Spanholi: Uma História: Quelo & Mínica
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Sobre este e-book
A motivação de quem migra nessas circunstâncias dá forças para enfrentar os mais difíceis obstáculos. Foi o que aconteceu com a colonização do Rio Grande do Sul.
Quase um século depois, por outros motivos e circunstâncias, a família de Quelo e Mínica vivenciou também sua crise e, movida pelo mesmo DNA dos pioneiros, soube superá-la, saindo dela mais fortalecida.
Este livro se propõe a mostrar às novas gerações o exemplo de uma família que enfrentou momentos difíceis e soube superá-los e que há sempre uma porta de saída quando existe convivência harmônica, atitude e determinação.
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Pré-visualização do livro
Spanholi - Valdir Spanholi
© Valdir Spanholi 2016
Produção editorial: Vanessa Pedroso Revisão: 3GB Consulting
Capa: Editora Buqui
Torre da capa: La Torre Isso
Foto contracapa: Portal de Castelleone
Fotos de abas: Irene de Figueiredo Santos
Editoração: Cristiano Marques
Produção de ePub: Cumbuca Studio
CIP-Brasil, Catalogação na fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
S724
Spanholi uma história: Quelo & Mínica / organização Valdir Spanholi.
1. ed. | Porto Alegre, RS | Buqui, 2016. 160p. | 21 cm
ISBN 978-85-8338-330-7
1. Spanholi (Família). 2. Italianos Brasil História. I. Spanholi, Valdir. 16-38249 | CDD: 929.2 | CDU: 929.52
29/11/16 |01/12/16
Todos os direitos desta edição reservados à
Buqui Comércio de Livros Digitais Ltda.
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Porto Alegre | RS | Brasil
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AGRADECIMENTOS
Quando pensamos em escrever este legado histórico da família, não tivemos dúvida alguma de que precisaríamos destinar um momento de gratidão à família Gradin. Em um primeiro momento, seu Arlindo Gradin e sua esposa, Dona Ana, nos estenderam as mãos para nos resgatar do fundo do poço em que nos encontrávamos, no momento mais difícil da vida de nossa família. Seu Arlindo viu em nós qualidades que não acreditávamos que tínhamos e nos propôs morar em suas terras como meeiros, agregados, sócios, parceiros...
Seu Arlindo Gradin, pessoa de infinitas qualidades morais, sociais e políticas, cuidou ainda do futuro da família ao conseguir uma bolsa para que nosso irmão Valdemar prosseguisse os estudos, oportunidade que traçou um novo rumo para a família. As lições de humildade e cultura familiar especiais nunca permitiram que houvesse qualquer distanciamento de ordem social e econômica entre os filhos das duas famílias. Seus filhos, Miriam, Neusa, Carlos e Paulo, construíram trajetórias comuns e estabeleceram laços de amizade e convivência que até hoje permanecem vivos.
Nosso especial agradecimento ainda a Vanessa Pedroso, da Editora Buqui, uma profissional dedicada, competente e interessada. Para quem escreve uma primeira obra literária, foi muito bom sentir-se amparado por uma profissional com essas qualidades. Obrigado, Vanessa!
PREFÁCIO
POR QUE ESCREVER UM LIVRO DE FAMÍLIA?
Como surgiu a ideia de escrever este livro? Dizem que com a idade começamos a ter reminiscências. É o caso. Um irmão escreveu um texto, outro irmão, mais um, depois outro e outro... Materializaram-se aí lembranças fortes, pessoas, fatos, lugares, brinquedos e brincadeiras, decepções e alegrias.
Nesse mosaico de lembranças e fatos, naturalmente surgiu uma história que entendemos valeria a pena ser contada. Para que e para quem contá-la? Temos três fortes motivos para isso:
Num mundo tão carente de moral e bons costumes, os valores cultivados em nossa família são um legado importante para nossos descendentes;
A forma como enfrentamos as dificuldades vividas pela família, retratadas neste livro, e a sua superação, devem servir de alento para as futuras gerações;
E por fim, um objetivo prático: que os descendentes futuros e longínquos encontrem aqui um caminho para encontrar seus antepassados e sua história.
Este livro está sendo escrito com muitas mãos, fato que bem caracteriza o espírito de união da família formada pelo seu Quelo e dona Domingas. Numa primeira parte, temos a história vivida pelo pai, a mãe e seus seis filhos. Na sequência, a história de vida de cada um de seus filhos até os dias de hoje. E o que queremos deixar é o exemplo de luta da família e de cada um dos filhos para suplantar as dificuldades, sem nunca esmorecer, em busca de dias melhores, realização pessoal e profissional.
Incluímos, na parte final, um anexo chamado A saga da Família Spanholi
, um apanhado sucinto das agruras, do sofrimento e, por que não, da aventura da vinda dos pioneiros Spanholis ao Brasil.
Em meio a esses relatos, pequenos textos (às vezes um pouco caricaturados) escritos por cada um de nós contextualizam com fatos, personagens e costumes essa trajetória.
Ainda, algumas páginas com fotos mostram uma família linda (ou nem tanto) e feliz – espírito que sempre nos norteou, apesar das dificuldades.
Este livro será distribuído a todos os descendentes do Quelo e da Domingas, nossos pais, para que seja um elo com as futuras gerações.
SUMÁRIO
Lajeadinho – o berço (1954)
A casa da Nona
Marmeleiro – São José do Ouro (RS) (1954-1958)
Tia Cota e tio Berto
O protótipo
Barracão (RS)
O jogador
Vila de Marmeleiro – Barracão (RS)
O rádio - diversão e drama nas ondas média e curtas
A superação
O nosso pai é um subversivo
Andando com nossas próprias pernas
Um casal quase perfeito
Quelo
O canivete do pai
Seu Quelo, o polivalente
O dia em que quase chorei
Homenagem a uma mãe única
Terezinha
Neuro
A pinguela do amor
Valdemar
Meu irmão, Roberto Carlos!
Pedro
Guerra na selva
O andar do bêbado ou meu anjo da guarda
Autoajuda
Um tiro na água
Valdir
Na contramão
O contador de causos
Adélio
Primeira mensagem aos servidores, em janeiro 2005
Discurso de entrega de mandato 1° de janeiro de 2013
A Família Spagnoli
Anexo: A saga italiana – Família Spagnoli
LAJEADINHO – O BERÇO (1954)
Lá no alto da encosta, papai arava a terra que receberia a semente para a colheita seguinte. E se o tempo ajudasse com chuvas e calor necessários, ao fim de seis meses teria o resultado de seu trabalho na roça. Mas não era esse o pensamento que o absorvia por inteiro naquela manhã, e sim a proposta que recebera do nosso tio Bidjo (Luís) em sua visita no dia anterior.
Naquele dia, ao tomar o café da manhã, confessara à mamãe que passara a noite "olhando as tabuinhas¹ pensando no convite de seu irmão. Sua aceitação mudaria por completo o rumo de sua vida e da de sua família.
Tio Luís viera convidá-lo para ser sócio de um armazém de secos e molhados que possuía na localidade de Marmeleiro, hoje município de São José do Ouro.
Agora, enquanto dava um descanso para a junta de bois que puxavam o arado, aproveitou para fazer um cigarro. Tirou do bolso o fumo e a palha de milho, cortou-o, enrolou na palha e acendeu-o com a brasa do toco de árvore apodrecido. Onde o pai estava era fácil localizá-lo, sempre haveria uma fumaça de um tronco queimando. No alto da roça onde estava, visualizava o vale em que a família Spanholi se localizou quando veio de Vila Jansen, primeiro reduto da família no Brasil. O vilarejo, chamado de Lajeadinho, mesmo nome do riacho que ali passava, poderia bem ser chamado de Vila Spanholi. Ao longo da estradinha que unia aos vilarejos próximos, todos de colonos italianos, à direita e à esquerda situavam-se a casa da nona Ângela, sua mãe, de seus irmãos Fredolino (Fredo) e Mário. Logo adiante, em direção à comunidade de Santo Antônio, situava-se a casa do tio Domingos. Um pouco antes estava a nossa casa, que fazia limite com as terras de Rafael Dalmoro. Abandonar o Lajeadinho, onde crescera, casara e constituíra família, significava também afastar-se de sua mãe, seus irmãos, parentes e amigos. Iniciar uma atividade nova para quem sempre viveu na roça e da roça era uma guinada e tanto na vida. O pai nunca foi um homem arrojado e de tomada de decisão fácil. Assim, aquela proposta do seu irmão Luís lhe causava muitos pensieri
e preocupações. O cachorro Tubarão, seu fiel escudeiro nas lides da roça, pareceu entender sua angústia naquele dia e veio junto a ele abanando o rabo, faceiro, como a dizer que, qual fosse a decisão, ele queria estar junto.
A conversa daquela manhã com a Mínica (abreviatura de Domingas), como carinhosamente chamava a nossa mãe, dera um norte a seus pensamentos. Dissera ela Cosa femo qui com tuti queste fioi e poca terra?
– o que fazemos aqui com todos estes filhos e pouca terra?
. Mamãe era uma mulher pragmática e com visão de futuro; em vários momentos de nossa vida familiar, coube a ela, junto com nosso irmão Neuro, tomar as rédeas e dar rumo a nossa vida.
Transcorria o ano de 1954, e a família já estava formada. O nosso irmão mais novo, Adélio, já estava com 3 anos, e aí seguia uma escadinha com três anos de intervalo: Valdir, Pedro, Valdemar, Neuro e Terezinha (apenas os dois mais velhos com dois anos de diferença).
E assim foi. Depois de muitos pensieri
e conversas com mamãe e irmãos, a decisão foi tomada: venderíamos a terra, juntaríamos alguns trocados poupados ao longo de anos de trabalho na roça e mudaríamos de moradia e de atividade. Pelo menos por dez tumultuados anos, deixaríamos de ser colonos e seríamos comerciantes. Nesse período, experimentamos o topo e o fundo do poço. Fomos comerciantes, donos de churrascaria, sem atividade nenhuma, agregados, comerciantes, moinheiros, até colocarmos os pés novamente na terra firme e conhecida da agricultura.
Na realidade, esta é uma foto recente da casa da Família Guero. Casa dos pais da Nona Angela Guero. Em tudo, lembra a Casa da Nona tão presente na memória de seus netos e bisnetos. Inclusive com as colmeias de abelhas presas à cumeeira.
Acreditava-se que as colmeias eram sinal de abundância.
A CASA DA NONA
Vocês lembram como era a casa da nona? ...Eis aí um bom exercício, até porque nos traz saudosas recordações. Então vamos lá! Voltando no tempo...
Para nós, meninos do Lajeadinho, a casa parecia imensa. Entrando pela cozinha, num plano mais baixo, tinha a túlha² com cereais: arroz, feijão, farinha... Uma pia donde saía uma canaleta para um pequeno chiqueiro elevado do chão. Por lá descia a lavagem, cascas de mandioca, de abóboras, morangas, frutas e legumes... Direto para o focinho do porco de engorda da vez, que logo se transformaria na indispensável banha, em suprimento de carne, salame, morcilha, toucinho, torresmo e até sabão, com aquilo que não era aproveitado como alimento. Subindo um degrau, estava a cozinha. Fogão, caixa de lenha com tampa servindo também de banco, um paneleiro com base triangular, estreitando-se na parte superior, e uma mesa suficiente para acomodar a grande família.
No porão, entre tantos utensílios, uma grande pipa de vinho com uma