Arca De Fogo
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Arca De Fogo - Vilmondes Cândido Rosa
Cândido, Arca de Fogo
Vilmondes Cândido Rosa Uberaba – Minas Gerais
vilmondes@candidoempresarial.com.br
2018
Cândido, Arca de Fogo
PREFÁCIO
Existe um sol e uma sombra, um sol dando uma sombra de sol, uma sombra andando como mitra acima das horas que dobravam por sobre as velhas telhas daquela sua casa. Quem nunca desejou um sol, uma sombra, um sol dando uma sombra de sol por sobre suas cabeças. O antigo formato era de uma construção já a muito em desuso pelos homens do presente período, sem dizer, é claro, dos descasos de cuidados a ela negado durante toda a sua primeira década, aquela coisa o acobertava na manhã do dia, além de seus pensamentos, dos tais um prisioneiro.
Cândido, Arca de Fogo
Sumár io
Nasceu
......................................................................... 6
"Eles perseveravam no ensino dos apóstolos e na
comunhão, no partir do pão e nas orações".............. 13
No caminho de Damasco
......................................... 17
Na pedra de pensar
................................................... 21
Quem tem fome tem sede
........................................ 26
Tal o pai, tal o filho
................................................... 32
Entre outros demônios
............................................. 36
No silêncio só o vento lento
.................................... 41
A água esquentou
..................................................... 44
Coração eucarístico
.................................................. 49
O Conde
..................................................................... 53
Cândido, Arca de Fogo
Tudo de novo
............................................................ 59
Revelação
.................................................................. 62
As cartas
.................................................................... 68
Matrimônio
................................................................. 77
Matrimônio em segundo ato
.................................... 84
Amizade
..................................................................... 97
Galinha
..................................................................... 101
Estilha
...................................................................... 111
Sobre as mandiocas brancas
................................ 118
Corruptela de alcoviteira
........................................ 127
Furna
........................................................................ 132
Ponto de orvalho
..................................................... 139
Geada negra
............................................................ 143
Os espinhos têm flores
.......................................... 150
Cândido, Arca de Fogo
O décimo segundo sonho
...................................... 156
Rezeis
....................................................................... 163
Casa da Quinta
........................................................ 168
Guarda-livros
........................................................... 176
Agenor Castilho
...................................................... 181
Comprimidos
........................................................... 187
As voltas
.................................................................. 195
É isso
....................................................................... 202
Olhos enfraquecidos
.............................................. 206
A dor
........................................................................ 210
Colóquio
.................................................................. 215
Quarto Crescente
.................................................... 221
Salvação
.................................................................. 225
Cândido, Arca de Fogo
Capítulo 1
Nasceu
Timbira nasceu no vigésimo dia do segundo mês, do décimo ano, do vigésimo século da era cristã, quando foi batizado num agravo ocorrido no amplo telheiro da casa de D. Maria Ilda Castilho, a primeira alcoviteira convertida
pelo pastor Claudineir Carneiro da Mata ao protestantismo em Pedra dos Cristais. A casa de D. Maria Ilda ainda continuaria a ser na envelhecida colônia de pescadores à s margens do Rio do Vale dos Trigos da Prata até que o grande dilúvio acontecesse por sobre ela como um catafalco, efeito de águas .
A casa da mulher de cabelos bem retorcidos e crescidos para o alto e para os lados se tornara um ambiente de encontro das crenças de todos os tipos de restos de gentes vivendo ali. Logo que o sítio foi chama do pelos primeiros garimpeiros de sonhos que não morrem nunca, mas que só envelhecem
, de Pedra dos Cristais, em momento que lá chegaram no encastoo de seixos que lhes fizessem se sentirem ricos na terra, desprezando, é claro,
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Cândido, Arca de Fogo
os perigos de não herdarem o reino dos céus, surgiu na terra o lugar. Logo após, também os pescadores vieram na forma de descendentes dos primeiros habitantes. O nome veio com as graças da natureza a beirar um rio, muito em função das suas termináveis enterradas e petrificadas riquezas, sonhos esses que já não existiam mais, nos tempos em que o Timbira caminhara por lá .
Quando nasceu para o evangelho, Timbira tinha, ou aparentava ter, quarenta e cinco anos de idade, uma mulher já sem o útero para novas crias, três filhos agarrados a si, por causa de seus sustentos e um vivo apreço pelo álcool e pelos cigarros de palha. A cada três meses, um padre visitava aquela esquecida vila ainda sem sinal de internet, sem telefones nem energia elétrica para aquecer água ou clarear os quartos, espantando as assombrações de olhos acriançados. Era como se a vila houvesse sido esquecida pelo mundo com o passar do andamento. No mesmo encontro, o padre Benedito Martins Vieira rezava uma missa em português, pois havia perdido o tato com o latim. No amanhecer, servia-se da hóstia, do vinho tinto, batizava e rezava também pelas almas
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Cândido, Arca de Fogo
ausentes, sem mencionar nomes, lembrava a todas num mesmo tempo, repetia do vinho em goles por três ou mais vezes, antes de limpar os restos dos pingos da boca na manga da velha desfiada batina branca .
O padre Benedito Martins Vieira não exortava os moradores contra o uso das bebidas nem contra o consumo do fumo de rolo picado em pedaços depositados por sobre as arrancadas palhas do milho seco. O há bito era uma prática comum dos moradores do ambiente esquecido pela civilização. Padre dizia que seu ir ali não era para o trato desses assuntos pormenores, como o Cristo a quem ele servia e anunciava em pregação também não viera ao mundo por tantas outras coisas a ele atribuídas. Pastor Claudineir Carneiro da Mata persuadia mais que padre Benedito Martins Vieira, fala fácil, falava muito, explicava tudo em nome do Criador, rezava menos, mas, em oposição, pregava por muito mais tempo, seus encontros quase duravam o dobro do tempo; tempo que precisava o padre em seus serviços de ofício. Já o p astor Claudineir Carneiro da Mata abominava o álcool e o fumo, que por ele era chamado de vício do demônio. Nunca
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findava uma pregação sem a exortação do perigo de se dar espaço para as coisas ruins nas carcaças dos de fôlego. Quando pregava isso, apontava para os porcos refrescando na lama do mangueiro.
Timbira então se torna o primeiro novo homem
agarrado às bebidas e ao fumo em Pedra dos Cristais. No Cristo das escrituras sagradas, que não lia por ser analfabeto de pai e de mãe
, apenas cria. Ouvia ele atentamente as leituras que D. Maria Ilda Castilho provia em seus bancos de madeiras claras graças às muitas águas das chuvas. Tudo acontecia na espaçosa varanda da casa de D. Maria Ilda Castilho: as missas de três em três meses, e os cultos, nesses intervalos de tempo dados pelo santo padre. Quando não era um padre, era um protestante que gritava na varanda da mulher para todos ouvirem as verdades dos céus. E se não havia os dois sacerdotes representando a vontade do Criador, a dona da casa reunia a todos para ouvir suas leituras de fins de tarde. D. Maria Ilda Castilho era a única pessoa que conhecia o resultado da combinação das letras na forma de sons. D. Maria Ilda Castilho também benzia a muitos ,
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curava o mau-olhado e outras coisas a mais que viesse atazanar a vida. Bem! Dizia ser dela os louros das saranças
vindas para todos; quando não dava, era o destino mesmo. D. Maria Ilda Castilho acreditava ter o poder de falar com os mortos, ouvia ela todos os dias algumas exortações dos de lá. Animais doentes eram ali levados para serem benzidos, também os meninos nas altas febres das madrugadas visitavam seu terreiro de ervas naturais. Numa certa noite escura de chuva, na ausência da lua, jurou que viu de pé, por debaixo da comunheira, o próprio; estaria ele ali em carne e osso ou qualquer coisa diferente disso. Nunca antes
outro vivo ser tivera sobrevivido a um encontro com o próprio capa - preta
. Se verdade não fosse, servia de encanto aos ouvidos de quem se fizesse presente em forma de visita em sua morada. A coisa piscou o olho esquerdo sem dizer uma só palavra. Os encantos de suas histórias mal contadas atraíam velhos e meninos para um terreiro de ditas mentiras em verdades. Se piscou o esquerdo, existia ele com os dois.
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A quatro quilômetros da vila de Pedra dos Cristais , lugarejo que sempre era afogado pelas águas do rio nas cheias, existia uma venda à beira da grande estrada de terra que ligava Minas a Goiás sem passar pelo asfalto do posto de fiscalização. Quando chovia, parte das águas vomitadas pelo rio do Vale dos Trigos da Prata ascendiam e alagavama velha estrada por cerca de vinte quilômetros . O lugar era passagem de caminho dos caminhões carregados de cana-de-açúcar que seguiam para a rec ém construída Usina dos Fundos, os motores tinham seu fluxo interrompido naquelas semanas .
A vila por dentro construída por garimpeiros que se foram depois das pedras, e por fora seus descendentes que por muitos anos viveram da pesca deram o acabamento ainda quando ali abundavam os pescados de jaú, corvina, mandi, cachorra, aruanã e lambari. No momento o sustento era outro.
Timbira não foi batismo de pai nem vontade de mãe ou palpite de avós, na infância em meio às treze irmãs , estava ele um pouco abaixo do meio distante das duas extremidades, era o único homem na casa, além do pai ,
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um nordestino de Alagoas de avantajadas orelhas e nariz apontando para o rio e de um cachorro vira-lata que mancava de uma das patas dianteiras por nome Tiziu. A s primeiras peias das leiteiras eram feitas com cordas de embira, foi dada à tarefa da irmã caçula de segurar as peias para que Timóteo mungisse as ’’reis’ leiteiras
que tudo aconteceu; como nascera a menina com a língua presa , essa dizia das cordas apenas bira
e de Timóteo de Tim
. No momento de chamar o irmão para entregar as cordas pronunciava: Tim...! Bira...!
. As outras irmãs mais velhas que ouviam começaram a chamar o menino de Timbira
. Parece que a todos ficou melhor a alcunha das irmãs do que o nome de batismo escolhido pelo pai .
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Capítulo 2
Eles perseveravam no ensino dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações
Nasceu na Paraíba de um escape dos cuidados de mulheres
, esse foi da segunda esposa do pai, uma que encravada foi logo após o alvitre da última filha que nem conheceu. Quando nasceu, a mãe já configurava com cinquenta e cinco anos ou mais, dados de um registro fora do tempo, ou um retrato de uma pele enrugada por tantas insolações de dias quentes .
Saiu ainda menina do lugar de concepção, a Paraíba. Na ocasião, quando se retirou, foi umpouco antes da primeira menstruação visitar seu corpo de menina - moça. Quando se afastou de lá, não se reconhecia nas perdas dos fragmentos da mucosa uterina vindas mês após mês. Quando as conheceu depois, muito sofreu com isso .
Possuía nariz achatado e largas ventas para sentir do ar o melhor dos dias quentes, sorriso liso, sorriso lindo,
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um lindo riso por entre fartos lábios na pele escura a carregava de formosura. Apesar de tudo ser sofrimento, a pele era lisa por toda parte que lhe tocassem olhos, na cabeça um lenço estampado com flores de brejo nunca deixava à mostra seus cabelos conhecidos apenas pelo moço Timbira em momentos só deles. Momentos que cessaram quando lhe retiraram o útero na Santa Casa da cidade grande na ocasião do nascimento do terceiro filho do casal. Porque sorria era bonita; por demais se destacava das outras mulheres de Pedra dos Cristais , cintura quase na altura dos cotovelos. Seria de espantosa formosura se tivesse existido longe da vila de Pedra dos Cristais, se nascida junto aos cuidados dos cremes, das águas termais e dos ativos suavizantes antioxidantes por sobre a pele uma outra história a ser contada estaria por essas páginas .
O pai, um vaqueiro do sertão nordestino, conhecia as trilhas da Paraíba, do Rio Grande do Norte, de Pernambuco e do Ceará. Gostava de usar umas roupas feitas de couro na forma artesanal, suas peças eram compostas por perneiras, gibão, chapéu de couro de abas
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largas dobradas no meio, avental de couro, luvas e botas também de couro. O homem amava as histórias de Lampião, Maria Bonita e Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco, vulgo diabo louro
, de quem era admirador dos feitos e dos defeitos. Numa de suas viagens às M inas Gerais venderam Heleninha para dona D. Maria Ilda Castilho em troca de um sacodido de farinha, dois de carne-seca e quatro garrafões de vinho forte; quando feito foi, estava muito próximo da chegada do inverno em Pedra dos Cristais. O Paraíba, como era chamado, sem pre visitava a vila para troca de gado por pedras preciosas , nunca mais retornou o homem dos sertões da Paraíba .
Os moradores da vila de Pedra dos Cristais se encantaram com um dos versículos deixados por um dos após do Nosso Senhor salvador no livro de Atos dos apóstolos
. As vacas pertenciam às famílias em particular, cada qual com sua marca em ferro e fogo, dessas o leite era convertido em queijos, requeijão e outros derivados que