45 Dias De Pânico Total!
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45 Dias De Pânico Total! - Márcio Alves Ferreira
45 DIAS DE PÂNICO
TOTAL!
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CONSEGUIU SOBREVIVER
Márcio Alves Ferreira
Ficha catalográfica
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uiu sobreviver / Márcio Alves Ferreira. 1. Ed. – São
Paulo, SP: agBook, 2016.
Pa ra saber mais, visite a página:
1. Psicopatologia 2. Transtorno de Pânico 3. Filosofia 4.
http://www.cbl.org.br/telas/servicos/sobreFicha.aspx
Autobiografia I. Título
Índices para catálogo sistemático:
1. Psicologia
Dedico este meu livro aos meus melhores amigos: Edson Moura,
Sérgio Marcolino e Isaac Ferreira Gonçalves, que foram os meus "três
amigos de Jó", mas que ao contrário destes, não me condenaram em
nenhum momento, chorando comigo quando a situação pedia
pra
chorar, mas também, alegrando-se quando me alegrava,
comemorando comigo cada conquista e evolução do meu quadro
clínico; ao meu amigo Esdras Gregório de Campinas-SP, que reforçou
minha ideia de escrever este livro (na verdade, ele me deu a sugestão
de escrever um livro, qualquer um, aproveitando meu ócio
); aos
meus colegas de trabalho, os Psicólogos Ricardo Santos, Sílvia Helena
Scarin, Jaqueline Silva e Ana Paula, que não apenas compreenderam
meu sofrimento, como deram apoio incondicional; aos meus colegas
do curso de Psicologia, Daniel Cesário e Sabrina Mariano por terem
me ajudado a retornar e retomar a faculdade, concluindo o referido
curso; ao meu tio Toco
, minha prima Cintia Ferreira, e meu primo
Elionai, que incontáveis vezes, me levaram em seus carros ao hospital
e a clínica do meu psiquiatra; ao meu pai, Francisco de Souza, a
minha mãe, Maria de Lourdes, ao meu irmão, Douglas Alves, e a
minha cunhada, Milena, por suportarem toda minha agonia, em
especial, minha querida e leal esposa, Sirlene Costa Alves que sempre
esteve ao meu lado; ao meu Psiquiatra Dr. Rodrigo Menezes
Machado, pela excelência, profissionalismo, humanismo e
competência em que conduziu meu tratamento farmacológico; ao
meu Professor e amigo Ivens Hira Pires, e a minha Psicoterapeuta
Mariana Cacciacarro por terem me ajudado a encontrar dentro de
mim, todo meu potencial e recursos que precisava para lidar com os
ataques de pânico. Agradeço a todos que, em vez de desistirem de
mim, entregando-me a minha própria sorte, colocando-me em um
hospital psiquiátrico, apostaram, acreditando em todo meu potencial e
capacidade para superar toda a crise que passei, não apenas me
dizendo que era capaz de atravessar o vale da sombra da morte
,
mas, principalmente, de segurar minhas mãos
atravessando-o
comigo. A eles todos, meu mais sincero obrigado!
"(…) uma vez que o homem são atribui ao doente a sua própria
maneira de experimentar emoções, ideando que este seja, de certo
modo, uma pessoa sadia que tenha de suportar os tormentos de um
enfermo – o que é um equívoco crasso. O enfermo é justamente um
enfermo, com a natureza particular e o modo de sentir modificado
que a doença acarreta.
Thomas Mann
"É preciso ter um caos dentro
de si para dar à luz uma estrela
cintilante"
Nietzsche
Sumário
Prefácio (Ivens Hira Pires), 12
Introdução, 14
Reflexões primeira: pensamentos durante as crises de pânico, 17
Angústia: que sofrimento é este?, 19
Vale a pena cometer suicídio?, 21
Dormindo com o pânico, 26
Síndrome do vampiro angustiado, 28
Mas que merda!, 32
A principal cara do pânico, 34
Só queria ter minha vida de volta, 38
Reflexões segunda: pensamentos imediatos após as crises de pânico,
43
Angústia Filosófica versus Angústia Patológica, 45
Eis que vos apresento minha fiel companheira: angústia, 48
A grande batalha, 50
Márcio depressivo versus Márcio saudável, 55
O abismo da depressão, 59
Suicídio: meu grande dilema, 62
Demônio da insônia, 64
Porque escrever e publicar minhas angústias?, 66
Suicídio em dois momentos, 68
O que ganho com os ataques de pânico, 72
O prazer depois da angústia, 75
Meu medo de ficar só, 77
Afinal, o que Deus tem a ver com isso?, 80
Momentos em que o pânico é maior, 82
Meu filho e o pânico, 85
Pânico: que sensação é esta?, 87
Reflexões terceira: pensamentos finais das crises de pânico, 91
Antes de tudo: Religião, 93
Até que… 45 dias de pânico!, 98
Medo de ficar louco, 100
Meu Herói, 104
Medo de sair de casa sozinho, 106
E foram felizes para sempre?, 108
Levando o pânico para o treino, 110
Memórias de pânico, 112
Meu Transtorno de Pânico, 114
A pressão de ter que melhorar, 117
Não há cura, 119
Transtorno de Pânico pode matar?, 121
Depois do depois de tudo: a despedida, 124
Um ano e meio depois das crises: um adendo ao livro, 126
REFERENCIA, 128
Prefácio
Ivens Hira Pires1
Nossa!
foi a primeira coisa que disse após acabar de ler a última
página do livro do Márcio. Após algumas lágrimas e angústias,
consegui terminar o livro e pensar que presenciei um dos episódios
(ataque do pânico) de Transtorno de Pânico. Foi um dos fenômenos
mais impressionantes que, de perto, vivenciei ao me encontrar com o
Márcio quando em um dos episódios. Não cabe aqui descrevê-lo, pois
o livro do Márcio descreve fielmente o que é o Transtorno do Pânico
de forma empírica através de uma narrativa dura, concreta, literal e,
ao mesmo tempo, sensível e humana.
Este não é mais um manual técnico – chato, insensível e frio –
sobre Psicopatologia. Não espere um conto romantizado e mágico. O
livro é uma composição de uma série de crônicas vívidas e reais. São
descrições sensíveis e reais do que é o sofrimento do Transtorno do
Pânico. Além do mais, é a descrição sensível, concreta e elevada à
enésima potência de uma das principais características do sofrimento
e da existência humana: o conflito.
O conflito entre a sanidade e a loucura. O conflito entre a vontade
viver e a vontade morrer. O conflito entre a realidade externa e a
realidade interna. O conflito é uma característica essencialmente
humana. O Márcio conseguiu exprimir de forma sincera e sensível de
como é conflituosa e complexa a nossa existência humana,
principalmente quando se está em estado de sofrimento intenso. A
loucura
(transtorno mental) pode ser um processo significativo de
1 Psicólogo. Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva pela
Universidade de São Paulo. Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foi um dos meus professores ao longo
do meu curso de Psicologia, meu orientador de TCC (Trabalho de Conclusão de
Curso) e Supervisor dos atendimentos da Clínica Escola.
45 Dias de Pânico por Márcio Alves Ferreira
transformação e, ao mesmo tempo, é um espelho daquilo que somos
e que temos que, em muitas vezes, esconder para "vivermos
normalmente".
Assim como Carl Gustav Jung, também compartilho a ideia de que
o sofrimento e a loucura
podem ser um indicativo autorregulador da
nossa psiquê. Acredito que os episódios de Transtorno de Pânico
vivenciados por Márcio apontaram para ele o quão importante é
aquilo que temos medo de perder e o quão importante é aquilo que
nos dá sentido à nossa existência.
Que a leitura dos relatos de Márcio te inspire, sensibilize, emocione
e, principalmente, te torne mais humano e compreensível. Foi isso
que aconteceu comigo e espero que aconteça com você também!
[ 13 ]
45 Dias de Pânico por Márcio Alves Ferreira
Introdução
Você pode, talvez, perguntar-me: "Afinal, por que você escreveu
este livro?. Respondo: porque busquei criar a partir do
caos" – tanto
dentro
(psicológica e emocionalmente) como fora
(socialmente
falando) de mim – algo que eu ressignificasse, transformando toda
dor em algo significativo e construtivo. Nesse sentido, minha intenção
era livrar (ou atenuar), canalizando toda angústia em algo criativo e
produtivo. Por isso a frase que mais esteve presente comigo ao longo
de todo meu sofrimento, não poderia ser que: "É preciso ter um caos
dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante"2.
Estive grávido
por 453 dias de uma gravidez
chamado
Transtorno de Pânico
, e a minha forma de dar à luz
foi,
justamente, escrever de dentro
do sofrimento, usando-o como
matéria prima
na criação da minha própria estrela dançante
, a
saber: este livro!
Escrevi o que – e como – escrevi, para, de certa maneira,
extravasar, vomitar
para fora
, todo mal que como câncer
estava
me matando
por dentro.
Escrever durante todo esse tempo foi uma forma terapêutica que
encontrei, de desafogar as sensações e pensamentos de angústia que
me dominavam. Confesso que no início, não pensei que poderia sair
dos textos que ia escrevendo, um livro, mas a medida que produzia
muitos textos diários sobre minhas crises, e que a inspiração não
parava de me visitar, ainda mais nos momentos de maior crise, vi a
2
Nietzsche, F. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Companhia das
Letras, 1998
3 Os 45 dias
aqui, fazem referência aos dias corridos, sem intervalos,
em que fui acometido por ataques de pânico, entretanto, continuei por mais uns
três meses, sofrendo de depressão, ansiedade, e de vez em quando ainda, de
ataques de pânico, que passaram a ocorrerem em intervalos de dias, cada vez
maior.
[ 14 ]
45 Dias de Pânico por Márcio Alves Ferreira
possibilidade real de tudo que escrevia, aos poucos, se transformando
em minha estrela dançante
.
Neste livro, importante destacar, de que não se presta a ser mais
um daqueles manuais de Psicologia e Psiquiatria, de cunho e
linguagem científica – embora recomende, mencionando alguns deles
neste meu livro. Aqui, o leitor encontrará minha própria alma4
rasgada
e completamente despida
5.
O livro encontra-se, todo ele, estruturado em três grandes blocos
(capítulos) distintos, sendo os títulos dos mesmos, autoexplicativos.
No capítulo I "Reflexões primeira: pensamentos durante as crises de
pânico", são textos que foram escritos no exato momento em que
ocorriam as crises – embora não no seu ápice, pois era impossível
escrever no momento do ataque mais agudo, uma vez que os
sintomas corporais eram muito intensos; já no capítulo II "Reflexões
segunda: pensamentos imediatos após as crises de pânico", são
escritos pós ataques de pânico; e, por último, o capítulo III
Reflexões terceira: pensamentos finais das crises de pânico
, que
conforme já no próprio título diz, são os escritos das minhas reflexões
e algumas conclusões finais, elaboradas quando estava estabilizado,
sem as referidas crises.
Isso significa que você encontrará no decorrer das páginas deste
livro, todos os meus piores
pensamentos, emoções, sensações e
reações físicas, sendo escrito sempre, em sua maior parte, durante ou
após os episódios dos ataques do Transtorno de Pânico.
Portanto, já aviso que os textos, são expressões de profundo
desespero de quem não enxergava saída, ou qualquer outra
4
Uso a expressão alma
me referindo ao âmago mais profundo do
meu ser, que pode ser interpretado como: literalmente alma
pelos
espiritualistas; subjetividade
por psicólogos; mente
para os racionalistas;
coração
para os sentimentalistas; ou, simplesmente o eu
(self) para os
essencialistas.
5
Rasgada
no sentido da expressão mais profunda, e despida
no
sentido de verdadeira, transparente.
[ 15 ]
45 Dias de Pânico por Márcio Alves Ferreira
possibilidade, mesmo que mínima, que desse alguma esperança de
não vir ter mais ataques de pânico.
Cheguei ao auge da desesperança, e porque não, da loucura,
nutrindo pensamentos suicidas. A vida nesse momento, perdeu sua
cor,
beleza
, sua música
, seu encantamento
, onde tudo se
tornou feio
e absurdo.
Por mais que tentasse, não havia nada que me desse prazer,
alegria. Nem mesmo conseguia ter uma simples distração