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A História De Narciso E A Família Do Doutor Satã
A História De Narciso E A Família Do Doutor Satã
A História De Narciso E A Família Do Doutor Satã
E-book143 páginas1 hora

A História De Narciso E A Família Do Doutor Satã

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Sobre este e-book

Originalmente publicado de forma independente com o título de “Família Satã” nos meses finais de 2015, ‘A História de Narciso e a Família do Doutor Satã’ é um romance político que procura enfatizar um debate social ao redor das diversas concepções do que é uma família. Protagonizado pela Família Ribeiro, (heterossexual, branca, de classe alta) que defende os padrões de gênese conservadores, a trama vai se destrinchando ao ponto de explicitar e exacerbar a hipocrisia e o equívoco de suas ideologias defendidas através de uma sátira à realidade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de nov. de 2015
A História De Narciso E A Família Do Doutor Satã

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    A História De Narciso E A Família Do Doutor Satã - Romário Rodrigues Lourenço

    A História de Narciso e a Família do Doutor Satã

    Romário Rodrigues Lourenço

    Edição do Autor

    Copyright © 2015 A História de Narciso e a Família do Doutor Satã

    Todos os direitos reservados.

    Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é uma coincidência e não intencionais por parte do autor.

    Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou compartilhada de qualquer forma eletrônica, mecânica, copiada

    A cópia e/ou reprodução total ou parcial desta obra é infração

    prevista na Lei de Direitos Autorais Nº 9.610 de 19 de fevereiro

    de 1998. Plágio é crime. Respeite os direitos do autor.

    Arte de Capa: Romário Rodrigues Lourenço

    Impresso no Brasil.

    Fodê-la-ei, com esdrúxula expressão, sem qualquer inibição.

    Fodê-la-ei entre juras de repreensão.

    Enfiando em sua face qualquer sorriso,

    fodê-la-ei sem qualquer que seja aparente, o motivo.

    Não farei, como pensas que deve ser, contudo.

    Não me aguarde desnuda, trajando em sua face bonito tom rubro

    Fodê-lo-ei também com afinco, e não poderá deixar de ser fodido;

    ao que chega até aqui, imagino,

    sua curiosidade não permitirá que tenha partido.

    Fodê-lo-ei entre versos e prosas

    Convidativas quanto de seu cu, as rosas

    Desabrochadas numa manhã de Sol da primavera

    De um ano ligeiro e próximo que mensurar, eu ainda não pudera

    Mas em estimada Era, havia mucamas, galera, e grande plateia

    a esgueirar-se nas pontas dos pés, ansiosas, pelo desenrolar da epopeia

    Cujo herói, porém, era uma velha puta

    Que um dia, antes de ser velha e de ser puta

    Era ainda tão fresca quanto do cacho, uma uva,

    e tão amável quanto a senhora sua mãe se faz para mim,

    mas tão burra que assim no desalento, tornou-se puta

    Pois

    Acreditou no que seu amado dizia

    De que aí vinha equidade e oportunidades em vil sociedade

    A grande onda, como ‘marolinha’, ele via

    E assegurava: minha amada, o que dizem, não sei o que é, mas não se trata como verdade!

    Veio então Pandora, abriu então a urna e dela, o que lhe saiu, lhe fez puta

    a gritar por um novo cliente, no meio da rua

    Ei, não se espante! Fodê-la-ei, e de todo mal, a culpa é tua

    ele dizia, enquanto a puta, de receios se desnuda

    Que tanto demorou para abrir essas pernas, tanto passou fingindo não era puta, de fodelância, em grandes eras

    "Fodê-la-ei,

    Pois é o que quero, deveras

    Fodê-la-ei, e outra coisa, não esperas

    Fodê-la-ei, ‘okay’?"

    Prefácio do autor

    No dia 24 de setembro de 2015 a Câmara dos Deputados aprova no Brasil o Projeto de Lei 6.583 de 2013, popularmente conhecido como Estatuto da Família que reconhece como família apenas casais formados por heterossexuais cisgêneros[1] e suas proles. Lembro-me de ainda estar extasiado com o desenvolvimento do meu último romance, Bug Chaser, recém finalizado, quando li a notícia. Senti-me incomodado. Naqueles dias, ainda como estudante no curso de Serviço Social, questionei-me. Afinal, eu havia acabado de aprender em meus estudos sobre Antropologia, que um dos vários conceitos sobre a instituição social família é a de ser formada por um grupo capaz de transformar um organismo biológico em um ser social, dando-lhe o primeiro aporte acerca dos padrões culturais, papéis, valores e objetivos sociais – algo que definitivamente não restringe a instituição família à definição estipulada no Projeto de Lei então aprovado.

    Muitas coisas passavam-se pela minha cabeça cheia de ideias e uma nova história se formou. Um novo tema estava diante de mim e, eu me dei conta de que eu precisava falar sobre família. Mas eu não precisava apenas falar sobre uma família qualquer que fosse composta pelos padrões opostos aos estipulados no estatuto ou uma família que fosse desorganizada e cheia de equívocos em sua interação, onde reinassem vicíos e palavras ácidas. Eu precisava falar sobre a família perfeita. Sobre a família que segue os padrões e normas estabelecidos pelo fluxo cultural regido pelo patriarcado, pelo machismo estrutural, pelo fundamentalismo religioso e claro, pela hipocrisia desregrada. Surgiu assim, a inspiração para o projeto que viria a se tornar a Família Satã.

    Eu queria propor, através de um texto que se inteirasse de uma possível realidade, uma reflexão e interação entre as estruturas sociais em que nossa sociedade ocidental, como um todo está inserida, e o que isso significa para os grupos de menor identificação com essa realidade quando, novamente, no decorrer dos meus parágrafos corridos e ansiosos, aos poucos me deparei com novas questões. Eu precisava aumentar o contraste. Eu precisava injetar em minhas doses de humor e drama nessas reflexões. Foi um momento de desabafo onde decidi pautar além da trama arquitetada em minha mente e de seu pano de fundo tão controverso, minhas próprias dúvidas sobre as questões sociais e sobre os movimentos – cada vez mais dispersos – que não conseguiram deter a aprovação do Projeto de Lei 6.583 de 2013. E assim, cada personagem foi aos poucos tomando forma, vindo para este livro com o propósito de contar sua própria biografia e instigar a problematização de temas e ideologias inerentes à nossa organização social.

    Minha intenção é fomentar a reflexão.

    Em A História de Narciso e a Família do Doutor Satã não vamos ler ou debater sobre a opinião do autor a respeito da militância e dos movimentos sociais (como sempre citados ao longo da obra, o movimento feminista e o movimento LGBTQIA+ ou ainda movimento negro); toda a teoria e especulação aqui pautada advêm de questionamentos externos e análises obtidas através da observação de interação entre diferentes figuras que em algum momento se encontram e colocam sua própria ideologia à prova.

    Esses questionamentos foram absorvidos e incorporados através da interação e convivência, além de uma análise antropológica acerca pessoas e grupos voltados para os movimentos de militância. Essa interação, as discussões e os debates originados dela e o desejo de inspirar questionamentos sobre a organização político-social da sociedade ocidental atual foram as problemáticas responsáveis pela criação e desenvolvimento de um possível viés ideológico registrado no decorrer dessas páginas, além dos grandes diálogos priorizados nesta obra, bem como, os principais acontecimentos que desenvolvem seu enredo.

    A História de Narciso e a Família do Doutor Satã não segue uma cronologia linear. Um acontecimento que antecede outro, muitas vezes só é revelado muito depois e acontecimentos simultâneos podem ser encontrados em pontos distantes da trama. É a absorção da história como um todo que fará a diferença no momento da interpretação final.

    Dividido em momentos que se complementam e formam a trama deste livro, A História de Narciso e a Família do Doutor Satã traz uma trama questionadora e até duvidosa, sendo provavelmente um dos poucos romances já escritos até o momento capaz de exemplificar e problematizar questões sobre machismo, patriarcalismo, sexismo, homofobia, transfobia, elitismo, militância e racismo em suas entrelinhas subversivas.


    [1] denomina-se ‘cisgenero’ uma pessoa cujo sexo biológico está em sintonia com sua identidade de gênero;

    PRIMEIRA PARTE

    são apresentados os dramas pessoais

    centrais que envolvem individualmente os

    membros da Família Satã

    PRÓLOGO

    São Paulo, 2015.

    Mais uma vez, a Família Ribeiro estava reunida na sala de jantar. Os talheres de prata, habitualmente colocados sobre à mesa apenas em dias de reunião familiar reluziam à luz forte do lustre de cristais no meio do teto, refletindo de forma fantasmagórica as formas abstratas na textura das paredes pintadas em tom esverdeado.

    Em um gesto brusco, o Doutor Ribeiro coçou a cabeça impaciente. Sua esposa, Dona Henriqueta, engoliu em seco, ligeiramente apreensiva. Sentados à cabeceira da mesa, o casal anfitrião e os demais comensais esperavam que sua filha mais velha, Juliana, terminasse de se arrumar e adentrasse a sala de jantar. Sua demora era tão habitual quanto a reunião familiar toda sexta-feira pontualmente às nove da noite, sempre após o jantar.

    "Não começaremos até que todos estejam presentes. Não é de bom tom...!", o Doutor Ribeiro sempre os lembrava, cada vez que o filho mais novo, Renato, se queixava da demora.

    — Espero que você se case com uma mulher menos vaidosa que sua irmã. — ouviu-se a voz grave e imponente do patriarca ecoar na direção do filho.

    — Mulheres sendo mulheres... — Renato respondeu, entre dentes; sua expressão era de visível descontentamento: seus olhos verdes estavam brilhando de fúria e, de tanto mexer a cabeça, seus cabelos castanhos quase negros, cortados em estilo militar estavam quase bagunçados. — Mas o que seria o mundo sem elas? — brincou, de repente, tentando mudar o tom; ao seu lado, seu cunhado, Fábio, de todos na mesa, o rapaz mais pálido e franzino, forçou um sorriso. — Eu lamento por você, cunhadinho.

    — O mundo seria mais prático. — o Doutor Ribeiro respondeu e sorriu ao final; por um momento, todos se sentiram mais leves... Ele estava de bom humor. — Ora, Fábio...! Não faça essa cara! Pensem pelo lado bom, rapazes: elas fazem tudo isso para ficarem mais bonitas para nós. — ele acrescentou, descontraído.

    Tímido, Fábio – seu genro e marido de Juliana – forçou

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