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Os Ventos Também Choram
Os Ventos Também Choram
Os Ventos Também Choram
E-book161 páginas2 horas

Os Ventos Também Choram

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Sobre este e-book

O jovem Vincent encontrou no cabaré de São Francisco de Paula sua única razão de vida: Iolanda. Em certa noite de outono, ela some deixando para trás somente uma carta enigmática sobre a penteadeira. Desesperado, a procura por ela torna-se incessante e dolorida. Com suas esperanças ceifadas, ele embarca para Paris, onde se torna um renomado escritor e poeta. Por ironia do destino, a sua jornada europeia acaba sendo tocada pela mais odiosa catástrofe social: a Segunda Guerra Mundial. Vincent, com seus princípios socialistas, é perseguido e submetido às mais severas condições na prisão isolada. Ele nos conta sua história e como faz para se manter vivo. A obra traz reflexões sobre a dualidade humana e é carregada de drama e reflexões existencialistas. De um lado, o amor permeado por crenças abstratas e altruístas; de outro, o holocausto e suas motivações maléficas. De um lado, a humildade, do outro, fúria desmedida. Temos um tsunami de emoções medindo forças. Alguns abraçam a sombra que há dentro de cada um, outros, a luz e lutam por ela. E você, leitor, qual lado escolherá? Leia essas páginas ficcionais escritas com muita dedicação e delicie-se com essa história repleta de ação e poesia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de set. de 2023
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    Os Ventos Também Choram - Albino Pazini

    SANGUE SOBRE AS RUAS DE PARIS

    10 DE FEVEREIRO DE 1944

    SÃO 20h15 NO MEU RELÓGIO

    MONTMARTRE, PARIS

    UM ENCONTRO NO CABARÉ DE LORRAINE

    É noite em Paris. Eu estou com muito frio. A neve que cai sobre minha cabeça é testemunha de tudo que está acontecendo nesta maravilhosa cidade. A dor que os franceses estão carregando sufoca cada alma e é como se eles não tivessem mais motivos para viver.

    Estão morrendo aos poucos e o sol levou consigo toda a esperança.

    Nada mais é tão triste.

    Hoje eu vejo que Paris está o oposto de tudo que ela foi um dia. A própria neve, meus senhores, que antes caía como num esplendor de beleza e poesia lírica, nesta noite cai lenta, sendo consumida pelo sofrimento da perda daqueles dias de outrora.

    Paris chora em silêncio. Tudo é vago e frio e há sangue inocente na calçada. Ah, por Deus, Paris sofre! E o mais intrigante e desesperador é que os presidentes de potências militares e políticos do mundo todo não estão vendo com bons olhos o futuro da Europa. E muito menos eu.

    A neve continua caindo nesta noite como se fossem flechas brancas sendo lançadas pelo universo enquanto e eu sigo lenta e cautelosamente meus passos pelas ruazinhas com seus lampiões apagados pela guerra. Pessoalmente, nunca tinha visto uma neve se retratar de modo tão triste. E ela, que sempre foi uma poética companheira de escritores, intelectuais, artistas e prostitutas, hoje cai constrangida escondendo dentro de si sua beleza. Inclusive o vento sul que sempre tocou a neve fazendo-a dançar sobre as ruas de paralelepípedo, de uma forma que expressa um elevado grau de excelência, hoje já não dança com tal excelência, porque esta brutal guerra fez esta obra da natureza se transformar e se espalhar por todos os lados de Montmartre, dando a nítida impressão de que não queria se aproximar das pessoas. Como se a neve dissesse que levaria a alma destas pessoas para todos os lugares antes desconhecidos e, de lá quando voltassem, ficariam marcados pelo gosto amargo da miséria e devastação e finalmente as pessoas entenderiam o verdadeiro significado do egoísmo humano e suas obstinações pelo poder.

    O ser humano com o poder na mão é suicida.

    Aguardo o dia no qual a raça humana entenderá que delegar o poder apenas a um homem é anúncio de conhecida tragédia: misérias, fome, guerra e caos. E esta é a única verdade que existe. É uma verdade universal que todos nós, um dia, cedo ou tarde, teremos que encarar. Queira ou não, quem busca poder está traçando seu destino para a destruição de um país ou uma família, ou que for, e por isso hoje a França chora. O mundo chora. Eu choro.

    E a ignorância sorri.

    Até um cão que anda pela Place du Tertre, em Montmartre, chora ao lado de velhas cadeiras de artistas deixadas solitariamente pelos cantos da praça.

    Ah, meus leitores! Ah, meu povo de bares, de crenças e vinho, como eu gostaria de escrever algo mais leve, do tipo se chove amanhã ou se vai fazer sol, mas não posso. Não! Não! Agora, não! Vivemos uma época de sangue, dor, misérias, fome. Todas estas circunstâncias levam qualquer escritor, poeta ou pintor a relatar o inferno. A Europa está em guerra pelas mãos de um tirano, um sicário chamado Adolf Hitler.

    O mundo e o universo, o simples e o belo. Então surge o ser humano que acabou com a beleza.

    Tudo está dominado pelas forças nazistas. Não existe um país, um canto, uma fronteira que não esteja sob os olhos do Terceiro Reich. Poderia dizer que o Terceiro Reich é um marketing usado pelo regime nazista. É propaganda com seu objetivo de demonstrar a grandeza e a convicção de Adolf Hitler em eliminar a miséria da Alemanha e transformá-la em um país que potencialmente domine o mundo. Primeiro a Polônia, depois a Dinamarca, a Noruega, a Holanda, a Bélgica e agora a França. Tudo está acontecendo em uma velocidade assustadora; as forças alemãs, por onde passam, deixam um rastro de destruição. Destruindo artes, pesquisas científicas, monumentos e livros. Por isso, pode-se dizer que a Segunda Guerra Mundial é como se fosse a volta da Inquisição, drasticamente responsável pela estagnação da evolução humana. Nós já poderíamos estar andando a passos largos para a nossa evolução, mas, infelizmente, este retrocesso, um dia, cobrará novas gerações.

    Os soldados nazistas pisam sobre os paralelepípedos das estreitas ruas de Montmartre como se fossem donos da França. Sim! Infelizmente, a batalha da França foi um episódio que resultou na conquista dos nazistas sobre esse país em cerca de quarenta e seis dias. A velocidade da conquista surpreendeu o mundo.

    Essa ignorância humana desencadeou a Segunda Guerra. Então o mundo está se tornando um caos onde a própria esperança já não mais existe.

    Os Aliados não conseguem enfrentar o exército Nazista. Hitler domina a Europa e estas conquistas desenfrearam maiores ambições no ditador alemão. Essa guerra ainda está no início e, a cada segundo de vida, o Führer submerge nas profundezas das sombras. Um homem que abraçou seu lado negro e sombrio. Transformou seu coração em iceberg que flutua pela Europa, sempre sendo levado pelas sombras do mal. Hitler abraçou seu lado negro com toda força mental e espiritual, transformou cada célula de seu corpo em partículas perversas. Um psicopata está governando uma nação. Uma nação que acredita que ele é a salvação.

    Isso transformou uma nação numa tragédia anunciada. Uma vida sendo dominada pelas sombras.

    O ser humano sempre tentou negar que estamos dentro dessa guerra espiritual entre sombra e luz que apavoram, angustiam e dançam no mais profundo de nossas mentes. É certo, então? Não adianta reclamar, sair desesperado por aí cometendo loucuras, culpando alguém pelos nossos erros. Não! Não! Isso é algo que nasce conosco. Faz parte do mistério da vida, que todos devem entender que a decisão de abraçar sombra ou luz é de cada um. Não adianta fugir desta responsabilidade porque cedo ou tarde todos nós seremos convidados a sentar nesta mesa, onde sombra e luz fazem parte deste jantar de decisões.

    Na mesa, há um castiçal de velas acesas. Há um cheiro estranho no recinto. Os pratos estão vazios e o cálice está cheio de promessas. Então a badalada do relógio toca e você sabe que deve tomar deste cálice, decidir entre sombra ou luz, escolher qual é o melhor caminho a tomar e esperar as consequências da tua decisão. Não há alternativa para ficarmos no meio destes dois poderes porque, com certeza, você será esmagado. Quando um homem faz sua escolha, ele leva consigo uma mala cheia de consequências e é por isso que eu acho que o ser humano nasceu desta guerra espiritual. Ambos os lados têm as suas peculiaridades e cada um destes dois poderes tem seu preço a pagar.

    Queira ou não, é como disse Robert Donald Spector: Cada homem é uma ilha em si mesmo e as pontes que conduzem aos outros foram destruídas por conflitos de raça, sexo e interesses. O tormento e a angústia afligem os corações e o amor, que é seu consolo único, fica isolado pelo ego e pelo código social. Alimentadas por dúvidas pessoais e conhecimentos incertos dos outros, as pessoas lutam contra a confusão de seus limiares emocionais e intelectuais buscando prazeres momentâneos e encontrando a perpétua destruição.

    Este pensamento é uma visão sóbria da humanidade. Sim, meus amados leitores! Entretanto nos alarma e nos coloca contra a parede. Nos assusta, mas é o retrato cru e fiel da nossa realidade humana.

    A humanidade se tornou uma grande tragédia; a humanidade se tornou uma perversa piada.

    Assim, queira ou não, o tempo passa e o vento leva para longe dos nossos olhos a tão sonhada evolução humana.

    É, meus amigos! Paris chora! Paris seca as lágrimas com os ventos da madrugada!

    Paris não admite que suas belezas sejam destruídas por aquele que abraçou seu lado sóbrio numa noite fria de outono numa cervejaria de Berlim, aquele perverso de nome Adolf Hitler. Um austríaco que se tornou o ditador do Reich Alemão. O homem que inescrupulosamente deu o primeiro tiro para o início da Segunda Guerra Mundial. O homem que assombra o mundo! Um mundo onde tudo pode acontecer.

    Enquanto isso, a neve, que não tem nada a ver com este escárnio da guerra, continua caindo sobre Paris. O vento entra no universo sem saber quando voltará para este mundo. Talvez a humanidade não acredite que vento ouve e fala ao silêncio sobre o amor que haveria entre os seres vivos. Ele também canta músicas e, nesta noite específica, está com um som triste, entoa uma canção tétrica. Esta canção, que pousa nos galhos das árvores, sopra sobre os telhados dos prédios e agarra com suas vazias mãos a abóboda da basílica de Sacre Coeur.

    Vento. Neve. Guerra.

    O mundo está de olho nos acontecimentos da Europa. Alguns lugares de Paris estão em chamas. Os jornais publicam pelo universo terrestre a ignorância e a ambição de Hitler pois suas tropas matam e destroem tudo aquilo que está à sua frente. Como diz a sabedoria popular: Em uma guerra, não existem vencedores, todos perdem.

    Segundo esta linha filosófica sobre a guerra, é melhor ouvir da boca de um ser evoluído chamado Jean Paul Sartre, que diz: Quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem.

    Pensamento, meus senhores! Nada é mais poderoso que o pensamento e dentro deste contexto eu sou uma pessoa que nasceu completamente diferente de Hitler.

    Eu sou o outro lado da sombra, uma luz que nasceu da poesia.

    Eu abracei a luz da vida, mesmo com todos os problemas que enfrentei e ainda enfrento. Jamais atiraria uma pedra para aumentar esta maldita guerra. Pelo contrário, quando saí de uma pequena província do sul do Brasil, em 1925, eu trouxe na mala apenas um verso, aquele maldito verso que Iolanda me deixou numa noite fria de outono.

    Com o coração completamente desmantelado, eu parti numa manhã nevoenta percebendo que entraria num universo sem saber retornar porque o amor tinha se instalado no meu coração como um posseiro e eu sabia disso. Ah, e como sabia! Por Deus, como eu sabia! Quando o amor nos envolve com seus mantos e mantras sagrados, nada mais existe para o coração apunhalado por este estranho sentimento. É como o mestre Khalil Gibran nos exorta com seus princípios poéticos e filosóficos: Quando o amor vos chamar, segui-o. Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados, quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos, como o vento devasta o jardim, pois da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica.

    Ah, o amor, o amor! O frio, a neve, o vento e a guerra desta noite em Paris não conseguem me prender em meu

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