Como é que é? - eu o interrompi irritada. Depois me senti confusa. — Mas como é que você fez... Aliás, por que fez isso?

    — Bom, eu não sabia quem estava falando a verdade, então, por via das dúvidas, eu peguei o objeto para ser averiguado posteriormente por um dos meus colegas da Guarda.

    — E foi através desse objeto que nós a encontramos. -

    Completou o cavaleiro de cabelos encaracolados.

    — Como assim? — Eu quis saber. Talvez fosse alguma característica peculiar do colar misterioso.

    — Usamos uma técnica da Guarda. — Ele comentou e depois mudou de assunto, como se não quisesse mais prolongar a conversa sobre aquilo. — Falando nisso, fiquei impressionado com a sua agilidade. Num piscar de olhos, desapareceu da nossa vista. — Falou o cavaleiro moreno, dando um sorriso descontraído. — Ah, me desculpe. Nem me apresentei. O meu nome é Miguel Rivera. — Ele esticou a mão direita pro meu lado, em sinal de cumprimento. Eu apertei a mão do jovem. — E esse é meu amigo, Petrus Valoar. — Ele apontou para o rapaz loiro que estava escorado na parede da casa, de braços cruzados, me olhando da cabeça aos pés, como se estivesse analisando algo.

    Então, de repente ele desencostou da parede e esticou o braço para me cumprimentar.

    — O que estão me olhando assim? — falei por fim, incomodada com aquele olhar. - Parece que sou de outro mundo.

    — Resmunguei. Embora eu não quisesse estender mais conversa com aqueles dois estranhos, eu fiquei muito curiosa para saber qual era o problema afinal.

    — É que a senhorita se parece muito com… Como disse mesmo que é o seu nome? — perguntara Petrus.

    — Eu não disse. — Respondi. De repente, observei aqueles dois pares de olhos curiosos na minha direção. — Está bem. — disse cedendo. — Eu sou Lily. Só Lily. — Pigarreei. — Então... eu preciso ir agora. Foi um prazer conhecê-los. — Dei um sorriso torto e dei as costas a eles, indo embora.

    O fato é que, não tinha sido um prazer conhecê-los. Eles se intrometeram onde não foram chamados. Acharam que eu tinha roubado um colar, que na verdade era meu. Não me perguntaram o que tinha acontecido, ainda por cima, pegaram o cordão do meu bolso sem o meu consentimento e me fizeram acreditar que tinha o perdido. Quem eles pensam que são? pensei, enquanto me distanciava.

    — Ei, espere aí! Lily, só Lily. — Disse o tal Petrus, pulando à minha frente, com um sorriso debochado. — Você não pode ir embora assim.

    — Tem razão. Não posso ir, sem antes devolver isso. – Eu mostrei o lenço ao cavaleiro loiro. — É seu, não é?

    — É. Mas, você pode ficar com ele, se precisar, em outro momento. — Ele disse e eu franzi o cenho, o observando com estranheza. — Ah, não é que eu esteja querendo que chore outra vez. De maneira nenhuma, eu quero ver isso novamente. Mas, não é porque o seu choro é irritante ou algo do tipo. Não foi o que eu quis dizer. Só estava tentando ser gen... — Ele me olhou e eu esboçando a minha face mais perdida. Não estava entendendo nada. — Ah, deixa pra lá.

    — O que o meu amigo está tentando dizer é que nós devemos desculpas a você. Não é mesmo, Petrus? — Disse, se

    aproximando do amigo, pondo a mão no ombro dele. Os dois se entreolharam. O loiro deu de ombros.

    — Ok. Desculpas aceitas. Mas eu preciso realmente ir. —

    Meu estômago roncou. Coloquei as mãos sobre a barriga, de modo a abafar os ruídos do estômago. Não tenho certeza se funcionou, mas de qualquer forma, não gostaria que eles ouvissem. - Eu tenho algumas coisas para resolver. - disse, voltando a seguir meu caminho. De fato, eu realmente tinha outras coisas para fazer e a me preocupar. Precisava encontrar um trabalho, precisava comer, pois eu não tinha me alimentado direito e já estava com fome. Precisava encontrar um lugar para dormir

    e

    me

    banhar.

    Já disse que precisava comer? Matutava com meus pensamentos.

    — Está com fome? - perguntou Miguel. Céus! Ele ouviu meu estômago roncar! Pensei. — Estávamos indo comer agora.

    Gostaria de se unir a nós, senhorita? — convidou. Miguel Rivera demonstrava ser um cavalheiro. Mas será que isso era suficiente para começar a confiar nele? Fui inocente o bastante, talvez até tonta, ao confiar no comerciante que tentou me roubar. Agora desconfiava de tudo e de todos.

    — Está desconfiando de nós? Sim, ela está! — Petrus disse, apontando para mim, como se lesse a minha mente. — Devia ter desconfiado do comerciante picareta, não de nós. — perguntou me encarando com aquelas lagoas azuis, que ele chama de olhos.

    Petrus Valoar era um rapaz realmente muito bonito, porém muito mal-humorado e metido à besta. Diferente do seu colega, Senhor Rivera, que era muito educado.

    — Você quer estragar tudo? — sussurrou Miguel para Petrus e o loiro revirou os olhos de impaciência.

    — Desculpe o meu amigo. — Miguel comentou. — Ele quis dizer que não há com o que se preocupar. Nós somos cavaleiros da Guarda Real das Terras do Norte. Talvez você possa nos ajudar...

    — Viemos a serviço do rei de Svalbar. — disse Petrus, de maneira presunçosa. - Queríamos apenas fazer umas perguntas, de praxe, sobre o ocorrido no mercado, já que fomos solicitados.

    — E assim, também podemos esclarecer o motivo que nos trouxe até este lugar. Antes de tudo isso acontecer, procurávamos uma pessoa. Acredito que talvez possa nos ajudar. — Completou Miguel.

    — Olha, eu acho difícil. Morava… quer dizer, vim de um lugar muito afastado. Dificilmente, eu conhecerei alguém daqui.

    Mas, se só quiserem saber sobre o ocorrido no mercado, eu posso contar. E aí vocês me deixam em paz? Quero dizer, assim vocês me deixam ir? — perguntei aos rapazes. Petrus concordou com a cabeça e Miguel logo depois.

    — Então, podemos conversar em um lugar mais tranquilo?

    Passamos por uma taverna logo ali atrás. — Sugeriu Petrus.

    — Está certo. — Concordei por fim.

    Os dois seguiram até onde haviam deixado seus cavalos amarrados. Desamarraram os bichanos e continuaram a caminhada a pé. O que me levou a pensar que não iríamos longe.

    Agradeci mentalmente por não precisar subir em um cavalo.

    Enquanto seguíamos para um lugar mais calmo, observei a admiração dos moradores da vila, com a presença dos cavaleiros.

    Os senhores da vila faziam reverência a ambos, principalmente Petrus Valoar, como se ele fosse o próprio rei. Não é à toa que era tão convencido. Deviam ser muito leais e muito importantes ao reino. Jovens nas janelas, olhando, encantadas. Outras suspiravam ao passar por eles e deixavam cair lenços no chão para que um dos cavaleiros pegasse e devolvesse. Era um costume, para atrair pretendentes. Sinceramente, estava achando aquilo um pouco exagerado e muito apelativo. À primeira vista também ficara impressionada com tal beleza da dupla, mas tentei disfarçar ao máximo.

    Eles eram rapazes bonitos? Definitivamente! Eram diferentes dos rapazes que costumávamos ver por aqui? Com certeza! Bem-apessoados, trajes de couro bem reforçado.

    Cabelos limpos e bem penteados. E eu, me sentia em farrapos, ao lado daqueles homens elegantemente trajados, pensei.

    Miguel parecia um tanto quanto sem jeito com a recepção que estavam tendo ali. Dava alguns sorrisos singelos. No entanto, Petrus parecia não se importar. Ele estava compenetrado. No que será que pensava, que o deixava até com a testa franzida? Pensei.

    Naquele momento em que o olhara ele me olhou de volta. Senti meu rosto corar. Não penso que ele me fitava por beleza, diante de tantas moças bem arrumadas que caminhavam pelas ruas. Mas seu olhar me intrigava.

    — Estou faminto! — Miguel comentou, quebrando o gelo.

    — Acho que se demorasse mais um pouco para se decidir, eu cairia desmaiado de fome. — Petrus se direcionou a mim, sorrindo.

    Meu rosto estava quente. Certamente eu ainda estava corada. Há coisas que não conseguimos controlar. Tipo, o rubor das bochechas.

    Ele estava realmente sorrindo para mim? Porque era estranho, vindo de um rapaz que não gostou de mim desde o começo. Pensei.

    Olhei para trás para ver se o sorriso não estava sendo direcionado a outra pessoa. Talvez alguém atrás de mim estivesse retribuindo o gesto. Por incrível que pareça, não tinha ninguém.

    Mas já havia passado o momento de sorrir de volta. Eu estava tão sem jeito. E eu me incomodava com esse cavaleiro, pois ele era uma pessoa difícil de decifrar. O que me deixava confusa.

    Paramos em frente a uma taverna e eu fiquei observando a entrada do local, enquanto os rapazes amarraram seus cavalos a um tronco. Era uma casa grande de tábuas, não tinha janelas, apenas uma porta grande estava escancarada, por isso mesmo, não conseguia enxergar nada de como era lá dentro. Havia uma placa

    de madeira pendurada em correntes, na parede do recinto, logo acima da porta, escrito Taverna do Lobo Manso

    Então, finalmente, entramos no local. Tinha mesinhas espalhadas em todos os cantos. Uma escada escondida na extremidade direita e, do lado esquerdo, tinha uma bancada comprida de madeira onde havia homens sentados em banquetas.

    Os senhores daquele recinto eram ao estilo Brutamontes. Um falatório total de homens grandes e carrancudos tomava conta do ambiente. Eles gritavam, comiam e bebiam ao mesmo tempo.

    Pelo visto, manso aqui, só o lobo! Pensei recordando-me do nome da taverna.

    — Senhor Valoar? — eu o chamei e ele me olhou. — Este era o lugar mais tranquilo ao qual se referia?

    — Esqueci de mencionar que, tavernas, normalmente, não são tranquilas. — Petrus disse com um sorriso sarcástico.

    — Tendo comida é o que importa. — Eu comentei quando vi uma mulher passar com uma bandeja de carnes de sol e pães.

    Depois me direcionei a Petrus, que me olhava surpreso.

    Quando a comida foi posta à mesa, não me contive em olhar tudo o que havia e fui pegando um de cada, como se não houvesse o amanhã.

    Pelo deus Khah! Eu estava comendo como uma desesperada. Quando ficava nervosa, comer sempre me tranquiliza, mas eu precisava diminuir o ritmo, apenas para não demonstrar que eu estava faminta.

    — Bom, vamos começar as perguntas. — disse Miguel, entrelaçando suas mãos em cima da mesa. — Como chegou ao mercado da vila? A que propósito?

    - Bem, eu morava em um casarão no pontal de Irídia, o orfanato Castiel, que era quase fantasma, pois ninguém nunca ouvira falar dele. — eu disse colocando um pedaço de pão na boca. — Mas quando atingi a maioridade, eu não poderia continuar lá, então vim para a Vila à procura de um trabalho.

    — Você não deveria falar de boca cheia! — Petrus disse. E

    antes que eu abrisse a boca para retrucar, ele continuou: — Nem se estiver tapando a boca com a mão. Pois, ainda é errado. —

    Concluiu relatando o que eu havia feito.

    — Senhor Valoar, estamos em um interrogatório ou em uma aula de etiqueta? — Perguntei, dando um leve sorriso.

    Percebi que minha resposta o deixara nervoso, mas ele não revidou, simplesmente sorriu de volta.

    — A senhorita tem um apetite de leão. — Comentou Petrus ao me ver comendo.

    — Eu gosto de comer. Algum problema? — disse dando uma golada de água. Me virei para falar com Miguel. — O seu amigo é sempre irritante assim ou só de vez em quando? —

    apontei com o polegar para Petrus que se sentava à minha frente na mesa redonda.

    — Isso não vem ao caso, senhorita Lily. — Pigarreou Petrus e prosseguiu com a próxima pergunta — Continuando... Com quantos anos você chegou no orfanato? - finalizou.

    — Isso é realmente necessário? — eu falei, em relação a pergunta. Os dois se entreolharam e depois olharam para mim assentindo. Sinceramente, não vi relação entre essa pergunta e o que acontecera no mercado. Mas respondi, desgostosa. —

    Cheguei com 8 anos, mas nem adianta vocês perguntarem mais nada sobre isso, pois eu não me lembro do que aconteceu antes desses 8 anos. Para ser sincera, nem o meu nome eu lembrava, por isso, me denominei de Lily. A flor que mais gosto. —

    Respondi.

    — Chegou ao orfanato com 8 anos. Interessante. —

    Esboçou Miguel, colocando a mão direita sobre o queixo, pensativo.

    — O seu cabelo é ruivo mesmo ou você o tingiu? — Petrus perguntou de súbito,

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