Pitfall
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Pitfall - Antonia Portela
PITFALL
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2
ANTONIA PORTELA
ARMADILHA
3
Microrregião de Pindaré 1982
Após as compras nos mais variados arrabaldes da cidade, todos se dirigiram para o mesmo lugar: O ponto de espera; local de entrada e saída para a maioria dos povoados em que seus moradores faziam compras ou negociavam de modo geral.
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Aquela era a cidade acessível mais próxima, com recursos que permitiam realizar a comercialização dos produtos agrícolas dos pequenos produtores rurais daquela jurisdição.
Aos sábados aquela rua estava sempre lotada de pessoas que iam ou voltavam da chamada feira livre. Não que aquela expressão fosse usada por eles.
Pobres lavradores e quebradeiras de coco subiam ou desciam de caminhões cargueiros usados para o transporte de pessoas, objetos e animais.
O cheiro que exalava dos porcos e das galinhas misturava-se ao do suor daqueles que não haviam tomado banho naquele dia, por desleixo ou desencanto por uma vida pateticamente miserável.
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No sábado de toda semana o cenário era sempre o mesmo; pessoas oriundas dos mais diversos povoados eram transportadas em caminhões com sacos de carvão ou com animais para serem vendidos a um preço injustamente baixo como única forma de conseguirem o dinheiro necessário para a complementação dos provimentos da família. Por exemplo: a cesta básica que seria consumida durante todos aqueles dias em que eles passariam em seus casebres na zona rural.
Naquele momento um grupo de
pessoas
com
sacolas
de
compras
penduradas nas mãos transpuseram o pequeno curso entre os mercados e o ponto de espera, fazendo seus pés submergirem totalmente na terra solta daquela rua sem calçamento.
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Apesar de ser aquela a rua mais movimentada da cidade - durante o dia –
não havia pavimentação ali e a nuvem de poeira no ar era constante com o sopro do vento e a parada brusca dos caminhões e outros transportes que transitavam por ali.
Uma garota de cabelos loiros saiu da venda mais próxima e parou no lugar onde terminava a rua pavimentada e iniciava-se a de terra; recostou-se na coluna de madeira de um boteco e passou a observar de longe seus companheiros de viajem.
Seu tio atrasara-se conversando com o dono da venda que demonstrava
obrigatória simpatia, pois sabia por experiência, que o ponto fraco daqueles caipiras era um pouco de conversa amistosa dispensada por alguém de posses; isso fazia com que aqueles pobres miseráveis se sentissem como gente de 7
verdade. Por outro lado, os mesmos ganhavam fama de terem afinidade com os pobres, o que significava uma clientela maior.
Olhares cobiçosos lançavam-se sobre a bela adolescente com considerável frequência, no entanto, seu gesto sério demais não encorajava ninguém a
aproximar-se. Alguns mais atrevidos arriscavam um gracejo o que era ignorado com aparente frieza.
O condutor de um veículo de
pequeno porte que descia a ladeira em direção a estrada de terra parou frente a calçada do boteco e abordou a jovem perguntando-lhe para onde ia, sem se importar com sua indiferença.
A moça o olhou detidamente antes de responder, notando que o mesmo não poderia ser motorista de condução e se 8
fosse, com certeza não seria para os povoados. Seu aspecto – roupas limpas e barba bem-feita – não condizia com o que tentava aparentar. Com certeza era apenas mais um gavião querendo cravar as garras em uma garota jovem e bonita como ela.
Enquanto refletia mirou a própria imagem no espelho pendurado na parede.
Muitas garotas da sua idade dariam tudo para obterem aquela formosura. Ela a tinha por pura generosidade da natureza.
No seu caso, porém, a beleza era uma adversária perigosa e cruel.
O homem tirou um cigarro e acendeu-o.
Enquanto soltava a fumaça percebeu pelo canto dos olhos o olhar intenso da garota rumo ao seu maço de cigarros e resolveu oferecer-lhe um.
9
O tédio por estar esperando há horas o carro de passageiros que os levariam de volta para casa, a fez aceitar, embora transparecendo certo constrangimento.
Naquela ocasião abriria uma exceção, pois não costumava fumar em público.
Seu tio, por sua vez, continuava conversando animadamente com o dono da venda que, certamente já estava farto de bancar o simpático.
O oferecimento veio acompanhado pela liberdade de apoiar o braço na coluna de madeira onde ela estava encostada deixando-a incomodada. O incômodo, no entanto, durou pouco. Alguém o chamou com certa urgência e o mesmo saiu ainda mais apressado como se o assunto fosse do seu próprio interesse e não da outra pessoa que o havia chamado.
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Mais adiante, parou, dando conta de que saíra sem despedir-se da garota e, assumindo uma postura de cavalheiro, deu um sorriso e acenou num gesto de despedida.
Minutos depois chegou o transporte que os levaria de volta.
Alguns passageiros já haviam tomado seus lugares no interior do veículo, entre eles um jovem rapaz moreno de boa aparência.
A moça fixou o olhar nos olhos negros do rapaz deliciando-se com a sensação de bem-estar e despertando seu interesse imediato. Todavia, ao perceber o flagrante cupido dirigiu o olhar a outros passageiros fingindo indiferença.
Aquela poderia ser sua última viajem a cidade aquele ano, antes que o inverno se 11
pronunciasse tornando impossível o tráfego de veículos como aquele.
O verão continuaria até o mês de novembro, no entanto, os membros da sua família não iam à urbe com muita frequência, exceto quando faltavam mantimentos que não eram fornecidos pelos comerciantes do lugarejo.
Quando se iniciava o período
chuvoso, as vias de acesso à cidade tornavam-se intrafegáveis devido às erosões do solo provocadas pelas enchentes, permitindo, no máximo, o tráfego de veículos com tração nas quatro rodas tipo Jipe ou Pick-up.
Para alguns povoados a situação era ainda pior, permitindo apenas a passagem de animais de carga.
12
Por sorte essa interrupção não coincidia com a época de escoamento da produção agrícola.
Não que aqueles homens fossem
grandes produtores de grãos, mas todo ano dava para vender pelo menos um pouco do que sobrava do consumo anual.
Apesar de toda precariedade financeira eram poucos os que passavam fome, pois mantinham em seus quintais armazéns onde estocavam a colheita que seria consumida durante o ano, basicamente composto pelo arroz, o feijão e a farinha de mandioca.
A maior carência, nos meses de inverno, era no que se referia a médicos e remédios, principalmente para as crianças.
Nos meses de março a junho, tanto a diarreia quanto a bronquite epidêmica, 13
maltratavam principalmente as crianças menores de sete anos, e não havia meios de procurar um hospital, pois as vias de acesso estavam interrompidas. O jeito mesmo era apelar para as curandeiras; mulheres idosas que se ocupavam de fazer os partos das outras, assim como criar componentes homeopáticos destinados à cura dos mais variados tipos de doenças, tanto de pessoas adultas quanto de crianças.
Tais mulheres não exerciam a função de curandeiras na expectativa de serem remuneradas por seus trabalhos que era mais visto como um voluntariado.
Por vezes, no entanto, alguém que sarou com uma garrafada, levava à heroína curandeira, um capão cevado; não como forma de pagamento, mas como um gentil 14
agradecimento por esta ter-lhe restaurado a saúde.
O condutor, daquela vez, não era o de costume. Os passageiros, no entanto, os mesmos rostos familiares de sempre.
Exceto aquele rapaz de pele morena aparentando uns dezessete anos.
Pelos negros e finos pronunciavam-se acima dos lábios vermelhos e carnudos.
Dinê nunca o vira antes, contudo, pelas indicações que havia observado, intuíra que o mesmo deveria pertencer a uma família que comprara recentemente a propriedade ao lado do sítio de sua avó, onde morava com a mesma e seus tios: Louro e Aurea.
O motorista gritou um vamos lá pessoal
instigante aos passageiros que
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permaneciam a esperar, amontoados às margens do caminho.
O mecânico da oficina situada no mesmo local onde aguardavam os passageiros chamou-o de garanhão, expressando certa malícia, indagando se o mesmo estava apressado, a julgar por sua atitude ansiosa.
- É verdade – respondeu – desta vez vou levando uma carga muito valiosa. Falou e mirou a jovem de baixo para cima de uma forma que a deixou vermelha de raiva e acanhamento.
O rapaz pareceu não gostar da
provocação e Dinê ficou impressionada com o ar de reprovação que o mesmo expressava contra os dois homens sem se importar com a exposição de seus anseios com relação a uma jovem que acabava de conhecer.
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A moça encheu-se de feliz vaidade ao perceber que o jovem desconhecido se havia incomodado com a atitude grosseira do motorista em relação a ela e, aos poucos, sentiu-se relaxar.
Todos os passageiros haviam tomado seus lugares, somente ela continuava de pé ao lado do veículo.
- Não vai subir? Perguntou o sujeito que guiava o carro de passageiros em uma posição estratégica para ver sua calcinha quando subisse para a parte traseira do veículo.
- Ela vai subir quando você entrar no carro.
Interferiu o rapaz ante o olhar sisudo do motorista que deu as costas e saiu.
Dinê deu um sorriso e subiu para a carroceria do veículo, através do pneu, dando uma piscada para seu defensor e 17
sem se importar que ele visse o que o condutor do veículo queria ver.
Eram mais ou menos onze e meia da manhã e os raios do sol abrasador do mês de agosto parecia entranharem na carne daqueles passageiros de pele encardida que se apoiavam agarrados às hastes de madeira que adornavam a parte de trás daquele veículo velho a quem os povos da região costumavam apelidar de três quarto
.
O motor velho do veículo fazia tanto barulho que ficava impossível travar um diálogo durante o trajeto que separava a cidade dos povoados.
A estrada de terra cor de laranja apresentava talhes aqui e ali, fazendo o veículo sacudir violentamente com a velocidade.
18
Os solavancos causados pelos buracos existentes na estrada sacudiam com tanta força que os passageiros tinham que segurarem-se com firmeza para não caírem por cima uns dos outros.
Uma lufada de vento quente como
brasa levantava uma nuvem de poeira alaranjada cobrindo a todos.
Dinê estava na parte frontal da
carroceria. Os olhos da moça estavam fixos na estrada, os cabelos lisos cobertos pela poeira sentindo a pele arder devido ao calor excessivo e respirando com dificuldade aquele ar poeirento que fazia doer seus pulmões.
Como estivesse cansada daquela
posição, resolveu ficar de pé para observar melhor a paisagem.
19
As palmeiras pareciam girar à medida que o veículo avançava.
Aquela era uma árvore frutífera típica que servia como fonte de renda para a maioria das famílias de lavradores e vaqueiros de grande parte do Estado.
Os cocais eram formados por
palmeiras de babaçu, tipicamente da região, podendo ser aproveitado
praticamente tudo dessa planta, desde o fruto – utilizado na fabricação de vários produtos – à madeira, usada como adubo em hortas e jardins.
Aquela região era basicamente
sustentada pela produção extrativa do babaçu, além da pecuária, agricultura e o garimpo de ouro.
A pesca em regime artesanal também era uma alternativa de subsistência. No 20
entanto, predominava a extração do babaçu quando se tratava de
complementação da renda familiar.
Enquanto seus esposos trabalhavam na lavoura ou em outras atividades rurais, mulheres com machados e caçuás
disputavam uma palmeira com babaçus maduros, prontos para serem extraídas suas amêndoas, depois vendidas para o comércio.
SITIO SÃO FRANCISCO
Os passageiros tinham descido do veículo nos povoados próximos, somente o rapazinho continuava dentro da cabina junto ao motorista.
21
O sitio de Isaura ficava à beira da estrada que ia dar em outra cidadezinha, cortando por uma via secundária.
Os últimos passageiros se reduziam em Dinê, Sebastião – filho de Isaura e morador no mesmo sítio, em um casebre próximo –
e aquele rapaz que pulou prontamente do veículo ali mesmo.
- Eu moro logo ali, no próximo lote –
explicou ao motorista – daqui vou a pé.
Pode fazer o retorno! Falou e deu uma olhada significativa para a garota que evidentemente o havia encantado.
Sebastião, que observava tudo, profetizou que, Louro – seu irmão – teria problemas com o mais novo vizinho.
Tio Louro era um rapaz maduro, de uns trinta e oito anos, moreno, calvo e de bigodes retorcidos. Muito amável com os vizinhos e pessoas conhecidas, porém, na 22
velha casa de barro coberta com palhas de coco, onde viviam, era violento e autoritário.
Dinê lembrava-se muito bem do dia em que sua mãe falecera. Como seu pai não pudesse cuidá-la e trabalhar para sustentá-la ao mesmo tempo levou para sua família acabar de criá-la.
Dona Isaura prometeu cuidar da
garota e protegê-la como se fosse sua própria filha, mas não foi o que aconteceu: Louro antipatizou-a desde o primeiro momento, antipatia essa que transformou em assédio sexual à medida que a garota se tornava uma mocinha...
A velha a esperava à porta de casa com sua habitual expressão melindrada.
Perguntou – enquanto lhe arrancava as sacolas de compras das mãos e examinava 23
o conteúdo das mesmas – se havia sobrado algum dinheiro.
Dinê respondeu negativamente e
pediu-lhe que confirmasse com seu tio Sebastião, uma vez que a avó não confiava em ninguém, muito menos em sua pessoa.
Após entregar as sacolas, encaminhou-se até o pote de barro; enfiou o braço naquele utensílio doméstico quase vazio e depositou um pouco de água em um copo de alumínio.
Após saciar a sede, correu para o seu rádio de pilhas; companheiro de todas as horas, para ouvir música e inteirar-se sobre o que acontecia no restante do mundo, pois às vezes tinha medo de sucumbir à solidão e à total desinformação, vivendo em um lugar tão atrasado e convivendo com pessoas completamente sem
instruções.
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- Nada disso, mocinha! Berrou a velha ao vê-la ligar o rádio e ordenou que a mesma fosse até a cacimba, encher o cocho com água, pois, segundo ela, os animais não tinham ingerido uma só gota durante todo aquele dia.
Dinê argumentou alegando estar
cansada e com fome e que o faria quando terminasse sua refeição, já passada da hora habitual. No entanto, a velha impertinente obrigou-a a realizar o trabalho braçal antes de qualquer outra coisa.
Isaura ainda acrescentou que logo mais conversariam sobre as compras, expondo de maneira clara, sua injusta e ofensiva desconfiança contra sua integridade, probidade e retidão.
Preocupada em ser obediente a fim de evitar o conflito, a garota apanhou o balde
- amarrado no aro por uma corda - e, 25
segurando seu radinho na outra mão, desceu a encosta a passos firmes, apesar da fome que a devorava.
Enquanto transpunha a declive em direção à cacimba, Dinê ouviu a avó resmungar qualquer coisa para sua tia Áurea, de modo conspirador, deixando-a nervosa e com más expectativas para os próximos dias.
Com certeza, ambas passariam algum tempo envoltas em recriminadora
desconfiança, magoando a pobre cativa.
Dona Isaura não confiava na neta ou em qualquer outra pessoa, no entanto, raramente ia à cidade comprar os mantimentos necessários para o sustento de todos, entre eles, o querosene usado em lamparinas para clarear à noite, pois a luz elétrica não chegava até ali.
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A neta de Isaura a servia como uma escrava, porém, a falta de confiança por parte da família era o punhal que a feria em sua honestidade e ética.
O rebanho de Isaura resumia-se em cinco reses, dois bezerros e três garrotes, devidamente vacinados contra a aftosa e brucelose, assim como eram muito bem tratados de modo a prevenir contra outros males.
Aquele era um trabalho ao qual Louro assumia com interesse e responsabilidade, orgulhando-se do zelo que dispensava aos animais; logo, eram os mesmos
reconhecidos como os mais