A Doce E Encantadora Vida De Maria Donatella
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A Doce E Encantadora Vida De Maria Donatella - Romário Rodrigues Lourenço
A Doce e Encantadora Vida de Maria Donatella
Romário Rodrigues Lourenço
Edição do Autor
Direitos autorais © 2020 Romário Rodrigues Lourenço
Todos os direitos reservados
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão expressa por escrito da editora.
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Design da capa por: Romário Rodrigues Lourenço
Impresso no Brasil
O que é o amor, senão uma dor?
Que dor é essa, senão um furor
Que a alma invade e a lança em gran torpor
Que é o amor, senão uma dor
Que cresce ao sol se pôr
E aquece ao incomum ardor
Do dia que rápido se findou
Que é o amor, senão uma dor
Como a que sinto quando longe estou
[dela]
Aquela por quem tanto anseia a minha dor
Minha doce e encantadora,
Bela, como somente ela,
Maria Donatella
Prólogo
O mundo beirava animado a chegada do século vinte e as pessoas estavam ansiosas por novidades, pelo futuro e por coisas incríveis que haveriam de chegar com a passagem de uma nova era. Mas Madalena não. Ela continuava amarga e descontente com tudo e todos à sua volta, sem qualquer motivo aparente para comemorar, sorrir ou se afeiçoar à ideia de novas tecnologias inimagináveis. Estava presa. Profundamente descontente e ligada à uma revolta que ela não sabia de onde vinha. Falava pouco. Era carrancuda. Tinha somente vinte anos, e sentia-se à todo momento profundamente injustiçada, mesmo sem qualquer motivo aparente. Trazia consigo um descontentamento com sua face, seu corpo, as regras, a sociedade... Tudo era motivo de grande e profunda revolta. Nada mudava-lhe a expressão apática. Ela gostava, secretamente, de esgueirar-se pelos cantos ao ver seu pai, um comerciante qualquer da cidade, conversando com os amigos sobre política e economia e aprendia com desprezo os ensinamentos de sua mãe sobre costura, aparência e postura. Nem mesmo quando se apaixonou perdidamente, já na casa dos vinte e tantos anos, Madalena viu-se sorridente ou feliz de verdade.
Nenhum homem além do corajoso Bruno, um rapaz bonito de olhos castanhos, cabelos alourados e filho do dono da farmácia, ousou enfrentar a fera sem coração e amargurada que era Madalena e, isso concedeu-lhe o benefício de ser o único a ir tão longe na vida de moça tão ranzinza: Bruno foi o único que a fez sorrir espontaneamente e depois de um sorriso, beijaram-se pela primeira vez numa típica manhã de outono. Amaram-se às escondidas numa tarde de outubro, em que o vento gelado ameaçava trazer para a noite uma forte e incontrolável chuva a se desprender das nuvens no céu.
Tudo parecia que iria bem e, até mesmo os familiares de Madalena acreditavam que o casamento tardio da moça, enfim chegaria. Mas isso não aconteceu. Por algum motivo, ainda mais descontente do que nunca com seu próprio semblante e com a vida que lhe pertencia, Madalena rompeu com o rapaz repentinamente, usando palavras duras e desaforadas que enquanto vivesse, ele jamais esqueceria. Nunca mais se viram desde então. Ele partiu para uma fazenda, onde morava outra parte de sua família e Madalena cravou seu nome como o grande e irreparável erro da família. Sobretudo, quando, com ajuda de sua mãe, passou nove meses escondendo sua gravidez, com roupas largas e escuras.
"Diremos que essa criança é sua irmã... Que foi um milagre que eu pudesse engravidar nessa idade, dizia-lhe a mulher de quase cinquenta anos que começara a usar enchimentos e aparecer cada vez menos na rua
Que Deus console seu pai... Não merecia tamanho desgosto...". Madalena nada dizia e tampouco se importava. Passava os dias dentro de casa, responsável pelos afazeres domésticos, ouvindo somente o modorrento som do silêncio, enquanto a hora do parto se aproximava cada vez mais.
O tempo que viveu reclusa dentro de casa, soava-lhe absurdamente devastador. Embora não fosse de fato uma prisioneira, vivia desesperada, tentando driblar o caos claustrofóbico à que as portas e janelas fechadas da casa de seus pais lhe empurrava. Quando anoitecia, escondida, arriscava dois ou três passos para fora de casa. Sentia o sereno, o vento da noite, percebia que estava ainda viva e então voltava a trancar-se em seu quarto, resignada a encarar o tempo que fosse até que pudesse outra vez sair pelas ruas sentindo o vento contra seu próprio rosto.
Era noite de dezessete de julho de mil novecentos e sete quando as primeiras dores tomaram conta de Madalena que as suportou sem escândalos e razoavelmente apática. Um grunhido e outro, um gemido e outro, mas nenhum grito. Nada que pudesse denunciar a identidade da mãe do rebento que chegaria em poucos instantes àquele mundo.
O céu do lado de fora da casa estava tão escuro quanto a cegueira e o ar gélido dava indícios de um terrível inverno europeu a se instalar e foi nesse cenário que uma garotinha rechonchuda e saudável chegou enfim ao mundo. Tinha os olhos redondos e negros da mãe e os cabelos lisos e albinos do pai. A garotinha ainda não tinha nome, nem Madalena nem tampouco sua mãe pensara em nada. Decidiriam depois. Talvez o padre, no dia do batismo escolhesse algum nome de santo e estava tudo certo. Um nome rebuscado era mais do que poderiam dar à uma vida indesejada. Naquela noite, Madalena recusou-se completamente a amamentar. Dormiu sem remorsos, aliviada por enfim ver-se longe do peso de uma gravidez. Nem os olhos muito negros, ou os brilhantes cabelos albinos de sua filha, despertaram maternidade em