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Os Primitivus
Os Primitivus
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E-book192 páginas2 horas

Os Primitivus

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Sobre este e-book

Prepare-se para conhecer a sociedade sucessora da nossa: os Airodebas. A pretensão é iniciar um pensamento crítico sobre as ações humanas no decorrer da existência. Para tal, usou-se uma quimera sobre a evolução da vida natural e como o homem influenciou para o seu desequilíbrio, finalizando por apresentar a ideia de retrogradar o desenvolvido e avançado para algo primevo e original. A ficção traz ótimos figurantes que emprestam suas participações para rechear e alimentar a estória, mas dois personagens ganham destaque, Raoni, um primitivo inquieto e ansioso, e Rafael, um menino que se torna recruta Fuzileiro Naval. A cereja do bolo fica por conta das vivências, pela oportunidade de discussão e reflexão que elas ofertam, tanto nas linhas, parágrafos e páginas desta obra quanto para quem se propor a ler este meu primeiro trabalho.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de set. de 2023
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    Os Primitivus - Izo Garcia

    OS PRIMITIVUS

    Parte I — Retroceder foi preciso

    IZO GARCIA

    OS PRIMITIVUS

    Parte I — Retroceder foi preciso

    1ª edição

    Rio de Janeiro

    2023

    Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico

    da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009.

    ISBN do Livro Digital: 978-65-00-81592-4

    Esta obra está protegida por direitos autorais.

    Impresso no Brasil em 2023

    Agradeço a todos

    que contribuíram

    para que este sonho

    se tornasse realidade.

    Viva as mulheres da minha vida!

    Inicialmente, gostaria de deixar registrado que esta obra não tem nenhum fim religioso. Assim como, declarar que respeito a toda manifestação religiosa sem distinção, e que em momento algum tive a intenção de desrespeitar, transgredir ou criticar os mandamentos, crenças ou valor de quaisquer que sejam. Ressalto ainda, que as atividades relacionadas ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) aqui narradas, não guardam compromisso com a realidade do que verdadeiramente acontece nas instruções, manobras, eventos ou rotinas do CFN e os seus Centros de Formação; mas que tenta alcançar os Valores e Princípios pregados nessa histórica e secular Instituição.

    O conteúdo deste livro é exclusivo da mente de um jovem senhor que desde sua infância imagina viagens mirabolantes ao mundo da fantasia e dos sonhos. Alguém que sonhou em ser jogador de futebol, cantor, cientista, salvador da Pátria, herói; mas que se realizou mesmo em ser dedicado à família, à honra, aos seus valores, e, principalmente, crente em Deus.

    Sempre fui um sonhador! Contar estórias sempre me fascinou e fascina até hoje. Meus sobrinhos e, posteriormente, minha filha Ana Clara foram as cobaias que sofreram com estórias de terror, riram com as de alegria, ficaram apreensivos com o suspense e deram gargalhadas das palhaçadas.

    Espero, sinceramente, uma boa leitura a todos, pois o meu objetivo já foi alcançado: levar adiante a mensagem de que  todos nós podemos melhorar como seres humanos, pois são cada vez mais raras as nossas ações de fraternidade, honestidade e amor ao próximo.

    1

    O dia quatro de janeiro de 1981 entrou para história como o dia mais quente desde 1915, ano este em que começaram as aferições das temperaturas médias mundiais. O calor escaldante em uma comunidade da Zona Oeste do Rio de Janeiro, quarenta e três vírgula dois graus Celsius à sombra, com sensação térmica de mais de cinquenta, merecia abundância e desperdício, e disso as crianças entendiam.

    — Joga mais água! Mais, mais, mais! — gritava um menino franzino com a alegria estampada no rosto.

    — Agora mais sabão. Só fica bom se ficar bem escorregadio — dizia.

    — Agora é minha vez. Você já foi três vezes — disse um deles.

    — Eba! — exclamou uma menina.

    Aos risos, lá estavam as crianças brincando de escorrega com água e sabão no quintal. Um simples pedaço de lona estendido sobre o solo com bastante mistura fica escorregadia ao ponto de ninguém conseguir ficar em pé. Dependendo do tamanho da lona, a brincadeira evoluía.

    Desprovidos das benesses que uma vida confortável podia oferecer, como banhos de piscina, idas à praia, sorvetes refrescantes; meninos e meninas carentes costumavam se virar como podiam. A brincadeira predileta dos meninos no verão era pipa e das meninas era casinha, mas o banho de borracha vinha logo em seguida, principalmente pelo fato da água jorrar à vontade nas vielas. Com a falta de saneamento básico, os gatos eram o que abasteciam os barracos, e se o que saía pela mangueira não precisava ser pago, logicamente não havia controle. Quase ninguém se preocupava com isso, os próprios adultos largavam as torneiras abertas sem dó nem piedade, mas nem todos comungavam da mesma opinião.

    — Rafael, fecha essa água menino — gritou Lira, uma mulher de rara beleza. Não uma beleza física, pois nesse sentido ela era comum, mas espiritual. Sua calma, equilíbrio, honestidade, firmeza e doçura na dose certa, eram admiráveis.

    — Ah, mãe! Só mais um pouco — respondeu um dos menores.

    — Não vou falar duas vezes! — Dona Lira replicou.

    — Não falaram na escola sobre o desperdício, que o planeta está pedindo socorro? — completou.

    Faceiro, Rafael, um menino de 6 anos de idade, magricelo e branquelo, aproveitou para molhar a todos antes de terminar a brincadeira, pois não desejava levar mais uma coça.

    Apesar de ter encerrado a festa, o menino não se deu por vencido, seguiu para dentro de casa para assuntar com sua mãe.

    — Mãezinha, poxa! Tá muito calor. Só estávamos nos refrescando. Todo mundo vai pra praia, só eu que não vou. Meu pai vive dizendo que vai me levar, que semana que vem ele me leva, mas nunca chega essa tal de semana que vem.

    — Cala essa matraca menino! Não para de falar um minuto.

    De forma firme e eloquente a mãezinha repreendeu a atitude do filho, enquanto estendia na corda as roupas que lavara.

    — Em primeiro lugar, o seu pai não está com tempo para levar vocês porque está se desdobrando em dois empregos para lhe dá a uma vida melhor. Você não sabe o quanto ele gostaria de estar aqui com você e o quanto está cansado por trabalhar de sol a sol. Segundo, a água é um dos bens mais preciosos que Deus nos deu. No futuro, nações irão se digladiar por água potável, pode esperar. Então, faça uso consciente dela, mesmo que ouça o contrário.

    Aparentando estar um pouco mais calma, ela curvou-se, deu dois tapinhas no bumbum do filho e completou:

    — Pulando o dia inteiro como ficam, nem com dez graus abaixo de zero vocês iriam se sentir confortáveis.

    O menino desconversou e foi procurar algo para fazer.

    As dificuldades eram grandes, a inflação de 195,62% ao ano consumia o salário do trabalhador. A situação era tão grave que ao receber o salário, as famílias corriam para o supermercado a fim de comprar logo, pois do dia para noite os preços subiam.

    A vida difícil que as pessoas levavam na comunidade não deixava alternativa, tanto adultos quanto crianças, todos indistintamente, precisavam encontrar um jeitinho para melhorar suas condições, uma vez que o salário propriamente dito dava mal para alimentação.

    — Tia, deixa eu levar a bolsa pra senhora? — indagou Edinho, um dos negrinhos mais espertos e solícitos da turma.

    Como se dizia popularmente: para quem sabe escrever, um pingo é letra. Então, prontamente Dona Lilita, disse:

    — Muito obrigada, meu filho! Lá em cima te dou um trocado.

    Essas palavras soavam como uma doce melodia nos ouvidos das crianças, e assim, alguns ficavam por ali, aguardando as senhoras apontarem na subida do morro com suas sacolas de mercado para oferecerem ajuda.

    Com Rafael não era diferente, por vezes ele ficava no pé de jamelão da barreira comendo aquela verdadeira iguaria, empoleirado em um galho, de olho na subida da favela e aguardando uma oportunidade. De repente:

    — Rafael! — chamou um senhor negro de cabelos brancos.

    — Pois não, Seu Antônio! — respondeu ele. A educação que a mãe havia lhe dado não deixava margem para outro tipo de resposta.

    — Você vai fazer alguma coisa amanhã? — lançou o senhor.

    — Não senhor! — respondeu, enquanto descia da árvore.

    — Tenho um milheiro de tijolo para subir do quintal para a minha casa. Fala com a molecada, é para amanhã. Como conheço sua honestidade, lhe pago e você distribui igualmente por todos.

    — Pode deixar. Assim será feito ! — completou o menino.

    A sorte batia à porta.

    Não era tarefa fácil. Colocar seis a sete tijolos alinhados um sobre o outro e seguir pelas vielas, com degraus malformados, cheios de raízes das árvores, desníveis; morro acima. Parecia demais para os meninos, mas eles já estavam acostumados, uma criança de família mais abastada não conseguiria levar nem uma centena, quanto mais um milheiro. Os Cr$ 30,00 (trinta cruzeiros) cobrados como pagamento, normalmente, eram convertidos em lanches e diversão, depois de, claro, dividido entre eles.

    À noite, o menino reuniu sua trupe para organizar os trabalhos, pois não gostavam de perder tempo. Era até difícil de ver. Muito se discutia sobre trabalho infantil, sobre exploração do trabalho dos menores; mas era como a lei das selvas: se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Se não fosse trabalhando, como os meninos conseguiriam as coisas? Pobre, desde pequeno, era obrigado a aprender a se virar, seja vendendo bala, engraxando sapatos, carregando bolsas de compras ou material de construção. Os valores dos pequenos eram forjados sobre o pilar do sangue, suor e lágrimas.

    No outro dia, tudo começou cedo. Como formigas seguindo suas trilhas, os meninos executavam um movimento frenético de vai e vem. No fim da manhã, mais da metade do serviço já havia sido executado, alguns já apresentavam sinal de cansaço, e um deles não titubeou.

    — Pô, Rafael, pergunta ao Seu Antônio se ele pode adiantar o dinheiro pra gente comprar um lanche. Estamos cheios de fome! — exclamou.

    — Vou ver com ele, mas quem vai lá embaixo? — devolveu.

    — O Seu Clemente pediu ao Luiz para fazer o jogo do bicho para ele. Então ele desce, compra o lanche, faz o jogo e ainda ganha umas moedas do velho — disse Alexandre.

    — Valeu! Com certeza que ele não vai se negar em adiantar — respondeu Rafael.

    Logo depois, já estavam todos sob as sombras da jaqueira da Dona Maria. Os olhos das crianças brilhavam, o que para muitos era comum e até mesmo um desgosto: ter que comer mortadela com pão, em vez de queijo Serra Valmadeiros com torradas. Para os meninos, ter metade de uma bisnaga com mortadela e Coca-Cola geladinha era o máximo.

    — Não existe nada melhor do que… Ahhh! — Leonardo soltou uma enorme e prolongada eructação.

    — Deixa de ser porco, muleque! — disse Márcio.

    — É sinal de saúde — completou outro, enquanto todos riam.

    — Vou comer a metade e guardar o restante pra mais tarde — disse Cristiano.

    O Márcio seguiu.

    — Eu também.

    Já Alex, fominha que só, por não se satisfazer só com a metade, lançou:

    — Vou comer tudo! Mais tarde eu janto.

    — Vamos acabar logo pra voltarmos ao batente — quase que ordenou Rafael.

    — Ainda quero ir nos Três porquinhos comprar um deizinho e várias pipas com o restante do dinheiro — completou.

    Rafael era muito admirado pelos colegas, por ser mais velho que os demais e até pela sua personalidade e senso de responsabilidade, os outros não o indagavam ou contradiziam suas orientações, salvo algumas exceções. Alguns pais confiavam tanto nele que bastava dizer: o Rafael vai! que os pais já se sentiam mais confortáveis e deixavam os filhos desbravarem locais distantes.

    Terminado o lanche, a garotada voltou ao batente com todo gás. E assim seguiram até o fim do serviço.

    — Não acredito que acabamos — desabafou um dos garotos.

    — Missão cumprida! Vou falar com o Seu Antônio, aí podemos comprar nossas pipas — finalizou Rafael.

    O sol já declinava do seu direito de brilhar, só dava tempo de comprar as linhas e as pipas, fazer as rabiolas à noite em casa e descansar para no dia seguinte acordar cedo para brincar.

    Em um lugar muito distante dali, um chamado fez Raoni despertar e se vê diante da imensidão da floresta tropical. Sentado em sua pedra predileta, ele estava bem à beira do penhasco que demarca o início de uma estonteante cachoeira de mais de cinquenta metros de queda. A névoa que se formava dava a impressão de que o observador estava sonhando. Dali ele acompanhava a natureza à sua volta, tamanha beleza do lugar. As árvores milenares eram gigantescas. Parecia existir uma melodia no ar, coisa de filme hollywoodiano. De um lado, pássaros mil contavam suas melodias em orquestra, do outro, borboletas faziam um balé multicor em forma de redemoinho, mais acima, araras-azuis cruzavam o céu com seus cantos barulhentos, e isso o encantava. Já no poço que se formava abaixo da queda, veados-vermelhos se abasteciam na margem, sem perder a atenção em seu predador natural, um jacaré-açu que vigiava o grupo, fitando um possível almoço.

    Em cada evento descrito, o jovem estava em sintonia com as relações naturais, quase que podia conversar com os animais. Seus instintos pareciam mais aflorados, tão aflorados que a sensação de bailar com as borboletas, revoar com a alegria pura e simples das araras, parecia fazer parte do seu espírito, do seu eu. Tudo perfeito, equilibrado. Harmonia pura.

    Apesar disso, poucas coisas superavam o convívio com sua amiga preferida: Guayi, uma belíssima harpia. Amiga só por parte de Raoni, pois a ave de rapina, selvagem por natureza, não hesitaria um minuto em devorar seu principal admirador, se possível fosse. Mas para ele nada disso fazia a menor diferença, existia algo naquele animal que lhe atraía. Coisas que ninguém, ou quase ninguém, saberia explicar.

    O chamado que fez Raoni despertar para a realidade era de Yara — sua mãe. Uma belíssima primitiva que pelas pinturas corporais não deixava dúvidas, era uma Airodebas. Cabelos negros longos que, quando liberados da presilha confeccionada com palha, penas e sementes de urucum, chegavam abaixo da cintura. Usava naquele dia uma aguaniranga azul e amarela. Sua pele macia e bronzeada que lembrava a coloração luminosa do ouro misturada com cobre, além do perfume de ervas naturais que ao ser sorvido parecia um produto alucinógeno, lhe guardava um ar de escultura. Ela passara grande parte do dia procurando por seu filho. Após percorrer toda a aldeia, percebeu que só em um lugar especial ele poderia estar: Em sua pedra predileta! — pensou.

    — Sabia que iria te encontrar aqui. Seus irmãos e amigos, principalmente certa menina que você gosta tanto chamada Kaneki, estão te procurando para brincar de peteca. Por que você não

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