Navegar pela vida: o diário de um sonhador
De Luiz Botosso
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Sobre este e-book
Já tinha escutado um pouco de Botosso, de suas experiências, projetos e fiquei reflexivo. Busquei a 'transsignificação' – palavra que criei para traduzir-me além. Hoje, no outono caminhante, após algumas dicas e com a plena vo\vntade de nosso 'AtenoEspartano' Botosso, explicarei o termo na reunião das palavras seguintes, realizo-me lendo o 'Navegar pela Vida', de sua autoria.
A introdução, inspiradora por sinal, nos revela a tez de
um ser em constante pugna consigo mesmo, de ser que se fez e faz
melhor a cada aroma do dia, dos bons e ruins, dos alegres e tristes,
dos sonhados e vividos. Um herói de si forjado pela aventura da
vida, e ele diz:
"Nossa imaginação era fértil e encenávamos os mais diversos
roteiros, que variavam de ataques de índios a passeios intergalácticos.
Qualquer que fosse a estória, eu tinha que ser o herói.
Em uma das várias aventuras, estávamos na parte norte da
chácara onde as terras eram muito ruins, cheias de cascalhos,
com várias "grotas" enormes provocadas pela ação das enxurradas."
O sentimento que revelo é sim de chamá-lo de 'AtenoEspartano'.
E ele o é, é uma mistura de cidadão de Atenas e um guerreiro
de Esparta. De Esparta, a etapa real da educação ao ser cidadão;
os valores militares – o ser guerreiro, herói – e o treinamento
físico. E de Atenas, a condição refinada ao equilíbrio da mente e
do corpo. As suas palavras, álibi de reforço, agasalham-nos:
"Lá aprendemos a ser invencíveis, nada pode parar um infante,
não podemos ter medo de nada, a missão terá que ser
cumprida a qualquer custo".
Não, não importa o desafio, a única reparação é sonhar,
depois, realizar pela insistência gritante. E não seria absurdo, também,
chamá-lo de Don Quixote do Sec. XXI, o Quixote que sonha
e domestica o impossível, como tantos e de feitos resistentes
como os lajões de Pirenópolis a enfeitar os caminhos da história.
E se o Don, de Quixote, tinha um fiel escudeiro e era cavalheiro
andante, o Botosso teve e tem o Suva, realista como Sancho Pança,
e ambos, longes das Sátiras, nos mostram as realidades de nossos
rios e matas. Vale acolher, letra por letra, o trecho de Miguel de
Cervantes e nos lembrarmos que as expedições de Botosso e Suva
desenham uma realidade que não queremos, pois, toda agressão
ao meio ambiente deve ser combatida. Todavia, "quixoteando" o
impossível, mesmo sofrendo angústias, ousando como bravos e
nunca desistindo. Eis a lição:
"Sonhar o sonho impossível,
Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca."
Botosso é uma semente rara, ímpar na missão de ser mais
e mais. E ele citou quem, também, o inspirou, e foi fácil entender,
pois ele mesmo está refletido nas profundas palavras de Cousteau,
Jacques-Yves, quando nos faz lembrar que "do nascimento, o homem
carrega o peso da gravidade em seus ombros. É aparafusado
à terra. Mas homem só tem que afundar embaixo da superfície
e ele estará livre". Sim, a liberdade está no mergulho e ele o sabe
sentir, dizer e nos inspirar.
As suas expedições pelo Araguaia e outras correntes con-
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Navegar pela vida - Luiz Botosso
2016
CAPÍTULO 1: Não posso falhar
Quando nos aventuramos pelo rio Vermelho em 2001, naquele ano, era realizado na Cidade de Goiás a 3ª Edição do Festival Internacional de Cinema Ambiental, o FICA. Importante evento cultural que aproximou Goiás ainda mais das questões ambientais e incentivou sobremaneira a produção cinematográfica em nosso Estado. Participei ativamente do festival devido as minhas obrigações profissionais a frente da Diretoria de Infraestrutura e Urbanismo do Município. Encantei-me com os documentários sobre meio ambiente. Quis o destino que em 2008, me tornasse também um cineasta voltado para a produção ambiental. Com Thiago Veiga, tive a felicidade de participar deste mesmo festival e ganhar o prêmio João Bennio
, pela melhor produção Goiana na 8ª Edição do FICA com o curta-metragem animado Bartô
. Depois deste vieram outras animações e documentários. Com essa nova bagagem e novo olhar, resolvo em 2016 terminar a expedição do rio Vermelho. Infelizmente Andrey não iria terminar o que começamos. Esperei o quanto pude, pois não achava correto terminar a expedição sem ele, um grande parceiro, que de forma voluntariosa e corajosa encarou a primeira tentativa. Mas devido ao momento que vivia, dedicado prioritariamente a nova carreira profissional, teve que mais uma vez negar meu convite.
Como eu precisava fazer a coisa acontecer, pois já estava com 46 anos de idade e o tempo já começava a cobrar algumas taxas
, resolvi seguir sem ele, e assim, dei início ao planejamento e desta vez não cometeria os mesmos erros de outrora. O barco seria adequado para carregar bagagens e seria confortável o suficiente para costas e pernas, assim decidi pelo uso de uma canoa tipo canadense. A época seria entre abril e no máximo início de julho, que aliás, acho curtíssima a temporada de remo
para os rios goianos. A comida seria calculada e testada antes da partida. Faria testes de remo com o parceiro e o barco antes da jornada. Vivíamos outra era, assim, um GPS poderia ser embarcado. Calculamos com precisão todo o trajeto, observando inclusive os pontos com maior densidade de floresta, pontos de controle, rotas de fuga, graças a um programa de computador, que ao meu ver foi feito por extraterrestres: o Google Earth. Acionei um amigo do Corpo de Bombeiros, coronel Gondim, que junto com familiares fizeram parte do grupo de Whatsapp: Expedição Rio Vermelho, que tinha a função de acompanhar as notícias durante nossa jornada. Impressionante a quantidade de tecnologia e facilidades que surgiram em apenas 15 anos. O mundo está remando
muito rápido. Faltava o segundo canoísta e sabia onde poderia encontrar. Ajudei a criar um grupo dedicado a atividades de sobrevivência e bushcraft
, o SOMBRA (Sobrevivência Objetivos Mateiros Busca por Recursos e Adestramento). Na verdade um grupo de amigos que adorava ir para o mato fantasiado de Rambo
e gostava de passar perrengue. Fiz o convite geral no grupo e imediatamente recebi o contato do amigo Raniére André Fernandes, que no contexto do SOMBRA tem o codinome Suvarine, mas todos o chamam apenas por Suva. Professor, historiador, com ótima memória, normalmente mais calado e observador, mas de vez quando, principalmente quando toma umas
, destramela
e não deixa mais ninguém falar. Suva tem uma característica interessante: Faz pouco barulho, mas está sempre participando das atividades. Para tudo ele está dentro, diferente de muitos que fazem uma barulheira danada e na hora do vamos ver, nada. Quando ele noticiou no grupo, que estava tudo certo e ele realmente participaria, foi alertado com veemência pelo amigo Cláudio Marsal (Falcão), que lembrou do perigo e da loucura que seria me acompanhar. Pairava uma lenda, que eu era criador e sócioproprietário da Safe & Security Company
, brincadeira corriqueira, fazendo piada das enrascadas em que eu sempre metia os amigos. Normalmente, aventuras pesadas, o famoso rabo de foguete. Eu sempre de bom humor, respondia: todos voltam com vida, nunca perdi ninguém
. Essa parceria com o Raniére seria fundamental, pois ajudou muito na consolidação dos procedimentos básicos e materiais que iriamos usar por todas as outras expedições. Uma das coisas que destaco, foi uma trapizonga
, que ele trouxe na hora de partirmos para o rio Vermelho. Não estava esperando nenhuma novidade, e arrumando as coisas, ele me mostra uma placa solar, que carregava celular, tinha três saídas para lâmpadas, e, claro, como todo bom produto chinês, não funcionava quase nada. Por sorte, apenas a parte de iluminação funcionava e funcionava bem. Seu senso de distância e memória do trajeto e pontos notáveis, estudados no Google Earth antes de partir, me auxiliava muito na tomada de decisões durante a execução da expedição. Tinha nele uma segunda boa opinião. Assumiu para si a função na embarcação de canoísta de proa, local assumido geralmente pelo canoísta menos experiente. Sempre com o celular pendurado no pescoço, ele me posicionava sobre velocidade média do barco, distância percorrida, tudo graças ao aplicativo do STRAVA. Não gosta de malhação, o que lhe confere uma boa barriga, mas nem por isso houve o menor comprometimento na sua desenvoltura física. No barco, ele não parava de remar nenhum minuto, torcia o pescoço pro lado e remava sem parar. Tinha inclusive que freá-lo para não correr o risco de uma fadiga muito séria. Não poderia arriscar perder metade da força do motor
. Por fim, ele possui uma característica fundamental em qualquer operação como essa: Ele é ótimo cumpridor de ordens. Entender que tem um comando, que se tem uma diretriz e segui-la é fundamental para o bom andamento da expedição. O contrário é desastroso. Sabia a hora certa de se posicionar e suas opiniões sempre eram positivas, somavam no contexto do