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Reis Do Rio
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E-book144 páginas1 hora

Reis Do Rio

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Sobre este e-book

Reis do Rio mostra as histórias, as polêmicas, os gols e as frases inspiradas de Renato, Romário e Túlio durante o Campeonato Carioca de 1995. Irreverente ao microfone e brilhante em campo, o trio de artilheiros foi protagonista do mais emocionante Campeonato Estadual das últimas décadas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de jun. de 2020
Reis Do Rio

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    Pré-visualização do livro

    Reis Do Rio - André Baibich

    Capa_Ebook2.jpg

    Sumário

    Futebol na veia

    1 Operação Resgate

    1.1 O fico do Maravilha

    1.2 Da calmaria de Búzios ao frenesi das Laranjeiras

    2 Romário popstar

    2.1 Um herói improvável

    3 O voo de Túlio

    3.1 O deus do Rio

    4 O líder solidário

    4.1 Craques no estaleiro

    5 O maior de todos os Fla-Flus

    5.1 Rei de coroa, cetro e 30 chopes na mesa

    Agradecimentos

    Referências bibliográficas, pesquisa e apuração

    Escrever um livro só fez sentido porque cresci em uma família em que a leitura e, por consequência, o conhecimento, eram protagonistas. Que privilégio me desenvolver nesse ambiente, guiado e amado por minha mãe, Ione, e meu pai, Mario. Orientado pelo carinho e pela inteligência de meu irmão, Beto. Nas últimas duas décadas, confortado pelas palavras tão lúcidas de minha madrasta, Lais. Em anos recentes, alegrado pelas estripulias de meu sobrinho, Marcelo.

    À Claudia, parceira dos meus sonhos, que abraçou essa empreitada como se fosse dela, o agradecimento por compreender quando meu olhar se distanciava. Ela sabia que, mesmo de corpo presente, a cabeça havia viajado para algum clássico de Maracanã lotado em 1995.

    Futebol na veia

    O que eu, um torcedor do Internacional, teria feito de errado para decidir, em um aparente ato de autoflagelo, escrever um livro em que Renato Portaluppi se dá bem no final?

    Quem me conhece bem poderia revelar que não foi Renato o carrasco das mais doídas derrotas de que fui testemunha. Adolescente dos anos 1990, minhas dores na rivalidade Gre-Nal foram infligidas por Danrlei, Paulo Nunes, Jardel, Felipão e sua turma.

    A escolha do tema de Reis do Rio, entretanto, não é obra dessas circunstâncias temporais na história de ódio que (des)une os principais clubes do Rio Grande do Sul. A despeito do que nós, gaúchos, costumamos suspeitar, nem tudo que acontece tem relação com nosso pedaço de terra na ponta do mapa do Brasil. Por outro lado, há uma forte conexão dos acontecimentos contados a seguir com o menino de 11 anos que os acompanhou intensamente do conforto de sua sala em Porto Alegre.

    Ocorre que aquele guri, mais do que um colorado fervoroso, era um devoto apaixonado por esportes, e, enquanto brasileiro, natural que esse sentimento desaguasse no futebol com particular intensidade. O vai e vem de declarações controversas, alfinetadas, episódios curiosos e, principalmente, gols dos três protagonistas do livro são manifestações do futebol raiz injetado na veia.

    Por isso insisti em escrever um livro sobre o Campeonato Carioca de 1995 que não fosse voltado somente aos saudosos tricolores das Laranjeiras. Aquela campanha do Fluminense foi, de fato, memorável e está apresentada em detalhes nas próximas páginas. A narrativa do título improvável, no entanto, é só mais uma entre diversos pequenos contos deliciosos concentrados em um semestre do mais marcante campeonato estadual das últimas décadas.

    Essa coleção de roteiros, que parece ter saído da mente de um escritor de ficção de sucesso, engaja e apaixona torcedores de qualquer clube. Foram quase cinco meses preciosos para quem ama o jogo e tudo que o envolve, inclusive para os derrotados. O revés e suas dores, afinal, fazem parte dessa loucura.

    Ainda criança e distanciado do envolvimento clubístico da disputa, saboreei cada minuto de gols, arrancadas e frases de Túlio, Romário e Renato. O resultado final, mesmo que carregue a emoção da taça decidida no apagar das luzes de um Fla-Flu, foi só mais um apimentado ingrediente dessa receita.

    Vale a pena, então, voltar a essa história. Ela é uma ode a um futebol que não existe mais, com destaque para três dos mais ricos personagens do nosso esporte. Parece ter sido feita para quem aprecia a bola e o gol, independentemente das cores que o comemoram.

    Mas, cá entre nós, que bom que o de barriga não foi pintado em azul, preto e branco.

    1

    Operação Resgate

    Setembro de 1994. O telefone do repórter Gilmar Ferreira toca na redação do Jornal do Brasil. Ao atender, ele ouve o sinal sonoro que indica uma ligação internacional.

    Jornal do Brasil, boa tarde.

    – O Gilmar, por fa…

    – Romário!? – interrompe o jornalista.

    Gilmar e Romário eram bons amigos, mas chamadas do outro lado do Atlântico não faziam parte da rotina da relação. A ligação vinha de Barcelona, onde o brilho da primeira temporada em que o atacante defendeu o azul e grená do clube mais famoso da cidade parecia prestes a se apagar.

    Desde o início da segunda campanha pelo Barça, em 1994-95, não era mais o mesmo. Tornou-se alvo de críticas não só pela comparação com o que já fizera pelo clube, mas principalmente pelo contraste daquele momento com o brilho ainda recente de suas atuações pela Seleção Brasileira. Havia retornado há pouco da Copa do Mundo de 1994, em que atingiu o auge da carreira: melhor jogador e herói da conquista do tetracampeonato. Depois dos 33 gols em 30 jogos do ano de estreia no Barcelona, mais os cinco gols em sete jogos no Mundial, sofria para repetir o desempenho e via o Real Madrid na liderança do Campeonato Espanhol. A conversa com o amigo repórter ajudaria a explicar o mau momento, ainda que tenha começado um tanto esquisita.

    – Como é que tá a situação aí? – questionou.

    – A situação… Como assim? – devolveu Gilmar.

    Daí Romário engatou perguntas sobre o momento do Brasil. Queria saber, entre outras questões sobre o país, se ainda havia um sentimento pesado de luto pela morte de Ayrton Senna, o ídolo da Fórmula-1 vitimado por um acidente nas pistas em maio daquele ano. Demorou, mas o jogador chegou ao ponto.

    – Se eu voltasse para o futebol brasileiro, em qual clube você acha que eu deveria jogar?

    Só veio uma possibilidade à mente de Gilmar: o São Paulo de Telê Santana. Era o time bicampeão mundial em 1992-93, exemplo de estrutura moderna e dono de um elenco que lhe permitia brigar com chance de título em tudo que disputava. Romário, porém, rechaçou a ideia de pronto. Primeiro, disse que a relação com Telê não era boa, mas logo revelou o verdadeiro motivo:

    – Voltar da Europa pra morar em São Paulo? Tem que ser o Rio.

    – Romário, esquece. O futebol daqui tá falido.

    De fato, Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo, os grandes cariocas, sofriam até para pagar salários naqueles dias. As últimas temporadas do futebol brasileiro mostravam domínio do São Paulo citado por Gilmar e do Palmeiras, turbinado pela parceria com a multinacional italiana Parmalat. Como um clube do Rio poderia bancar um jogador que, já àquela altura, era favorito absoluto para ser escolhido como o melhor do mundo de 1994? Os amigos se despediram, e Gilmar ficou com aquele diálogo meio estranho na cabeça. Romário estava louco para voltar.

    A relação entre os dois protagonistas da conversa era próxima desde o início dos anos 1990. Começou com um desentendimento. O jornalista foi consultado por um colega holandês para uma reportagem nos tempos em que o atacante brilhava no PSV Eindhoven. Romário não gostou nada da frase de Gilmar reproduzida no texto – algo que, na interpretação do jogador, dava margem a uma suspeita de que fosse consumidor de drogas.

    Em uma das visitas do atacante ao Brasil, Gilmar foi escalado para acompanhar o desembarque no aeroporto e posterior ida do jogador ao seu point favorito: o quiosque Viajandão, na praia da Barra da Tijuca, onde aproveitava a companhia dos amigos mais chegados e passava horas nos retângulos de areia reservados ao futevôlei. O repórter observava com atenção os movimentos de Romário quando o craque o fitou. Imediatamente, deixou a quadra, foi até o chuveiro para limpar os pés e caminhou na direção do jornalista.

    – Aí, quero falar contigo!

    – Comigo?

    – Não é você que é o Gilmar?

    – Eu mesmo.

    – Então é com você mesmo que eu quero falar. Chega aí.

    Surpreso, Gilmar se sentou com Romário e ouviu os protestos sobre a reportagem. Tentava se defender: fora questionado pelo colega se era comum que jogadores brasileiros consumissem drogas. Respondera que era difícil dizer, mais complicado ainda provar, mas que os rumores circulavam. Sua frase buscava traçar um panorama geral da situação, mas a construção do texto dava a entender que Gilmar falava especificamente de Romário.

    A discussão continuou até que um amigo em comum dos dois chegou e cumprimentou o repórter. Romário ficou um tanto perplexo ao ver que se conheciam, contou o motivo da desavença e a conversa seguiu. Pouco a pouco, o clima tenso se dissipou e o atrito deu lugar a um papo descontraído. A amizade se tornou tão forte que, pouco antes da tal ligação recebida na redação do Jornal do Brasil, Gilmar estivera na Espanha por cerca de 10 dias, em visita ao jogador.

    A imagem de um Romário insatisfeito, um tanto incomodado e sedento por mudança parecia algo muito distante poucos meses antes. Sua ascensão fora vertiginosa a partir da transferência para o Barcelona, que o buscou no PSV Eindhoven no segundo semestre de 1993. Na Holanda, suas arrancadas avassaladoras e finalizações precisas já haviam lhe rendido o status de ídolo, mas pesava o clima gélido, agravado pela monotonia da rotina caseira. Quando a saudade batia forte, aproveitava alguma folga e se mandava para o Rio, nem

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