Diário Pandemônico
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Diário Pandemônico - Eduardo Mamcasz E Cleide De Oliveira
DIÁRIO PANDEMÔNICO
BERLIM ANO ZERO
Eduardo Mamcasz
&
Cleide de Oliveira
2 0 2 0
Ano do Rato
Dedicatória
Nossos agradecimentos permanentes a todas as pessoas queridas que nos desejam uma boa vinda de Berlim e uma boa chegada de volta a Brasília.
Importante a confiança em nós depositada, mesmo que se sentindo em dúvida quanto ao nosso proceder num momento tão delicado deste Planeta Terra.
São pessoas amigas que se manifestam nestes três meses querendo notícias e muitas exigindo que a gente se cuide até mesmo além do que seja possível.
As atenções não cabem nesta página, vieram do Brasil, Alemanha, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Inglaterra, Polônia e estão em nossos corações.
Vocês todas pessoas amigas merecem receber um exemplar deste livro, na forma impressa ou na internética mas isto não é possível por causa dos custos.
Quanto ao autógrafo, considerem-se grafados porque estamos inseridos de vez neste mundo distante um do outro, apenas fisicamente porque estamos juntos.
Com mil beijos desta dupla de risco
Polaco & Madame
Para ouvir no pé da orelha
Este Diário Intimo da Pandemia é escrito pela dupla de risco Polaco & Madame por termos mais de 70 anos de Ida, aliás, bem vívida.
Ele mostra o que acontece com a gente nos meses de março, abril e maio deste ano do Rato, 2020, enquanto confinados em Berlim.
Na verdade, conta um pouco do tanto da nossa insegurança e inquietude em cima do infindo porvir cheio de pânico e incerto medo, certo?
Justo em Berlim, nosso pouso rotineiro nos últimos tempos, a capital do Ano Zero, pelo número de quedas de quatro em sua História.
Que a leitura sirva de comparo de comportamento na batalha entre alemães e o adotado pelos vizinhos latinos que nem nós ladinos.
Eduardo Mamcasz & Cleide de Oliveira sobrevivemos em união instável desde 1980 e já passamos juntos pelo mundo por mil e um riscos.
No começo, despencamos de carro na cachoeira do rio das Almas, interior de Goiás, numa madrugada de lua cheia, o que lembramos.
Quando explode a usina nuclear de Chernobyl, na Rússia ainda comuna, a dupla de risco está a quilômetros da fumaça ativa que se avizinha.
No barco de quinta categoria no interior da China somos os únicos brancos quando é derrubado o avião espião e morto o piloto ianque.
A pé, no meio da noite, na travessia da ponte que fronteiriça Guatemala ao México com os sentinelas ávidos por um dólar e outro tanto.
Ultrapassamos sete meses longe de Brasília para apenas vagar sem destino From Alaska to Jerusalem
pena que o tempo passa rápido.
De bote no rio Ganges em Varanasi, Índia, no beber a água dita sagrada enquanto o cadáver passa por entre os dedos amarrado nos bambus.
Então siga nosso relato por vezes mórbido e cruento desses Dias de Ira em que relatamos a nossa insegurança e inquietude do por vir.
Fomos a Berlim em março e voltamos a Brasília em junho fazendo tudo na hora errada porque voltamos do Piso e chegamos no Pico.
Boa leitura a todos os nós confinados ou vós serviçais alheios ao poder desse vírus lazarento, morfético, filho da puta que mata nosso medo.
Tschuss, inté e axé.
Obrigado pela companhia amiga se sempre.
Indice Pandemônico
- Dedicatória
- Introito
- Sobre nosso virótico ser
- A Berlim deste Diário
- Primeiros dias pandemônicos
Nossa Coroa em Berlim
12/03/2020 - Rio ou choro?
13/03/2020 - No show da vida
14/03/2020 - Viajando com o Coronavirus
15/03/2020 - Quarentona predileta
16/03/2020 - Comunista fecha igreja
17/03/2020 - Elogio da Loucura
18/03/2020 - Embaixada lacrada
19/03/2020 - Um viva ao papel higiênico
Diário Pandemônico
21/03/2020 - Solidarizar sem sociabilizar
22/03/2020 - Domingo de sol confinados em casa
23/03/2020 - Dia 13 da Correntena de 15
24/03/2020 - Tempo de distanciamento básico
25/03/2020 - de manhã - A flor rebelde
25/03/2020 - de tarde - A corrente quebrada
25/03/2020 - meio da noite – Nós não estamos loucos
26/03/2020 - Corra Coroa Nunca Morra
27/03/2020 - Primeira caminhada quase livre
28/03/2020 - Banho de sol na prisão domiciliar
29/03/2020 - Domingo lamacento
30/03/2020 - Incômodo sinal de vida
31/03/2020 – Olha o Vírus aqui em casa gente
01/04/2020 - No projeto NaNoWriMo
03/04/2020 - Mudança do primeiro para o sétimo céu
04/04/2020 - Com-vivência e com-corona e com-virus
05/04/2020 - Todo cagado mas ainda sem cheiro
06/04/2020 - Alemão segue a lei ao pé da letra
07/04/2020 - Cada qual merece o isolamento que tem
08/04/2020 - Deprimências momentâneas assustam
09/04/2020 - Corona and The Collapse of the System
10/04/2020 - De volta para a casa pode não estar melhor
11/04/2020 - Mensagem da Páscoa do Amanhã
12/94/2020 - Nenhum ressuscitado nesta Páscoa
13/04/2020 - Excertos diversos em tempos incertos
14/04/2020 - Pandemia de medo assola mundo imundo
15/04/2020 - Exílio inconfidente que não acaba nunca
16/04/2020 - Prisioneiros sem serviçais
17/04/2020 - A graça de brincar com as palavras
18/04/2020 - Se a praça é do povo é minha tão bem
19/04/2020 - Concerto solidário mas solitário
20/04/2020 - Não estamos loucos porque é pouco
21/04/2020 - Já pode mas de olho no chinês
22/04/2020 - O anúncio do libera quase geral
23/04/2020 - Ai que saudades da nossa Berlim
24/04/2020 - Desejos mais esperados em Berllim
25/04/2020 - Certeza que estamos malucos
30/03/2020 - (03) - Abertura lenta, gradual e segura
06/05/2020 - (04) - Abertura lenta é coisa de alemão
07/05/2020 - (05) - A Poesia Liberta
10/05/2020 - (06) - Avião sobe de 500 a 2.500 euros
14-05-2020 - (07) - Meio preso ou meio liberto
18/05/2020 - (08) - Brasileiros querem que ilegais morram
19/05/2020 - (09) - Praga por praga mais a Paris do Leste
20/05/2020 - (10) – Brsileira sonha casar com alemão
21/05/2020 - (11) - Não estamos sentindo mais nada
23/05/2020 - (12) - Confessamos doença mental
28/05/2020 - (13) - Re-volta voadora (01) Berlim
28/05/2020 - (14) - Re-volta voadora (02) Frankfurt
29/05/2020 - (15) - Re-volta voadora (03) São Paulo
29/05/2020 - (16) - This is the End - Brasília
Introito
Esta nossa undécima vinda à capital da milenar Germânia tem a ver com a conclusão do livro Berlin Stund Null - Berlim Ano Zero
, cidade de tantas eras de trevas e de luzes. Tudo tem seu começo nos anos 800 com o imperador do Sacro Império Romano da Nação Germânica, Carlos Magno, filho de Pepino, o Breve. Ele dá uma surra tão grande nos Saxões que estes precisam criar asas nos pés para fugir mais depressa
.
Stund Null é definido como sendo o ano de 1950 mas me recuso a aceitar. É quando os alemães ocidentais resolvem acabar com os julgamentos dos nazistas que, a partir de então, participam da reconstrução das ruínas, inclusive da mente, pelo até hoje escamoteado complexo de culpa pelas barbáries infindas cometidas como um todo, entenda-se o povo, entre os anos 1930-1945, período nazista no mando.
Eis que nos vemos no imprevisto gerado, concebido e nascido na China, nesta pandemônica crise, ora globalizada, do Coronavirus. Outra vez a Nação Germânica é colocada de quatro. Começa o confinamento dito quarentena que nos recorda, infelizmente, a concentração nos campos de extermínio de milhões de judeus, ciganos, gays e outros menos dotados da essência da dita raça ariana hoje no maior cagaço.
O quase livro Stund Null - Berlim Ano Zero
se funde a este relato da incerteza do cotidiano do povo multifacetado de Berlim. Ele ainda conserva o Muro dentro da cabeça cidadã. Chegamos de Brasília no dia 11 de março, no finando aeroporto Tegel. Esticamos este diário imprevisto em princípio até 3 de junho deste apocalíptico 2020, maldito Ano do Rato, justo o que mais resiste aos históricos declínios da Humanidade.
Nossa escolha, tão logo declarada a Pandemia, quatro dias depois da chegada, é a de restarmos em Berlim. Tem a ver com o nosso conhecimento local desde os tempos em que o Muro reina soberano por cima do povo alemão, ocupado militarmente, de 1945 a 1995, pelas tropas americanas, inglesas, francesas e soviéticas. Nação dividida em duas, ao Leste, a outrora comunista, e ao Oeste, a eternamente capitalista.
Concluindo nossa apresentação, escrita em forma de diário a partir de uma prisão domicialiar no bairro ocidental de Wilmersdorf, pois então, esta nossa escolha de continuarmos concentrados aqui em Berlim, mesmo que em situação indefinida,embora burocratimente legal, está consciente dos riscos aqui relatados a partir desta página inicial, com o sentimento exato do que de fato estiver nos acontecendo.
As observações do que acontece no Coronavirus aqui em Berlim são contadas, neste livro, na medida em que elas surgem e, portanto, não temos a menor idéia de como as páginas são preenchidas, esta é a nossa sensação neste momento, num apartamento de primeiro andar, varanda de frente para a rua, linha U3. No dia primeiro de abril, tem a passagem para outro, sétimo andar, próximo daqui. Mudança vigiada.
Para aquecimento inercial, adicionamos o nosso filme no Youtube antigo, o ano é 2008, sobre as coisas de Berlim. Tem que ver no site porque é mistura de música com fotos. Pouco texto. Quase nada. Mas se você está na versão e-book, clique aqui. Se no impresso, copie, cole, clique, aperte e curta a nossa Berlim ainda não anestesiada por uma situação virótica totalmente inacreditável porque muda a cara da urbe cantante.
https://www.youtube.com/watch?v=X279madStHQ
NaNoWriMo
Título
Pandemic diary in Berlin
Introitus
We inform that only in this Introito we put our thinking in this colonial english language. So, now let's start. On the other days, there is so much automatic online translator. But now, what a pity about Noah's Ark. Ai que pena que temos da Arca do Noé.
Ah. Here, Berlin. April-2020. Pandemic times.
And so, let’s go:
Our first pandemic day in Berlin
In fact, our eleventh visit to the capital of Etern Germania has to do with the completion of the book Berlin Stund Null - Berlin Year Zero
, with the historical restart after the destruction, since the 800s, when a German emperor decide to build a castle on the island of the River Spree, making Berlin the capital of the Empire that, in fact, rest longer than the Thousand and One Years dreamed by Adolfo Hitler.
The Stund Null is accepted as the one from 1950, which we refuse to accept, just when the Germans decide to end the judgments of the still remaining Nazis who, from then on, actually participate in the reconstruction of the ruins, including the mind , due to the concealed guilt until today for the endless barbarism committed by the Germans, as a whole, understand the people, between the years 1930-1945.
Behold, if we put ourself, in the unexpected hidden in the beginning, in distant China, of the pandemonic crisis, although worldwide, of the Coronavirus that, once again, puts the German Nation on all fours, kneeling on the ground, even with the already adopted Curfew , in a piece of Bavaria, combined with the confinement of the quarantine, which unfortunately reminds of the concentration in the extermination camps of millions of unwanted people.
Therefore, the book Stund Null - Berlin Year Zero merges with this one, an account of the uncertainty and observation of the daily life of this multifaceted people of Berlin, whose people still retain the Wall within each citizen head. Get here, this time, straight from Brasilia, passing through Lisbon on March 11, at Tegel Airport, and we intend to keep this account of the fact until June 3, all in this apocalyptic year of 2020.
Our choice, mine and my life and travel companion since the times when the Berlin Wall reigned sovereign over the militarily occupied German people, from 1945 to 1990, by American, English, French and Soviet troops, because so, our choice to remain focused on the city, even in this undefined situation, is being aware of the probable risks that will be reported here.
The facts, opinions and observations of everything that is happening at this stage of the Coronavirus here in Berlin will be counted, in this book, as they are happening and, therefore, I have no idea how the following pages will be filled, least have this feeling at this moment, 19h49m of this day March 19, 2020, in a small apartment rented in the Airbnb scheme.
Sobre nosso virótico ser
Hallo, chucrute azedo!
Preste atenção neste polaquinho docinho. Olhe bem aqui para o meu beicinho. Esta eu não deixo passar.
- Me siga, cunhado.
- Mein polaquinho!
- Quié, Madame?
- Prossiga, mas olha lá, você sabe que eu adoro um alemão.
Aqui em Berlim, em tudo que é canto, tem a propaganda de cerveja aberta na mão de uma alemã que vou te contar. Pois conto. Alemão adora uma cerveja. Já o polaco aqui, não abre mão das duas, da mulher e da cerveja, ainda mais numa quarentena. Está nos seguindo?
Pois adendo meu tempo de piá no Paraná, polaquinho no meio das italianinhas, alemãzinhas, turquinhas e moreninhas, por isso até hoje eu me acho meio polaco-baiano no eterno pode ser que sim, pode ser que não
. Sei lá. Quer dizer.
- Ainda está aí, abelhuda pessoa pretendente a seguir este nosso Diário Pandemônico aqui em Berlim?
- Escreva logo, polaco! Vai!
- Pressa por causa do quê, mas continue aí porque achamos que vale a pena. Temos a menor idéia do que acontece na sequência. Ou não é possível de ser contado. Ou sim. Então, puxe um banco. Completamos rapidinho porque temos que sair. Mentira. Estamos presos. Seguinte. Imagina só o olho do alemão na mão do mulherão com a garrafa de cerveja. Na mão. Que coisa. Pois reforço sem a Madame agora por perto:
- Eu, polaco, continuo de olho, mesmo aqui na distância, sim, mas na lembrança do meu beiço na boca molhada da tia gostosa.
- Está falando com quem, polaquinho?
- Nada, nada, Madame.
- Então me traga outra cerveja Berliner. No ponto.
- Antes eu ganho um beijinho da moreninha que eu roubo do italianinho?
- E por causa do quê?
- Para sentir na boca o gosto da alemã, mein lieben Madame.
- Pois venha aqui, Florzinha.
Vou. Até me esqueço do alemão chucrute azedo. Da cerveja na boca da alemã, não. Muito menos da alemãzinha da minha infância lá no estrangeirado Sul do Brasil. Isto, jamais. Nem da italianinha. Muito menos da moreninha. Pena que vou cedo para o seminário estudar para um dia ser padre, frei, capuchinho, vestido marrom, votos de pobreza, obediência e, catzo, castidade!!!
- Florzinha!!!
- Quié, Madame???
- Não quer mais o beijo com sabor de cerveja alemã, não, mein polaquinho?
- Quero sim
- Então, venha.
- Vou.
- Pois volte já para o teu teclado e trate de continuar o nosso Diário Pandemônico aqui em Berlim. E não se esqueça de falar de mim. Em voz alta!!!
Depois continuo. Já me apresento, quer dizer, já nos apresentamos. Somos a dupla de risco, acima dos 70, Polaco & Madame. Jornalista e poeta quase zen. Eu. Enquanto isto, ela, a Madame, produtora e psicóloga mandante. Pronto. Já voltamos. Antes, tenho uns beijos.
- Tschuss.
- Na boca!!!
- Inté e axé.
A Berlim deste Diário
Nascida no ano de 1415 para ser a capital do Sacro Império Romano-Germânico, na cabeça a tribo dos Hohenzollern, em parto sangrento, o que se repete ao longo de um história de subidas ao cimo e quedas ao abismo. A mão pesada de Frederico II provoca então a primeira das futuras rebeliões sangrentas, esta conhecida por Berliner Unwillen-Berlim Indignada.
De carona no dorso da águia germânica tão decantada, pulamos rápido para este ano de 2020, dominado pelo Sino-Viro-Pandemônico, o tal de Cor-19. Daí a prisão domiciliar desta dupla de risco, Polaco & Madame, em meio a milhares de infectados e mortos. Na verdade, se comparado, não são muitos mas ouço a cada segundo o demônio ao meu ouvido: e se o próximo é você?
Outra coisa. Berlim destruída, população dizimada, historicamente não é novidade alguma. Pelo contrário. Esse sobe-desce parece fazer parte da normalidade. Por exemplo. Em três grandes pestes viróticas, em cada uma mais da metade da população de Berlim vai para as covas rasas coletivas. Isto acontece nos anos de 1576, 1598 e 1699. A gripe espanhola vai mais longe ainda, quer dizer, mais perto da gente.
Berlim quase é dizimada, ou seja, Stund Null, Ano Zero, várias vezes neste mais que Milênio de Capital da Grande Germânia. Na Guerra dos Trinta Anos, entre católicos e protestantes, um a cada três berlinenses acaba na cova rasa coletiva. Tem ainda as tropas do Napoleão, a derrota na primeira e, finalmente, a Alemanha de joelhos na Segunda Guerra Mundial, quando Berlim sucumbe:
1 - Só no último mês da guerra, 1945, os aviões aliados (ianques