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Um Breve Passeio Financeiro Pela Curiosa História Do Brasileiro
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E-book148 páginas2 horas

Um Breve Passeio Financeiro Pela Curiosa História Do Brasileiro

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Sobre este e-book

O livro se propõe a realizar um “passeio” informal pela história do brasileiro, sob uma perspectiva financeira, dando ênfase a personagens e eventos que exemplificaram a sua formação.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de abr. de 2021
Um Breve Passeio Financeiro Pela Curiosa História Do Brasileiro

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    Um Breve Passeio Financeiro Pela Curiosa História Do Brasileiro - Luiz Antonio Campos De Barros Barreto

    Aviso aos navegantes

    Dizem que quando se tem um martelo na mão tudo em volta passa a ficar parecido com um prego. Meu martelo é a teoria financeira e o prego da vez, que me levou a esse livro, foi o comportamento do brasileiro ao longo da história. Como ele investiu? Qual foi o resultado desse investimento?

    A história é o produto da interação de muitos fatores e de muitas pessoas. Tentar isolar um aspecto ou um indivíduo, extraindo conclusões dele, naturalmente tem seus riscos. Pretensiosamente é isso que me propus a fazer aqui. Existem interpretações sociológicas, jornalísticas, políticas, antropológicas e econômicas da história, a minha, resultado das marteladas, será puramente financeira, na sua concepção mais básica. Seguramente não é uma visão melhor ou mais precisa, longe disso, mas ela me pareceu diferente o suficiente para se tornar curiosa. A vantagem é a de que sob a interpretação financeira nós não somos, de maneira alguma, diferentes dos nossos antepassados. Assim sendo, fica mais fácil evitar interpretações tendenciosas de eventos passados, muitas vezes com viés ideológico, o que geralmente acontece quando aplicamos métricas atuais.

    Mas o que é finanças e por que ela é uma disciplina imune à passagem do tempo? Minha tentativa de resumir em uma frase é a seguinte: finanças aborda o processo de alocação de recursos escassos, sob incerteza, ao longo do tempo, visando a sobrevivência e a perpetuação; processo esse também conhecido atualmente como sustentabilidade. Ele é atemporal, embora pessoal. A palavra ‘recursos’ aqui está sendo interpretada numa definição ampla, podendo assumir a forma de recursos humanos, físicos, intelectuais, de relacionamento, de informação e até mesmo do tradicional recurso monetário. O ponto de vista também pode ser individual ou coletivo, mas sua estruturação é sempre circunstancial, dependente de contexto e de domínio: onde os brasileiros se encontravam e quais controles eles tinham sobre o ambiente?

    Assumi como premissa que o grande problema do brasileiro é, sempre foi, e continuará sendo, o âmago da análise financeira: a difícil tarefa de atrair e investir recursos escassos, num ambiente complexo, de forma eficaz, para alcançar seus objetivos.

    Ao longo da história muitas estratégias foram adotadas e recursos aplicados. Sucessos e fracassos aconteceram, gerando mais ou menos recursos, de formas diversas. O retorno obtido por esses recursos dependeu da eficácia do investimento realizado ao longo do tempo, de suas características próprias e das oportunidades existentes, levando em conta os riscos encontrados nos ambientes de cada período. O direcionamento adotado sempre foi balizado pela expectativa de geração de valor, na avaliação do tomador de decisão, do brasileiro.

    A ideia, portanto, é a de observar, através do filtro financeiro e de forma bem descontraída, a evolução histórica de brasileiros representativos de vários períodos, avaliando alguns desses caminhos adotados e de suas implicações.

    Generalizações foram inevitáveis e exemplificações sofreram de limitação e parcialidade. Naturalmente a maioria dos ‘brasileiros’ foram deixados de fora, na sua individualidade, já que o livro tem somente umas cem páginas, e as ‘brasileiras’, infelizmente, estão certamente sub representadas pela própria contingencia histórica. Da mesma maneira, o período de análise ficou restrito, chegando apenas até o início da república, evitando assim a proximidade com questões que poderiam trazer à tona paixões político-partidárias associadas ao momento atual.

    O convite, portanto, é apenas para uma conversa monóloga informal, um rápido passeio assistido através de eventos históricos e biográficos, tendo como pano de fundo conceitos financeiros associados.

    Recomendo a todos a leitura dos livros e dos artigos listados na bibliografia, onde as fontes de dados estão, e de onde se pode obter um aprofundamento histórico mais apropriado.

    Tupi or not Tupi

    Chegou o almoço!

    Para falar sobre brasileiros temos que começar descobrindo o Brasil. Não o Brasil atual, mas aquele dos nossos longínquos antepassados; o Brasil que formou os primeiros brasileiros.

    Na ausência de um melhor parâmetro vamos começar pelo começo, quando tribos que viviam pacificamente no litoral paradisíaco brasileiro foram atacadas de surpresa por conquistadores: aqueles seres estranhos e agressivos que falavam uma língua diferente e possuíam armas melhores. Eles chegaram matando os bravos guerreiros, sem piedade, destruindo suas aldeias e escravizando suas mulheres e crianças. Os poucos sobreviventes, que na época conseguiram escapar, foram forçados a adentrar a selva e se esconder no interior do território, sob constante risco de serem dizimados.

    Foi assim, no ano 1000, nosso ponto de partida, que os Tupis assumiram o controle do litoral brasileiro, expulsando os Tapuias, forma como eles chamavam os nativos que encontraram por aqui. Eles foram não só extremamente violentos como também preconceituosos, pois as tribos Tapuias mais ferozes e famosas, com os Aimorés e Tremembés, na língua tupi significavam ‘macacos’ e ‘vagabundos’, respectivamente. Parece que o lema da época entre eles era: Tapuia bom é Tapuia morto. Infelizmente a preconizada natureza fofa do indígena não encontra suporte nas evidências históricas.

    A coisa toda começou realmente mal, pois depois de darem uma surra nos Tapuias os Tupis se fragmentaram em tribos, como os Tupiniquins, que em Tupi significa ‘vizinhos’, os Tupinambás que são os ‘machões’, os Tabajaras aqueles ‘da aldeia’, os Tamoios nossos ‘avós’ e os Termiminós nossos ‘netos’, criando um estado de guerra familiar constante entre si; primo contra primo, neto contra avô, a aldeia contra sua vizinhança. Além disso, existia um pequeno, porém importante, detalhe: eles não só matavam uns aos outros como também comiam uns aos outros. Antropofagia estava na moda. Essa foi a situação que o português encontrou ao chegar por essas bandas, antes de se juntar à bagunça. O que Pedro Alvarez Cabral realmente descobriu foi a existência de uma terra habitada por esses brasileiros para lá de estranhos.

    O primeiro contato português-tupi deve ter sido fascinante, o momento em que duas culturas completamente diferentes se encontram, frente a frente, pela primeira vez.  De um lado o português pós-medieval, saindo da idade das trevas e iniciando-se no renascimento, e do outro o índio canibal, que habitava a costa brasileira, no auge da exuberância de sua espontaneidade. Quais seriam os valores que eles teriam? Quais os valores que eles almejavam? Afinal de contas, como investiam? O primitivismo daquele momento nos ajuda a mergulhar nos fundamentos básicos de finanças, deixando de lado o instrumental e o linguajar moderno. Finanças existe independentemente de época ou cultura, da existência de dinheiro ou de sistema político sofisticado. Podemos argumentar que a prática financeira ainda é mais primitiva do que a do canibalismo.

    Quando os portugueses chegaram à costa brasileira ela era povoada por aproximadamente cinco milhões de nativos, segundo estimativas históricas. Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, em Portugal, o número de habitantes era de pouco mais que um milhão. Completamente desproporcional.

    Felizmente a expedição capitaneada por Cabral, de 1500, embora tenha permanecido somente nove dias entre os Tupiniquins, trouxe consigo um cronista: Pero Vaz de Caminha. Pela descrição que ele enviou desse encontro para o rei de Portugal se tem uma boa ideia do que foi esse choque cultural, de uma inocente e efusiva confraternização entre duas raças. Uma fascinada pela nudez, beleza e desprendimento dos indígenas e a outra pela impressionante tecnologia quase mágica dos forasteiros. O encontro ocorreu de forma pacífica, baseada em negociações e trocas, comunicadas através de sinais e suposições. Houve música e dança conjunta, numa espécie de carnaval antecipado. Ficou patente que os portugueses viram a suposta inocência dos indígenas como abertura para uma possível conversão religiosa, grande obsessão da época na Europa. Caminha confessou em sua carta que são muitos mais nossos amigos do que nós seus. O curioso é que a única frase famosa da carta, onde se diria que nessa terra em se plantando tudo dá, simplesmente não existe. Foi a primeira ‘fake news’ do Brasil. Interesses poderosos já manipulavam a informação naquela época. O que o nosso Caminha disse foi que águas são muitas; infinitas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Ele não elogiou as terras, mas sim as águas, afinal ele era um marinheiro, não um agricultor, e ficou por aqui só alguns dias. Começou aí a guerra da informação no Brasil.

    Esse descobrimento mútuo só aconteceu porque foi reportado, e essa carta chegou aos dias de hoje pela sábia decisão de enviá-la numa nau imediatamente para Lisboa. O controle da narrativa, que implica em controle financeiro, como veremos ao longo da história, é vital.

    A missão oficial do Cabral, na realidade, era a de chegar à Índia, seguindo o caminho aberto pelo glorioso Vasco da Gama. Durante a subsequente travessia boa parte da frota foi destruída e infelizmente nosso cronista foi morto em batalha, não podendo desfrutar do sucesso de sua carta.

    Mas quem eram esses brasileiros que os portugueses encontraram? Para começar eles não eram índios, supostamente moradores da Índia, erro esse que infelizmente somos obrigados a cometer até hoje. Eles também não eram índios no sentido composto da palavra. Assim como na Europa haviam os Portugueses, Franceses e Holandeses, por aqui haviam os Aimorés, os Tupinambás e os Goytacazes. Eram indivíduos que viviam em tribos extrativistas, nômades e guerreiras, retirando seu sustento do território que ocupavam e lutando constantemente para renová-lo. Tinham, todavia, uma característica fundamental: as tribos se odiavam! O foco primordial deles, quase obsessivo, era o de vencer batalhas. Viviam dentro de uma cultura guerreira de exaltação ao herói vitorioso.

    Devido à abundância de alimentos e de materiais necessários à sobrevivência o aprendizado embora também envolvesse a caça, a pesca e a exploração dos recursos naturais, se concentrava principalmente na arte de guerrear. Eles não tinham a necessidade de estocar, garantir um excesso para um período de escassez, somente o que coubesse na mochila, para os momentos em que participavam de incursões guerreiras. O tempo livre eles dedicavam ao planejamento do ataque ao território inimigo e da defesa da aldeia. Planejavam para a próxima guerra, e para nada mais.

    A equação básica de fluxo de valor em finanças diz que o saldo de valor final é igual ao saldo inicial mais as entradas de recursos menos as saídas recursos no período. No caso indígena entrava o suficiente para cobrir a saída, de maneira que a saldo permanecia sempre constante. Para eles, não havia necessidade do conceito de dinheiro, algo que servisse como padrão de valor para troca, acúmulo e seguro para um momento de escassez, pois esse cenário não era de maneira alguma contemplado. O escambo, troca pura e simples de algo por algo, era mais que suficiente. Em relação à terra, possuíam o que

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