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Isto de política, meu caro: uma vida pela democracia
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Isto de política, meu caro: uma vida pela democracia
E-book238 páginas3 horas

Isto de política, meu caro: uma vida pela democracia

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Sobre este e-book

"A política é a minha vocação e eu a descobri numa conversa com John Kennedy, quando o entrevistei na Casa Branca."
Rubem Medina

Durante nove mandatos consecutivos como deputado federal, Rubem Medina esteve presente em todos os momentos da construção da democracia brasileira, não como um espectador privilegiado, mas como um agente de mudança. Enfrentou os piores anos dos governos oriundos do golpe de 1964 e as consequências causadas pelo AI-5, a abertura política, a eleição do primeiro presidente civil depois da ditadura – Tancredo Neves, a devolução do poder pelo voto direto, a instalação e conclusão da Assembleia Nacional Constituinte, a eleição e o impeachment de Collor de Mello, o Plano Real.

Este livro é o conjunto de conversas entre Rubem Medina e o consultor político, Jackson Vasconcelos, com o propósito de recuperar as histórias da relação de Medina com a política e, em especial, com o Congresso Nacional. Ele esteve presente no cenário político nacional, na posição destacada de deputado federal, primeiro pela Guanabara e depois, pelo Estado do Rio de Janeiro, no período mais rico da história recente.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de mai. de 2023
ISBN9786587041711
Isto de política, meu caro: uma vida pela democracia

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    Isto de política, meu caro - Jackson Vasconcelos

    ISTO DE POLÍTICA, MEU CARO...

    O período em que Rubem Medina exerceu os nove mandatos consecutivos de deputado federal, tempo em que a sociedade brasileira foi do AI-5 à consolidação da democracia, pode figurar na História do Brasil com o significado que o Dr. Camacho deu para a política, numa das conversas dele com Rubião, dois personagens machadianos.

    O Dr. Camacho, um homem político, formado em Direito pela Faculdade do Recife, tinha a advocacia como pretexto e tentou tornar Rubião, deputado por Minas Gerais. Rubião não chegou a tanto. Antes de conhecer o Dr. Camacho, Rubião enriqueceu por herança, como quase sempre ocorre com os personagens de Machado de Assis. Acabou pobre e louco.

    O Dr. Camacho, Rubião, Sofia e Cristiano Palha estão em Quincas Borba, um magnífico livro que, com Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, forma a tríade dos melhores clássicos de Machado.

    Na conversa em que busca convencer Rubião a ingressar na política, o político, Dr. Camacho, lamenta o comportamento de aliados que tentam tomar-lhe a liderança do partido. Machado de Assis aproveita a ocasião e o Dr. Camanho para passar as impressões dele próprio sobre a política, de onde se tirou o título do presente livro.

    As palavras do Dr. Camacho podem ser úteis para quem queria entender uma travessia que durou 24 anos, a contar do ano da posse do primeiro general imposto à República, até o dia em que o deputado Ulysses Guimarães anunciou a existência da Constituição Cidadã.

    Rubem Medina caminhou nessa via dolorosa com a sociedade brasileira. Não como mero caminhante e sim como um dos agentes relevantes da mudança. É disso que o presente livro cuida. Os leitores perceberão, em cada passagem da história, os traços da personalidade de um deputado federal que, com paciência, inteligência estratégica e firmeza – muitas vezes com capacidade de renúncia – conseguiu caminhar em direção à democracia sem revanchismos e sem olhar para trás.

    O que disse, afinal, o Dr. Camacho? Disse ele ao amigo Rubião, a quem queria fazer um deputado: Eu próprio que sou, senão um exemplo de paciência e firmeza? A minha província está cheia de bandidos...

    Ah! Meu caro Rubião, isto de política pode ser comparado à paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; não falta nada, nem o discípulo que nega, nem o discípulo que vende. Coroa de espinhos, bofetadas, madeiro, e afinal morre-se na cruz das ideias, pregado pelos cravos da inveja, da calúnia e da ingratidão...

    Com essas dores, o povo brasileiro caminhou 24 anos a via dolorosa em busca da liberdade.

    Prefácio

    Rubem é o mais velho dos meus três filhos e sou feliz com cada um deles e com a vida que cada um construiu. Rubem abraçou a política jovem, quase um menino. Quando ele chegou com o desejo dele, não gostei. Abraham, meu marido, tinha problemas demais com a política. Por que eu deveria gostar que meu filho se enfiasse nisso? Rubem seguiu sua vocação e conforme o tempo passava, eu percebia que ele não poderia nem deveria estar em outro lugar. Não deveria. O Brasil precisava do trabalho do Rubem e o Rio das demonstrações de paixão do Rubem pela cidade. Uma paixão que é de toda nossa família.

    No início da carreira do Rubem, vivi dias de angústia e medo. Me peguei com Deus quando Rubem foi preso. Ah! Gente. Foi bem ruim e até hoje, com 100 anos de idade, quando lembro, ainda sinto um gosto ruim. Mas, Rubem não esmoreceu. Meu marido nunca foi de esmorecer. Meus filhos também não. Rubem seguiu em frente determinado a acabar de vez com a possibilidade de uma situação como a que ele e outros brasileiros e brasileiras viveram não se repetisse. Rubem lutou pela democracia, uma construção que exigia paciência, um sentimento que o povo, com justo motivo, por vezes não tem. Por isso, a paciência do Rubem por vezes não foi entendida. Hoje vejo o quanto me orgulho de olhar para o passado e perceber como Rubem conseguiu materializar o amor dele pelo Brasil e pelo Rio com uma ação política persistente.

    Estou agradecida a Deus e feliz por estar presente neste livro no ano em que completei 100 anos de vida. A vida política do Rubem é uma obra em favor do Brasil. A democracia no Brasil é sólida porque foi construída pelo trabalho de gente semelhante ao Rubem.

    ESTOU FELIZ E AGRADECIDA.

    D. Rachel Medina

    Introdução

    A política é a minha vocação e eu a descobri numa conversa com John Kennedy, quando o entrevistei na Casa Branca. Eu estava com 20 anos de idade. Portanto, a vocação me chegou de um jeito nobre, na presença do melhor presidente dos Estados Unidos. Mas, na verdade, a minha vocação só brotou naquele momento porque estava escondida no meu peito, plantada como uma semente, por meu pai.

    Na Casa Branca formou-se o ambiente ideal para que a minha vocação surgisse. No meu peito, presente estava o meu pai, Abraham Medina e a obrigação fraterna de cumprir uma missão dada por ele. Do meu lado, de frente para o presidente dos Estados Unidos, duas feras da comunicação, Flávio Cavalcanti e Murilo Nery. Imagine você como foi aquele momento. É impossível descrever. Só um poeta, um bom poeta, conseguiria.

    Até aquele dia não me imaginava na política. Eu estava dedicado ao trabalho com o meu pai nas empresas dele e empolgado com o estudo na faculdade de Economia. A entrevista com John Kennedy me mostrou a força e importância que tem a política na vida de um povo, porque ela é, em essência, o significado maior da democracia.

    Um ano depois, Kennedy foi assassinado e, pouco tempo após, o povo brasileiro acreditou que seria possível vencer o comunismo com a demissão sumária de um presidente da República e um governo provisório, mas os ditadores nunca são provisórios quando isso depende exclusivamente deles. O Brasil conheceu, então, dias sombrios em que a política respirou com dificuldade porque lhe faltava o oxigênio da democracia.

    Cheguei à Câmara dos Deputados em 1967, quando a máscara do governo provisório caiu do rosto dos generais. Fui lá para representar o povo da Guanabara e a oposição ao regime e ao governo, num tempo em que isso era um ato de ousadia mais do que de coragem. Cumpri nove mandatos consecutivos.

    Jackson Vasconcelos escreveu o livro a partir de várias conversas que tivemos, gravadas, e das experiências que ele conheceu do trabalho que fez ao meu lado. Ele é um apaixonado pela política. E isso explica a insistência dele de registrar os fatos que estão aqui colocados.

    Eu resisti bastante para fazer os registros porque me parecia uma atitude cabotina, de pura vaidade, até que Jackson surgiu com o argumento irresistível: a história contada poderia ser o roteiro de uma vida prática para quem não vê a política como ela é e com o poder que tem para transformar uma sociedade. A política transforma quando garante a cada pessoa a liberdade para pensar, para se expressar, criar e agir em favor da própria felicidade e da felicidade das pessoas amadas.

    Em 1964, o povo brasileiro acreditou que seria possível garantir a democracia com um pouco só de ditadura, como se faz na produção dos antídotos para os venenos de cobra. Com duras lições, que levaram a liberdade, a vida e a esperança de muita gente, descobrimos que isso não acontece.

    A ditadura é um veneno para o qual o único antídoto é lutar para se ter de volta a liberdade. A política diz que esse conflito pode ter uma solução por meios pacíficos, sem violência. E foi acreditando neste atributo da política que tomei decisões que muita gente, na hora, não compreendeu, mas que hoje fica fácil defender pelos resultados que obtivemos.

    Os heróis de Cazuza morreram de overdose. Os meus foram silenciados e covardemente perseguidos pela ditadura. O que Juscelino, pessoa que eu considero, até hoje, o melhor presidente de toda nossa história, passou nas mãos dos ditadores envergonha o Brasil. Atacaram-lhe a honra e tentaram destruir suas realizações e memórias, por pura inveja e covardia. Contra essa gente, sugeriu Ulysses ao dizer que tinha ódio e nojo à ditadura.

    Segui vencendo tudo isso sem perder a esperança e o ânimo, suportando o medo porque em algum lugar da estrada, do atalho que tomei, estaria a democracia. E isso, de fato, se deu. Houve a anistia, a volta dos exilados, eleições diretas para governadores, prefeitos das capitais e presidente da república. Temos uma Constituição, que Ulysses apelidou de Cidadã, com justo motivo.

    Os generais deixaram o poder e uma inflação enlouquecedora, mas nós, brasileiros, vencemos a inflação. Ela criou o vício dos gastos sem controle. Nós aprimoramos a legislação para criar e aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal.

    Eu estava presente em todos esses momentos, não como um expectador privilegiado, mas como um agente de mudança. Fiz o que fiz porque entendi que deveria fazer, sem lamentar e resmungar pelos cantos como bastante gente prefere fazer.

    Este livro começou a ser escrito com o Brasil envolvido por uma polarização que separa as pessoas, as famílias, os amigos em nome de uma disputa pela Presidência da República. Um contrassenso, porque as disputas democráticas são atos da política e ela não convive com a violência. Onde a violência se estabelece, ali não existe a política.

    A política não é para os donos da verdade, porque eles precisam da violência e de impor o medo para fazer prevalecer a vontade deles. O livro mostra que eu os conheci de perto, à distância de um cano de revólver colocado na minha cabeça.

    Então, é tempo de voltar os olhos para a política e construir algo útil para a sociedade a partir das divergências e das opiniões contrárias, porque elas têm o dom de evitar a soberba. Ouve-se hoje, com insistência, uma frase dita por Jesus Cristo: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. A verdade que liberta, dita por Jesus, é a capacidade de enxergar e respeitar o outro. Isso a política faz.

    Na Grécia clássica, o idiotés era aquele que não participava dos assuntos públicos e preferia dedicar-se unicamente aos seus interesses privados. Péricles deplorou que em Atenas houvesse indiferentes, idiotas, que não se preocupavam com aquilo que devia dizer respeito a todos.

    (Daniel Innerarity, na obra A política em tempos de indignação)

    Desejo que este livro seja a minha gratidão à política e a indicação dela para um povo que, por vezes, muitas vezes, não acredita que seja ela o único instrumento para se garantir a democracia, que é a essência da liberdade de uma sociedade que deseje viver dignamente e em paz.

    Vivi intensamente cada momento que os mandatos me ofereceram, com o sentimento de respeito pela confiança que cada voto representou. Mas, só consegui a proeza porque contei com gente que, por gestos de carinho e dedicação, teve paciência com os meus momentos de dor e, às vezes, de uma euforia sem sentido. Foram faróis de direção na travessia que empreendi de um mar por vezes calmo, a ponto de não fazer o barco se mover, e por vezes turbulento a ponto de quase levá-lo à pique.

    Neste grupo estão os meus filhos e as mães deles. Estão Rodrigo, Ricardo, Rafaela e Vitória. Solange e Ana Beatriz, mães maravilhosas, representaram um papel relevante no exercício dos mandatos que recebi do povo e da incumbência que me deu o prefeito do Rio, César Maia, para cuidar da vocação da minha cidade, algo que fiz com prazer.

    Abraham Medina e Raquel, meu pai e minha mãe, me deram a base sólida sobre a qual coloquei os meus pés, para, sem perder o equilíbrio, suportar sobre os ombros o peso da vocação e para fugir das tentações que o poder oferece. Roberto, meu irmão, participou comigo de vários momentos nas campanhas e na política. Ruy, o mais novo, me ajudou bastante. A esse grupo de dez pessoas magníficas, eu devo grande parte do sucesso que tive na minha caminhada na política.

    A minha estrutura familiar somou-se à estrutura e apoio que recebi de uma multidão de colaboradores, gente que, no dia a dia, me ajudou nas campanhas e no cumprimento dos mandatos. Homenageio a todos na pessoa no meu motorista e meu amigo Silvio dos Santos. Ele esteve comigo em todos os momentos importantes do início da minha vida política e algumas dessas passagens estão registradas aqui no livro. Perdi o Silvio quando estava no avião para Brasília. Ele não se sentiu bem no caminho para o aeroporto. Disse para mim que era só um mal-estar. Quando desci em Brasília vi que ele, mais uma vez, me preservou. Eu gostaria de listar cada pessoa que foi importante na formação da história que este livro conta, mas eu precisaria de um catálogo de agradecimentos.

    Encerro esta introdução com alguns versos de Mercedes Sosa, que exprimem o meu sentimento em alguns dos momentos da minha vida no exercício dos mandatos.

    "Eu só peço a Deus

    Que a dor não me seja indiferente

    Eu só peço a Deus

    Que o injusto não me seja indiferente."

    Boa leitura.

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    Este livro é o conjunto de conversas que tive e gravei com Rubem Medina, com o propósito de recuperar as histórias da relação dele com a política e, em especial, com o Congresso Nacional.

    Ele esteve presente no cenário político nacional, na posição destacada de deputado federal, primeiro pela Guanabara e depois, pelo estado do Rio de Janeiro, no período mais rico da história recente.

    Rubem Medina chegou à Câmara dos Deputados em 1967, depois de disputar a eleição, com apenas 24 anos de idade. Exerceu nove mandatos consecutivos, período em que foi vice-líder do MDB, relator da CPI da Desnacionalização, presidente da Comissão de Economia, relator da reforma do Sistema Financeiro Nacional para regulamentar os dispositivos da Constituição de 1988, presidente da Subcomissão de Privatizações, vice-líder do PFL, vice-presidente da Comissão de Reforma Política, entre outras funções. Ele foi preso por causa do AI-5, participou da campanha para eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, primeiro presidente civil após o golpe de 1964; compôs a Assembleia Nacional Constituinte, coordenou a primeira eleição direta para a Presidência da República, votou o impeachment do presidente Collor de Mello, enfim, quase 40 anos na atividade parlamentar num período de intensas transformações políticas.

    Uma história que merece e precisa ser contada. Neste período dinâmico, o Brasil viveu:

    1. Os piores anos dos governos oriundos do golpe de 1964, com a novidade dos atos institucionais, marcado pelas dores causadas pelo AI-5.

    2. As escolhas indiretas para presidente da República, governadores e prefeitos;

    3. Interrupção de mandatos conferidos pelo povo; prisões e torturas dos contrários (Rubem, inclusive)

    4. O início da distensão, início da abertura política, com devolução do poder ao povo.

    5. O retrocesso com o pacote de abril e senadores escolhidos pelos colégios eleitorais.

    6. A devolução gradativa e lenta ao povo da prerrogativa de escolher todos os governantes pelo voto direto e secreto.

    7. A eleição do primeiro presidente civil, Tancredo Neves, ainda pelo Colégio Eleitoral. A doença e morte do presidente antes da posse. O debate nacional sobre quem deveria assumir o governo.

    8. O congelamento dos preços e o apelidado estelionato eleitoral.

    9. A instalação, funcionamento e conclusão da Assembleia Nacional Constituinte. A promulgação da nova constituição – a Constituição Cidadã.

    10. A formação do governo Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito diretamente pelo povo depois de 1964.

    11. O primeiro impeachment.

    12. O Plano Real e as leis de readequação do Estado Brasileiro à nova constituição.

    Durante todo esse longo tempo, os generais cassaram mandatos de deputados federais, mas não tiraram do povo a prerrogativa de escolhê-los. Então, Rubem Medina

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