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Novo Tom Para A Poesia E Alguns Contos Da Vida Real
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E-book57 páginas59 minutos

Novo Tom Para A Poesia E Alguns Contos Da Vida Real

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Sobre este e-book

Poemas reescritos sob a forma de prosa, contos e crônicas sobre fatos e vivências próprias.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de dez. de 2018
Novo Tom Para A Poesia E Alguns Contos Da Vida Real

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    Novo Tom Para A Poesia E Alguns Contos Da Vida Real - Juarez Francisco Da Costa

    Novo tom para a poesia e alguns contos da vida real,

    Juarez Francisco da Costa

    CONTAR OU (DES)CONTAR O CONTO

    Hoje, distraidamente olhando minha garotinha, ocorreram-me lances do passado, rotulei o presente e fiz perquirições acerca do futuro. Com menos de dois anos de idade, não se adapta ao gorro que sua mãe lhe põe para proteger da friagem ou para enfeitar. Tira-o quantas vezes lhe é colocado. Lembro que daqui mais um tempo lhe contarei estórias. E eu mesmo viajo nas que me contavam. Serei fiel no que contar? Subtrairei trechos ou tudo de velho, criando o novo? Acrescentarei ao antigo? Interpretarei? (Quem conta um conto aumenta um ponto). O momento de mim, o costume ou algum fator latente ditará a fórmula.

    Seu gorro, quando ela sai das vistas, fica perdido, e logo alguém terá que procurar. Sempre se acha. Nem sempre de modo fácil.

    Assim como sua chupeta, de que ela gosta, mas não usa o tempo todo e sempre deixa por aí. Assim como fazem com ela, também me punham a roupa da missa, geralmente aos domingos, e diziam que eu ficava bonito, só era feio usar chupeta. Também não gostava de usar gorro. Eu perguntava pela chupeta, perguntavam-me pelo gorro. Não sei era a resposta. Diziam: Dá três pulinhos e pede pra ‘São Longuinho’, que ele mostra. Eu pulava mesmo, e as coisas apareciam, como forçosamente apareceriam. Assim se agia quando sumia alguma coisa.

    O papai Noel… Esse, no começo aparecia uma vez por ano. Depois desapareceu e eu não entendia por quê. Continuávamos eu e meus muitos irmãos pondo na janela o sapato, mas, prevendo que o velho não viria, os adultos diziam: Coloca, meu filho. Se o Papai Noel não vier e não te deixar um presente é porque tem muita criança pobre pra atender. Quem sabe no ano que vem… Ou quem sabe você tá com sorte… O que você queria de Papai Noel? Pedia alto e o velho não vinha ou vinha trazendo algo diverso do que pedia, mas esperava-o para o ano que viria.

    Ensinaram que as coisas sumiam porque um moleque de nome Saci era quem as escondia para brincar ou para castigar. Tinha uma perna só, era traquinas e vivia na floresta, mas vinha para o nosso meio sempre que uma criança xingava, era resmungona ou desobediente, falava capeta, diabo, demônio, etc… (Eram todas razões para desaparecer coisas). Mais grave: Papai do Céu não gosta, Quem é mau não vai pro Céu, O inferno é um lugar onde só tem fogo e os maus queimarão pra sempre"

    Os anos foram passando, as curiosidades eram outras e fatos novos, antes não percebidos, tinham suas explicações peculiares. Por que o padre não namora? Não pode, meu filho. A mulher que namora o padre vira mula sem cabeça. E esse homem meio inchado e feio, por que é assim? Dizem que vira lobisomem, se transforma num animal e anda de quatro patas. Por isso as juntas de seus dedos são inchadas… Ele vira à noite e desvira de dia

    Lembro que gostava da broa assada no fogão a lenha onde também, aproveitando as brasas, eu assava uma mandioca ou uma batata-doce. Que delícia! E as noites de São João e de outros santos do inverno, com lua clara e céu estupendo? … Não importava o frio, era tudo bonito. A bênção, dindinha Lua. Não respondia, mas pedia mesmo assim, secundando a voz de minha avó. A fogueira ardendo, gente tirando sapatos e meias, para atravessá-la de pés descalços (Que heroísmo!). Ainda hoje não entendo como se dá a coisa, não busquei explicação científica para o fato de que os pés não se queimam. Tinha que ser à meia-noite (hora mágica!). E a variação de hora e de relógio para relógio?… (Toda hora é relativa).

    A coisa ficava mesmo sem explicação, salvo que aqueles homens possuíam muita fé.

    E assim foi minha infância, adolescência, com reflexos na idade madura. Nunca entendi muito bem todas as coisas. A fé é artigo raro. O papai Noel, esse eu sei, me dava presente o ano inteiro, todo dia, o tempo todo. As crianças pobres são as que mais carecem, ainda hoje, de presentes desse velhinho. O céu, o inferno… (?) Na barra das saias de minha mãe ou da minha avó sempre desenvolvi algum credo. Ruim era voltar da Missa do Galo, a pé, da Vila, por quatro quilômetros (Que vontade de arriar e dormir ali mesmo no caminho!), mas a missa era bonita. Eu me emocionava com ela, com a saga de Cristo na Semana Santa, que era encenada no velho rádio a pilha. Não via as cenas, mas as tinha na imaginação, ouvia as palavras e chorava. Depois passei a usar a missa também para paquerar. Céu e inferno tomaram novas dimensões e conceitos. A conhecida, que, diziam, namorava o padre, nunca virou mula sem cabeça. Nunca vi uma, como não vi lobisomem, mas vi mãos, dedos e pés inchados de cachaça.

    Os fatos existem, os mitos, não. Tenho uma enorme

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