Verdadeiros Poemas De Bosta Satânica
()
Sobre este e-book
Autores relacionados
Relacionado a Verdadeiros Poemas De Bosta Satânica
Ebooks relacionados
Tempo de Ti Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDe Volta às Paisagens Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEncontro Das Letras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasParalipse Do Paradigma Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFrutos Do Éden Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÓpio Poético Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOlhares Nota: 0 de 5 estrelas0 notasReflexões Ausentes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Peso Do Mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAntijogo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCastelos E Corações De Papel Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSubversivamente Poético Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPaixão em Versos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Vagas notícias de Melinha Marchiotti Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVozes da Alma Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPríncipe da noite: Sete mulheres e meia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Teu Silêncio Gritou Nota: 0 de 5 estrelas0 notasColírio Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBurkianas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFlores de Inverno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPáginas Perdidas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNuances emocionais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoesias esquecidas: Volume 3 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTravessia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Viagem Do Signo Marrom Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHodie Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTraiçoeira É A Carência, Que Enfeita O Pecado. Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAquilo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCom A Consonância De Cérbero Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Filosofia para você
A ARTE DE TER RAZÃO: 38 Estratégias para vencer qualquer debate Nota: 5 de 5 estrelas5/5Minutos de Sabedoria Nota: 5 de 5 estrelas5/5Em Busca Da Tranquilidade Interior Nota: 5 de 5 estrelas5/5Entre a ordem e o caos: compreendendo Jordan Peterson Nota: 5 de 5 estrelas5/5PLATÃO: O Mito da Caverna Nota: 5 de 5 estrelas5/5Aprendendo a Viver Nota: 4 de 5 estrelas4/5Sobre a brevidade da vida Nota: 4 de 5 estrelas4/5A voz do silêncio Nota: 5 de 5 estrelas5/5Tesão de viver: Sobre alegria, esperança & morte Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Príncipe: Texto Integral Nota: 4 de 5 estrelas4/5Viver, a que se destina? Nota: 4 de 5 estrelas4/5Você é ansioso? Nota: 4 de 5 estrelas4/5Baralho Cigano Nota: 3 de 5 estrelas3/5Além do Bem e do Mal Nota: 5 de 5 estrelas5/5Aristóteles: Retórica Nota: 4 de 5 estrelas4/5Política: Para não ser idiota Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Livro Proibido Dos Bruxos Nota: 3 de 5 estrelas3/5Platão: A República Nota: 4 de 5 estrelas4/5Tudo Depende de Como Você Vê: É no olhar que tudo começa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Sociedades Secretas E Magia Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Arte de Escrever Nota: 4 de 5 estrelas4/5Schopenhauer, seus provérbios e pensamentos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Disciplina: Auto Disciplina, Confiança, Autoestima e Desenvolvimento Pessoal Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Avaliações de Verdadeiros Poemas De Bosta Satânica
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Verdadeiros Poemas De Bosta Satânica - Marcus Gabriello
Nota
Um capeta pensativo, absorto, sentado num tronco de árvore seco, olhos fixos, perdidos além, dirigidos para o chão; na mão esquerda aprumado um tridente, na direita, palma aberta, do humano o crânio ressequido. Um verdadeiro capeta a mergulhar em vão no inferno do Mistério. Essa a capa das delícias horrorosas que exponho ao Leitor.
02.01.99
O paraíso terrestre um shopping cheio de luzes, colorido, onde minha sombra se apaga e meu corpo se reflete mergulhado no fundo do piso vitrificado percorrido sob pés de vaidosos desfiles de belas belezas.
02.01.99
Mistério é mais do que o impenetrável ao conhecimento. Mistério é projeção da inefável certeza que toma o mundo de consciências imanentes na morte e no tempo como princípio em direção a um fim não definível e não atingível entre os limites de aparecimento e ida. O Mistério é a totalidade ante o discurso singular não atingida no calabouço das palavras. É o saber da voz muda que a si mesma se projeta no fundo escuro do silêncio profundo em razão de ela ser, apenas ser, sedento ser. Assim entendido o Mistério, reina ele em obscuras regiões do espírito que desafiam apertadas paredes de ser no mundo. Desafio ante a morte. Desafio ante o tempo. Projeção para além do bem e do mal: nossas criações de pés na terra.
02.01.99
Que o mundo
De luz
É uma cápsula fechada
Vagando
No Universo
Negro
E cintilante:
Trêmulo crepitar
Assopro da boca do fogo
Tremeluz
Na duração do seu lampejo
Aqui
Lucilante fagulha
Apagada nas alturas
De coisas que mudo
O verbo não alcança
Êxtase de descoberta
Aqui
Não ocorrente.
08.12.99
Violeta
Do sinuoso cálice de sol
Aberto sorriso
Das torneadas membranas
De luz
Restou seco enegrecido empalhado graveto
Como sebo de carne decomposta
Encrostado em torno de um osso.
17.10.2018
INTRODUÇÃO
Posto que pareça confuso este gesto inicial, há nele um dizer de palavras. Vã a palavra e vão mais ainda o sentido que nela cabe. Mas não assim, pois que à procura do ideal o sonho se mergulha em si mesmo. E o fato, bem o entendes, é pouco. O fato. O fato do mundo. Apenas isto. Não apenas um fato contemplado nas tecnológicas religiões de mundo e consumo da mesma forma que contempla do deus a face aquele de todo aqui por essas coisas possuído. Não. O humano é mais do que ele aparenta ser com suas pinceladas de inteiro poder para pouca a imagem qu’ele consegue pintar no passo a passo de mundano, e delimitado, percorrer. Sabes o que absolutamente te contém? No que me concerne eu não o sei. Por isso nestas páginas algumas palavras de rompimento. Rompo com o mundo porque o mundo é pouco para mim com os seus fatos prevalecentes, às vezes insuportáveis. Não suportado o fato, pintamos no mundo o paraíso nosso de formas várias, embora ele possa acabar ali na próxima esquina porque mínima dentro da totalidade do fato uma simples decisão nossa ou de outro, atenta ou não, desgraçadamente mudou-nos a sorte no mundo. É tamanha nossa sujeição ao todo-poderoso fato que nossa felicidade ou infelicidade nada significam perante o peso do seu domínio que nos empurra para rumos que mal poderíamos imaginar. Não é meu pessimismo, pois o ruim não é absoluto para a vida desejada no cristal pulsátil do coração recheado de sangue. Não é também demasiado realismo, porquanto a realidade, em face do maior sonho que somos nós, é cerração qu’encobre as cores da primeira manhã da nossa origem, quer sejamos aqui perfeitos ou imperfeitos. De impessoal humano pronome se, indeterminado, sem a específica, e muitas vezes exigida, determinação de transparência e positiva realidade, surgem os primeiros passos de real dúvida que mais nutre nos humanos sua humanidade sem preconcebidas verdades de inteiras violências: o primeiro passo para o sentido afago consiste na suspensão de pré-conceitos que totalmente definem, acabados, a imperfeição da qual eles fogem com a sua perfeita disposição de fatos feitos e inteiros. Mas não se trata disto somente. O que se patenteia é que maior o sentimento, menor o não-existir de coisas singelas, qual uma tela de girassol de Gogh pendurada na parede do seu quarto, ele ao lado fumando cachimbo sentado na cadeira de palha, ali sozinho. Parto do seguinte princípio: a totalidade das coisas reside justamente no próprio mundo por descobrir abundante a seiva mundana, infinito o Mistério nos humanos, juntos, disjuntos, eis um fato, eis o problema. Sem mais digressões, apresento ao leitor uns novíssimos Verdadeiros Poemas de Bosta Satânica. Por que bosta? Por que satânica? Tanto gosto das minhas bostas que as defecações que faço ao menos para mim são reservas de alimento. E de Satanás tanto eu gostar que somente Nele e a partir Dele em mim Deus se revela, assim creio. Ser eu mais um desses bajuladores de Deus que intentam mostrar a verdade para criar em torno de si uma corrente de seguidores que nutrem verdes notas embolsadas atestantes do valor da Totalidade é mesmo impensável. Sou um pobre infeliz aqui no mundo e meus também pobres Verdadeiros Poemas de Bosta Satânica são apenas desafogos do autor. Por último devo acrescentar que a temporal e finita poesia que busca incansavelmente o âmago da misteriosa natureza humana já pulsa viva no núcleo do sol com sua simplicidade que sugere ao leitor sensível e receptivo alguns estreitos caminhos que ele pode utilizar para atingir o pasmo da abertura filosófica à vida de tempo e morte. No dizer diretamente funda-se a poesia simples, como aqui é expressa, com a sua estética sem adornos de ostentação de profundidade intelectual e sem regras, considerando-se que também o Mistério não tem regras. Ademais, esta poesia de corpo simples, muitas vezes quase monossilábica, pode em razão disso indicar pouco apuramento com sua percepção da natureza humana fragmentada no finito, mas reitero que tal poesia fundamenta sua estética no dizer direto ao coração. Não menos que isto a sua tenção.
18.12.98
PRIMEIRO CADERNO
Prólogo
Inventar
E escrever
É quase como
Cagar
E não limpar.
Foda-se.
Isso é bosta.
E tão bosta
Que a bosta
De verdadeiros poemas
Satânica
É bosta simplesmente.
Foda-se.
Apenas bosta satânica
De restos feita
Verdades Mentiras
Digeridas
Deuses Demônios
Vividos
Realidades Ilusões
Do coração
Ao estômago
Deuses Demônios
Verdades Mentiras
Realidades Ilusões
Fluxo da vivida
Respiração
Do nascimento à partida
Entre a vida e a morte
De pulmões carnais que
Inspiram expelem
Inspiram expelem
Inspiram expelem
Os deuses os demônios
De suas fundadas
Alegrias tristezas
Certezas incertezas
E no fim
Quem vence
É derrotado:
Apaga-se a chama
De uma vela sob um sol
Pontilhado
Perdido
No universo negro
Sem cores.
Única certeza
E alegria
O prazer de respirar
O instante
De cores criadas
Pelos deuses que se é
Contra o negror
Sem cores
Do demônio que se não é
Vela
A chama
Sob pontilhado sol
Estampado
Perdido
Em negro universo
Que recolhe todas as coisas
Em seu estômago faminto
Sem cores
Sem esperança
Sem desesperança
Única certeza
Que tudo é e não é
Quando último o bafejo
De vida
No porto da partida
Leva o barco
Ao Indefinível Oceano
Claras certezas
Claras incertezas
Mergulhadas no abismo
Das Incógnitas Sombras:
O maior medo não reside
Em saber
Ou não saber,
Mas em sermos definidos
Por aquilo
Que não podemos
Definir.
O medo humano absoluto
Reside no ser-se possuído
Pela escuridão
Que o entendimento
Não domina.
Impotente
Resta-lhe a entrega
Da vida à Morte Suma
Da partida.
Gostoso viver caminhar
Sobre o fio da navalha
Saber
Que a morte
Dissipa
Tudo o que se espera
Tudo o que não se espera
Para tornar-se grande
O sentimento
De sermos pequenos acima de nossos
Pequenos deuses pequenos demônios
E crescer ind’aqui agora
O anseio pelo infinito.
24.12.97
***
Sonho
Todo o sonho
De uma vida
É um grito de despedida
Ao encontro
De uma lua embalada
Por mariposas.
O fato de viver não é solar:
É noturno e crepuscular.
Quando a noite morre
E o sol começa a brotar despontar
O único refúgio da nossa alma
São as lembranças que guardamos
De nossos beijos nos lábios da lua.
O sol queima nossa pele.
24.12.97
***
A arte de viver
É viver a sorte
De estar
Sem ser
Na pura sorte sede
De procurar ser
O que é o ser
Na sorte de
Estar viver.
24.12.97
***
O beijo das carnes
Há um beijo salivoso
De brilho
E contemplação
No primeiro olhar
Mútuo
De seres que se cruzam
Encontrados
De extremos opostos
Da distância
Não mais separados
No primeiro olhar que mata
O vazio da solidão:
Espera do encontro
Que não chega.
Que estranho o Destino o Acaso
Em duas naturezas que s’encontram
No mundo a sombra do Mistério
Não sabermos que rumos
Para nós se traçam
De encontros e desencontros
Quando súbito a surpresa
Desce do céu
O anjo
Com espada de flamas
Acalenta e acalora
O coração triste e frio
Cirze-o rasgado;
Que estranho o Destino o Acaso
Inesperadamente mostra-se
A face de luz e salvação
No seio do inferno!
Ah vida!
Porque és surpresa e revelação
Todos os infelizes
Podem contar
Em sua desesperança
E aflição
Com o seu manto de estrelas
A envolver a iluminar
A perdição que grassa
Na Terra
De escuridão;
Porque és tão e tão
Transcendente
Ensinas a uma dolorosa
Lágrima imanente
Que suas dores eram pequenas
Ante a grandeza que ela agora sente
De ser mais e mais
Do que ela fora descrente
No nada de su’alma de penas.
Quando duas carnes se beijam
Na troca mútua de lábios
Entre si entregues e apaixonados
A saliva trocada mata
O espectro da morte.
No outro dia
Há um bebê bonito
A sorrir em seus braços
De contemplação embalado.
Esse o ideal.
26.12.97
***
Para mim
O coração da poesia
Resume-se em sofrer o desalento
Ante a real finitude
Acalentado pelo sonho que pulsa
À espera do real e verdadeiro
Que não sofra o beijo
Do tempo.
Para mim
O coração da poesia
É grito de desfalecimento
Ante a essência do sonho
Não alcançada pela voz
Que se conforta em cantar.
Para mim
O coração da poesia
Busca a eternidade
No ser frágil
Que ele é
Num mundo de morte
Que não lhe permite viver
Como ele queria.
Para mim
O coração da poesia
Sente seu sangue vazado
E tinge de vermelho
A face do Deus
Que o criou
E não lhe respondeu.
Para mim
O coração da poesia
Vive o movimento
De dias e noites
Que se alternam indiferentes
Aos corações que batem, gemem e sentem
E choram de saudade e sorriem e cantam
Até recolher-se o choro da saudade
E também o canto da alegria
E tudo misturar-se num só canto
De cinzas e restos no canto
De um túmulo.
Para mim
O coração da poesia
É choro da morte
A cantar
As coisas belas e feias
Do tempo.
26.12.97
***
Poetastros negócios
O verdadeiro poeta é aquele
Que da sua mesa de gerente
Telefona para Deus
E mata a morte
E resolve o negócio.
26.12.97
***
A arte e o tédio (fragmentos)
Para alguns
Somente isto
Dá sentido
À vida:
Arte.
Nem consegui reproduzir
E não sei
Se faço
A arte que julgo
Às vezes fazer.
Arte
O argumento
Que uso
Para usar
O tédio
Que me usa
E dele me libertar
No instante
De imaginar-me
Ser
Vivo e total.
Tédio
Cansaço do
Amarás teu próximo
Como a ti mesmo
Da mesmice
Do mesmo
No mesmo do
Amor
E valor
Que não devem
Morrer
Em nome
Das perfeitas
Coisas
Coisas
Coisas:
A Perfeição
E o Infinito
São coisas
No coração
Do tédio que vê
Repetição
Em toda a boa nova
Que o mundo pode
Revelar
A novidade
A novidade
A triste novidade
Que não mais
Encanta
Os olhos
Cansados
De novidades
Tanto
Que o mundo
Tão cheio
De formas
Novas
Perdeu a graça:
Tão feliz sou
No âmago
Da graça
De carcaças
Cá criadas
Que morro de desgraça
A desejar
Uma verdadeira
Desgraça
Dessas
Que deveras remotas
E impossíveis
Façam-me sentir
Que sou mais
Do que sou
E me salvem
Lá onde
Aqui
Jamais
Poderia eu
Salvar-me.
O tédio um clamor
De cansaço contra
A perfeita
Humanidade
Que não sou
Na qual estou.
Somente isto
Dá sentido
À vida de alguns
Cansados:
A arte
De manifestar
O desencontro
No paraíso
Dos encontros.
Arte a
Indefinição
Tornada obra
Que define
O sonho
De atingir-se
Nos outros
Que não nos deixam
Morrer.
O Deus-Artista
Modelo
Da minha
Fantasia e euforia
O tédio...
Ah! que é o tédio
Senão o rastejar
Na praia escaldante
Como lagarto
E sentir
Que minha oceânica
Amada
Oferece seus lábios e braços abraços
De infinitas águas
A desejar e sorver e tragar envolver
Aquele outro
Que a conquistou
E que não sou?!
Arte é arte
No tédio
Dos desencontros
Singulares
Imersos em sombras
De universalidade
Que permeiam
Os sonhos
Dos perdidos.
Vai assim a vida
Como a prometer
Um dia melhor
No céu noturno
De Gogh.
03.01.98
***
Escorpiões
O beijo do escorpião
Nos lábios da barata
Meter o ferrão
Nos seus intestinos
Sugar-lhe
A seiva de vida:
O humano poder
Não tem ferrão
Mas inocula anestésico
Tem próprio espírito
Que não suga
S’infiltra nos poros vazios
De perdidas existências
No chão
Que se erguem e descobrem
Um novo mundo
De salvação!
De salvação! mas preciso é
Que paguem a entrada
No pórtico do templo
A décima parte
Do salário de suor recompensada
Com lágrimas de emoção
Em nome de Deus
Tão pessoalmente humano
Que falta Ele se revirar
No céu incomodado
Com seus representantes
Abonados por histórico
Evangelho montado
Padres e pastores
Que Lhe tomaram a voz e o lugar
No terreno metafísico supermercado da fé.
Padres e pastores agradecem
Alguns pederastas pedófilos
Cornos irreduzíveis uns outros
Que na mansão de luxo adquirida
Ou sob os auspícios do conforto papal
Multiplicam o capital
Em ofertando às baratas um ideal
Tudo sobre um palco de festival
Armado por aqueles
Que em benefício próprio
Buscam dedetizar o mundo
Livrá-lo de improfícuas descrenças:
Os escorpiões salvam
Do esgoto as baratas
E Deus sofre
Pela alma de cada um
Que não soube encontrá-lO
Por meios nenhuns
Senão respirá-lO
No peido duns bumbuns
Prepotentes salvadores
Retumbantes vozeadores
Sociedades Anônimas
De excrescentes apropriadores
Revestidos do sagrado manto
Da Verdade
Sobre o fino terno de empreendedores.
03.01.98
***
Imaginação
Varado
No coração
Sob os pés da sua dama
Imagina-se o ser
Bailando além lá
E dançante
Faz do baile
A sinfonia
Que ela não ouviu.
Assim vão
Os passos da dança
De pés que percorrem
O chão de andança
Sob as tranças
Da amada
Perdido
O amante
Em fios retorcidos
Emaranhados
Fios do seu amor.
Que coisa essa coisa
Barram as grades
O vôo do pássaro
Que pena!
E penas
E penas
No ar volitando
Estourado o corpo
Estampido sonoro chumbo
A resposta
A pólvora
Ardente
Espingarda
E fumaça
E quente!
Assim vai o ser
Que aí está
Sem saber
Por que então!
Por que então ser
Na explosão
Que nos dilacera
O coração?!
Pois vai,
Já que procuras
E tudo o que almejares
É quimera em teu
Absurdo sonho
Devorado
Nos pesadelos
Da ave noturna.
Voa
Voa
Açoite!
Em tuas asas
Podadas
Para o chão
De teus pés
De andarilho
Na terra crua.
De qualquer forma
Aí está
O que não soubeste alcançar
E o que alcanças
É o som
Ecoante
Do teu falar:
Dama, abateste o pássaro
E quem sou eu
Abatido
Para definir
Teu dizer?
Portanto vamos nós
À procura de mais
E quem sabe ali esteja
O que antes não havia.
E vamos nós!
Vamos nós
Não importa aonde
Em qualquer lugar
Volto aqui
A encontrar-me
Com vagos sentidos
De coisas no mundo
Construído
Mas nuas e cruas
Palavras não bastam
E geme o sentimento
A pulsar
No coração
Um moinho de aflição.
Quem pode vai além
Como as coisas
A fluir
Na correnteza do rio
Que é e não é.
Seres tu para quê?!
Não és ser no ser
Em que pretendias ser,
Portanto vou além
Como aquém não bastasse
E tudo o que sou
É o ser
Que não sou,
Que fazer?! que fazer?!
Prossigo mundo adentro
À procura de salvação
Acabar em suas margens
De areias com sereias
Que m’encantam co’o seu canto
A mim que procuro um canto
Para ali permanecer
E salvar-me da tempestade
Do deserto reinante
No útero da minha concepção:
Sei de tudo
Sei de tudo tanto quanto
O espermatozóide sabe
Que come o óvulo.
Palavras!
Palavras!
Que fazem as palavras
A não ser construir
Casas de definição
Por aí definindo
Coisas e coisas
E digo apenas
Que isto é o que é.
Acendo mais um cigarro.
Mais um gole de cerveja.
Ouço Bilhetinho Azul
Do meu amado
Cazuza:
Minh’amada Baby foi-se embora pra Bahia:
Seu amor por mim
Foi engano
Meu.
13.01.98
***
Amor
Passio
Paixão
Padecer
Sofrer
Padecer com
Sofrer com
Com-paixão
O amor
Que nasce
Da união
De seres
Que compassivos
Desejam salvar da dor
O seu outro
Dele a dor
Sua tornada viva
Dele a morte
Sua vivida
Nele a existência sua
Externada e afirmada
Seres recíprocos
Um com o outro
Que padecem com
O padecimento do outro
E salvam-se um no outro
Unidos
E a alegria
Que brota do amor
É o sorriso cândido
De faces que se miram
No núcleo
De aconchego
De afastada morte
Nas coisas do dia
Vividas
Entre afetos
E desafetos,
Nuvens vadias
Que passam
Sob o sol
Da vida
Repartida.
Aquele há, no entanto,
Só no cômodo
Sob a lâmpada acesa,
Que no fundo do espelho
A si mesmo se encontra
No acariciar
Narcíseo
O próprio corpo
E alma
Em autocontemplação
Que se ama e odeia
O amor
Dos amantes
Acompanhados,
Que sob a luz da manhã
Afagados pela brisa
Contemplam-se
No fundo do espelho das retinas
Do seu outro e estranham
Solitário o amor
Do amante
Desacompanhado:
O desespero
Dos amantes
Reside na solidão
De acordar no outro dia
Ao seu lado
Vazio e nu
O leito invadido
Pela névoa fria
Ou estilhaçado o espelho
No cômodo escuro
Sem autocontemplação.
No final de todos os caminhos
De sol e de chuva
De brisa e de vento frio
Resta ao amante,
Estrela fria que arde reduzida,
O padecer consigo, retraído,
Retirado ao berço de dor
Que cada um tem
Sobrevivente.
17.01.98 (sábado)
***
Vida
Coisa estranha:
Você descobre
Uma verdade
Que te sustenta,
Vive com ela
E prega
"Ninguém é obrigado
A sustentar-se
Na verdade que me sustenta"
E se contempla
Em sua reconhecida
Verdade
Individual
Contente
Satisfeito
Com a universalidade
Válida
No teu lar:
Em mim
Coca-Cola
É a verdade tua
Que bebo
E mijo,
Mas você pouco s’importa
Co’os meus atos
Que acusam
A mentira
Da tua certeza.
Prevalente
O valor
Da tua verdade
É o valor que usas
Contra
Mentirosas verdades
Que desafiam
Teu poder
De ser
Que seguro exprime
"Ele ainda não conhece
O caminho".
O que alicerça
Tua verdade
Do lar edificado
É a tua voz
Que escolhe palavras
Que servem
Às tuas próprias
Necessidades.
Se você