Reminiscências: contos da minha existência
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Poesia para você
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Reminiscências - Nelson J. Nascimento
BAOBÁ
Os cabelos negros e encaracolados
demonstravam força.
Hoje esbranquiçados são como brumas,
retrato das experiências vividas,
de lutas vencidas.
O sorriso ainda farto
é um chamado ao convívio,
Baobá,
estarmos juntos um convite à sabedoria.
As histórias são como cantigas,
nos embalam, nos fazem adormecer.
O seu ventre que gerou tantos frutos
agora é frágil, não mais produz,
tornou-se risco,
precisa ser arrancado para assegurar a sua sobrevivência.
No entanto a semente já foi plantada,
e os frutos se perpetuaram gerando novas sementes
e outras mais.
E assim a vida continua,
lentamente como seus passos,
até o infinito, até o fim.
Ou seria o recomeço?
BRAZILIANAS
O frio não deixava Braziliana dormir. Já era noite, ou talvez ainda fosse dia, não importa. Dos seus peitos em forma de pelancas já não saia mais leite, apenas sangue, mesmo assim seu bebê teimava em sugar, tinha fome, uma fome insaciada.
Braziliana não sentia dor , apenas olhava desesperançada seu filhote. Seu corpo esquálido só carregava pele, a cabeça latejava, mesmo assim lembranças ainda insistiam em vaguear por sua mente.
Relembrava de um certo dia, quando ainda pequenina passava em frente a uma loja com sua mãe, as poucas roupas dentro de uma sacola plástica o cão seu fiel companheiro, no mostruário uma televisão onde a figura de um preto bonito comemorava seu gol com um soco no ar. Braziliana não sabia o nome daquele preto, nem em que loja foi, na sua vida já havia passado em frente de tantas lojas, de tantas televisões, mas nunca havia tido uma só para ela.
Lembrava daquele preto bonito, de tudo que ele falou, achava estranho, já havia se esquecido de tantas coisas nessa vida e aquelas palavras pareciam que haviam ficado gravadas em sua mente, talvez por lembrar também do sorriso estampado no rosto de usa mãe. Poucas vezes Braziliana tinha visto sua mãe sorrir, mesmo sem nada entender Braziliana sorriu também. E aquele preto na televisão , suado, sorriso aberto, e aquela frase repetindo mil vezes na cabeça de Braziliana, temos que cuidar das crianças do Brasil
.
Braziliana olha para o seu filhote e tenta sorrir, um sorriso vazio, de dor, dor em sua alma, em seu corpo, em seu peito em forma de pelanca. Já tivera tantos outros filhos, dormia embalada pelo clack e em seguida a barriga começava a crescer. Da mesma forma que vinham as crianças sumiam. No início Braziliana se espantava, não sabia o que havia acontecido com seus filhotes. Agora já não ligava mais. Foram tantos! Uma dúzia! Quem sabe? Braziliana não sabia contar, não sabia ler, não sabia escrever seu nome, sabia apenas que era em homenagem ao seu país, Braziliana não sabia o que era um país, não conhecia o país que vivia, que lhe dera o nome, nome que ela não reconhecia, não sabia ler, não sabia escrever. Olhava as estrelas, imaginava que cada uma delas era um de seus filhotes.
A noite lhe acalentava, o frio lhe consumia, seu filhote sentia fome. Olha a marquise em frente, um entra e sai, o cheiro gostoso de comida quente, Braziliana sentia fome, ninguém se importava, só ela se importava, nem seu filhote se importava, sugava cada vez com mais força suas pelancas em forma de peito, o sangue escorria, a dor era insuportável.
Braziliana tinha sono mas não queria dormir, sentia medo, medo do frio, medo de ser acordada. Certa vez despertou toda molhada, imaginou que estivesse chovendo , um bando de jovens bem-vestidos faziam uma algazarra, mijavam em Braziliana. Ela tentou proteger seu filhote, pensou em reclamar, soltou apenas um rugido, os jovens palavras obscenas, saíram correndo, rindo, proferindo palavrões. Braziliana chorava, não tinha raiva, não tinha medo,não tinha nada, apenas chorava, lágrimas que teimavam em sair de seus olhos, Braziliana nada entendia, apenas chorava, apenas sofria.
Um dia Braziliana caminhava por uma rua, era uma rua como tantas outras que havia caminhado, já havia caminhado tanto em sua vida ,estava cansada, viu uma casa, a porta estava aberta, Braziliana entrou. Lá dentro uma grande imagem, as pessoas estavam de joelhos, os olhos da imagem eram contemplativos, tinha a pele clara, os olhos azuis, Braziliana imaginou que deveria ser uma pessoa boa, não era preto igual a ela, só os brancos são bons, Braziliana era ruim, havia nascido com o pecado original, nasceu preta, Braziliana queria ser perdoada. Perdoada por ter nascido, por ter tantos filhos, mesmo sem querer. A casa era quente, Braziliana se sentiu abençoada, queria ficar ali acolhida, imaginou que o mundo era bom que um dia ainda poderia ser feliz, Braziliana não sabia o que era felicidade.