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O Penhorista
O Penhorista
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E-book273 páginas3 horas

O Penhorista

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Sobre este e-book

Nas ruas estreitas e sinuosas desta decadente cidade do século 19, dois assassinatos chocam os habitantes locais. Com a pobreza abundante, a vida para muitos é uma batalha para manter a fome longe e pela sobrevivência.


Em meio aos perigos e as mortes desse período, o penhorista movimenta o seu comércio. Um homem de mau temperamento, anseiando a única coisa que lhe trará a satisfação que deseja.


Nos dias atuais, dois adolescentes exploram uma casa abandonada em estilo Tudor. Enquanto a atmosfera assustadora enche os garotos de medo, eles percebem que algo sinistro está no ar.


Como no passado, os meninos devem descobrir o mistério da casa... E encarar o antigo mal, conhecido apenas como O Penhorista.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de set. de 2023
O Penhorista

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    O Penhorista - Stuart G. Yates

    O Penhorista

    O PENHORISTA

    STUART G. YATES

    Traduzido por

    MATHEUS ALEXANDRE DE ARAUJO

    Copyright (C) 2017 Stuart G. Yates

    Design de layout e copyright (C) 2023 por Next Chapter

    Publicado em 2023 por Next Chapter

    Capa de CoverMint

    Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são o produto da imaginação do autor ou são usados ficticiamente. Qualquer semelhança com eventos reais, locais, ou pessoas, vivas ou mortas, é pura coincidência.

    Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio, eletrónico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou por qualquer sistema de armazenamento e recuperação de informações, sem a permissão do autor.

    CONTEÚDOS

    O Começo

    1. A velha casa

    2. Mensagem do passado

    3. Hora de sonhar

    Interlúdio

    4. Bert

    5. Nem tudo que reluz...

    6. Fuga no escuro

    7. De volta ao lar

    8. Annabel

    9. Ofertas para recusar

    10. A praça no tempo

    11. Salvo no parque

    12. Voltando para a casa

    13. Rooster

    14. Indecisões

    15. Descida em espiral

    16. Bebidas podem soltar a língua...

    17. Um encontro acidental?

    18. Uma visita indesejada

    19. O passado revelado

    Reunião

    20. Outra reunião, outra hora

    21. Descanso... Ou o quê?

    22. Todas as coisas acontecem...

    23. ...Para aqueles que esperam.

    Mudança De Foco

    24. Palavras na noite

    Caro leitor

    Para a minha amável filha, Emily.

    Estou tão orgulhoso de você, da forma que você nunca desiste.

    E sempre luta pelo melhor.

    Esse é para você, porque você ama um bom terror, do seu querido e velho pai.

    O COMEÇO

    No final da década de 1860, as ruas estreitas e tortuosas da cidade estavam cobertas de uma camada grossa de sujeira que, como uma sanguessuga, acabava por sugar tudo de bom e de saudável dos tijolos e argamassa dos prédios nos arredores. Um labirinto de decadência e de uma humanidade suja deu às ruas um fedor particular, um câncer de sujeira que se espalhava sem remorso pela população fervilhante. Aqui, as pessoas dividiam suas vidas com pestes, ratos e corrupção. Sem nenhuma chance de algum outro tipo de existência, elas aceitaram a sua condição sem reclamar e sobreviveram.

    A vida era barata e era tirada tão facilmente quanto era criada, perigo e morte entrelaçando cada momento de respiração. O mais maravilhoso dos dons da natureza — trazer uma nova vida ao mundo — provou ser o mais perigoso dos tempos, tanto para a mãe quanto para o bebê. A compreensão das doenças e infecções ainda era rudimentar, com os doutores sendo tão ignorantes quanto eram mil anos atrás. Um acidente poderia decepar um membro, quebrar um osso ou cegar um trabalhador, acabando com qualquer esperança de pôr comida na mesa. A necessidade forçava as crianças, desde seus cinco ou seis anos, a trabalhar e manter o equilíbrio das coisas. As famílias eram grandes, compartilhando moradias em ruínas com outras, às vezes tendo até doze pessoas em um só cômodo, abarrotadas em celas úmidas e abafadas. Os pais dificilmente ousavam falar para que o filho mais novo não acordasse e desse início aos seus lamentos intermináveis enquanto a dor constante da fome roía o revestimento de suas barrigas murchas, levando mães e pais à loucura com o barulho. Um pesadelo interminável, uma luta constante para sobreviver apenas mais um dia.

    Em meio a essa miséria, o penhorista vagueava em seu empreendimento efêmero. Passando de casa em casa e predando na necessidade desesperada de terceiros, ele espionava berloques valiosos ou relíquias de família, oferecendo a eles uma ninharia por itens que valem cem vezes mais. Ao menos, como ele costumava dizer, ele oferecia algum alívio para a existência lamentável deles:

    — São pérolas. — disse a velha sem dentes, de pé em meio a sujeira e crianças brigando, naquela manhã no outono frio. O penhorista apertou suas mãos, parecendo envolver o pequeno quarto. Envolto de preto, ombros curvados, paciente, ele esperou como um pássaro predatório, com sua oferta feita. No canto uma mulher mais jovem, talvez a mãe da ninhada feral, se balançava para frente e para trás, resmungando sons sem sentido. Ele e a velha a ignoraram.

    Com a boca se abrindo levemente e formando o que poderia ser confundido com um sorriso, a voz do Penhorista soava tão fria quanto uma manhã de Janeiro.

    — Engana-se, senhora. Não passam de pedras, polidas para se assemelharem à pérolas —

    Eles seguraram os olhares um do outro. Da escuridão surgiu um homem de peitos largos, grandes braços pendurados como os de um gorila, com aros pretos ao redor dos olhos e um hálito com cheiro de bebida. Ele se arrastou para a frente, confiscando as jóias que estavam sob o domínio da velha.

    — Se ela disse que são pérolas — ele falou, palavras escorregando por dois lábios molhados e preguiçosos. —, então são pérolas.

    — Eu pago dois xelins. — disse o penhorista. — E isso é mais do que elas valem, ainda que sejam de verdade.

    Esses confrontos eram comuns para o penhorista e ele sabia que, no final, o triunfo seria seu. Ele suspirou e mergulhou a mão dentro do seu bolso. O dinheiro fez barulho em sua palma e a luz nos olhos do grande homem enfureceu-se. Lambendo os seus lábios, voz grossa, respirando rapidamente, ele disse:

    — Nos dê meia-coroa e são suas.

    Um longo momento se passou, enquanto o penhorista ponderava sobre a oferta. Calculando o valor das pérolas como sendo superior a cinco libras, ele contraiu sua boca em uma demonstração de angústia.

    — Muito bem — ele disse enfim, em seguida colocando a moeda sobre a mão encardida do homem e recolhendo o tesouro da velha ao mesmo tempo.

    Ao lado de fora, na passagem fedida, ele permitiu soltar uma pequena risada de auto-satisfação enquanto corria as pérolas entre seus dedos. Ele deveria aguardar pela quinzena obrigatória para dar a esse povo desesperado a oportunidade de voltar para a sua loja com o pagamento, mas ele sabia o quanto isso era improvável; aquela meia-coroa desapareceria na garganta do grandalhão em um quartilho ou dois de gim. É sempre assim. Então ele seguraria as pérolas durante um pequeno período, antes de vendê-la por um valor muito maior. Ele tinha clientes em Belgrávia que lhe dariam de bom grado muito mais do que havia pago nisso.

    Ouvindo os passos, ele se virou, alerta, e viu o imbecil caindo sobre ele, com aquelas grandes mãos de urso abertas, preparando-se para agarrá-lo, arremessá-lo ao chão e roubar tudo que ele carregava. Mas o imbecil, deficiente por conta da bebida, deveria ter pensado duas vezes. O penhorista deslizou para dentro daqueles fortes braços e afundou sua lâmina profundamente na lateral do brutamontes. O imbecil arfou, incrédulo, e o penhorista pressionou sua boca contra a orelha do seu agressor ferido:

    — A fome não mais o incomodará, meu amigo — ele disse, empurrando ainda mais a lâmina e fazendo com que ela cortasse os órgãos internos. O homem gemeu, uma expulsão lamentável do seu hálito fétido e o penhorista o manteve por perto como se mantém uma criança, o guiando até o chão e permitindo que o peso do homem o livrasse da faca. Assistindo-o cair, com seu sangue escorrendo pelos paralelepípedos, o penhorista sorriu e limpou sua lâmina no casaco do moribundo antes de se virar e desaparecer no labirinto de becos e passagens laterais.

    Deslizando pelas ruas, ele pensou sobre o que havia acabado de acontecer. Geralmente, ninguém o seguia. Esse tipo de ataque era raro, a maioria das pessoas eram gratas pelas poucas moedas que ele colocava sobre suas palmas ansiosas. Eles gastariam o dinheiro, talvez em algumas batatas podres, ou mais provavelmente, caso o marido descubra sobre a transação, em bebidas. Poucos tentavam recuperar os seus itens. E os poucos que tentavam falhavam e acabavam como o grandalhão — morto. Nada disso importava para o penhorista. Ele continuava impassível pelas privações as quais testemunhava, pelo sofrimento, pela violência. Ele negociava e fazia dinheiro, acumulando sua fortuna, tendo a avareza como sua companheira. Mesmo assim, ele sonhava em descobrir um objeto realmente valioso — um anel ou colar incrustado de diamantes, qualquer coisa que o levasse até o conforto que sempre desejou e lhe desse os meios de escapar dessa sua existência sombria e inexorável.

    Na sua unida fraternidade, os seus métodos estavam causando preocupação. Penhoristas não eram vistos com gentileza pela população desesperada sob nenhuma circunstância, mas ele ameaçava minar até o mais fraco sentido de profissionalismo que alguns estavam tentando criar. Haviam rumores, e eles o convocaram para que respondesse as acusações de que estava levando a profissão deles ao descrédito.

    Sem o conhecimento de seus colegas, o penhorista já tinha uma reunião. Uma reunião como nenhuma outra. Por muito tempo ele habitou no mundo escuro e decadente de escritórios suados e degradados. Ele havia contratado o talento de alguns batedores de carteira, e os pagava bem para que exercessem sua função. Eles tentaram lhe enganar, vendendo suas mercadorias ilícitas para benefício próprio e ele reagiu rapidamente. Uma retribuição dura e mortal. Em uma manhã úmida e triste, os corpos de dois jovens com idade entre onze e treze anos foram carregados à beira-mar em Egremont. Apenas meninos sem nome, perdidos para seus pais há muitos anos; ambos tiveram suas gargantas cortadas. Ninguém os conheciam e ninguém se importava. As autoridades conduziram algumas investigações esporádicas, mas, com poucas informações para continuar, logo perderam o interesse. Eles colocaram diversos cartazes pela cidade — um gesto insignificante uma vez que a maioria da população da vizinhança não sabia ler, e aqueles que sabiam não se importavam. Ninguém se manifestou e logo os corpos, embrulhados em grosseiros sacos de juta, foram enterrados em uma sepultura comunal, esquecidos.

    Algumas semanas depois, o penhorista empregou outro jovem, um rapaz chamado Randolph, e no início as coisas não se saíram tão bem uma vez que ele provou ser um batedor de carteiras inútil, quase sendo apanhado mais de uma vez. Felizmente para ele, Randolph havia visto algo que talvez pudesse o salvar da ira do penhorista. Em meio a confusão do barulho e do amontoado de pessoas que era o Pier Head de Liverpool, Randolph percebeu uma interessante altercação entre dois homens. Um deles era marrom como uma noz, mas ainda assim era um Inglês. Corpulento e durão, ele havia repreendido um carregador que havia puxado acidentalmente uma das bagagens do homem tão desajeitadamente que ela caiu no chão e as laterais se quebraram. O que Randolph viu quase fez seus olhos saltarem das suas órbitas. Jóias, um conjunto inteiro delas, saíam pela abertura. O homem foi rápido em colocá-las de volta no lugar, enquanto o carregador apressadamente encontrou algo para enrolar ao redor do estojo de couro, mas Randolph havia visto tudo.

    Após o incidente, e com o carregador devidamente envergonhado, Randolph seguiu o homem, da maneira mais experiente que pôde, durante todo o trajeto até a balsa que o levou através do rio Mersey até Birkenhead. De lá, o homem pediu uma carruagem de aluguel e contratou mais alguns carregadores para levar o grande estojo para dentro. Randolph, rapaz esperto que era, estava perto o suficiente para ouvir o endereço.

    O penhorista lançou um irônico sorriso quando ouviu a história:

    — Este pode ser ele, meu rapaz. — ele sibilou, enchendo uma taça com vinho do porto como uma forma de celebração. Não ofereceu nada para Randolph, mas ao invés disso pressionou um florim contra a mão do garoto. — Aqui, pois fizeste um bom trabalho. Agora, preciso pensar em um plano e quando eu pensar... Quando eu pensar, posso precisar de tu novamente. Até lá, vá embora e deixe-me só com meu vinho.

    Randolph conhecia muito bem a reputação do penhorista e ele não tinha nenhuma vontade de ficar em seu caminho. Se ele conseguisse um florim sempre que o velho lhe desse um serviço, então era o suficiente para ele. Os pensamentos de tais ganhos provaram-se ser maravilhosos para Randolph, enquanto ele saía dos alojamentos do penhorista e seguia seu caminho pelas ruas, em direção à área das docas de Birkenhead. Curvando sua cabeça para evitar os olhares curiosos dos transeuntes, ele não sabia da proximidade de Rooster até que colidiu contra o grande diafragma do homem. Randolph deu um pulo, mas era lento demais para qualquer tentativa de fuga. Em um piscar de olhos Rooster o segurava pelo pescoço, prendendo-o contra a parede.

    — Ora, ora, se não é o pequeno pega. — bufou Rooster, com seu rosto grisalho perto do rosto do garoto. — Diga-me o que tu tens feito para o nosso amigo, o agiota. Eu segui teus passos e quero saber o que vós estivéreis planejando. Seja rápido, ou quebro-te o pescoço.

    Aqueles grandes e grossos dedos apertavam e Randolph gritava, dizendo tudo para Rooster. Ele escutava e, também, planejava.

    Naquela mesma noite, o penhorista inclinou-se de joelhos dobrados diante de um incensário grande, de ouro e de design intrincado. Tentando segurar a fumaça com as mãos, ele aproximou o fumo intoxicante para perto do seu rosto. Ele sempre seguia aquele estranho encantamento, retirado de um livro antigo que lhe foi entregue há muitos anos por um homem da parte oriental da Europa. Era um livro curioso, oferecido por um homem curioso.

    Tendo chegado ao país alguns anos atrás, o homem, conhecido apenas como Mancezk, encontrou emprego como o servo de um mago errante, e o ajudou em seu show itinerante. Enquanto se moviam ao longo da costa, de Blackpool até Rhyl, pessoas vinham e ficavam surpresas com os truques extravagantes e hipnotizantes que o mago realizava. Mas então, em um dos bazares do pier New Brighton, o mago misteriosamente adoeceu e morreu. Alguns suspeitavam de envenenamento, outros da punição de deuses antigos. Seja qual for a verdade, seu servo ganhou as posses do mago. Vendendo ou descartando praticamente tudo, Mancezk manteve o livro. Ele não podia explicar completamente o porquê, tanto para ele mesmo quanto para qualquer um que perguntasse. Havia algo de magnético sobre o livro e frequentemente ele acordava no meio da noite e o alcançava para acariciar sua capa verde, feita de couro. Suspirando enquanto a suavidade cremosa do livro o lançava em um estado de êxtase, ele dormia tranquilamente até a manhã.

    Tempos difíceis surgiram e ele procurou o penhorista, deixando o livro como uma garantia por um pequeno empréstimo. Assim que ele pôs suas mãos sobre o livro, o penhorista sabia que se tratava de algo especial. Folheando por suas páginas de papel velino ele sentiu uma agitação estranha e sobrenatural espalhando-se para fora da boca do seu estômago, tomando o controle de cada fibra do seu ser. Era um milagre que ele fosse capaz de lê-lo, visto que o texto era escrito em uma língua arcaica há muito perdida, mas uma força poderosa e silenciosa o guiou. Uma força que buscava contato com uma entidade humana e vil. Quanto a Mancezk, um bedel paroquial, em seu caminho para averiguar a veracidade da alegação de destituição de uma mulher para o Conselho de Guardiões, encontrou seu corpo ao pé de uma represa, com um corte profundo na garganta que quase havia arrancado a cabeça do pescoço.

    Agora, tendo consumido quase toda a garrafa de vinho, o penhorista sentou, velas acesas e um pentagrama desenhado sobre o chão, e recitou as palavras. Os encantamentos aumentaram de intensidade até que, com sua voz aumentando tanto em volume quanto em tom, eles se tornaram uma invocação contínua de algo terrível. Inexoravelmente a atmosfera mudou, um frio esmagador se espalhando a partir do centro da sala, e com ele um brilho vermelho como sangue onde havia um rosto — completo em um momento, e no próximo uma sombra oscilante. Não era a face de um ser humano, mas a face de uma criatura além dos domínios desse mundo.

    Nos últimos momentos tremulantes antes do apagar das velas, a criatura assomou para a frente. Com grandes músculos, sua cabeça uma massa rodopiante de saliências, pontiagudas, irregulares e de aspecto perverso. Membros sinuosos e imbuídos de uma força sobrenatural, grandes mãos fechando-se e abrindo logo em seguida. Mais massiva que o granito sólido de mausoléus antigos, essa criatura estava relacionada à morte. Ela chafurdava e celebrava diante dela, cheirando à decadência e corrupção.

    Com os olhos arregalados de admiração, o penhorista sentou-se curioso e sem recuar, saboreando a presença da criatura. E sua voz, estrondando e coberta por intenções malignas, disse ao penhorista o que ele precisava fazer. Enquanto ele escutava, sua alma endureceu. Até mesmo antes disso, a alma do penhorista já estava perdida, mas agora a criatura havia a reivindicado. Em troca, ela envolveu o penhorista com algo muito mais poderoso e sedutor — pura maldade.

    — Farei o que julgar certo. — ele disse para os outros profissionais que haviam o convocado ao enclave.

    — Então tu deixarás de fazer parte de vossa fraternidade. — cuspiu o presidente da reunião, um homem velho e grisalho chamado Mathias e cuja fortuna fora feita através do desespero dos pobres.

    — Ousas pensar que tais ameaças irão desviar-me de minhas ambições? — O penhorista levantou seu olhar para cada um dos homens reunidos diante da grande mesa, as lamparinas trêmulas fixadas em cada canto lançando seus rostos em sombras profundas, distorcendo suas feições, fazendo-os parecer mais carniçais que seres humanos. — Tenho pena de vós — ele vangloriou-se.

    — Pena de nós? — disse Mathias, erguendo-se de sua cadeira e com os nós dos dedos pressionados firmemente contra a mesa. — Maldita seja tua arrogância! Tu vais longe demais em tuas negociações com os pobres. Tu enche-os de medo e então engana-os por quaisquer possessões miseráveis que eles botam em teu caminho.

    — Assim como tu fazes, portanto não queiras tu me dar uma lição, Nathanial Mathias.

    — Mantenho a transparência em minhas contas. — devolveu Mathias, ignorando a acusação farpada de seu colega. — Assim como todos nessa sala, com exceção de uma pessoa: tu. Ninguém sabe onde tuas negociações acabam, ou a que preço.

    — E houveram acusações. — disse outra voz, flutuando em meio as trevas. — Acusações de violência e ameaças.

    — Prove.

    — Nós não precisamos. — disse Mathias. — É de conhecimento de todos. Portanto desista, ou tu serás barrado de vossa profissão, tua licença para comercializar será revogada e as autoridades devidamente alertadas.

    O penhorista sentou-se e considerou as palavras do homem.

    Ele não fez um comentário sequer.

    Ele meramente saiu da sala, fazendo com que todos ponderassem sobre o que poderia vir a acontecer em seguida.

    1

    A VELHA CASA

    O PRESENTE...

    Os dois garotos subiram de bicicleta até o topo da colina e pararam. Eles andavam de bicicleta por muito tempo e ambos estavam ofegantes. Talvez, se eles tivessem dado meia-volta a essa altura, suas vidas teriam sido bem diferentes. Talvez. Mas uma força sombria e malévola já estava trabalhando, traiçoeira e má, totalmente irreprimível e irresistível, tornando improvável, senão impossível, qualquer decisão independente.

    Alheio a tudo isso, pelo menos por enquanto, Jamie, o maior dos dois, olhou para o seu amigo:

    — Eu acho que a gente se perdeu. — ele disse, sua voz falhando com preocupação. — Nunca vamos encontrar o caminho de casa.

    Tim, seu amigo, lançou um olhar para Jamie, olhos vincados, a boca apertada em um sorriso zombeteiro:

    — Qual o problema? Está com medo?

    — Não — disse Jamie, defensivamente, incapaz de devolver o olhar inabalável de Tim. — Eu não estou com medo.

    — Tem certeza?

    — Nós estamos andando de bicicleta por muito tempo e eu acho que nos perdemos. — Ele fez o melhor que pôde para não revelar para

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