Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Portão Da Casa Rosa
Portão Da Casa Rosa
Portão Da Casa Rosa
E-book178 páginas2 horas

Portão Da Casa Rosa

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Dois idosos se encontram no bairro de Irajá na Cidade do Rio de Janeiro, frente a uma casa rosa com um portão de ferro, frente a qual nos anos 1950 um grupo de adolescente se reuniam fazendo sonhos e projetos de vida no futuro. Do encontro nascem lembranças da infância a adolescência, e se levantam questões quanto ao que podem ter esses amigos alcançado em suas vidas, Em novo encontro, possivelmente o ultimo de suas vidas identificam o que eles próprios realizaram.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de set. de 2020
Portão Da Casa Rosa

Relacionado a Portão Da Casa Rosa

Ebooks relacionados

Religião e Espiritualidade para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Portão Da Casa Rosa

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Portão Da Casa Rosa - Ronaldo Luiz Martins

    PORTÃO DA CASA ROSA

    RONALDO LUIZ MARTINS

    Romance / Ficção

    Irajá nos anos dourados

    Lembranças da infância e juventude de amigos que se reencontram

    Jovens que se reuniam em frente a um portão sonhando com o futuro e traçando planos de vida

    ₢ 2020 Ronaldo Luiz Martins

    ISBN: (em registro)

    Projeto gráfico, diagramação e layout de capa

    Ronaldo Luiz Martins

    Revisão

    Iracema Pires Martins

    Coletânea

    Instituto Histórico e Geográfico Baixada de Irajpa

    Ana Maria ING 1

    In memorian de Ana Maria Borges Monteiro, a nossa carinhosa lembrança da moça gentil, anfitriã das reuniões junto ao portão de sua casa rosa que inspirou esse romance 

    A lembrança das moças e rapazes do Irajá dos anos dourados que com a mescla de suas vivências deram composição as personalidades desta estória

    In memorian do anônimo militar reformado do Exército Brasileiro que, descontraído de sua frustração, em casual entrevista expos fatos por ele vivido, os quais foram inspiradores da trama final que se apresenta

    APRESENTAÇÃO

    Um livro de memórias seria pessoal demais em detrimento a tantos outros que com o autor dividiram sonhos e aventuras nos Anos Dourados, vividos naquele que poderia se considerar como sendo o grande Irajá, onde se incluíam bairros atuais como Colégio, Vaz Lobo, Vicente Carvalho, Vila da Penha, Vila Kosmos e Vista Alegre, ao extremo norte da Cidade do Rio de Janeiro.  Desses jovens, quase todos nos primeiros anos da adolescência tiveram como catalisador de amizades o curso ginasial nos colégios locais, Republicano e Cristo Rei, muito haveria de ser contado. 

    Para muitos, reforçadas em ideais nesta fase, as relações de amizades já tinha berço nas brincadeiras de rua na infância, e assim muito mais teria que se adicionar as narrativas. Agrupando-se mais interativamente em patotas que tinham pontos referenciais de encontro e reunião, se diferenciados no curso da vida, tinham muita igualdade de comportamento, ações e ideais.

    Assim, para tornar impessoal a exposição dessas vivências, romanceando em Portão da Casa Rosa, toma-se como amostra um quinteto de personagem e coadjuvantes, em que se mesclam as particularidades de todos. Dessa forma cada personagem corresponde a muitos, mas nenhum representa um único.

    Para colocá-los em narrativa os espaços físicos e temporais são reais, assim como são reais as ações e eventos protagonizados, mas não havendo relação direta aos verdadeiros atores. 

    O ponto de referência da trama é real, pois a Casa Rosa existe e até momento em se escrevia esse romance, ela e o seu portão conservam-se como na época retratada.

    É real a moça da Casa Rosa, Ana Maria Borges Monteiro, que foi colega de primário e ginasial do autor. Prematuramente deixando sua memória a todos que á conheceram, sua presença e do portão de sua casa nesse romance é a lembrança carinhosa do autor quanto aos muitos momentos, em que adolescente, seus projetos e ideais com eles compartilhou. 

    A trama final não tem relação com nenhum dos jovens multiplamente retratados, mas espelha um fato real.  Tendo o seu ator prematuramente falecido em conseqüência deles, em sua memória e em respeito a sua confidência ao autor, è silenciosa homenagem o seu anonimato.

    CANTO DO GRAÚNA

    Entre as lembranças que emergem para a ficção dos jovens irajaenses que se apresenta, saindo do esquecimento que sua sofrida e breve passagem deixou, um jovem poeta e compositor marca a abertura deste caminho.  Não importa qual era o seu nome, pois para todos que o conheceram era apenas Bombeirinho, quase mestre na arte de juntar canos.  Pobre e negro, por conta de seus bons versos passava por descriminações; por amor superava suas vicissitudes; por paixão sofria decepções; e pelas discriminações e decepções cedo deixou a vida.  Mas, em um amassado papel deixou um verso e esse, que pode ter sido o último de sua existência, como o graúna que anuncia seu fim, o cantou em samba que a todos que lhe ouviam se fez memória.  Em tributo a alguém que só esquecimento é, sem título e partitura, abrindo retalhos de memória de tempos a muito passados, ficam as estrofes da razão primeira de sua derradeira atitude.

    Dançando me viu e fingiu que não viu

    Com aquele cavaleiro ela saiu

    Brigado com meu amor eu fui ao baile

    E com ela encontrei

    Todos com ela dançavam

    Só eu que não dancei

    Enquanto eu lamentava a triste sina

    Um par constante ela arranjou

    Ai o salão ficou vermelho

    E a orquestra um grande samba executou

    Quando o baile acabou pra casa eu fui

    Lamentando a grande dor

    Foi quando olhei nos espelhos

    E vi os meus olhos vermelhos

    Aquela luz do salão

    E aquela musica de samba

    Não me saia da imaginação.

    O ENCONTRO

    I

    Já se passavam anos quando voltei à Irajá.  Por décadas a vida correra sem que tivesse em conta o quanto naquele pedaço da cidade os meus sonhos de venturas haviam nascido.  Muito mudara, mais ainda guardava aquele jeito de vivências que escorrem ao tempo sem que haja nada mais do que esperanças de serem esses de tranquilidade.

    Viera do Centro e já ao sair do Metrô uma enxurrada de lembranças aflorara.  Ali, na agora Avenida Pastor Martin Luther King Júnior, antes Estrada Automóvel Clube, no canto, no que é a pista a direita de quem vai para Vicente Carvalho, passavam os trilhos da antiga Estrada de Ferro Rio D’Ouro, um pequeno trecho de bitola métrica da histórica ferrovia das águas, onde, tracionados por locomotivas a vapor Maria fumaça, corriam trens gratuitos que, saindo de Pavuna, chegavam a Praça da Bandeira e ao Cais do Porto. Mais adiante, na esquina da Avenida Monsenhor Félix, a lembrança da pequena estação de Irajá de onde, em tardes de sábado, ia eu de trem ao lugar de belas moças.   

    Caminhando pela Avenida Monsenhor Félix novas lembranças.  Junto à calçada trafegando o bonde 98 de Irajá para Madureira. No asfalto, as lotações; os verdes da Sameiro e, os maiores, de faixa amarela, para Cascadura, todos com seus itinerários em letras coloridas, pintadas com tinta de sapato, no para-brisa.  A Praça Cisplatina, onde eram armados os coretos de carnaval em que a sua frente, nas terças-feiras gordas desfilava, várias vezes vitoriosa, a Império Serrano. À frente da praça, na esquina da Marques de Aracati, o ferro velho em que, vendendo latas e metais catados pelos terrenos baldios, provi de lança-perfume Rodo Metálica e chapéu de marinheiro os mesmos carnavais.  Na altura da mesma praça, o desvio de bondes onde, trafegando por linha singela, vindo de Madureira ou da Freguesia, um aguardava que outro por ele cruzasse. No sobrado a sua frente, a Boate Danúbio da qual, nas noites de sábado, de longe se ouvia um sax em sambas e boleros.  Mais adiante, só com a fachada e o bloco da sala de projetores ainda de pé, o velho Cine Lamar onde, no piso do salão sem a cobertura, travavam-se ferrenhas partidas de futebol de salão.

    Chegando à esquina da Pereira de Araújo, onde eram as feiras livres nos domingos, ao ver no outro lado a padaria, recordei-me dos refrescos de grenadini que, quando ainda criança, ali me deliciavam. O impulso de muitas lembranças levou-me a por essa rua entrar.  Caminhando em passos lentos para a esquina da Marques de Aracati, lote a lote crescia a expectativa de um reencontro e, pouco mais adiante, no outro lado rua estava ela.  Tendo à frente o muro de pedra encimado de gradil, com a clássica torrinha de chalé neocolonial, a Casa Rosa com sua varanda de arco e, em bela grade e chapa, o seu branco portão de ferro.   

    Na tarde amena de um dia de outono, o reduzido movimento de veículos e pessoas convidava a parada. Estanquei frente à bela residência e em minha mente se figuraram, junto ao seu portão, um grupo de jovens.  Noite, portão aberto, a moça da casa na linha do muro e em torno dela outras moças, tinha ao lado um grupo de rapazes.  À direita e esquerda, em pé ou sentados na calçada, todos em animado papo, a falarem das coisas do momento, discutindo os seus futuros e relembrando seus recentes passados.  Em todos as esperanças de aventuras, conquistas e idealismos da juventude vivida em tranquilo bairro, distante das agitações do centro e de áreas mais valorizadas de uma cidade em crescimento.

    A pouco mais de um minuto, no êxtase de recordações, ao atravessar a rua e chegar perto do portão, senti ao meu lado presença de um homem idoso. Regulando a minha idade, sem que eu houvesse dele apercebido, já estaria ele a algum tempo na mesma calçada e, ao me ver atravessar a rua, também o fizera.  Estabelecendo um inusitado encontro, em voz baixa, quase um sussurro demonstrado emoção, ouvi a sua interrogação:

    - Linda residência...  Parece que nela nada mudou...

    - O tempo é que mudou -, respondi. - Ela permanece igual ao que era nos anos cinquenta, mas as pessoas e coisas que a ela estiveram nessa época ligadas incrivelmente mudaram.

    - Creio que participamos das mesmas lembranças, não? - Interrogou-me. Observei o quanto seu olhar buscava lembranças a elas ligadas.  Eu também nelas remexia recordações...   

    Apesar do rosto envelhecido, o jeito do leve sorriso, o franco olhar aberto e o modo de falar eram meus conhecidos e despertando a visão de um inquieto garoto e adolescente.

    -  Shazan!  O Antônio Carlos da Cisplatina...

    - Tropeça!  Meu xará da Pereira de Araújo... 

    Abraçando o mais antigo dos amigos parceiros de aventuras, mais uma vez a emoção de muitas lembranças se fizeram presentes.

    - Cara!  Há quanto tempo não nos vemos?

    - Mais de cinquenta anos...

    - O último papo, se não me engano, foi no barzinho da Praça 27 de Agosto.  Você estava indo para Minas e eu por começar a vida militar.

    - Era para ser um até breve, mas nas idas e vindas da vida perdemos o contato. Mas esse reencontro é de muita felicidade.

    - Tropeça! Você continua tropeçando nas calçadas lisas?

    - Não, regulei a visão. Mas, e você, continua a chamar o Capitão Marvel para salvar gatos e cachorros em perigo?

    - Agora eu chamo o Corpo de Bombeiro.  Lembra, uma vez tirei o gatinho da árvore, mas cai dela e, além de ficar com as pernas doloridas por uns dias, ele me arranhou o rosto, justo em uma espinhona.

    - Mas o Shazan não era só para salvar gatos. Ao que me lembre foi também para salvar uma indefesa mocinha de seu brutal namorado.

    - É, e o pior de tudo é que ao invés de encarar o namorado eu levei uma surra de tapas da pobre garota desprotegida. E ainda pior é que ela era minha vizinha e foi fazer queixas a minha mãe.  Que broca, cara!  Mas os seus tropeços também ficaram devendo, não?

    - Foi.  Eu estava levando em uma bolsa o bolo para fazer surpresa de aniversario para a Luluzinha.  Na porta da casa dela, na calçada lisa eu tropecei e cai com o braço em cima do bolo.

    - Não estragou a surpresa, mas nós tivemos que comer o bolo que nem paçoca.

    - Luluzinha! Não me lembro o nome dela, mas que ela, baixinha e com os vestidos que usava, lembrava a Luluzinha das histórias em quadrinhos.

    - É, ficaram mais as lembranças de apelidos do que os nomes. Quantos?  Mortinho, Tocaio, Fada, Rubro, Taboada, Durango, Batráquio...

    - Brucutu, Kely, Kalu, Mendoim, Ventinho. Até adultos eram mais conhecidos por apelidos que nos criávamos.  Dona Meméia, feia, com um nariz de bruxa, mas carinhosa, sempre com um punhado de tamarindo para nos dar. Era a explicadora escolar. Lembrava a bruxinha boa das revistas Bolinha e Luluzinha.

    - Isso faz lembrar também o Bolinha, gordinho exaltado que nunca ligou para que assim o chamasse.

    - Também os rivais do pingue-pongue, futebol de salão e na conquista das namoradas eram tratados por apelido, sempre mais agressivos e que eles não sabiam que tinham: Marmelada, Mau-mau, Coreano. Deixa-que-eu-chuto.

    - Não eram muitos, mas mesmos com algumas discordâncias eram bons parceiros de idéias e ações.

    - Lacerdistas e não lacerdistas...  Discussões fervorosas que nunca chegaram a lugar nenhum.

    - Ao que me lembre era um lacerdista fanático, dois ou três em cima do muro e o resto a cair de pau.

    - Tínhamos as nossas próprias opiniões e elas nos levaram a sonhos e projetos de vida.

    Parados na calçada com pessoas a cruzar a nossa frente, sentimos que havia comuns lembranças da vivencia em um tempo a que hoje se referem como anos dourados.  Com uma ligeira interrogação do quanto cada um dispunha de tempo, instintivamente caminhamos para esquina de antigas reuniões. Na ainda existente Padaria Mimosa, sentamos em uma mesa na calçada.

    - Parávamos aqui quando ainda garotos - comentei.

    - Para beber refresco de groselha, morango ou grenadini.  Um cone de papel enfiado na base de metal com

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1