Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Superando a Depressão à Luz da Terapia Transessencial
Superando a Depressão à Luz da Terapia Transessencial
Superando a Depressão à Luz da Terapia Transessencial
E-book506 páginas6 horas

Superando a Depressão à Luz da Terapia Transessencial

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

O sofrimento da depressão tem acometido pessoas de todas as idades e camadas sociais, alcançando já neste século o ápice das doenças mais incapacitantes, principalmente em razão do vazio existencial e da falta de sentido da vida que acomete neste momento uma boa parte da humanidade.

Superando a Depressão à Luz da Terapia Transessencial sugere uma nova visão da depressão assim como novos caminhos terapêuticos para a sua superação e cura, explorando a estreita relação entre os sistemas físicos, psíquicos e existenciais, que, quando em disfunção, determinam seu aparecimento.

A leitura desta obra não só nos permite perceber as correlações existentes entre os vários sistemas que compõem o ser humano e sua condição de um Ser Único, mas também compreender a doença como oportunidade de crescimento.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de ago. de 2020
ISBN9786555239393
Superando a Depressão à Luz da Terapia Transessencial

Relacionado a Superando a Depressão à Luz da Terapia Transessencial

Ebooks relacionados

Bem-estar para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Superando a Depressão à Luz da Terapia Transessencial

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Superando a Depressão à Luz da Terapia Transessencial - Henriqueta Camarotti

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2018 do autor

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    Dedico este livro a todos os que vivem e

    sofrem a dor da depressão.

    AGRADECIMENTOS

    Este livro não seria possível sem o amor e companheirismo do meu marido, Celso; sua coragem e sua capacidade resiliente são grandes exemplos para mim. Muito grata, meu amor!

    Agradeço aos meus filhos, Julia, Luciano, Saulo e Raquel, e às minhas netas, Isabella, Leila e Diana, fontes de minha paz interior.

    Agradeço aos amigos de todas as horas e de todos os carinhos; em especial, agradeço ao Roberto Guelfi, Leonardo Fernandes, Gislene Maria Barral, Luciana Lima e Cláudia Moretto.

    Agradeço a cada pessoa que abriu seu coração para eu sentir sua alma; essa é minha eterna fonte de aprendizado.

    Agradeço aos meus Mestres, que me inspiram e me ajudam na busca de me tornar uma pessoa melhor.

    APRESENTAÇÃO

    Como médica e terapeuta tem sido um desafio permanente lidar com o sofrimento causado pela depressão, e isso impacta meu coração de tal forma que sinto igualmente a angústia que avassala aquele ser que acolho. Sinto a dor expressada pelo outro como parte de mim mesma, de minha vida, de minha história existencial e, ao mesmo tempo, constato que tudo isso faz parte do mundo do humano ao qual pertenço. Essa emoção, que se apossa da relação terapêutica médico-paciente, carreia um sentimento duplo de solidão, advindo da impessoalidade que a postura profissional requer, e também a empatia emanada da proximidade afetiva característica da relação humana. Ressalto que mais do que o sofrimento vivido por contiguidade, sou beneficiária do brilho existencial que esse encontro pode proporcionar.

    Descubro que existe uma relação íntima entre a minha prática como terapeuta, no esforço de curar ou aliviar o sofrimento causado pela depressão, e minha busca pessoal pela superação da angústia existencial que desde jovem sentia e da qual padecia constantemente. Agora, munida das defesas psicológicas e fortalezas estratégicas consubstanciadas pelo amadurecimento, eu me arrisco a entrar em contato com o sentimento reverberado em mim, advindo do sofrimento revelado pelo outro. Motivada por essa maturidade em permanente construção, por meio do trabalho constante de autoconhecimento, sinto-me mais confiante na arriscada missão de empatizar com o outro e ser compassiva, acolhendo sempre e aliviando, quando possível, sua dor, sem perder a referência da manutenção de meu equilíbrio e de minha saúde.

    Sensibilizada pela experiência existencial que a relação terapêutica suscita, sintetizei minha caminhada na concepção de uma abordagem terapêutica denominada Terapia Transessencial, que agora apresento aos meus caros leitores. Ao longo desta obra apresento os princípios que sustentam essa abordagem, ao mesmo tempo em que faço uma reflexão sobre a compreensão do processo depressivo.

    O sofrimento da depressão tem sido alvo de muitas conjecturas, sendo analisado e compreendido por infinitos vieses, desde o viés organicista e psicodinâmico, até o sociocultural, filosófico e transcendente. Neste livro incluirei o conhecimento gerado pela neuropsiquiatria, pelas ciências emergentes, pelo conhecimento filosófico e humanista e também pelo desenvolvimento do caminho da Consciência Autocurativa, criando uma fluidez transdimensional da essência humana, denominada por mim de pensamento transessencial.

    Convido a todos a percorrer essa caminhada, que tem o propósito precípuo de ampliar as possibilidades de superação da depressão, sem limitar-se necessariamente a reflexões que aqui são realizadas. Minha intenção é que este livro revele novas portas, e que estas se aliem a tantas outras que já foram apresentadas na literatura sobre o tema. Espero, de coração, que esta reflexão possa ser um dinamizador das possibilidades terapêuticas, com certeza tão necessária para aliviar o sofrimento depressivo, por demais comprometedor da vida das pessoas.

    Conversando com um colega e amigo sobre meu projeto de escrever um livro sobre depressão, ele me perguntou: Qual o viés em que queres abordar o assunto? É um grande desafio, com tanta coisa escrita sobre o tema.... De fato, respondi ao meu amigo, são muitos os tratados, textos, artigos científicos sobre o tema, mas me sinto atraída por ele e quem sabe possa escrever sob o ponto de vista extraído da relação com as pessoas que escuto na minha clínica.

    Aquela observação reverberou em todos os momentos deste livro. Na busca de respondê-la, enquanto pesquisava e refletia, eu busquei integrar os princípios da Terapia Transessencial que já vinham sendo gestados nas experiências de minha prática clínica. Esses princípios se apoiam nas informações da literatura científica, recheadas com pesquisas das ciências emergentes¹ e outras oriundas de reflexões filosóficas, humanísticas e da sabedoria milenar. A essa tarefa incluí as situações clínicas que tenho vivido no contato com os pacientes, buscando extrair, dessa rica relação, a essência do que me tem sido legado como aprendizado pessoal e compreensão sobre a depressão.

    Então ao meu querido amigo eu respondo: Com certeza não preencherei todas as expectativas sobre o tema, mas de certo eu buscarei, de forma mais solta, ampla e reflexiva, explorar o máximo possível de possibilidades, sem compromisso com qualquer viés.

    Arvoro-me, nesta obra, em inter-relacionar o conhecimento plural da depressão com a elaboração reflexiva que venho desenvolvendo sobre a Terapia Transessencial, certa de que a contribuição do leitor será fundamental para solidificação desse propósito.

    A autora

    PREFÁCIO

    Eu gostaria de iniciar agradecendo à Drª Henriqueta Camarotti pela ousadia em ultrapassar as fronteiras do já conhecido, para atingirmos outras paisagens marcadas pelo vir-a-ser. Lembramos que muitos profissionais de saúde se limitam apenas a diagnosticar e prescrever os medicamentos específicos, baseados em pesquisas e descobertas dos cientistas que os precederam; não conseguem sair do campo da biologia, da bioquímica e dos esquemas pré-estabelecidos. Outros, porém, ousam agregar valores ao ato médico, incluindo psicoterapias, abordagens psicocorporais, referências milenares e de autoconhecimento.

    A Drª Henriqueta pertence ao grupo seleto de profissionais da saúde comprometidos com o bem-estar do ser humano, que ousam inovar, ultrapassar o campo do já conhecido da biologia e da bioquímica, para agregar elementos da cultura, da filosofia, das ciências socioculturais e da espiritualidade, sem negar os benefícios das ciências e disciplinas desenvolvidas pelo conhecimento empírico e metodológico.

    Sabemos que existe uma linha de pensamento que constrói uma identidade mediante o combate ao diferente, procurando se afirmar pela negação do outro. Essa atitude impede a abertura necessária para aceitar as diversas contribuições, que não rejeitam as valiosas aquisições do saber acumulado. Essa atitude é própria dos adolescentes, que estão sempre tentando negar, para se afirmar.

    A Drª Henriqueta não age como uma adolescente acadêmica, que, para se fazer protagonista, tenta descaracterizar outras abordagens. Ao contrário, ela guarda a maturidade dos sábios que sabem acolher o novo sem negar o adquirido, construído com muito esforço por cientistas de outras áreas do conhecimento humano.

    Ela tem a consciência de que a grandeza do homem é bem maior do que qualquer abordagem isoladamente. Um ponto de vista é apenas a vista de um ponto; essa neuropsiquiatra tem consciência de que os limites da prática residem nos limites de nossa percepção.

    Se considerarmos o ser humano apenas como um ser biológico, composto de células, tecidos, órgãos e sistemas, estaríamos nos limitando à materialidade, à funcionalidade dos órgãos e, desse modo, qualquer sintoma seria mera expressão de uma disfunção orgânica. Então o tratamento ficaria limitado a regularizar o seu funcionamento por meio de medicamentos ou de intervenções cirúrgicas precisas.

    Para sermos cuidadores de seres humanos não podemos nos limitar a uma única abordagem (biológica, psíquica, social, espiritual ou quântica...), pois estaríamos reduzindo a grandeza do homem a apenas uma de suas partes. Poder contar com os recursos da medicina – psicologia, sociologia, filosofia e espiritualismo, para citar alguns –, amplia o nosso potencial de ação, atenção, cuidado e promoção da saúde.

    Qualquer fanatismo, seja ele biológico, psicológico, sociológico, filosófico ou religioso, é um empecilho ao desenvolvimento de ações promotoras de vida. Precisamos superar os preconceitos que nos tornam míopes, limitam nossa visão e restringem nossas condutas pessoais e profissionais. Essa coragem de ampliar o conhecimento traduz o compromisso profundo com a busca de soluções para fazer do sofrimento, em especial das doenças, uma oportunidade de crescimento.

    A compreensão das causas emocionais profundas, imbricadas nos processos de adoecimento, pode despertar a consciência de cada pessoa e, assim, intervir no processo, produzindo mudanças significativas na qualidade de vida e na autotransformação. Porém mergulhar profundamente em sua história de vida, extrair os ensinamentos, ressignificar sua existência e dar início a uma nova etapa de vida exige coragem e determinação para abrir mão dos apegos aos velhos e aos falsos conceitos.

    Não se trata apenas de eliminar o sintoma, mas de oferecer à pessoa elementos que suscitem a reflexão que dê sentido ao seu sofrimento, tendo sempre em vista o seu contexto histórico, familiar e social. Cada pessoa tem seu itinerário de vida específico e é somente nesse contexto que se estabelece o sentido do cuidado.

    Na leitura deste livro destaca-se, na proposta da Drª Henriqueta Camarotti, duas ideias-chave. A primeira propõe que a relação terapêutica não se limite apenas ao aspecto visível, detectável, ao diagnóstico confirmado de depressão ou distúrbio psíquico, e, sim, que apresente como ponto de partida a essência, o animus tanto do paciente como do próprio terapeuta. A eficácia, a garantia de êxito, não vem unicamente da aplicação de uma técnica calibrada, nem de uma química específica, mas da capacidade de despertar o animus, o amor que acolhe, cuida e transforma. Essa abordagem não se limita apenas a tratar as patologias em si, mas toma corpo quando o indivíduo se abre para novas abordagens terapêuticas. Entendemos também que não termina com o desaparecimento dos sintomas. Seu horizonte é bem mais amplo, pois a cura passa pela consciência de que somos parte do universo e de que temos em nós a essência viva que tanto alimenta o universo quanto é alimentado por ele.

    Nesse sentido, na Terapia Transessencial, proposta pela Drª Henriqueta, a cura não é só um processo individual. Quando uma pessoa se cura, sua nova condição transcende a si própria e reverbera em todos à sua volta e nos campos sutis do universo que abarca toda a humanidade. Trata-se de uma terapia que valoriza o esforço feito na direção da autotransformação.

    Essa abordagem se junta a tantas outras, como a Terapia Comunitária Integrativa, abordagem centrada na solução, nos processos de aprendizagem, na força resiliente que transforma feridas em pérolas. O sofrimento torna-se matéria-prima para o aprimoramento tanto do indivíduo quanto do terapeuta.

    Drª Henriqueta nos lembra de que por trás de um rótulo, de um diagnóstico preciso de depressão ou de outros transtornos psíquicos, existe um ser humano que é superior a toda e qualquer restrição que o sofrimento impõe. Essa consciência ampliada do ser humano leva o terapeuta a utilizar uma gama imensa de recursos construídos em outros universos culturais, a integrar medicação, abordagens psicoterápicas, técnicas de autoconhecimento e consciência humanística.

    Muitas vezes, nós, terapeutas, esquecemos que nosso papel fundamental é ser despertador de lembranças. Lembranças de sermos seres essencialmente eternos e em transformação. Nas reviravoltas da vida, muitas vezes perdemos o rumo e nos perdemos. Esquecemos quem somos, quais são nossos potenciais, nossa identidade. Precisamos lembrar aos que se sentem culpados, que eles são inocentes; aos que se sentem fragmentados, que são inteiros; aos que se sentem feios, lembrar sua beleza; aos que se sentem cansados, desanimados da luta da vida, lembrar o direito à paz; aos que se sentem fracos, lembrar o direito de se levantar de cabeça erguida; aos que se sentem excluídos, lembrar o direito à inserção na sociedade; aos que erram, lembrar que são humanos; aos que estão na escuridão, lembrar a sua luz interior; aos que fracassam, que podemos sempre recomeçar; aos que trabalham demais, lembrar o direito ao descanso; aos que temem o futuro, lembrar as vitórias do passado e o valor da fé. Como terapeutas cuidadores de pessoas, nosso papel é sempre suscitar lembranças, reforçar valores e focar no esforço realizado, no processo para atingir e não na expectativa dos resultados. Cada ser já apresenta em sua essência essa certeza, mas precisa ser lembrado dela.

    A segunda ideia-chave do livro é que a relação convencional de ajuda é baseada em um especialista que doa e um indivíduo que recebe. Dessa forma nos privamos da extraordinária riqueza do saber adquirido pela experiência de vida de cada pessoa e, sobretudo, daquelas pessoas que vivem grandes dificuldades. Paulo Freire nos lembra de que a aprendizagem é uma construção coletiva e que nós não podemos realmente crescer se não aprendermos alguma coisa com o outro. Nossa experiência nos mostra que acontece o mesmo na relação de cuidar.

    O mestre Paulo Freire nos reacende o valor da circularidade do cuidar. Somos doadores e receptores. Essa relação transforma paciente, terapeuta e, como uma reação em cadeia, a própria humanidade. Restitui a circularidade dos processos terapêuticos.

    A Drª Henriqueta compreendeu que não são os acontecimentos da vida ou diagnósticos de depressão que tornam o sofrimento insuportável, mas o sentido dado ao fato, e as emoções suscitadas. Pois bem, ela compreendeu, por sua experiência, que o tratamento não pode se limitar apenas ao lado visível, detectável pelos diagnósticos. Difícil mudar o que é genético, não se pode negar ou mudar um divórcio ou qualquer outro acontecimento traumático, mas a pessoa consegue se transformar mediante a ressignificação dos acontecimentos, a reinterpretação da situação traumática que marcou sua vida, acolhendo-a como parte de seu processo de crescimento, tirando lições, fazendo uma releitura dos fatos para prosseguir a vida.

    Obrigado, Drª Henriqueta, por reacender nossa certeza na grandeza, na beleza e na complexidade do ser humano!

    Percebemos na proposta da Terapia Transessencial, idealizada por Drª Henriqueta, uma síntese de todas as suas experiências e conhecimentos nas áreas de sua especialização e, sobretudo, na área do cuidado à pessoa humana. Ela consegue agregar valores, fugindo da tentação de substituir uma descoberta por outra; faz da empatia um instrumento de identificação, lembrando certos curandeiros nordestinos que ao tocarem no doente, sentem em seu corpo o que sente o paciente e, então, aos poucos, ambos se curam. O curandeiro, por ressonância, sente o sofrimento do outro; e o outro, por ressonância, acolhe essa essência amorosa que cura, emanada do curandeiro.

    Nessa postura de circularidade, a experiência do outro me alimenta como pessoa, permitindo-me reconhecer que tenho algo a oferecer e tenho algo a aprender. O que é dito pelas outras pessoas ressoa em mim e me ajuda a rever meus esquemas mentais, minha pequenez, meus valores, minha visão sobre o mundo. Vou descobrindo a minha, a nossa humanidade, o valor da cooperação e da compaixão. Cuidando do outro, estou cuidado de mim mesmo. Eu me beneficio das experiências dos demais, vou aprendendo com o aprendizado da humanidade. Assim, vou me curando de todo tipo de alienação, aceitando sair da posição de superioridade daquele que tem, mas não é para ser, ainda precisa aprender com o outro.

    É bem verdade que a Drª Henriqueta ousa transgredir para progredir, para ampliar o leque de possibilidades de curar, com base na certeza de que a superação de toda doença ou crise passa pela deflagração do processo de autotransformação. Como afirma nossa querida amiga e colega: Na prática da saúde mental é frequente valorizar-se uma única abordagem em detrimento da outra, perdendo-se, desta forma, a potencialização que a combinação das duas proporciona.

    Dr. Adalberto de Paula Barreto

    Doutor em Psiquiatria pela Universidade

    de René Descartes – Paris

    Doutor em Antropologia pela Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais e Universidade de Lyon 2 – França

    Médico psiquiatra

    Professor da Faculdade de Medicina da

    Universidade Federal do Ceará

    Criador da metodologia da Terapia Comunitária Integrativa

    Sumário

    INTRODUÇÃO 

    CAPÍTULO 1

    TERAPIA TRANSESSENCIAL (reflexões preliminares)

    CAPÍTULO 2

    DEPRESSÃO: UMA BREVE VISITA 

    capítulo 3

    SOBRE A INTERAÇÃO NEUROENDOCRINO IMUNOLÓGICA NA DEPRESSÃO (sobre o campo físico-biológico)

    capítulo 4

    IMPACTOS PSICOLÓGICOS E SOCIOCULTURAIS DA DEPRESSÃO (sobre o campo emocional e mental)

    capítulo 5

    A DEPRESSÃO VISTA PELO ÂNGULO DA MEDICINA INTEGRATIVA (sobre o campo físico-biológico e vibracional)

    capítulo 6

    O SENTIDO DA VIDA E A VISÃO DE MUNDO NO FENÔMENO DEPRESSIVO (sobre o campo consciencial)

    capítulo 7

    O CAMINHO DA SUPERAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DO SER INTEGRAL

    capítulo 8

    O PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA AUTOCURATIVA E A SUPERAÇÃO DA DEPRESSÃO 

    capítulo 9

    O PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO E OS PRINCÍPIOS NEUROFISIOLÓGICOS NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO (campos emocional, mental e consciencial)

    capítulo 10

    DEPRESSÃO, ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE (campos consciencial e sélfico)

    capítulo 11

    INTERFACES ENTRE DOENÇAS CRÔNICAS E DEPRESSÃO

    REFERÊNCIAS

    ÍNDICE REMISSIVO

    POSFÁCIO

    INTRODUÇÃO

    Ao longo da minha vida profissional, percebi que os papéis de terapeuta e paciente interagem e, às vezes, confundem-se, quando sentimos que a angústia descrita por aquele que sofre já nos é bem familiar e, ocasionalmente, já vivenciada por nós em algum momento de nossas vidas. Dessa forma, revisitar essa angústia no outro proporciona uma oportunidade ímpar de crescimento e aprendizado: transcendendo-a, na medida em que aliviamos o sofrimento do outro; superando nossa dor, quando acolhemos a dor que emana do outro ser, porque ressignificamos o nosso processo pessoal.

    A Terapia Transessencial (TTE) vem se configurando na nossa prática como uma síntese do entendimento da relação terapêutica, e também como uma oportunidade de crescimento existencial e de transcendência, tanto para o terapeuta como para a pessoa que procura ajuda. (farei um detalhamento da Terapia Transessencial no capítulo1).

    Na prática clínica da psiquiatria integrativa, e em especial na visão da psiquiatria quântica², que é parte intrínseca da Terapia Transessencial, cada paciente é um universo que se descortina à nossa frente. São verdadeiros caleidoscópios de possibilidades que se expressam no diálogo terapêutico, às vezes tímidos, outras vezes vibrantes ou mesmo dramáticos. Na verdade, vivenciar a experiência de interlocutor de pessoas vitimadas pela dor da depressão é um convite inegável para caminharmos ao lado delas. Podemos, nessa caminhada, titubear algumas vezes ou adentrar ruas e vielas incertas e escuras de nossa consciência, mas sempre tendo a certeza de que o importante é trilhar o caminho, o sentido que se descortina a cada passo, quando atuamos com compaixão, entrega e generosidade. Vamos identificando, com o outro, a cada momento, o passo necessário na descoberta das possibilidades que a existência oferece.

    Nada mais angustiante do que percorrer o território da depressão; enfrentar seus obstáculos, cair em seus fossos e experimentar a sensação de sofrimento infindável. Trata-se de uma viagem em que se deseja pôr um fim o mais rápido possível e, mesmo que se consiga, sua marca indelével permanece na consciência, tornando essa peregrinação um fato inesquecível. Para transcender esse sofrido caminho é preciso, primeiramente, a aceitação da realidade e, dessa forma, possibilitar a construção de mecanismos de autocuidado saudáveis, bem como disponibilizar-se a receber o cuidado do outro. A depressão é uma viagem solitária, mas paralelamente, reclama a interação e o cuidado do outro, a conexão com a vida e a realização dos sonhos. Representaria o paradoxo entre o recolhimento necessário para o crescimento interior e o aprendizado promovido pela interação com os seres à volta.

    Escrever sobre depressão é um enorme desafio porque me enseja perplexidade e suscita questionamentos sobre nossa própria caminhada. Independentemente de ter ou não diagnóstico de depressão, todo ser humano já experimentou algum momento de tristeza, angústia, falta de perspectiva ou mesmo desesperança. Todos esses sentimentos fazem parte da condição básica da existência humana. Por ser um desafio, ouso dizer que, para extrairmos uma compreensão adequada, é preciso mergulhar fundo no tema, mesmo que sem escafandro ou cilindro de ar comprimido, instigando a busca de novos espaços reflexivos e a emergência de diferentes incertezas. Não sei o que será encontrado, mas suponho que há muito mais do que tem sido convencionado, experimentado ou concebido. A depressão é um problema a ser resolvido e também um mistério a ser desvendado.

    Adentrar na compreensão da depressão é uma espécie de aventura, suscita surpresas, deslumbramentos, descobertas e, por que não dizer, grande entusiasmo. Significa também empreender uma tarefa sem fronteiras, pois por mais que se amplie o leque de possibilidades, não há como esgotar o tema; cada ser que vivencia, ou mesmo estuda a depressão, irá enxergá-la por um diferente ângulo e descobrirá novas formas de superação. Entre os limites da impetuosidade da ciência e o deslumbre dos mistérios, temos muito a desvendar.

    A abordagem de um assunto tão complexo poderia ensejar a opção por uma linguagem diletantista, que conduz à superficialidade, ou por uma forma hermética, excessivamente técnica, que exalta a especialização e restringe o campo de exploração do tema. Mas minha proposta é outra e, certamente, bem ousada: é aproximar as linhas teóricas que investigam as causas e buscam o tratamento da depressão e encontrar um fio condutor que parta da visão da Terapia Transessencial e interligue as abordagens terapêuticas de diversas naturezas, sejam elas convencionais ou não, enriquecendo-o com a sabedoria que emerge para além dos cânones da ciência.

    No percurso de qualquer aventura, se não trilharmos novos caminhos na abordagem investigativa, jamais conheceremos os riscos que nos defrontam, nem o êxtase da realização que nos espera. Jamais saberemos se há diferentes ângulos de observação sobre o tema ou novas possibilidades terapêuticas se não avançarmos fronteiras pouco conhecidas.

    Assim como a ovelha desgarrada que, ao se desprender do rebanho forçou o pastor, na ânsia de encontrá-la, a atravessar as encostas e vislumbrar novos pastos, se não arriscarmos na trilha de caminhos desconhecidos, jamais conheceremos a grama verde existente do outro lado das montanhas; não teremos oportunidade de descortinar novas possibilidades de crescimento pessoal e existencial.

    Na perspectiva da Terapia Transessencial, os riscos da aventura trazem com eles a chance de se vislumbrar alternativas inovadoras, fora dos padrões adotados pela terapêutica tradicional. São possibilidades que deixamos em aberto para que os leitores encontrem novos desdobramentos. De fato, não trago para este livro novidades milagrosas e, sim, rearranjos com elementos já pensados e pesquisados nas diferentes culturas e linhas de conhecimento, de forma a integrá-los em uma lógica sistêmica e harmonizada, de acordo com as necessidades individuais. Aproveito as possibilidades de tecer as interações entre os vários campos dimensionais da essência, reforçando, assim, a proposta da Terapia Transessencial.

    A integração das diferentes teorias que explicam os processos depressivos não é um trabalho fácil. E mais difícil ainda é integrar as abordagens terapêuticas indicadas para a superação desse sofrimento sem comprometer a harmonia entre elas e o objetivo de potencializar o crescimento pessoal. Mas, com certeza, ao iniciarmos essa caminhada, sairemos da zona de segurança da velha concepção de especialização médica que restringe nosso campo de atuação, para ousar contemplar diferentes concepções científicas, filosóficas e metafísicas.

    No livro Fernão Capelo Gaivota, o autor Richard Bach se utiliza da metáfora da gaivota que rompeu com o bando para encontrar seu próprio voo, ilustrando, assim, a valorização da ousadia de transpor o pré-estabelecido e se aventurar no desconhecido. Fernão Capelo Gaivota ansiava por uma busca diferente das demais gaivotas de seu bando. Seu sonho era conseguir um voo que fosse além da forma convencional de sua espécie. Era criticado pela família e pelos amigos, chegando a ser expulso por sua rebeldia e pela traição ao bando. Finalmente, depois de enfrentar inúmeros desafios e muito trabalho interno, Fernão Capelo Gaivota retornou ao bando com a missão de ensinar aos mais jovens o sentido do crescimento e da ousadia por voos altos e livres. Essa ousada gaivota tinha como meta atingir a perfeição e fazer com que os demais acreditassem que era possível alcançá-la. Mesmo enfrentando as resistências de seus pares, nossa corajosa sonhadora entendeu a beleza e o prazer de ajudar a evolução de seu grupo; sua realização foi perceber que podia ser um exemplo para que outros mirassem diferentes perspectivas, cada um a seu tempo e de sua forma.

    A prática da medicina tem baseado sua orientação e conduta nas pesquisas empíricas, comparando os novos procedimentos terapêuticos com os já consagrados, e as novas substâncias com antigos medicamentos e com o placebo. À medida que as pesquisas vão se acumulando, novos protocolos de tratamento vão sendo elaborados e adotados, facilitando os encaminhamentos da prática e a homogeneização da linguagem. Esses protocolos, ao mesmo tempo em que viabilizam a rotina da prática médica, podem gerar entraves nos avanços, porque excluem, a princípio, outras possibilidades. Muitos profissionais se restringem aos protocolos estabelecidos por grupos de pesquisas, não valorizando a sua experiência clínica nem a percepção pessoal que se deve ter do paciente e da cultura na qual ele está imerso.

    A relação médico-paciente promove uma riqueza enorme na percepção das necessidades individuais dos pacientes e na utilização diferenciada dos protocolos pré-existentes. Utilizando-se do bom senso, do cuidado e do conhecimento científico, o médico vai aperfeiçoando sua terapêutica e refinando seu feeling diante do sofrimento do paciente. Esse é um desafio permanente na prática do profissional de saúde: acompanhar a evolução do conhecimento de sua área, criar novas possibilidades de aplicação e crescer como pessoa.

    Em nossa formação médica aprendemos mais sobre doença e morte que sobre saúde e vida.(1) Com essas palavras, o professor Wineski, estudioso da medicina integrativa, exprimiu sua opinião sobre a formação do médico, sugerindo que durante seu curso de medicina nada foi dito sobre humanismo, processo de cura, valor terapêutico do abraço e do toque, assim como sobre a transformadora presença e poder do amor. Concordo plenamente com Wineski: nossos cursos médicos são carentes do desenvolvimento da compaixão e do humanismo;³ o futuro médico recebe uma carga enorme de informações, mas, muitas vezes, falta-lhe acuidade humana e sensibilidade para o contato com aquele que sofre.

    Claras evidências mostram que, para a população e para os governantes, um bom sistema de saúde significa grande quantidade de hospitais e de médicos, bem como, no caso da rede pública, a dispensação abundante e gratuita de medicamentos. Essa prática, quando não acompanhada de valores humanos, que poderiam reduzir muito o custo da preservação da saúde, faz da medicina e dos hospitais verdadeiros monumentos à doença.

    Na proposta de refletir sobre o sofrimento depressivo, vou ressaltar que a pessoa é a protagonista de si mesma e a responsável principal pela sua superação. Mesmo com a ampliação do leque das teorias e terapêuticas para depressão, nada será mais valioso e contundente que a visão de seu papel no mundo que a cerca e a postura existencial da pessoa que sofre. Quanto mais generosidade e amorosidade brotarem de suas entranhas, mais potencial saudável terá a pessoa para adentrar a caminhada da autotransformação e cura.

    Como profissionais de saúde, precisamos ter em mente que, mesmo que os medicamentos ajudem nas situações severas de depressão, temos o compromisso de ampliar o leque das opções terapêuticas, incluindo as modalidades complementares e integrativas. É nosso dever para com os pacientes e com a nossa sociedade irmos além dos medicamentos e inserirmos a dimensão plural da capacidade humana, e não só a reduzir a aspectos da reposição biológica. Com certeza, temos que acompanhar as aquisições científicas advindas das pesquisas oficiais, mas devemos também manter-nos abertos para outras linhas de pensamento e conhecimento.

    Tendo como referência o Programa de Desenvolvimento da Consciência Autocurativa⁴, que se insere no bojo da Terapia Transessencial, compreendo que a superação dos sintomas depressivos faz parte da caminhada da autotransformação que cada pessoa empreende em sua vida. Reitero, assim, que a superação da depressão enseja uma oportunidade ímpar de aprendizado e crescimento; funciona como um chamado interior profundo. Nesse sentido, concordo plenamente com a psicóloga Brigitte Ribes (2014) quando diz que

    a enfermidade é, portanto, um processo sagrado, é a vivência de ser envolvido pelo movimento criador do espírito que desemboca em uma vida renovada, com maior vibração e um sistema familiar saneado.(2)

    No primeiro capítulo apresentarei as bases conceituais da Terapia Transessencial que deverão preparar o leitor para entender a depressão sob o prisma da caminhada transessencial, na qual a pessoa mergulhará em seus vários campos dimensionais para harmonizar a essência que a compõe e dá sentido à sua existência.

    No segundo capítulo desta obra formarei uma base introdutória para o tema da depressão, nas perspectivas clínica, epidemiológica, etiológica e terapêutica.

    No terceiro capítulo abordarei a depressão no contexto da inter-relação dos sistemas neuroendócrino e imunológico, por serem esses os pilares fundamentais na integração entre o emocional, o mental e o fisiológico e assim funcionarem como cerne do processo depressivo.

    O capítulo quarto aprofundará a análise dos aspectos psicológicos e socioculturais que permeiam a reflexão sobre a depressão; esse capítulo tangencia o estresse imposto pela vida atual e pelos valores materialistas contemporâneos.

    No quinto capítulo abordarei o tema da depressão sob a ótica da Medicina Integrativa como prática médica que integra a terapêutica da medicina ocidental oficial às abordagens psicossociais, à medicina vibracional e às referências da sabedoria milenar oriental, como a yoga, acupuntura e meditação.

    No sexto capítulo abordarei o sentido da vida e sua conexão com a vivência depressiva, que muitas vezes mina o entusiasmo e o gosto pela vida. Incluí, ainda, a visão da Logoterapia, de Victor Frankl, e as reflexões sobre o sentido da existência, de Teilhard de Chardin.

    No sétimo capítulo farei uma reflexão sobre a pessoa que vivencia a depressão, buscando compreender sua singularidade e a forma particular de enfrentar e superar o sofrimento que esse transtorno causa. Em si, esse tema poderia ser objeto de um livro, mas nesta obra vem complementar a ênfase ao protagonismo da pessoa para empreender sua própria cura.

    No oitavo capítulo refletirei sobre a superação da depressão no contexto do desenvolvimento da Consciência Autocurativa, compreendendo que a superação de toda doença ou crise existencial passa pela deflagração do processo de autotransformação.

    No nono capítulo aprofundarei a visão da psicoterapia dos transtornos depressivos no viés da neurociência, e de como ela pode reformular positivamente a conexão mente-corpo-transformação pessoal.

    O décimo capítulo abordará a espiritualidade e a religiosidade na compreensão, superação e tratamento da depressão.

    Finalmente, no décimo primeiro capítulo focarei a depressão em sua relação com algumas doenças, como, por exemplo, o câncer, a fibromialgia e a epilepsia, por estarem intrinsecamente vinculadas ao estado de humor e à presença de sintomas de tristeza, ansiedade e angústia.

    Notas bibliográficas

    RIBES. Constelar la enfermidad desde las compreensiones de Hellinger e Hamer, p. 39.

    WINESKI. An unified energy field: theory of physiology

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1