Renato, Aos Poucos
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Renato, Aos Poucos - Renato Mendonça
AO LIVRO, COM CARINHO
QUANDO FOLHEIO tuas páginas, meu dileto livro, fico orgulhoso de ti. Vejo que usas a mesma capa do seu antecessor homônimo, não podia ser diferente, pois trata-se de uma continuidade, e uma coletânea similar. Impusestes uma boa diagramação: colocastes os títulos em ordem alfabética, como o anterior. Porém, desta vez, havia dois títulos numéricos (18780 e 20000), e aí resolvestes colocá-los no início da lista do Sumário, talvez porque são temas que tratam do curso da idade. Perfeito!
Abrigas no leito do teu miolo muitas crônicas simplórias, apesar de não possuírem o primor da escrita são registros tão importantes de uma vida, reminiscências, algumas que estavam adormecidas nos escombros da memória.
Refugias também dois textos que estão no limiar do ficcional. Um deles aproveita devaneios oníricos para mostrar os descaminhos do amor, e faz referência ao belíssimo filme de Krzystof Kieslowski, Não Amarás; o outro expõe o que pode vir a ser, no futuro, a abertura ou o prefácio para um novo livro: O Mendigo e a Cadela.
Deverias informar aos ilustres leitores que, além deste segundo livro de memórias — que deverá ser o último —, existem editados mais dois: A Saga de Um Peruano, uma resenha biográfica, em prosa romanceada, sobre meu pai, imigrante peruano, e Pedro, o Cobrador, que cuida do resgate de um episódio de minha adolescência, ocorrido há cinquenta anos, justamente a conquista do primeiro emprego remunerado na Zona Franca de Manaus.
Podes dizer, também, aos prováveis leitores peruanos, que existem sete textos em castelhano, incluindo a Apresentação, Al Libro con Cariño, para que eles possam participar das histórias da família e conhecer os legados dos antepassados. Dois deles estão bilingues porque são inéditos: Tia Laura, crônica relembrando a irmã de meu pai, e Dia da Mãe, homenagem à minha mãe. Os outros quatro, estavam no primeiro livro, e foram traduzidos e incorporados às tuas folhas: Días Felices, narrando a epopeia de minha viagem ao Peru; Francisca, Madre, outra crônica, mais antiga, endereçada à minha mãe; La Saga de Un Hombre, uma breve história do tempo sobre meu pai, que deu origem ao livro citado no parágrafo anterior; e La Última Noche, um texto premiado no Concurso de Contos da Petrobras, em 2012.
Reconheço que tens uma incumbência muito ingrata: despertar nos corações o desejo da leitura, ainda mais quando o autor não é uma pessoa pública, apenas um escritor amador. Mas o termo amador, vem a calhar. Todos os textos têm a veia amadora da Natureza, do sentimento puro e por que não dizer, das emoções emanadas diretamente do coração para não profanar o amor. Algumas dessas crônicas estavam hibernando, à espera de uma lapidação, a fim de lhes dar algum brilho semântico ou a necessária atualização ortográfica; outras ainda estavam latentes, querendo apenas a oportunidade para se expor. As mais atuais, as que retratam o nosso cotidiano, querem depositar nas entrelinhas um pouco de poesia, suprindo uma carência dos nossos dias.
Desta vez só há um conto, escrito em primeira pessoa, O Seminário expõe um fragmento de vida dentro de um cenário antigo, buscando lembranças da década de 60, convividos em um colégio interno, na pré-adolescência.
Tens, também, o propósito primordial de transportar contigo, além das crônicas citadas, dois textos com o insofismável desejo de prestar um tributo à minha mãe, Francisca Pereira Lima: Ode à Mãe e Oração à D. Francisca, que por capricho de tua seleção, ficaram nas páginas finais, fechando a cortina. Um ente que morre não pode apenas ficar no passado, precisa estar viva
na nossa vida; encontrar nela um refúgio para nossas angústias, um alento para nossas dores e uma inspiração para nossos sonhos. E para receber a sua benção, para iluminar nossos caminhos e nossos projetos de vida, colocastes essa foto #1, emblemática, na página central, para que todos possam captar seu olhar espiritual.
Além do tributo, há também o reconhecimento a alguém que está ao meu lado, mesmo ausente; guia o curso da minha vida, mesmo de olhos vendados; e me dá conselhos, mesmo em silêncio. Por isso lhe dedico tanto amor.
Gostaria de desabafar e te contar um segredo, meu caro livro: O homem quando envelhece deseja contar sua história, mas quase não consegue um ouvinte, por isso é melhor escrevê-la, lida pode ser mais interessante.
Por conseguinte, se conseguires despertar a leitura de uma página pelo menos ou puder colocar-se na estante ao lado de outros livros, já serei grato ao teu esforço. Já farás jus à tua conduta sempre calada, ilibada, aceitando tantos escritos sem contestar.
Desejo que faças uma boa viagem, às melhores mentes e interesses; que possas seduzir, sem afrontar, sem ser enfadonho.
Boa sorte!
Renato Mendonça
Junho 2018
AL LIBRO, COM CARIÑO
CUANDO HOJEO tus páginas, mi dilecto libro, me siento orgulloso de ti. Veo que usas la misma tapa de tu antecesor homónimo, no podía ser diferente, pues se trata de una continuidad, y una recopilación similar. Impusiste una buena diagramación: colocaste los títulos de los textos en orden alfabético, como el anterior. Sin embargo, esta vez, había dos títulos numéricos (18780 y 20000), y ahí decidiste colocarlos al inicio de la lista del Resumen, quizá porque son temas que tratan del curso de la edad. ¡Perfecto!
Abrigas en el lecho de tu corazón muchas crónicas simplistas, a pesar de no poseer el primor de la escritura, son registros tan importantes de una vida, reminiscencias, algunas que estaban adormecidas en los escombros de la memoria.
Refugias también dos de ellos que están en el límite de lo ficcional. Uno de ellos aprovecha devaneos oníricos para mostrar los descaminos del amor, y hace referencia a la bellísima película de Krzysztof Kieslowski, No Amarás; el otro expone lo que puede llegar a ser, en el futuro, la apertura o el prefacio para un nuevo libro: El Mendigo y la Perra.
Deberías informar a los ilustres lectores que, además de este segundo libro de memorias — deberá ser el último —, hay editados dos más: A Saga de Um Peruano, una reseña biográfica, en prosa novelada, sobre mi padre, inmigrante peruano, y Pedro, o Cobrador, que cuida del rescate de un episodio de mi adolescencia, ocurrido hace cincuenta años, justamente la conquista del primer empleo remunerado en la Zona Franca
de Manaos.
También puedes decir a los probables lectores peruanos, que existen siete textos en castellano, incluyendo la Presentación, Al Libro con Cariño, para que puedan participar en las historias de la familia y conocer los legados de los antepasados. Dos textos son bilingües porque son inéditos: Tía Laura, crónica recordando a la hermana de mi padre, y Día de la Madre, homenaje a mi madre. Los otros cuatro, estaban en el primer libro, y fueron traducidos e incorporados a tus hojas: Días Felices, narrando la epopeya de mi viaje al Perú; Francisca, Madre, otra crónica, más antigua, dirigida a mi madre; La Saga de Un Hombre, una breve historia del tiempo sobre mi padre, que dio origen al libro citado en el párrafo anterior; y La Última Noche, texto premiado en el Concurso de Cuentos de la Petrobras
, em 2012.
Reconozco que tienes una incumbencia muy ingrata: despertar en los corazones el deseo de la lectura, aún más cuando el autor no es una persona pública, sólo un autor aficionado. Pero la manera amadora, se presta. Todos los escritos tienen la vena amadora de la Naturaleza, del sentimiento puro y por qué no decir, de las emociones emanadas directamente del corazón para no profanar el amor. Algunas de estas crónicas estaban hibernando, a la espera de una lapidación, a fin de darles algún brillo semántico o la necesaria actualización ortográfica; otras todavía estaban latentes, queriendo apenas la oportunidad para exponerse. Las más actuales, las que retratan nuestro cotidiano, quieren depositar en las entrelíneas un poco de poesía, supliendo una carencia de nuestros días.
En esta ocasión sólo hay un cuento, escrito en primera persona, El Seminario expone un fragmento de mi vida dentro de un escenario antiguo, buscando recuerdos de la década de 60, convividos en un colegio interno, en la preadolescencia.
Tú tienes, también, el propósito primordial de transportar contigo, además de las crónicas citadas, dos textos con el bendito deseo de rendir un tributo a mi madre, Francisca Pereira Lima: Oda à Madre y Oración à Doña Francisca, que, por capricho de tu selección, se quedaron en las páginas finales, cerrando la cortina. Un ser querido que muere no sólo puede quedarse en el pasado, necesita estar viva
en nuestra vida; encontrar en ellas un refugio para nuestras angustias, un aliento para nuestros dolores y una inspiración para nuestros sueños. Y para recibir su bendición, para iluminar nuestros caminos y nuestros proyectos de vida, has puesto esta foto #1, emblemática, en la página central, para que todos puedan captar su mirada espiritual.
Además del tributo, hay también el reconocimiento a alguien que está a mi lado, incluso ausente; guía el curso de mi vida, incluso de los ojos vendados; y me da consejos, incluso en silencio. Por eso le dedico tanto amor.
Me gustaría una confidencia, contarte un secreto, mi caro libro: El hombre cuando envejece desea contar su historia, pero casi no consigue un oyente, por eso es mejor escribirla, leída puede ser más interesante. Por lo tanto, si logra despertar la lectura de una página al menos o puede colocarse en la estantería junto a otros libros, ya estaré agradecido por tu esfuerzo. Ya estarás haciendo justicia a tu conducta siempre callada, correcta, aceptando tantos escritos sin contestar.
Deseo que hagas un buen viaje, a las mejores mentes e intereses; que puedas seducir, sin afrontar, sin ser aburrido.
Renato Mendonça/Junio 201
Foto # 1 – Francisca Pereira Lima, 1941
18780
29/11/2002
GOSTO MAIS DE ESCREVER minhas simplórias crônicas do cotidiano do que me aventurar em escrever pequenos contos. Sinto-me à vontade para expor o pensamento, e percebo ao mesmo tempo que é gratificante. Usando de uma linguagem coloquial, parece que estou conversando com alguém, isso facilita o rumo das palavras. Num conto, desejo sempre usar uma linguagem mais culta e isso me deixa manietado, sem mobilidade. Fico preocupado com a gramática, com a sintaxe e até com o valor semântico de cada palavra colocada no texto.
Por certo, alguém, no futuro, se desejoso de ler esta, poderá achar curioso alguém escrever para o nada. Explico: serve como registro e como memória, porque, daqui a alguns anos, se o Alzheimer me abraçar, não lembrarei de mais nada. Se Deus permitir, no entanto, lerei mais à frente, e refletindo talvez, culparei o tempo por ter decorrido tão rápido; lamentando não ter vivido intensamente todos os momentos fascinantes dessa vida. Por dedução, sinto que esses arroubos saudáveis do habitual fazem bem à minha cabeça.
Hoje, quando estava usando um caixa eletrônico de um Banco locado aqui na Ilha d’Água, próximo à orla da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, chamou-me atenção a data impressa do comprovante: 29/11/2002; especificamente o dia, que coincide com o do meu nascimento. Antes de qualquer conferência de dados, refiz mentalmente minha trajetória, tomando como referência essa data gravada. Para tentar sair da subjetividade, escrevi minha data de nascimento embaixo e fiz uma tola subtração algébrica: alcancei o número absoluto 50051.
O que quer dizer isso? Será que a numerologia teria alguma explicação? Ou será apenas um número inteiro, ou uma sequência progressiva intercalado pelo zero!? Pode também ser o início de uma contagem criptografada, com a vida começando aos 50. Isso contraria o dito popular, de que a vida começa aos 40. Neste caso, a minha etapa estaria começando com um retardo. Será que isso é bom ou ruim?
Isso tudo são elucubrações, devaneios que acontecem quando estamos começando a viver o poente da vida. Nessas horas, cultuamos que a vida deve ser bem vivida e dividida com alguém; compartilhar-se com os outros, sem sermos egoístas, procurando dar relevância aos valores morais e éticos.
Observei novamente o bilhete e a data, vi quanto tempo já passou. O avanço tecnológico é um testemunho disso: a era do computador, da Internet, dos documentos on line, só para citar o exemplo eletrônico. O contraste com o início dos anos cinquenta, quando ainda nem existia televisão. Ou será que existia, aqui no Brasil? Por certo, não existia para mim, no meu pequeno universo infantil. Não me recordo, quando ainda na tenra idade, criado pela avó, de terem mencionado sobre o assunto. Muito mal, nós tínhamos um rádio Transglobe de ondas curtas, sem a frequência modulada. Contudo, a época era mais romântica, tenho absoluta certeza disso. Pelo simples fato de se ouvir música, sem a presença do vídeo, levava a pensamentos mais sentimentais; a prestar mais atenção na poesia que letra encerra, mais do que a própria melodia. Além do mais, a música quase sempre primava pela dor de cotovelo, e assim, cada um, enquadrava-a na sua vida particular, para suprir ou explicar as carências afetivas.
As novelas de rádio eram ouvidas pelas donas-de-casa, sem parar de fazer os afazeres domésticos. Despertavam imaginações e enlevavam os sentimentos, movidos pelas dúvidas de um final feliz. Não eram observadas cenas de sexo ou crime para aumentar a audiência. O tempero era quase sempre o amor.
Hoje os tempos são outros. A vida agitada, a incerteza do amanhã, a ansiedade e outras preocupações, vão se acumulando sobre os ombros, de tal forma, que acaba tornando-se uma cruz pesada demais. As pessoas tornam-se embrutecidas pela vida e desacostumadas a expor seus sentimentos.
Passados essas reflexões sobre o tempo e a data, refiz minha maneira de pensar e calculei meus dias