Palas - Contos e Cantadas do Centro do Recife
De Gil Luiz Mendes e Xico Sá
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Palas - Contos e Cantadas do Centro do Recife - Gil Luiz Mendes
Copyright © 2020 by Gil Luiz Mendes
Todos os direitos reservados
Capa
Renato da Cunha
Revisão
Fabiana Cesquim
Diagramação
Andrea Kulpas
Ebook
ISCS
ISBN (livro físico)
978-85-923703-3-6
ISBN (livro digital)
978-65-00-28930-5
___________________________________
Luiz Mendes, Gil
Palas – Contos e Cantadas do Centro do Recife / Gil Luiz Mendes – São Paulo: Badoque Livros, 2020.
Para Bernardo Wictor e Marcus Iglesias, companheiros de boêmia e aventuras pelas ruas de todos os centros
O amor comeu meu estado e minha cidade
(João Cabral de Melo Neto)
encontros
gringa
inverno
afinidades
novidade
bichos
forró
assalto
samba
sorte
paixões
compras
poema
arte
aluno
peso
solidão
zen
cinema
cliente
amores
reflexo
íntimos
corrida
delicadeza
moda
asma
presente
pressa
ajuda
erros
prefaciouma palinha sobre a geografia sentimental de Gil Luiz Mendes
LITERATURA SEM FRESCURA, NA PROSÓDIA DE PERSONAGENS do miolo do Recife, no ritmo de quem fala e toma uma cerveja com a boyzinha na praça Maciel Pinheiro, uma cerveja com amendoim torrado ou cozido, bem ali na esquina - hoje uma casa de mpóveis - onde morou Clarice Lispector; mas isso nem vem ao caso, vale a cadência do agá da conquista, a espera do bote lírico, com uma frase simples, mas com a potência de um caldinho de sururu com cachaça, ele&ela, vale o azougue, o momento, o baque, o estalo, a fome de tudo, o forró - quando tu balança dá um nó na minha pança
-, o samba, o reggae, a larica de viver, o gloss que derrete diante da falta de fastio e do desejo manifesto à queima-roupa, a sustança, a paudurescência, a mucica do suspense e da espera por aquele beijo, ave palavra! que coisa linda.
Palas – Contos e cantadas do Centro do Recife é literatura itinerante por uma geografia afetiva da capital pernambucana, mas sempre com um desfecho que justifica a caminhada aparentemente sem rumo. Carlos, Samuel e Isac fazem um tradicional passeio todos os dias. A jornada tem início na Rua da Matriz, atravessa a Praça Maciel Pinheiro, passa pelas ruas da Conceição e do Giriquiti e tem seu ponto de retorno na Rua do Progresso, na altura do cruzamento com a Rua das Ninfas. O percurso de ida e volta tem quase 1.800 metros e dura exatos 44 minutos
. É literatura de flâneur, de bater pernas, decente vagabundagem sob a brisa ou a caldeira do Hellcife.
Uma espera em uma parada de ônibus, Marcelo, um dos cantantes ou cantadores – a cantada por si é neste livro um gênero literário – contempla uma linda contradição que usa óculos e moletom
. Dia de Recife frio, gelado, inverno nos seus 20 graus. Sibéria para os padrões locais. Linhas adiantes, o mais chapante desfecho entre as breves narrativas deste livro. Spoiler zero, baby, sinta o clima no inferninho destas páginas. Dividido por Encontros
, Paixões
e Amores
, Palas
é delicioso como uma cerveja bem gelada com jabá no Mercado da Boa Vista, outro ponto no roteiro sentimental desses contos. O leitor passeia também pelo bairro de São José e sente a força dos orixás no pátio de São Pedro.
E todo cuidado é pouco, amigas, com um certo dublê de John Waine dos trópicos
. Não que ele, mesmo no faroeste recifense, não tenha a sua delicadeza. É literatura, uma pala, uma palinha abalizada, baby, e de primeira, com direito também a cantadas com o charme do cinema francês. Vá na paz, como se fosse para a fictícia Bacurau, e ande com estilo na travessia da Sete de Setembro para a Rua do Hospício, aí você já chegou ao Beco da Fome, onde a poesia independente da cidade reinou nos anos 1970/80 e serve de cenário para a prosa substanciosa de Gil Luiz Mendes.
Xico Sá
encontros
encontrosgringa
Eram quase três da tarde e faziam quase trinta e três graus em um terceiro dia da semana do mês março quando Iza jogou as mochilas no chão, respirou profundamente e enxugou a gota de suor que escorria pelo lado direito da sua face. A camiseta era branca, a pele avermelhada e os cabelos amarelados. Destacava-se pela sua altura da multidão que desembarcava naquele momento na estação Recife do metrô. Era sua primeira vez no Brasil e escolheu começar no Recife sua excursão pela América do Sul por conta de um cartão-postal que caiu em suas mãos em São Petersburgo. A imagem mostrava um boneco gigante em forma de galo que era reverenciado por milhares de pessoas. Sua viagem tinha de começar nesse exótico lugar.
Acostumada com o transporte público de massas, Iza dispensou a oferta de taxistas e atravessou a passarela localizada em cima da Avenida Mascarenhas de Moraes para ir ao Centro da cidade pela linha férrea. O comércio ambulante foi o primeiro contato da jovem russa com a cultura pernambucana. Ofereçam de tudo para ela durante o trajeto. Pipoca doce ou salgada, amendoim, paçoca, fone de ouvido, chocolate, pastilha de menta, cortador/ralador/descascador de legumes. Desembolsou a nota de dez reais que conseguira em uma casa de câmbio, ainda no aeroporto, e destinou-a ao moço magro, de tatuagem triangular na testa, que tocava um xote ao violão. Iza achou o ritmo muito parecido com reggae, e como Bob Marley faz sucesso na terra dos czares, a menina de olhos claros estava encantada com seus primeiros 57 minutos no Brasil.
Acostumada com o transporte público de massas, Iza dispensou a oferta de taxistas e atravessou a passarela localizada em cima da Avenida Mascarenhas de Moraes para ir ao Centro da cidade pela linha férrea. O comércio ambulante foi o primeiro contato da jovem russa com a cultura pernambucana. Ofereçam de tudo para ela durante o trajeto. Pipoca doce ou salgada, amendoim, paçoca, fone de ouvido, chocolate, pastilha de menta, cortador/ralador/descascador de legumes. Desembolsou a nota de dez reais que conseguira em uma casa de câmbio, ainda no aeroporto, e destinou-a ao moço magro, de tatuagem triangular na testa, que tocava um xote ao violão. Iza achou o ritmo muito parecido com reggae, e como Bob Marley faz sucesso na terra dos czares, a menina de olhos claros estava encantada com seus primeiros 57 minutos no Brasil.
A bagagem de Iza era relativamente pequena, levando em conta sua intenção de passar treze dias na cidade. Sem uma programação definida na cabeça, queria fazer o maior número de passeios possíveis. Ansiosa que era, já queria conhecer alguns pontos turísticos antes mesmo de chegar ao hotel onde ficaria hospedada. Viu pela internet que a Casa da Cultura era um antigo presídio transformado em centro de arte e que ficava bem perto da estação do metrô. Não tinha dúvida, seria a sua primeira parada no Recife.
Os sons, os cheiros e as cores da cidade deixavam a turista boquiaberta. Tudo era muito novo e muito exótico para aqueles dois olhos azuis que se perdiam no ar. Perdidos também estavam seus passos. Tamanho deslumbramento fez Iza não perceber que já tinha passado pela frente do local que pretendia visitar. Caminho se conhece andando, então, vez em quando, é bom se perder
, já dizia um poeta paraibano. Iza estava feliz.
Renato morava em uma cidade da Mata Norte de Pernambuco e não tinha o costume de atravessar a ponte da Boa Vista, ou Ponte de Ferro, como é conhecida a estrutura de adornos metálicos construída em 1863. O franzino rapaz de voz anasalada e bigode fino desceu de um ônibus na Avenida Dantas Barreto com um endereço e um número de telefone escritos em pedaço de papel. Nesse lugar encontraria um primo que nunca vira antes e que o ajudaria a encontrar o emprego em uma padaria.
O roteiro que pretendia seguir à risca e sem muitas demoras teve de ser interrompido.
Todos os compromissos daquele dia poderiam ficar para depois, o primo o esperaria por todo o sempre, os ponteiros dos relógios parariam e o mundo que explodisse e só sobrassem ele e aquela maravilha da natureza que caminhava despreocupada pelo outro lado da rua. O sol sob a cabeça já não o incomodava, o barulho dos carros tinham, de alguma forma, tomado cadência, compasso e melodia. Tudo ao redor estava fora de foco. Apenas a brancura daquela moça que permanecia do outro lado da rua, que ele tinha a certeza de já ter visto em algum filme ou, quem sabe, em algum de seus muitos sonhos, fazia-se nítida.
Os seus pés, que tanto andaram em vão naquela tarde, ficaram pregados entre o meio-fio e os primeiros metros da via dos automóveis.