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Na Alma Das Horas
Na Alma Das Horas
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E-book372 páginas2 horas

Na Alma Das Horas

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Sobre este e-book

João Baltezan Ferreira é dessas vozes que muito precisam ser ouvidas. No caso deste livro, lidas. Por isso, necessitamos acompanhar atentos a ampulheta viva que é estes ensinamentos presentes em Na Alma das Horas mosaico que forma o grande painel da radiodifusão do Rio Grande do Sul. No pelotão desbravador, seguiu forte e poderoso o trabalho do caçapavano, comunicador, empresário e advogado, João Baltezan Ferreira. Um jovem que começou como office boy na Rádio Caçapava, posteriormente foi seu diretor, e, enfim, proprietário. Arrojado investidor, viria, com o tempo, somar outras rádios na região. Hoje, aos 90 anos de vida e de ensinamentos, vem narrar, pela alma e luzes das horas, sua vida inteira de homem das comunicações. Uma voz a ser sempre ouvida e, agora, lida. Rossyr Berny – editor Da Academia Rio-Grandense de Letras Prêmio Açorianos de Literatura
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de jul. de 2023
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    Pré-visualização do livro

    Na Alma Das Horas - João Baltezan Ferreira

    In memoriam de Cezário Alves Ferreira

    (Zarico, meu pai)

    O melhor sapateiro que conheci. Seu ideal político era o PL – Partido Libertador, que defendia o regime parlamentarista. Fica minha pergunta: será que um dia o Brasil terá de fato, e de direito, um regime parlamentarista? Em homenagem ao meu pai, dedico-lhe este poema: 

    Este trapo colorado,

    que altaneiro se desfralda

    nas coxilhas de esmeralda,

    encarna, quando esvoaça,

    de sol pampiano tingido,

    o caracu de uma raça

    e a doutrina de um partido.

    Invocação, Juca Ruivo

    membro do Partido Libertador

    Florisbela Baltezan Ferreira (minha mãe)

    A Florisbela Baltezan Ferreira, minha saudosa Mãe, Fé, família, determinação e parmanente otimismo frente aos desafios da vida e de suas surpresas.

    Homenagens à amada família:

    Encontrá-la e merecer seu amor, dedicação e cuidados, o caminho de minha vida foi de plena felicidade e de realização pessoal. Obrigado por tudo, querida Odaléa.

    Considero a formação da minha família um momento e um acontecimento de plena e rara felicidade.

    Letície, Luciane, Fabiane, João Baltezan Ferreira e a matriarca da família, Odaléa Mendonça Ferreira.

    Não há dúvida de que é junto da família e do lar que todas as maiores virtudes, as virtudes mais dominantes da sociedade humana, são criadas, fortalecidas e mantidas. – Winston Churchill

    Meus netos: Bernardo Borchardt e Bibiane Ferreira Tarasconi.

    Minha querida neta Bibiane Ferreira Tarasconi e Adrien Lespinasse, seu companheiro francês. Presença da Odaléa.

    Apresentação

    Alerto meus possíveis leitores que não se trata de uma biografia. Nada mais são do que fragmentos, relatos, fatos, acontecimentos e reminiscências que, para sorte minha, me fazem extremamente feliz em evocá-las, não obstante a já avançada idade, elas permanecem preservadas em minha memória.

    Destina-se, este modesto trabalho, de modo especial, em um agradecimento e reconhecimento sincero a pessoas que, ao longo de minha caminhada, já bem no início da mesma, foram solidárias e amigas. Pois, sem o apoio das mesmas, em meu juízo e julgamento, não teria conseguido materializar os principais objetivos que me animaram e me orientaram quando, no longínquo ano de 1948, com quinze anos de idade, deixei a casa paterna na busca de uma realização pessoal.

    Devo, não posso olvidar, com sentida emoção, que os primeiros momentos foram, diria com nítida lembrança, o verdadeiro início da jornada. Os dias e os anos em que vivi no modesto e honrado lar de meus saudosos pais.

    Dentro do possível, de forma sucinta, relato fragmentos e acontecimentos daquele período que hoje, mesmo tantas décadas passadas, me é lícito afirmar e dizer que vivi aquele período, não obstante muito longo, pois como já afirmei, aos quinze anos de idade deixei a casa de meus pais para ir ao encontro de meu destino. Aqueles dias, aqueles anos, poucos, é bem verdade, entretanto, foi um dos períodos mais felizes de minha vida. Diria, sem medo de errar e sem exagerar, que vivi em um mundo mágico.

    Nasci no dia 10 de fevereiro de 1934, segundo me disse minha saudosa mãe, em torno de 10 horas da manhã. Sou do signo de Aquário, dizem, os que se dedicam ao estudo dessa matéria, que os aquarianos são pessoas que estão sempre olhando e agindo em relação ao futuro. Não cabe a mim, leigo no assunto, depor sobre a veracidade dessa afirmação. No meu caso, talvez, em certo sentido, esta assertiva tenha algum mérito, pois sempre foi uma preocupação de minha parte olhar sempre para o futuro, mas jamais esquecer o presente. Entretanto, isto é outra história...

    Ao recordar os fatos da década de 1940, quando o mundo mergulhou na mais devastadora e cruel Segunda Guerra Mundial, me vem à memória e, mesmo agora tantos anos passados, sete décadas, a imagem bucólica, tranquila e acolhedora de uma cidade onde o relógio assinalava as horas, é claro, mas, na prática e na realidade, as pessoas não tinham preocupação exagerada com a equação da realidade do tempo matemático das horas.

    É, pois, deste tempo, no qual as pessoas, em sua maioria, se reconheciam pelo nome, se cumprimentavam e quando existia um acentuado sentimento de solidariedade nos momentos de perdas de familiares, parentes e amigos e também de notícias de acontecimentos marcantes, de alegria e de felicidade no cotidiano dos habitantes da localidade. Estou a falar, e não poderia ser de outra maneira, da minha sempre amada Caçapava do Sul, onde felizmente nasci.

    Primeiro jornaleiro do jornal Folha do Sul. Da esquerda para a direita: João Baltezan Ferreira, Mathias Medeiros (proprietário do jornal), Cândido Torres Marques (Candoca), Carlos Magno Torres Marques (Chico), Roberto Salcedo Penha).

    Um projeto de publicação 

    Há muito tempo alimento a ideia de publicar uma obra, modesta, é bem verdade, por certo nada brilhante no que diz respeito ao conteúdo cultural, mas objetiva, sucinta, com relatos, episódios e fragmentos de minha já longa caminhada, de modo muito especial na área da comunicação, no campo da radiodifusão em nosso glorioso estado do Rio Grande do Sul. Tenho fé em publicá-la, pois a realidade é que os custos da publicação de um livro são sempre desafios financeiros a serem superados. O título da obra a que me refiro seria: João Baltezan Ferreira – Fragmentos de uma Longa Caminhada de Vida na Alma das Horas.

    Devo salientar que este título não é de minha autoria, mas de uma pessoa que me honra com sua amizade e incentivo: a Doutora em Filosofia Melina Duarte, ilustre filha da histórica cidade de Vacaria, no nosso Estado. Atualmente, a Dra. Melina Duarte é professora em uma importante universidade na Dinamarca.

    Na verdade, nesta modesta obra, pouco tenho a falar de minha pessoa, mas muito, muito mesmo, de pessoas que estiveram ao meu lado, solidárias, amigas, que me estenderam a mão de apoio para tudo aquilo, no pouco, em verdade, que consegui realizar na minha vida pessoal e profissional.

    Destas pessoas, muitas já não estão mais em nosso convívio físico, mas, na minha memória, na minha saudade e na minha gratidão, elas estão presentes e me acompanharão até o final de minha caminhada.

    Pretendo falar de Caçapava do Sul, quando, nos idos de 1949, um guri saiu de sua casa paterna, em busca de sua realização pessoal, numa caminhada ao encontro de seu destino. Há de ser, entretanto, uma mensagem de fé e de firme crença em valores positivos, da importância e do respeito que devemos ter com a vida, da confiança, da justiça, e do amor pela liberdade.

    Caçapava do Sul estará sempre no centro, no coração, do conteúdo da obra.

    O sino

    Por quem os sinos dobram, Hemingway

    Ainda está presente, lá no recôndito de minha já idosa e cansada memória, o som metálico, compassado, contínuo, solene, persistente, do sino de nossa igreja matriz; ela, altiva, a nossa igreja, sempre acolhedora, majestosa e grandiosa em sua arquitetura e profundamente silenciosa e acolhedora em seu interior.

    É da década de 40 – nasci no ano de 1934, em fevereiro, no dia 10 –, é de quando eu tinha cerca de 10 anos que guardo a lembrança e o significado do sino de nossa matriz.

    O sino, neste período que estou a lembrá-lo, tinha o poder, a missão, a função, a condição de fazer parte do cotidiano da vida de cada habitante da pequena e bucólica Caçapava do Sul, de gente simples e modesta, mas acolhedora e consciente do valor histórico de sua terra.

    Ao meio-dia ouviam-se as doze badaladas anunciando o significado do horário. Já às 18h era o momento do dia que sempre fez parte da vida dos que criam, dos que mantinham a fé, pois era um momento esperado e solene, de profunda reflexão espiritual. Estou me referindo à Hora do Angelus, a hora da Ave-Maria.

    O sino, para mim, era o centro, o relógio que registrava e anunciava todos os acontecimentos mais importantes da comunidade de Caçapava do Sul.

    Estou certo que, ao lembrá-lo e buscá-lo lá no fundo de minha memória, estou buscando não esquecer do seu significado, principalmente espiritual, ou seja, o sino da igreja matriz de minha terra, pois, em verdade, sempre foi um símbolo da presença da fé e de todos os valores que nela estão contidos.

    * * *

    Igreja Matriz Nossa Senhora da Assunção, em Caçapava do Sul.

    No início desta crônica lembrei da obra de Hemingway, que indagou e lembrou por quem os sinos dobram. Eles sempre lembram que, nesta época, Caçapava do Sul era realmente uma pequena cidade e o sino, de modo geral, era ouvido por significativa parcela de sua população.

    Quando alguém partia deste mundo, era ele, o sino, que anunciava o triste evento, e suas badaladas traduziam no som que emitiam o significado irreversível do acontecimento.

    O sino estava presente em todos os acontecimentos da vida daquela minha Caçapava do Sul de onde, aos 15 anos de idade, parti para encontrar meu destino em busca de uma realização pessoal; não obstante ter ido embora, a imagem do sino me acompanha até hoje. 

    Indago-me o porquê de estar eu a lembrar de fatos ocorridos a mais de sete décadas, desde o tempo em que vivi em Caçapava do Sul, creio que um dia eles dobraram, talvez por mim, mas espero que seja o sino da igreja de minha terra.

    Caçapava

    Eterna recordação de um passado distante a relembrar nas muralhas do seu Forte, nas ruínas de suas fortificações, no Cerro da Vigia, no Passo da Guarda Velha, as lutas pela consolidação das fronteiras meridionais da Pátria, nos dias gloriosos do despertar da nacionalidade.

    Nicolau Abraão

    Reminiscência

    Da esquerda para direita: Chico, Avó Maria Joana Baltezan, Madrinha Joca, Padrinho Arnaldo Vale e João Baltezan Ferreira.

    Recordar, lembrar, já dizia o imortal Machado de Assis: é vício de memória velha. Assim, na linha do tempo, lá bem no mais recôndito do baú de minha memória, recordo, com sentida saudade, e profunda admiração, a pessoa da vó, a mãe de minha mãe.

    Maria Joana Baltezan, casada com João Baltezan, pai da mãe. E a profissão de meu avô, seu modesto meio de vida, foi uma das mais antigas atividades no passado de nosso Rio Grande do Sul, ou seja, o vô era carreteiro. Em nossos dias atuais, tenho conhecimento de que apenas o município de São Gabriel ainda mantém viva essa tradição que fala muito alto do passado distante de nosso glorioso Rio Grande do Sul, mas como estou falando de memória e lembranças de tempos idos, ainda recordo, até mesmo com emoção, o nome dos boizinhos da carreta do vô, um se chamava Trocado e o outro, Colorado.

    A vó foi mãe de doze filhos, nenhum dos oito filhos homens sobreviveu, faleceram ao redor de três anos de vida, e, assim, a família ficou centrada e organizada de quatro filhas mulheres, uma delas veio a ser minha mãe, de nome Florisbela.

    A vó tinha um porte esguio, aparentemente frágil, mas era apenas uma aparência, pois ela tinha uma personalidade bem definida, uma característica própria sua, ou seja, a vó ostentava um comportamento de austeridade, pois era uma pessoa bastante reservada.

    A vida de minha vó, a não esquecer de tantas perdas de entes queridos, teve uma existência de assinalada carência de bens materiais, pois tanto meu avô como ela eram pessoas bastante pobres.

    Tendo em vista que meu avô tinha a profissão de carreteiro, normalmente estava viajando, especialmente para a cidade de Cachoeira do Sul, com sua humilde carretinha, para trazer encomendas ao comércio de Caçapava do Sul. Esta viagem de ida e volta levava quase um mês, pois a distância é de aproximadamente 90 km.

    Devo ressaltar que as filhas sobreviventes muito cedo deixaram a casa dos pais em busca de suas realizações pessoais; assim, a vó tinha que conviver por longos dias com a solidão em face da profissão do vô.

    Até hoje não me sai da memória a humilde casa dos meus avós, localizada bem no local onde se situa a funerária Caçapava. Guardo em meu arquivo uma antológica foto de sua casinha que não tinha luz elétrica, não dispunha de água encanada e cujo interior era de chão batido de terra e por conta do poço ao lado da casa, de onde ela tirava a água, era para mim, sempre que ia visitá-la me era um momento de pânico, pois eu tinha que passar bem ao lado do mesmo.

    Ao recordar de sua casa não posso me esquecer de quando ela tinha que preparar os alimentos, pois o fogão era constituído de tijolos e de uma chapa de ferro, e a tarefa de fazer com que a lenha se transformasse em fogo quando esta estava úmida era das mais ingratas. Até hoje me lembro dela soprando, muitas vezes com os olhos embaçados pela fumaça.

    Nos dias atuais, até as mais humildes das pessoas, quantos bens modernos têm em uma cozinha: fogão a gás, geladeira, máquina de lavar, lavadora de louça, e por aí vai.

    Devo destacar que minha avó via com muita reserva, e até mesmo desconfiança, pessoas que sempre estavam a transferir aos outros seus problemas pessoais.

    Muitas vezes, para lhe fazer companhia, eu ficava em sua casinha. Determinada ocasião, sugeri a ela que fizesse rapadurinhas que eu iria vender na cidade, mas lembro-me muito bem que acrescentei: Vó, faça rapadurinhas de amendoim, porque aqui na cidade tem um guri, como eu, e seu nome é Amauri, e ele vende rapadurinhas de leite que sua mãe fabrica, e o nosso pessoal, em Caçapava do Sul, aprecia que sejam de amendoim. E pensei, embora minha pouca idade, que isto ia fazer a diferença.

    Até hoje lembro do Amauri por uma circunstância muito especial: ele era loiro, de olhos azuis; em nossa terra, pelo menos naquela época, era muito difícil de encontrar uma pessoa com essas características.

    Com relação à história das rapadurinhas, em que eu me transformei em um bom vendedor, esta é uma história para outra ocasião.

    Ao final desta crônica, lembro e relato uma expressão da vó que me marcou muito pelo seu conteúdo inusitado, quando ela, lembrando de alguém que eu desconhecia, disse que tal pessoa se tratava de um mata-pasto.

    Intrigado, indaguei: Vó, o que é uma pessoa mata-pasto, afinal? E nunca me esqueci do que ela me disse: É uma pessoa, meu filho, que, pela sua natureza, onde pisa não nasce nada, e, muitas vezes, termina com aquilo que outros construíram; são pessoas que se deve evitar.

    Devo esclarecer que muito cedo deixei a nossa terra, por volta dos 15 anos, mas neste período nunca ouvi alguém usar essa mesma expressão de minha vó.

    Um fato cujo registro considero da maior importância é que minha vó, ao término de sua vida, contou com o apoio, a estima e o carinho de suas filhas em sua própria casa, mas outras vovós pobres, ou mesmo ricas, não têm a mesma sorte e o mesmo destino por esse Brasil afora, uma vez que ficaram, ou em asilos, ou casas de geriatria, muitas esquecidas por seus familiares. Essa situação é lastimável, pois um idoso, ao final de sua vida, o que mais precisa e quer é carinho e amor.

    Ao término desta crônica em que lembrei de minha querida avó, Joana Baltezan, para mim uma mulher de fibra

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