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Resgatando Nossa História
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E-book810 páginas6 horas

Resgatando Nossa História

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Sobre este e-book

Como entender uma vida? A Biologia, a Filosofia e a Teologia podem apresentar complexas e profundas definições. Neste livro o pastor Güinther Hartmann nos apresenta sua própria experiência de vida. Um homem que, por ser simples, é único e nisso podemos nos ver representados aqui e ali. Sucessos, alegrias, tristezas, aventuras, desventuras e muito mais. Não é assim a vida? Te convido a ler e passear na história desse homem e de sua família. Tenha uma ótima leitura! Victor Hugo Ramallo, pastor e Editor Responsável.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de mar. de 2023
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    Resgatando Nossa História - Guinther Hartmann

    Resgatando

    Nossa História

    Famílias

    Hartmann / Hasse

    Copyright © 2023 do autor

    Todos os direitos reservados à Editora Sublime Letra. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Sublime Letra.

    Primeira edição; março de 2023.

    ISBN: 978-65-00-64392-3

    Preparação e Revisão: Marta Rojas de Moura Guilherme

    Capa:

    Aslam Esteves Ramallo

    Editoração:

    Victor Hugo Ramallo

    Família Hasse

    Família Hartmann

    Pesquisado e Elaborado por

    Guinther Hartmann

    Blumenau-SC

    2010 – 2021

    Sumário

    Memórias reveladas, finalmente

    9

    Tempo de sonhos, esperanças e desventuras

    12

    Tempo de decisões, desesperos e sofrimentos

    33

    Tempo de novas experiências, aventuras e realizações

    58

    Tempo de mudanças importantes: espirituais, materiais e físicas

    96

    Tempo de ministério prático e novas experiências

    131

    Tempo de novas experiências no campo missionário

    150

    Tempo de novos acontecimentos em terras gaúchas

    183

    Ijuí ................................................................................................................... 201

    Tempo de recomeços em terras catarinenses

    244

    Tempo de novos relacionamentos ............................................................ 249

    Nossos cães .................................................................................................... 280

    Viagens para a Serra Gaúcha ..................................................................... 284

    A quitinete .................................................................................................... 292

    Tempo de novos envolvimentos com Igrejas, corais e eventos .......... 295

    Viagem para Ijuí e região em 2017 ............................................................ 310

    Aniversário de 90 anos do Pr. Helmuth Matschulat ............................. 321

    Outros acontecimentos em 2019 e 2020 .................................................... 324

    Tempo com a família, netos e pessoas queridas .................................... 329

    A viagem dos sonhos

    340

    C o n c l u s ã o

    383

    I n t r o d u ç ã o

    Memórias reveladas,

    finalmente

    Guinther Hartmann

    inalmente! É a expressão de desencargo de consciência, por assim dizer, pois fui cobrado inúmeras vezes por familiares e amigos para escrever minhas memórias armazenadas ainda em bom estado de conservação. E, antes que F a memória se turve pelo peso da idade, é bom dar prosseguimento a essa tarefa, deixando para as Famílias Hartmann / Hasse e outros parentes esse legado. Resta saber, para o bem dos eventuais leitores, que não fiquem entediados com extensas e cansativas narrativas, como

    proceder para alcançar melhor esse intento.

    É obvio que fatos marcantes são

    lembrados,

    mas

    também

    certos

    acontecimentos que deixaram de ser relatados

    aqui. Talvez posteriormente aflorem à mente,

    para serem inseridos em uma próxima edição.

    Há tempos estou envolvido numa tarefa

    cansativa, mas necessária para o bem dos

    meus descendentes, a de colocar em ordem o

    calabouço fotográfico que tenho, identificando

    personagens, locais e datas, uma vez que para

    as gerações mais novas são desconhecidos.

    Existem fotos desde os anos 30, mesmo antes

    do meu nascimento. Só lamento não ter

    perguntado à minha mãe sobre a identificação

    de algumas fotos. Há muitos personagens estranhos que vão ficar no arquivo dos ilustres desconhecidos. Depois que entes queridos partem dessa vida para a outra, como ela no caso, é que começamos a nos conscientizar sobre o valor singular dessas pessoas. Antes não damos muita importância, pois somos absorvidos em nossas lidas diárias, com nossos próprios problemas e esquecemos o outro lado sentimental e expressivo da vida - o de estar mais próximo e explorar, no bom sentido do termo, a sabedoria e a experiência dos mais velhos.

    Ah! Como isso faz falta agora! Valha-me Deus, também já dobrei os 70 e, como diz o salmista, o que passar disso é enfado e canseira. Tomara que eu consiga ser uma exceção à regra.

    Que isso fique como advertência aos mais jovens para que não desperdicem o seu valioso tempo com futilidades, deixando os valores permanentes de lado. Como escreve o autor de Eclesiastes 12:1 " Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, e antes que venham os maus dias, e cheguem os anos em que dirás: Não tenho prazer neles".

    Resgatando a nossa História

    Bem, deixemos essas divagações de lado e vamos

    abordar aquilo que é o objetivo desse resgate - a revelação de minhas memórias.

    Para facilitar a leitura, vou propor como tentativa

    de ensaio que isso seja feito em capítulos dos períodos distintos, e quando algum fato puder ser ilustrado com

    uma foto existente, assim o farei.

    Guinther Hartmann

    C a s a n a

    F r i e d r i c h s t r a ß e ,

    7 2 e m

    W e r n i g e r o d e

    ( H a r z ) A l e m a n h a .

    L o c a l o n d e

    m o r a m o s d e 1 9 3 9

    a 1 9 4 7 c o m a

    f a m í l i a H a u e r .

    C a s a c o n s t r u í d a

    e m 1 9 3 2 p e l o

    m e u a v ô m a t e r n o

    G u s t a v H a s s e e m

    B e l a A l i a n ç a ,

    a n t i g o M a t a d o r ,

    m u n i c í p i o d e R i o

    d o S u l - S C .

    11

    C A P Í T U L O I

    Tempo de sonhos,

    esperanças e

    desventuras

    Resgatando a nossa História

    origem dos nossos antepassados se perde nas dobras do tempo. Valendo-me da tradução da Crônica de minha prima Inge Bielefeld, nascida Hartmann, (o pai foi Willy Flesch, da localidade de Lontras-SC), o nosso A tronco se originou na região da Alemanha, chamada Niedersachsen, na pequena vila de Algermissen, em Hildesheim. Há registros na Igreja Católica de Algermissen que datam de 1550. É dito que os Hartmann's, em anos posteriores, eram tidos como amantes da liberdade, fazendeiros, guerreiros e, como consta da história -

    agitadores e revolucionários, além de teimosos e sanguíneos, seus traços tradicionais.

    Conforme os registros que temos e que me foram entregues pelo primo Heinz Hartmann, constam do nosso tronco, a partir do tataravô: Johann Heinrich Hartmann, nascido em 06/12/1807 e falecido em 14/12/1863, em Hohenhameln; Heinrich Hartmann, meu bisavô, nascido em 02/10/1842 e falecido em 01/12/1911, em Klein Algermissen; Wilhelm Heinrich Hartmann, meu avô, nascido em 14/07/1873 e falecido em 15/10/1927. Nasceu em Algermissen e faleceu em Lynhurst, USA, vítima de uma pneunomia grave. Da união dos meus avós, nasceram os seguintes filhos: Wilhelm (Willy) (*19/10/1900 - †?/?/1944); Heinrich (*20/04/1902 - †10/06/1976); Joseph (*26/03/1903 - †28/04/1982); Maria (*21/04/1909 -

    †13/05/1982); Johannes (*07/05/1913 - †27/11/1941). O destaque é que a maioria morreu com idades entre 50/70, exceto meu pai e o tio Willy com 28 e 44 anos, respectivamente, vítimas da Guerra. Com certeza a Inge deve ter ouvido relatos de sua mãe Maria, minha tia, que por sua vez era parte da família de cinco irmãos, sobre a vida da região, possivelmente, na década dos anos 20/30.

    Algermissen era uma região caracterizada por velhas herdades, de vida agrícola, com muitas plantações e criação de cavalos e a vida religiosa se concentrava na bem frequentada Igreja Católica. O Tronco Hartmann era genuinamente católico.

    Conforme consta no relato, os meus avós, Wilhelm Heinrich e Therese Hartmann, eram proprietários de uma grande madeireira, com um imenso jardim, além das belas tílias que floresciam no verão e os vastos e dourados trigais. Lá tinham também as diversas e variadas criações de animais e aves. A vida nessa região, como em outras, fluía com natural desenvoltura e riqueza. Havia fartura na época, mas que mudaria nos anos das duas grandes guerras, instalando-se a fome e a miséria. A minha avó, nascida em 19/01/1873, faleceu em 22/11/1922, em Algermissen.

    Em razão da morte dela, o meu avô começou a viver um drama existencial, aliado a fatores externos, sociais e políticos, como a total desmoralização da Alemanha. Como consta da Crônica da Inge, referindo-se ao velho Wilhelm, ele foi durante a sua vida um (outsider) forasteiro, um andarilho, um visionário, vítima de sua própria dor. Por tais motivos decidiu emigrar para o Brasil. Os detalhes e pormenores da sua vinda estão bem descritos naquela Crônica, inserida como apêndice no final desta minha narrativa.

    Resgatando a nossa História

    O meu avô chegou ao Brasil em 1923, com seus cinco filhos. A viagem, tumultuada, durou seis semanas com o navio Sierra Nevada até a Ilha das Flores. De lá vieram até Itajaí com um navio costeiro, seguindo até Blumenau com o Vapor Blumenau.

    Nos anos 50, quando morava na Rua 15 de Novembro, às margens do rio Itajaí-Açú, via esse barco ainda fazendo viagens e transportando cargas, inclusive com um reboque. Ia pelo canal, circundando as pedras, até nas proximidades do bairro da Itoupava Seca, após a ponte da estrada de ferro. O meu pai e tia Maria ficaram em Blumenau, no Hotel Wuerges. O avô, com os demais filhos, seguiu para Presidente Getúlio, na região da Serra Vencida, para comprar terras. Foi montada uma serraria e construída uma rústica choupana, coberta com folhas de palmeiras. Logo toda a família estava novamente reunida. Mas a vida lá na mata não era fácil. Além dos perigos existentes – cobras, animais selvagens e índios (chamados de bugres). A tia Maria estava com 14 e o meu pai com 10 anos de idade.

    Na Serra Vencida viviam outros emigrantes, mas moravam distantes uns dos outros. A Família Hartmann logo se relacionou com outras famílias, inclusive com uma outra família Hartmann: Fritz e Bertha, vindos do Harz, Alemanha; região onde mais tarde iríamos morar, estabelecendo boas amizades, inclusive através da música, pois a maioria tocava algum instrumento musical. Quando o meu avô, anos mais tarde, empreendeu a viagem para os Estados Unidos da América do Norte, Fritz e Bertha Hartmann adotaram o meu pai. Um dos motivos pelos quais meu avô viajou para os Estados Unidos foi o fato do governo brasileiro não ter cumprido a maioria das promessas, inclusive de dotar a região com estradas. Isso, aliás, não é novidade, pois hoje não é diferente: promessas e mais promessas são feitas e, quando são cumpridas, já se passaram muitos anos. Assim as serrarias funcionavam mediante difíceis condições e os negócios não eram rentáveis, o que causou ao meu avô um grande descontentamento. Não tenho os dados, mas ao que consta, na sua juventude ele já havia estado na América do Norte. O seu intento era procurar um primo seu e comprar terras para depois chamar o meu pai e a tia Maria. O meu tio mais velho, Willy, foi professor e educador durante vários anos na região e, mais tarde, na região chamada Eisenbach.

    Também o tio Heinrich ensinava os filhos de colonos na localidade chamada Índios. O tio Joseph se ocupava com a serraria.

    14

    E s t a f o t o é d e 1 9 3 3 q u a n d o m e u t i o W i l l y H a r t m a n n e r a i n s p e t o r

    d a s e s c o l a s d a r e g i ã o , p o s s i v e l m e n t e a q u i n u m a s o l e n i d a d e

    e s p e c i a l .

    E s c o l a N e u K ö n i g s b e r g e m 1 9 3 4 q u a n d o e r a p r o f e s s o r m e u t i o H e i n r i c h

    H a r t m a n n

    15

    Duas obras publicadas pelo Sr. Harry Wiese:

    De Neu Zürich a Presidente Getúlio Uma História de Sucesso e a Inserção da Língua Portuguesa na Colônia Hammonia, fazem referência ao tio Willy e ao Fritz Hartmann.

    Sintetizo as referências: Na primeira obra: página 89: (...) o prof. Kurt Stroich permaneceu no cargo até final de 1928, quando foi indicado intendente municipal do Distrito de Hammonia. Em seu lugar foi indicado o professor Wilhelm Hartmann. (Época de 1927-1928).

    Página 210: (Ribeirão Tucano) – A primeira escola foi criada em 1920. Era uma escola particular alemã. Situava-se no local onde hoje existe a casa de Geraldo Cipriani. Funcionou até 1936. Os professores eram: Franz Baumgard, Luiz Dehnerdt, Hugo Reichsmith, Willy Hartmann e o Sr Schüsler (...)

    Página 223: "para a nova colônia Serra Vencida – Nova Helvetia foi importantíssima a ajuda do comerciante Otto Muller de Neu Breslau.

    Otto Muller, pai de Bernardo Muller, comprava ou recebia em troca os primeiros produtos coloniais da região. Financiou a Fábrica de Destilação de Madeira de Fritz Hartmann. Em 1926, Jacob Mellinger construiu uma olaria (...)

    A Fábrica de Destilação de Madeira encerrou suas atividades em 1934 (...)"

    Na página 296 há uma foto da Escola Neu Breslau (1935).

    Na segunda obra: página 48, no quadro 5 – Escolas Particulares Alemãs – Quadro Estatístico – 1926, consta que Willy Hartmann foi professor em Eisenbach com 27 alunos e na Serra Vencida com 8 alunos.

    Nesse meio tempo a tia Maria, então com 17 anos, começou um namoro com Willy Flesch, que veio a ser o pai da prima Inge. Durante um tempo moraram em Lontras, onde o Willy trabalhava numa serraria. A tia escreveu uma carta para o pai, que já estava nos Estados Unidos, solicitando a autorização para o seu casamento, pois ainda era menor de idade. Depois de um ano, ao invés de vir a solicitada autorização, veio uma carta comunicando o seu falecimento, vítima de uma profunda pneumonia, que na época não teve cura. A localidade mencionada na Crônica pela Inge, New Orleans, não foi devidamente identificada. Em outras fontes consta a localidade chamada Lynhurst.

    Isso ocorreu em outubro de 1927.

    O relacionamento da tia Maria com Willy Flesch não durou muito tempo e quando a Inge tinha seis meses de idade, houve a separação. A Inge foi confiada ao casal Fritz e Bertha Hartmann, que já haviam cuidado do meu pai. Tia Maria veio a Blumenau, onde conheceu 16

    um gentil senhor que a levou para Sorocaba (SP) e tempos depois conheceu Hans Anton Lavy, amigo daquele e que veio a ser o padrasto da Inge. Ele era um gentil e amável judeu alemão-americano, conhecido na intimidade por Dicky. O meu pai chegou a conhecê-lo também em São Paulo.

    Como a mãe adotiva da Inge, Bertha Hartmann, não estava se adaptando bem na Serra Vencida, além de estar vivendo uma crise existencial, desejou voltar para a Alemanha. E

    assim, em 1934, o casal com a minha prima viajaram para lá. O pai adotivo, Fritz, e mais tarde meu próprio pai, foram influenciados por um falso idealismo pregado por Hitler, que atravessou fronteiras, contagiando muitos jovens então.

    A vida na Serra Vencida, em Presidente Getúlio-SC, na década de 20/30, está descrita na Crônica Histórica da Inge, bem como os acontecimentos depois na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Por coincidência, anos mais tarde, em 1939, viemos a morar na mesma região do Harz da Alemanha, na histórica cidade chamada Wernigerode, e o meu pai teve de servir às forças do Reich.

    Mas antes é importante também lembrar alguns detalhes da vida de minha mãe e de sua família na região chamada Matador (hoje, Bela Aliança), um distrito de Rio do Sul, na década de 30. Os bisavós maternos, Reinhold e Berta Hasse, e os avós maternos, Gustav e Emilia Hasse, possivelmente se estabeleceram antes na região de Benedito Novo, uma vez que minha mãe nasceu lá, em 17 de outubro de 1918. A bisavó materna, Berta, descende de uma família Schmidt: Teodor e Ana. Mais tarde compraram terras na região de Matador, próximas à Estação de Trem. Não sei precisar a data da vinda deles da Alemanha para o Brasil. A narrativa a seguir foi escrita por meu bisavô materno, Reinhold Hasse, e me foram repassadas pelo primo Ademir Hasse:

    "Nascido em 12 de junho de 1866, na Alemanha. Na vila (povoado) de Welsleben, no distrito de Magdeburg. No ano de 1876 com os pais emigrando para o Brasil, e na estrada pomerana, próximo a Timbó - Blumenau, adquirindo propriedade. Com 12 anos de idade eu perdi minha mãe. Com 13 anos eu recebi uma madrasta. Com 14 (17?) eu deixei o lar e com 22 anos eu comprei uma colônia (de terras) na grande Arapongas. Ao mesmo tempo em que me tornei membro da Igreja na Comunidade de Carijós do Pastor Rinte (?=ilegível). Com 23 anos eu me casei com Berta Radatz, filha de Johann Radatz e sua esposa Wilhelmine, nascida Mischke.

    Com 24 anos ajudei nas obras da escola de Arapongas. Pouco tempo depois eu comprei uma destilaria, fervendo cana de açúcar e produzindo cachaça. Pouco tempo depois eu vendi tudo e mudei para Benedito Novo e comprei uma serraria e moinho na localidade de Russenbach (Ribeirão dos Russos). Lá novamente não havia escola e que eu tinha que formar. Comprei barato um pedaço de terra. As madeiras para linha de trem e as tábuas eu cortava 17

    gratuitamente. Pouco tempo depois eu também ajudei a construir a Igreja da Comunidade de Timbó, e ali servi parte dos meus anos até que os filhos mais velhos se casaram. Então se me esgotou a força do trabalho; Vendi tudo e me mudei para Matador. Lá construí uma olaria junto com um filho. As relações da comunidade escolar não eram boas, a escola oficial do Regime (Governo) estava superlotada, as crianças nada aprendiam. Novamente era necessária a instalação de uma escola privada e, felizmente, havia ali uma escola (casa), mas devia ser aumentada. Também faltavam professores, moradia, cozinha, poços, instalações e material escolar. Durante muitos anos eu servi como diretor e ao mesmo tempo estava à frente da igreja.

    Do meu casamento vieram 15 crianças, 6 meninas e 9 meninos, 3 meninos faleceram ainda pequenos, abaixo de 4 anos, 3 cresceram sadios, 2 com 25 anos solteiros. Um filho com 35

    anos, casado, abandonou a esposa e 4 filhos.

    Em 7 de julho de 1939 nós festejamos as bodas de ouro. Em 7 de julho de 1949 festejamos as bodas de diamante. Com 81 anos eu passei meu trabalho adiante, porque a mama (esposa) 1

    sempre estava adoentada. Os dois filhos mais jovens assumiram o trabalho. Em 14 de fevereiro de 1951 a mama faleceu."

    Ele, o nosso bisavô, faleceu com 100 anos e alguns meses em Bela Aliança, Rio do Sul.

    Estivemos lá por ocasião da festa do seu centenário. Existem algumas fotos, numa delas ele saindo da Igreja e de toda família Hasse.

    Como citado acima, o meu avô, juntamente com seu pai, construiu uma olaria e em 1932

    construiu uma casa de alvenaria que existe até os dias de hoje. Na foto aparecem meus avós, com as minhas tias: Hilde, Selma, Irma, Else, os tios Siegfried e Elemer e a minha mãe Gertrud. Na outra foto, além dos mencionados, está o tio Hugo, casado com a tia Hilde, com o pequeno Wieland e o meu pai segurando o pequeno Raimund, filho da tia Selma e tio Rausch. Eu ainda não tinha nascido. Essa segunda foto foi tirada defronte à casa.

    Não tenho muitas referências sobre a vida deles nos anos 30. Apenas alguns detalhes, especialmente da vida muito sacrificada de minha mãe e suas irmãs, que eram obrigadas a trabalhar na olaria do meu avô. Cada uma delas teve sequelas físicas durante a sua vida, a minha mãe sofreu da coluna. Os rapazes, Siegfried e Elemer só nasceriam muitos anos mais tarde. A vida na roça, como se diz, era muito dura, com muitas criações e plantações. O

    principal divertimento eram os bailes que aconteciam no salão do Caça e Tiro de Matador

    Schuetzenhaus. Frequentemente aconteciam famosas brigas com armas brancas, quando pessoas estranhas apareciam lá. As moças e, em especial minha mãe, faziam brincadeiras de assustar pessoas pelo caminho de volta para casa. Outro destaque foi o movimento 1 - Nossa bisavó.

    18

    integralista pregado pelo então jornalista Plínio Salgado, principal líder. Mais adiante algumas fotos e detalhes a respeito.

    F a m í l i a H a s s e : A v ó s : G u s t a v , E m í l i a ; T i o s : E l s e , G e r t r u d ( m ã e ) , I r m a ,

    H i l d e , S e l m a , E l e m e r e S i e g f r i e d . A c i m a : T i o H u g o c o m o f i l h o W i e l a n d ;

    m e u p a i c o m m e u p r i m o R a i m u n d .

    19

    A bandeira e os uniformes tinham estampada a letra grega sigma, que em matemática representa a soma de todas as partes, à forma de cumprimento entre os integralistas:

    Anauê que em tupi significa "Você é meu irmão".

    G r u p o d e j o v e n s

    e m f o r m a ç ã o

    m i l i t a r d o

    I n t e g r a l i s m o –

    1 9 3 8 – M a t a d o r ,

    R i o d o S u l

    T ú m u l o d e u m

    p a r t i c i p a n t e

    20

    Integralismo (também denominado nacionalismo integral) é uma doutrina política de inspiração fascista tradicionalista, ultraconservadora, inspirada na Doutrina Social da Igreja Católica, que surgiu em Portugal no início do século XX, defendendo o princípio de que uma sociedade só pode funcionar com ordem e paz, no respeito das hierarquias sociais, fundamentando-se para isso nas aptidões e nos méritos pessoais demonstrados (em oposição às doutrinas igualitárias saídas da Revolução Francesa, como o socialismo, comunismo e anarquismo), e na harmonia e união social.

    Aqui no Brasil surgiu nos anos 30, com algumas diferenças do Integralismo de Portugal, sendo que Plínio Salgado era contrário ao estatismo modernista do fascismo. E como consta da história, o Integralismo no Brasil teve forte influência durante o período em que Getúlio Vargas esteve no poder (1930-1945) e inicialmente deu sustentação à ditadura de Vargas, mas depois os integralistas romperam com seu regime. Também alguns integralistas foram contra Luiz Carlos Prestes no seu golpe de estado. Prestes teve atuação marcante no Rio de Janeiro. No Brasil os Integralistas também eram conhecidos por camisas verdes. (Fonte: Wikipédia...)

    No documento – Integralismo – História do Brasil – UOL Educação, há uma citação que explica por que o movimento teve também grande receptividade entre os jovens no campo, e o exemplo está retratado nas fotos em destaque do meu arcabouço.

    Na medida em que teve grande receptividade na cidade e no campo, contando com um elevado número de militantes – num país em que a participação política era bastante restrita – o integralismo representou um dos primeiros e mais importantes movimentos de expressão política ...

    G r u p o d e j o v e n s d o m o v i m e n t o e m M a t a d o r

    21

    O j o r n a l i s t a P l í n i o S a l g a d o

    f o i u m d o s p r i n c i p a i s l í d e r e s

    i n t e g r a l i s t a s

    Logo após esse movimento ter provocado seus efeitos entre a juventude da época, Hitler, na Alemanha, pregava a sua ideologia nazista e que atravessou fronteiras, chegando também ao Brasil. Influenciou jovens aqui e, entre eles, o meu pai e o tio Willy, que em 1939

    voltaram à pátria servindo ao exército nazista, sacrificando suas vidas, e como se dizia, em cumprimento do dever. O corpo do tio Willy nunca foi encontrado. A respeito desses fatos da Segunda Guerra Mundial, farei o relato no capítulo 2, inclusive a minha tumultuada infância em Wernigerode, Alemanha.

    Os anos 30/40 foram marcados pelo intenso trabalho na lavoura e olaria em Matador.

    No transcorrer desses anos aconteceram os primeiros casamentos: Hugo Fischer e tia Hilde, Wilhelm Rauch e tia Selma e meus pais Johannes e Gertrud. Esse casamento aconteceu em 21 de junho de 1938: casamento nº 807 no Registro Civil Arcângelo Bazzanella de Rio do Sul-SC. Os namoros sempre aconteciam na casa dos meus avós maternos e os passeios nos arredores, geralmente de bicicleta. Conforme o costume da época, os homens sempre se apresentavam de terno e gravata. Tem muitas fotos do meu pai atestando isso.

    Quando hoje visito aquela região, hoje chamada de Bela Aliança, posso imaginar como era intenso e movimentado o ambiente dos Hasse, as fotos e as informações prestadas por minha mãe, já falecida e a tia Hilde, agora com quase 96 anos de idade.

    A seguir, mais fotos dos pais e do avô materno.

    22

    Só sei o sobrenome desse amigo do meu pai, Süzenbach. Mas, segundo a informação de minha tia Hilde, eles foram muito amigos na região de Taboão e Matador.

    A construção da linha férrea na região foi uma obra desafiadora, um verdadeiro teste da engenharia da época, que na primeira etapa ligava Blumenau a Rio do Sul. Mais tarde se estenderia até Trombudo Central e bem mais tarde, com poucos anos de duração, até Itajaí.

    Antes ainda, foi construída uma outra linha, ligando Subida a Ibirama. Era a principal via de acesso à região para escoamento e suprimento de produtos. As estradas eram muito precárias, especialmente em tempo de chuvas.

    23

    Na minha adolescência, quando retornamos da Alemanha e morávamos em Blumenau, fiz muitas viagens de trem até Matador, na época das férias escolares e também depois de casado. A EFSC encerrou suas atividades nos anos 70.

    E s t a f o t o é d e 1 9 2 7 –

    E s t a ç ã o F e r r o v i á r i a d e R i o

    d o S u l ( d o a t u a l M u s e u

    A r q u e o l ó g i c o e F o t o g r á f i c o )

    F o t o d a E s t a ç ã o d e M a t a d o r

    À d i r e i t a , m e u p a i e à

    e s q u e r d a p o s s i v e l m e n t e

    d o i s t i o s

    base da economia na região de Rio do Sul foi a extração e exportação de madeira que também se estendia pela região serrana de Lages, Curitibanos e Caçador, principalmente.

    Como não houve diversificação de outras indústrias, com a extração indiscriminada da madeira houve um retrocesso anos mais tarde por falta da matéria prima, Rio do Sul e adjacências pararam no tempo.

    Inclusive em Matador existiam madeiras de lei, canela e peroba, extraídas até os anos 70. A principal madeireira era da família Swaroski, e consta que o velho Swaroski possuía ouro guardado em casa, era a conversa ao redor da grande mesa dos avós.

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    A minha casa e a do César aqui em Blumenau foram construídas com madeiramento vindo daquela região. Normalmente as toras de madeira eram tiradas da mata por tração animal: junta de bois e mulas que possuíam mais força do que os cavalos.

    Não tenho muitas referências, mas meu pai trabalhou durante algum tempo na serraria do Sr. Germano Nau, em Taboão. O tio Joseph trabalhou um tempo numa cerâmica e depois na firma H. Brehmer, que ainda existe atualmente. O tio Heinrich trabalhou na Metalúrgica Riosulense, em Rio do Sul. Assim, a família Hartmann desenvolvia a sua vida em Taboão e Rio do Sul, enquanto a família Hasse, constituída pelas bisavós, avós, tios e primos, residiam e atuavam em Matador, hoje conhecida por Bela Aliança.

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    O meu bisavô Reinhold Hasse completou 100 anos e alguns meses de vida. O seu centenário foi dignamente comemorado e houve uma celebração religiosa na Igreja Evangélica de Matador. Tive o privilégio de participar. Outros detalhes constarão no capítulo 3. Pelo que me foi possível saber através de conversas com parentes mais idosos, a vida na roça se desenvolvia com muito trabalho árduo, enfrentando todas as asperezas típicas da região. Por certo era um tempo de esperanças, sonhos e desventuras. Esperanças de vida melhor, tudo era valorizado, pois nada se conseguia com facilidade, como nos dias de hoje.

    O dinheiro era escasso, a moeda corrente na época era o réis, mais tarde o cruzeiro, que permaneceram juntas por vários anos. Sonhos para alcançar metas, constituir família, adquirir terras e construir suas casas. As desventuras nesse processo todo também eram evidentes, nos infortúnios posteriores, especialmente nos acontecimentos gerados pela Segunda Guerra Mundial, onde anos mais tarde entes queridos pagariam com a própria vida pelo infeliz e enganoso ideal nazista. Como já destaquei anteriormente, Hitler fez ecoar entre os jovens alemães espalhados pelo mundo e, em especial no sul do Brasil, a sua ideologia e que encontrou alguma receptividade, levando muitos a aderir ao chamado do nazismo, entre os quais, meu pai e o tio Willy.

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    Ainda alguns fatos ocorridos na região de Taboão, Matador e Rio do Sul antes dos preparativos dos meus pais e tio Willy para o embarque para a Alemanha em 1939.

    No dia 21 de junho de 1938 foi feito o registro civil do casamento dos meus pais, sob n°

    807, fls 283 do livro nº 7, perante o juiz Viriato A. Garcia em Rio do Sul. Ao que me foi dado a saber, a cerimônia foi bem simples e passaram a morar em Taboão durante algum tempo.

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    C a s a m e n t o d o s m e u s p a i s . A s t e s t e m u n h a s r e c o n h e c i d a s s ã o : F r i t z

    S ü z e n b a c h , H e l g a K o p p e l k e , H e l m u t h S c h l u p p , I n g e M a i e r e H e i n z

    M e i n e c k e

    A vida no sítio ou na roça, como era mais conhecida, era de intenso trabalho, de sol a sol, com muitos sacrifícios. Nos fins de semana os passeios e o lazer se desenvolviam especialmente na propriedade dos meus avós maternos, como atestam as diversas fotos, algumas das quais estão aqui expostas. Apesar disso, a vida era saudável, simples, alegre e repleta de brincadeiras sadias. Lógico, a juventude não tinha muitas outras opções tecnológicas, pois os automóveis eram raros, não havia jogos eletrônicos e possuir um rádio e um toca disco era um luxo. Assim, a diversão era ao ar-livre. As tardes de domingo eram ocupadas com a visitação das famílias, terminando sempre com um bom café da tarde, servido com cucas (streuselkuchen). Também tinha a pescaria e banhos no rio ou nos riachos que cruzavam as terras dos agricultores. Aprendia-se a nadar a duras penas e até com um certo risco. Anos mais tarde eu também aprendi a nadar nos riachos, me lançando de um lado para o outro. Era bem divertido, mas sempre alvo de preocupação constante.

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