Impressões
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Impressões - Elioenai Piovezan
Elioenai Piovezan
IMPRESSÕES
Banhando-se nas letras
de uma sopa primordial
Itapevi - SP
2013
Piovezan, Elioenai Impressões: banhando-se nas letras de uma sopa primordial. Itapevi : Clube de Autores , 2013. 1. Crônica 2. Artigo de opinião 3. Memórias 4. Jornalismo 5. Comunicação 6. CulturaPiovezan, Elioenai Impressões: banhando-se nas letras de uma sopa primordial. Itapevi : Clube de Autores , 2013. 1. Crônica 2. Artigo de opinião 3. Memórias 4. Jornalismo 5. Comunicação 6. Cultura
Piovezan, Elioenai
Impressões: banhando-se nas letras de uma sopa primordial. Itapevi : Clube de Autores , 2013.
1. Crônica 2. Artigo de opinião 3. Memórias 4. Jornalismo 5. Comunicação 6. Cultura
Piovezan, Elioenai
Impressões: banhando-se nas letras de uma sopa primordial. Itapevi : Clube de Autores , 2013.
1. Crônica 2. Artigo de opinião 3. Memórias 4. Jornalismo 5. Comunicação 6. Cultura
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Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer
forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia ou
arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita
do autor ou da editora.
____________________________________________
Dedico esta singela coletânea de textos à minha
esposa Roberta, pelo apoio em diversos momentos,
ao meu filho Yuri, ao meu enteado Vinicius,
à minha mãe Ruth, ao meu pai Durval (in memorian),
aos meus irmãos Eliana, Durval Júnior e Elizângela;
ao amigo Nunciato, por ter proposto e ajudado
a consolidar o Jornal da Gente;
aos ex-editores do Jornal da Gente,
dr. Plínio Arruda e Cinthia Schultz,
por me apoiarem nas horas difíceis;
e a todos os leitores assíduos ou não.
Sumário
Apresentação: Mosaico
Poesia da vida
Feriados
A viagem
Pena de morte
Animais em casa
Ai que preguiça!
Pedras que rolam
Ditabranda
ou ditadura?
Lula é o cara!
Paralelepípedos
O som da liberdade
Música
Amigo da onça
Melhor idade
A indústria da violência
Os jornais
: 58 anos depois
Gramaticalmente falando
O legado de Bruce Lee
Ray Charles, José Saramago e Dona Maria
Ó o auê aí ô!
De homens e escorpiões
Sílvia, Jigsaw e Bush
Jornalismo de luto
Celular
A estupidez humana
A ironia dos nomes
Quero
O fim do Senado
Coisas do coração (ou O amor do porco-espinho)
A galinha e as raposas
O repentista
Índios
Folhas rasgadas
Insônia
Guerra de pneus
Gil e os moinhos de vento
Correios
Laranja mecânica, Galdino e Isabella
As faces do astro pop
Dilma
Saint-Exupéry
Assuntos escatológicos
Mulheres, carros e governos
Criação
Quem precisa de heróis?
Customizando
a língua portuguesa
A aventura de ler e a desventura de assistir
Mãos
Um grito de liberdade
O contador de histórias
A água nossa de cada dia
Imagine
Apagão
Intolerância
Apresentação
Mosaico
Nos anos em que mantive a coluna Sopa Primordial, no Jornal da Gente, consegui formar um público leitor considerável. Muitas vezes eu era abordado na rua para ouvir, em geral, comentários de aprovação sobre um ou outro artigo. E foi bom, muito bom, pois sentia e compreendia que se tratava de uma responsabilidade imensa compartilhar os meus pensamentos, minhas inquietações, minha ideologia, meus gostos.
Compartilhar não como um livro aberto, mas como páginas que se revelam a cada edição, numa espécie de mosaico com pedacinhos de vida, com alegrias e frustrações, essas coisas de ser gente.
Nessas páginas, você saberá um pouco de mim. Por isso, tomei o cuidado de manter a data de cada texto. Pois, com o passar dos anos, certos conteúdos não se encaixam mais em outro contexto. E se aquilo que se pensava há alguns anos não se pensa mais, não podemos apagar, mas simplesmente aceitar que se pensava assim.
No mais, o objetivo dessa obra é mesmo compartilhar com você um pouco daquilo que escrevi. São 54 textos, entre artigos, crônicas e memórias. Espero que aprecie.
Boa leitura!
Poesia da vida
Poderia escrever sobre diferentes cenas do cotidiano acumuladas em duas semanas de recesso. Poderia falar sobre fatos curiosos e engraçados, como a jovem que ganhou um urso de pelúcia gigante (ou ela é que não era tão grande) e ao retornar do litoral para São Paulo teria que pagar duas passagens de ônibus. Para não pagar a passagem do urso e não prolongar a discussão com o motorista, o bichinho (ou bichão) teve que viajar em seu colo. Poderia abordar a recente desistência forçada da candidatura de Ciro Gomes à presidência da República e as suas infelizes e infundadas declarações de que Serra seria melhor do que Dilma. Poderia também falar da minha própria saúde que sofreu um revés diante de um cálculo renal e a dor insuportável causada por ele, levando a uma intervenção cirúrgica e ao afastamento do trabalho. Cheguei a rascunhar várias linhas sobre esses assuntos, mas como a efemeridade é uma das características da crônica – e um dia basta para envelhecer – preferi escrever sobre a poesia da vida.
Obviamente, muitos não enxergam a poesia da vida, pois ela está repleta e dominada pela prosa sisuda do dia a dia. Embora haja tantas repetições e paralelismos, essa prosa não carrega rimas sejam elas pobres, ricas ou internas. O lirismo não existe. O que existe são as frases curtas de uma fala utilitária, como no cartaz dentro do ônibus: Fale somente o necessário com o motorista
. E a regra se aplica a tudo e a todos. Falar somente o necessário no guichê do banco, na consulta médica, na compra de um produto, na fila do supermercado.
O vazio ou a insuficiência de palavras se torna uma triste regra em que uma sociedade letrada deixa escapar a oportunidade de ser poética para se tornar prosaica fática ou metalinguística. Fática porque se atem a verificar se sua lacônica intervenção comunicativa está sendo eficiente. E para por aí. A metalinguística porque se limita a explicar o significado da sua própria fala, para economizar o tão precioso tempo. Assim, a linguagem conotativa, figurada, cede à linguagem denotativa, para que não haja nenhuma dúvida, ambiguidade, duplo sentido.
O mais grave, entretanto, não é a ausência de poesia nas situações comunicativas. É o fato de não se enxergar a poesia presente nas cenas do cotidiano. A falta de sensibilidade para ver a realidade com outros olhos. Perceber nas pequenas coisas, gestos, atitudes, ações, a intenção do ser humano expressando aquilo que é sua principal característica: SER humano.
Assim, a prosa das notícias sanguinolentas embrutece corações. A prosa do utilitarismo transforma um bom bate-papo em rotina familiar e social. A prosa da opinião coloca pingos nos ii
, mas se esquece dos jj
. A prosa da propaganda transforma as pessoas sem dinheiro em consumidores frustrados.
E a poesia da vida, tão cara a cada um de nós, fica na penumbra à espera de uma espiadela. À espera de que retiremos dali algumas lascas e que nos demos conta da sua riqueza de tesouro escondido, que só é rico por estar escondido. Mas que quando descoberto propicia um deleite ao seu descobridor porque pode compartilhar a sua descoberta com toda a Humanidade.
Itapevi, 1º de maio de 2010.
Feriados
O deputado, com uma grande ideia debaixo do couro cabeludo (quase sem cabelo), nem dormiu direito naquela noite. Queria de toda maneira acabar com um grande mal que, para ele, paira sobre o País: os feriados.
É verdade! No início deste ano já havia até circulado pela internet um texto (apócrifo, é claro) cujo título era Deus é realmente brasileiro
. E apresentava uma lista com 11 feriados de 2009, que caem no meio da semana (só o 15 de novembro é que cairá num murcho domingo de Faustão e Gugu). Os feriados que mais pareciam incomodar o sincero deputado eram os que caem numa terça ou quinta-feira, ocasionando o fenômeno da ponte
. Tomemos como exemplo o Carnaval, que cai sempre numa terça-feira. Mas esse é imexível
(roubando o neologismo do Rogério Magri, ex-ministro do Trabalho do governo Collor), pois é uma tradição nacional e gera renda...
O deputado conferiu suas anotações. O projeto para acabar com os feriados no meio da semana teria que ser impecável. Precisava convencer, articular, conchavar, até trocar alguns favores com os colegas da sua bancada partidária, com os dos partidos aliados e com os colegas adversários políticos. Mas, na contabilidade final, se vingasse o tal projeto, haveria muito mais ganhos que prejuízos. Ficaria famoso por ter proposto o fim dessa vergonha nacional! Onde já se viu? O ano tem 365 dias, tirando sábados e domingos, e os trabalhadores ficam 12 dias sem trabalhar, improdutivos, mão-de obra ociosa, só de boa! E no setor público então? Prefeitos e governadores decretando pontes como pontos facultativos