Singularidades de uma Rapariga Loira
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Sobre este e-book
Uma é «fresca, loura como uma vinheta inglesa»; da outra, recordam-se aqueles «cabelos fabulosamente louros como o sol de Londres em Dezembro».
Às Singularidades de uma Rapariga Loura, o primeiro conto de cunho realista português que nos conta a história de amor de um jovem honesto e trabalhador por Luísa, uma rapariga loura e singular, juntam-se Seis Cartas de Fradique Mendes, que nos vai contando, a cada carta, a paixão de Fradique por Clara, tão loura como a protagonista da estreia literária de Eça de Queiróz.
Numa conjunção perfeita de idealismo e realismo, de conto e de romance epistolar, este livro mostra-nos as várias facetas de um dos maiores autores portuguesas, enriquecido por um belíssimo texto de Maria Filomena Mónica, incluído na edição que, em 2006, inaugurou a actividade editorial da Guerra e Paz.
«O estilo cru do texto chocou os contemporâneos. Tudo – a prosa enxuta, a atenção ao pormenor, os diálogos incisivos – indicava estar-se diante de qualquer coisa de novo.»
Maria Filomena Mónica
In «Posfácio»
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Singularidades de uma Rapariga Loira - Eça de Queiroz
Singularidades de Uma Rapariga Loura
Título: Singularidades de uma Rapariga Loura
Autor: Eça de Queiroz
© Guerra e Paz, Editores, Lda, 2022
Reservados todos os direitos
A presente edição não segue a grafia do novo acordo ortográfico.
Acompanhamento Editorial e Revisão: Maria José Batista
Design: Ilídio J.B. Vasco
Isbn: 978-989-702-870-0
Guerra e Paz, Editores, Lda
R. Conde de Redondo, 8–5.º Esq.
1150-105 Lisboa
Tel.: 213 144 488 / Fax: 213 144 489
E-mail: guerraepaz@guerraepaz.pt
www.guerraepaz.pt
Índice
Nota introdutória
Singularidades de uma Rapariga Loura
I
II
Seis Cartas de Fradique Mendes
Outros textos que nos ajudam a compreender melhor Singularidades de Uma Rapariga Loura
Posfácio
Cronologia
Nota introdutória
Neste livro, os leitores de Eça têm um duplo motivo de satisfação.
O seu primeiro conto, Singularidades de uma Rapariga Loura, é aqui objecto de publicação própria.
Em segundo lugar, nesta edição reúnem-se também seis cartas que nos contam a paixão de Fradique Mendes por outra loura.
Se a primeira, a do conto, era «fresca, loura como uma vinheta inglesa», a das cartas de Fradique é recordada por causa «daqueles cabelos fabulosamente louros como o sol de Londres em Dezembro».
Louras à parte, conto e cartas são duas formas narrativas muito distintas. Foram, note-se, escritas em momentos muito distantes no tempo. O conto, em 1873, no começo da carreira literária de Eça; as cartas já muito perto do fim. Juntá-los no mesmo volume é uma decisão que responsabiliza em exclusivo a Guerra e Paz, Editores. Não há implícito, neste encontro de Singularidades e das apaixonadas Cartas de Fradique, qualquer objectivo académico. O único propósito é proporcionar ao leitor o prazer de ler dois textos que, em geral, não têm, no aparato de publicação de «obras completas», a mesma individualidade e evidência.
E, se tal não bastasse, esta edição tem também um propósito comemorativo: Singularidades de uma Rapariga Loura foi o livro inaugural da Guerra e Paz, quando a editora foi fundada, em 10 de Abril de 2006. Voltamos a publicá-lo, como então fizemos nessa nossa primeira edição, acompanhado pelo belíssimo texto de Maria Filomena Mónica, que nos falava tanto da loura de Singularidades, quanto da loura de Fradique.
Contos – realismo e idealismo
Publicado originalmente como Brinde aos Senhores Assinantes do Diário de Notícias, em 1874, e habitualmente inserido no volume que junta as incursões do autor pelo género, tendo sido publicado num livro de contos póstumo em 1902, Singularidades de uma Rapariga Loura foi o primeiro conto publicado de Eça de Queiroz e diz-se que foi também o primeiro texto realista português.
Já as cartas são inicialmente publicadas semanalmente no jornal O Repórter, de 22 de Agosto de 1888 a 4 de Outubro do mesmo ano. São-no, depois de novamente revistos pelo autor, também no Brasil, na Gazeta de Noticias, a partir de 28 de Agosto, mas a sua publicação é suspensa, sem explicação, em 9 de Setembro, voltando a ser publicadas na mesma Gazeta, em Novembro de 1892, mais algumas cartas de Fradique, desta feita, quatro destas «cartas de amor» a Clara que aqui editamos. No entretanto, em Portugal, Eça publica os textos do seu «quase-heterónimo» numa nova versão revista – porque Eça reescrevia tudo o que voltava a publicar – na Revista de Portugal, entre 1889 e 1891, sendo dessa altura o relato biográfico de Fradique Mendes e as oito cartas com o título «Cartas de Fradique Mendes». Na composição destas cartas, a crítica pressente um perfil mais idealista, visto que Eça fala da construção da personagem e da obra em cartas que o autor escreveu a Oliveira Martins, mas o próprio Eça quer dar-lhes realismo:
O que eu pensei foi o seguinte: uma série de cartas sobre toda a sorte de assuntos, desde a imortalidade da alma até ao preço do carvão, escritas por um certo grande homem, que viveu aqui há tempos, depois do Cerco de Tróia e antes do de Paris, e que se chamava Fradique Mendes! Não te lembras dele? Pergunta ao Antero. Ele conheceu-o. Homem distinto, poeta, viajante, filósofo nas horas vagas, diletante e voluptuoso, este gentleman, nosso amigo, morreu. E eu, que o apreciei e tratei em vida e que pude julgar da pitoresca originalidade daquele espírito, tive a ideia de recolher a sua correspondência. […]
Bristol, 10 de Junho de 1885
Decerto me expliquei mal. A introdução a «Cartas que nunca foram escritas por um homem que nunca existiu», – não podia deixar de ser uma composição em que se tentasse dar a esse homem primeiramente realidade, corpo, movimento, vida. Não se pode decentemente publicar a Correspondência de uma abstracção. De sorte que o tal estudo crítico é de facto uma novela – novela de feitio especial, didáctica e não dramática, mas enfim novela com uma narração, uma acção, episódios, uns curtos bocadinhos de diálogo e até – paisagens! Desde logo vês que isto se não pode condensar, nem disto se podem fazer extractos. Tem de ser publicado tudo! Por outro lado sem prévia história do homem, é impossível encetar abruptamente as cartas. O público perguntaria naturalmente – «mas quem é Fradique?» Inventa pois outra coisa, e responde logo, pois que eu tenho pressa de resolver isto, por causa do Brasil. Os artigos não são dez por fim; são oito, mas graúdos. […]
Bristol, 12 de Junho de 1888
Dúvidas houvesse sobre a opinião que o autor tinha sobre o idealismo e o realismo, Eça deixou-nos um texto sobre o tema, o qual teve para ser publicado sob a forma de prefácio, na segunda edição d’O Crime do Padre Amaro, em resposta às críticas de Machado de Assis. No entanto, apenas foram seleccionados e publicados alguns fragmentos em «Nota à segunda edição». O texto integral só viria a ser publicado depois da sua morte, em Cartas Inéditas de Fradique Mendes (1879). Aqui